NOTAS DO MEU CANTINHO
Antes
era a Semana de Nossa Senhora de Lurdes. Depois foi a Semana dos
Baleeiros. E até foi constituída uma sociedade por quotas para a
organização das festas externas. As festas continuam com a Semana
dos Baleeiros, mas a sociedade deixou de ter qualquer actividade,
assumindo o Município a obrigatoriedade dos festejos externos. Isso
pouco importa. Interessa aos lajenses que a Semana dos Baleeiros
continue sem alterar o programa litúrgico que já vem desde 1883.
Há cento e trinta e
um anos que as Lajes do Pico soleniza, de maneira distinta, a
Imaculada Conceição aparecida na cidade de Lourdes, França, “a
uma menina FILHA DO POVO”, no dia 11 de Fevereiro de 1858.
A devoção a
Nossa Senhora de Lourdes nasceu nas Lajes do Pico, em 1882, quando o
povo aflito invocou, publicamente, a Virgem em ocasião aflitiva,
quando os botes baleeiros regressavam de “uma arriada à baleia”
e se viram impossibilitados de entrar no porto, porque o mar alteroso
lhes fechara a “carreira “ hoje desaparecida com a construção
do molhe de defesa.
Os festejos externos
sempre se realizaram. Basta trazer aqui o que acerca das solenidades,
Dom João Paulino de Azevedo e Castro, aquele que mais procurou
incrementar na alma do povo a devoção à Virgem de Massabielle, ao
tempo, Vice-reitor do Seminário de Angra, escreveu no jornal
angrense Peregrino de Lourdes:
São nove dias bem passados. As tocantes
meditações, a leitura de episódios enternecedores, as práticas
edificantes comentando as palavras e circunstâncias da Aparição, a
harmonia dos cânticos, a decoração do altar da Santíssima Virgem
– tudo concorre para que os dias da novena sejam apetecidos do povo
da freguesia e das freguesias vizinhas”.
E mais à frente:
Durante o dia da festa e na véspera, as
proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na
noite de um destes dias, conforme o tempo o permite, tem lugar uma
bonita iluminação chinesa (ou venesiana)1
que atrai concurso imenso de espectadores.(...) A vila das Lajes,
triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias um aspecto
risonho, alegre e animado.
Desacostumada de
ver gente de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos
capitães-móres, em que a festa anual de Corpus
Christi atraía ao seu recinto, vindos
de todo o concelho, uns legendários corpos de milícias armadas de
chussos e espadas em atitude bélica – vê-se durante estes dias
povoada de estranhos, em atitude pacífica, armados quando muito do
rosário, a visitam, atraídos de todos os pontos da ilha pelo
encanto da devoção à Virgem de Lourdes”.
Os
tempos são outros. Modificaram-se grandemente os hábitos e
costumes. A fé e a devoção a Nossa Senhora de Lourdes não se
modificou. A mesma novena, a mesma pregação, os mesmos cânticos,
nas celebrações litúrgicas. Um novo estilo nos festejos externos
que não se estranha, pois estão de harmonia com os tempos que
correm.
As semanas festivas
espalharam-se por toda a parte, nas ilhas açorianas e no continente.
O que importa é que decorram com ordem, paz e harmonia e sejam
momentos agradáveis de encontros e de convívios.
Estamos na “Semana
de Lourdes” – “Semana dos Baleeiros”, numa evocação feliz
desses que foram os primeiros a invocar, publicamente, a Senhora e
que ainda hoje, apesar da actividade haver terminado, continuam a
prestar suas homenagens Àquela Senhora que os livrou dos perigos
tantas e tantas vezes e que eles ou os familiares jamais esquecem.
Aqui deixo três
quadras do cancioneiro Popular das Lajes do Pico:
Oh que água
milagrosa,
Milagrosa, benta
e pura
Onde os enfermos
acham
Na doença pronta
cura.
Tudo o que
lhe devemos
De graça e
de favor
É razão que
lhe paguemos
Com obséquio
de louvores.
Vinde vós, anjos
do céu,
Vinde louvar a
Mãe de Deus
Ensinai-nos a
entoar
Os ternos
louvores seus.
Vila Baleeira dos
Açores
Agosto de 2013
Ermelindo Ávila
1
Lanterna constituída por uma armação leve inteiramente forrada de
papel de cor, vendo-se a luz por transparência.
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