Notas do meu cantinho
Notas do meu cantinho
Em
pescado, o porto das Lajes era o mais importante do Sul do Pico. Os pescadores muitos,
e os batéis de pesca, quando em terra, enchiam o antigo varadoiro.
Parte da população
só vivia do mar. E a actividade marítima, quase bastava para a subsistência das
respectivas famílias.
Quando o mar
permitia, os batéis - barcos e lanchas, saíam ao amanhecer, a pescar garoupas
nas “marcas” que ficavam perto pois, ao meio dia, estavam de volta com o peixe
para o jantar. O horário das refeições era diferente do de hoje.
O pescado era
quase só a garoupa, conhecida por “galinha do mar”, a abrótea, o rocaz e poucas
espécies mais. Polvo e lagosta só para “especialistas”-.
Se o tempo não
permitia a saída do porto, e por vezes era difícil devido à agitação na “Carreira”,
alguns pescadores iam à noite ou de madrugada para a costa, ou mesmo para o “caneiro”,
na entrada da Lagoa interior, pescar sargos, que eram vendidos logo de manhã a
fregueses habituais. No inverno, uma ou outra vez, deitava-se a rede na Maré,
onde abundava o peixe miúdo.
No Outono apanhava-se,
de rede, o chicharro. A pesca, normalmente abundante, permitia a venda imediata
ou a salga, para ser consumido no Inverno.
Descarregado o
peixe era retirado o “dízimo” e dividido em soldadas pelos pescadores. O “dízimo”
era leiloado pelo Guarda-fiscal, sempre presente à chegada dos barcos. Havia
Guardas-fiscais em S. João, S Cruz das Ribeiras, Calheta e Calhau da Piedade, que
viviam em casas do Estado. Nas Lajes estava fixada a secção da G.F. sob o
comando de um sargento que, após a extinção das chamadas “barreiras alfandegárias”,
passou a viver no antigo edifício da Alfandega. Depois a Secção foi transferida
para o Cais do Pico e incorporada na Guarda Republicana. Ficaram abandonadas, nas
Lajes a casa da Alfandega e nas freguesias indicadas os respectivos postos da
G.F., propriedade do Estado. Quer a casa da alfândega quer os antigos postos
estão hoje abandonados, incompreensivelmente, quando podiam ter sido entregues
a outro serviço público ou distribuídos por casais carenciados. Em pouco serão
ruínas a remover...
Voltando ao pescado, algum era levado pelos
familiares dos pescadores, ao interior da ilha, quase só para ser trocado por produtos
da terra. Mas verdade, um viver simples que, mesmo assim, garantia a
subsistência de muitas famílias.
Não há muitos
anos, várias famílias das zonas agrícolas viviam da troca de produtos. Até
mesmo nos pequenos estabelecimentos de mercearia, que sempre os houve, os
géneros eram trocados por milho, batatas, cebolas, hortaliças ou ovos, que depois
eram vendidos a outros fregueses. Era um estilo de vida autenticamente
comunitário e que não deixava de ser útil e proveitoso.
Os lavradores
trabalhavam as terras com as ajudas de uns e outros companheiros pois não havia
dinheiro para salários.
Até nas roças,
ou limpeza das pastagens isso acontecia e, nesses terrenos do alto, muitos
ficavam em abrigos improvisados durante a noite, para evitarem as longas
caminhadas e haver mais horas para o trabalho.
Mas, há três
ou quatro décadas os Serviços Florestais foram instalados na ilha e abriram cerca
de 275 quilómetros de caminhos florestais e de penetração, depois de construídas a estrada de volta da
ilha e as transversal e longitudinal, melhoramentos pelos quais a ilha esperou
mais de cinco séculos!
Não deve esquecer-se a caça da baleia que,
embora iniciada a meados do século XIX, teve o seu período de maior desenvolvimento
nas décadas de trinta/quarenta do século passado para, pouco depois, terminar
abruptamente, sem outra actividade que a substituísse, pois aquela que apareceu
a seguir está limitada a dois ou três industriais locais sem grandes ou notórios
efeitos económicos no meio. Não se esquece o período em que aqui foi instalada
e funcionou a indústria de conserva de peixe. Uma actividade que foi algo florescente
mas que não resistiu, por razões várias e que importa esquecer. E
referindo a baleação, não eram somente os pescadores profissionais que se dedicavam
a ir à baleia, mas todos aqueles que
conseguiam uma “cédula marítima”: carpinteiro, ferreiro ou pedreiro, ou mesmo
(e até) funcionário público, que alguns havia... A baleação proporcionou certo
bem-estar a uma parte da população, embora nem um século durasse. Tarde virá
outra que a ela se iguale.
Apesar da vida
modesta dos anos passados, o concelho das Lajes caiu numa verdadeira penúria e
a juventude, que adquiriu outros hábitos de vida mais modernos, não encontra aqui
ocupações. Vê-se por isso obrigada a emigrar para outros meios nacionais ou
para o estrangeiro.
Uma tristeza de vida dir-me-ia um velho amigo
aqui há uns anos passados...
Presentemente
transformado quase só em porto de
recreio, o porto das Lajes do Pico nem mesmo assim oferece as condições indispensáveis
à permanência de embarcações de outros portos e muito menos estrangeiras.
Lajes do Pico.
13 de Abril de
2015
Ermelindo Ávila
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