NOTAS DO MEU
CANTINHO
Até ao falecimento do Pe. Vigário e
Ouvidor José Vieira Soares, em 12 de Abril de 1948, o Pe. Manuel Vieira Feliciano
era cura - capelão do curato de São Bartolomeu da Silveira, sufragânio da
Matriz das Lajes.
No entanto, dada a amizade fraternal
que unia os dois sacerdotes, ambos naturais da vila das Lajes e colegas do
mesmo curso do Seminário de Angra, nunca se notou entre os dois qualquer
desentendimento. O P. Feliciano, como era tratado, geria, sem reparo, a sua
igreja com total autonomia administrativa. E foi assim que, tomando posse do
lugar, em 1 de Junho de 1905, com o falecimento do anterior cura, P. Jerónimo
Brum da Silveira, ali se manteve até ao falecimento, tendo conseguido antes,
que, por decreto diocesano de 8 de Janeiro de 1957, o curato fosse elevado a
paróquia.
Mesmo assim não foi fácil, para o P. Vieira
Feliciano, a administração do curato. A igreja paroquial, iniciada em 1878,
levou dez anos a ser concluída. Todavia, ao Pe. Feliciano coube ultimar a
decoração e pintura interiores, que não duraram000 muito tempo, pois um
violento incêndio, ocorrido na noite de 24 de Junho de 1923, - decorria a
novena preparatória para a festa de Santo Cristo - tudo destruiu. E foi o P.
Feliciano que teve a coragem de reconstruir o templo, do qual só ficaram as
paredes: fechá-lo, construir novos altares, o coro alto e o púlpito, e pintá-los e dourá-los e adquirir as Imagens
de devoção tradicional no antigo curato. (1) Recordo que os trabalhos de
entalhamento foram executados pelo Mestre Contente, da Horta e a pintura e
douramento pelo Mestre Virgínio de Simas Belém, desta vila.
Três eram as festas principais que se
realizavam na Silveira: Santo Cristo, no primeiro domingo de Julho, Mãe de
Deus, a 15 de Agosto e São Bartolomeu (orago), a 24 do mesmo mês. Depois, com a
aquisição das imagens de Santa Teresinha e de Nossa Senhora de Fátima - a
primeira que veio para o Pico - as respectivas
festas tinham lugar no mês de Setembro.
Pelas Festas da Silveira tinham os lajenses uma especial dedicação. E
tanto assim que, a Festa de São Bartolomeu obrigava a que a novena de Lourdes,
desse dia, fosse rezada e realizada
de manhã, para não evitar que os lajenses fossem à Silveira assistir à Missa
solene e procissão e arraial, de tarde, abrilhantado pela Filarmónica das
Lajes.
As Missa festivas eram cantadas pela Capela local,
tendo a colaboração de músicos das capelas de S. João e Lajes. Tudo era feito
com brilho e dignidade. Depois do incêndio foi adquirido um novo órgão. Veio de
S. Jorge. Sobre o órgão diz o P. Manuel Azevedo da Cunha: ”O órgão dos Biscoitos,
feito por Manuel de Serpa da Silva (da Horta) por 600$000 e chegado em 20 de
Maio de 1890 (...) foi ultimamente (1924) vendido para a Silveira, Lajes do
Pico.(2)
Os arraiais da Silveira eram sempre muito concorridos,
principalmente pelas ofertas que os paroquianos levavam à igreja, sobressaindo
as frutas diversas – uvas, maçãs, peras, etc. –eram as primeiras a aparecer e
muito disputadas nas arrematações.
Na primeira festa já apareciam alguns “veraneantes”,
principalmente da Horta, que na Silveira tinham suas vivendas. Os lajenses não
faltavam e embora não fossem para as arrematações, iam às Missas solenes, onde
apareciam oradores distintos que tinham a seu cargo o sermão da solenidade.
Lembro-me de ali pregarem o Dr. Cardoso do Couto, o Dr. Garcia da Rosa, Mons.
José Pereira da Silva, o ouvidor de S. Roque, Domingos Ferreira da Rosa Ângelo,
o Cónego José Maria Fernandes, e outros mais. Alguns deles trazidos até à Silveira
pelo Pe. António Cardoso Machado, que paroquiava na Terceira mas que, todos os
anos, vinha à Silveira, sua terra natal, passar as férias.
Actualmente parece que todo esse entusiasmo dos
silveirenses pelas suas festas esfriou,
deixando de realizar algumas das
tradicionais.
A terminar este arrazoado, repito o que já escrevi: Para os lajenses a Silveira passou a ser um
lugar de eleição. Era ali que as famílias mais abastadas tinham suas vinhas e
pomares e as respectivas casas de verão. Eram os terrenos do Sr. Faria, ali por
detrás da Igreja; as casas de verão no Caminho de Baixo, da Família Machado
Soares, do João de Deus, mais tarde do
comendador Fernando da Costa, da Horta, de Gilberto Castro, no Mirante, e
outros mais. Quem não possuía casa de verão alojava-se em casa de amigos e
conhecidos, pois o espírito de hospitalidade e de acolhimento foi sempre uma
das nobres qualidades dos silveirenses. (3)
_________
1) E. Ávila, “Figuras & Factos” (1º Vol.), pág.14 –
1993
2) Cunha, P. Manuel
de Azevedo – “Notas Históricas”, Vol.I, pág391. 1924.
3) E. Ávila,
“Crónicas da Minha Ilha”, Vol. II, pág.76, 2002
Vila das Lajes do Pico,
9 de Julho de 2013
Ermelindo Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário