A
MINHA NOTA
Até meados do século passado os hábitos e costumes
das nossas gentes eram totalmente diferentes daqueles que hoje nos é
dado viver.
O
conflito internacional que assolou a Europa e, por acréscimo, o
Mundo, modificou totalmente a vivência das pessoas, transformando a
própria e ancestral civilização.
É
certo que não podemos voltar atrás. A evolução social não o
aconselha nem permite. Mas importa que se tomem medidas acertadas
para que os povos possam, novamente, usufruir de bem estar e paz,
indispensáveis ao seu desenvolvimento e ao progresso das suas
iniciativas e actividades.
Hoje,
os processos de trabalho são diferentes. A máquina substitui, em
muitos casos, o braço humano. E daí resulta, inevitavelmente, o
desemprego, o maior flagelo da actualidade, agudizado com o aumento
de braços, de ambos os sexos, quando antigamente eram apenas os
homens que trabalhavam fora de portas em profissões várias, pois
às mulheres só era permitido desempenharem as funções de
professoras e além das funções de doméstica que praticamente
quase se extinguiram... Algumas delas, depois dos trabalhos
domésticos, - cozinha, lavagem de roupas, costura e outras mais –
acompanhavam nos campos os familiares, ajudando-os no amanho das
terras. Hoje, isso não acontece. Bem?... Mal?...
***
Raro
era o verão em que os pescadores locais não demandavam outros
ilhas, em cujos mares existiam “marcas” ou “bancos” de
peixe. No verão acontecia por vezes os barcos de pesca, aos quais
se acrescentavam “bordas falsas” para melhor arrumo das bagagens,
irem para os portos de S. Jorge e por vezes para os Biscoitos da
Terceira, à pesca de fundo.
Acontecia
também navegarem até aos bancos Princesa Alice e/ou D. João de
Castro, levados por um barco motorizado, pois em qualquer deles
faziam grandes pescas de “peixe de fundo”.
Um
ano houve em que os pescadores locais resolveram ir até ao “Princesa
Alice”, no iate “São João Baptista”, rebocado pela canhoneira
“Açor”, que estacionava, normalmente, no porto da Horta. A
viagem fez-se regular e quando se encontravam no auge da pescaria, um
dos presentes chamou a atenção dos companheiros para abandonarem a
faina e regressarem a terra, imediatamente. Os outros, apesar de
serem marinheiros experimentados, não aceitaram a recomendação e
continuaram a pesca. Mas eis que, senão quando, o mar principiou a
agitar-se e quando saíram do banco já a tempestade se aproximava.
Conseguiram, porém, chegar à costa do Faial e aí abrigar-se até
ao dia seguinte, em que, com o mar mais calmo, regressaram ao porto.
Da tripulação faziam parte, entre outros, António Vieira Soares
(Boga), Manuel Vieira Soares, António Joaquim Madruga, todos eles,
além de pescadores, hábeis baleeiros e António d´Ávila, meu avô
paterno, dono e mestre dum batel de pesca.
Mesmo
assim evitou-se mais uma tragédia marítima, de tantas que hão
acontecido.
Lajes
do Pico,
1
de Setembro de 2013.
Ermelindo
Ávila
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