segunda-feira, 9 de setembro de 2013

DO MEU SENTIR

CÁ & LÁ


A umas dezenas de anos de distância, recordo, com um misto de saudade, esses tempos distantes em que sair de casa, deixar os pais, irmãos mais novos e outros familiares, para ir para qualquer outra ilha continuar a estudar, era um acto heróico ao qual bem poucos se atreviam.
Se para o Faial a distância era curta, mesmo assim, por lá se ficava o trimestres inteiro sem se vir a casa, muito pior era a deslocação para a Terceira ou São Miguel, as únicas três ilhas do Arquipélago que dispunham de ensinos secundários. No Pico, nas Flores ou em São Jorge não se ia além da Instrução Primária e somente quando se tinha a sorte de, na terra, estar colocado um bom professor, o que nem sempre acontecia, é que se ia até ao exame de quarta classe, que já permitia colocação em serviços públicos.
Os que não tinham essa oportunidade, caminhavam para a terra, ou para alguma oficina: pintor, carpinteiro, ferreiro ou serralheiro, caiador ou pedreiro. E, quando essa aprendizagem não era facilitada, feitos os catorze anos, caminhava-se para a pesca, quando se encontrava um mestre amigo que o incluía na sua tripulação. Muito raramente um ou outro, por ser mais “esperto” conseguia um emprego de marçano numa das mercearias, aqui ou no Faial. E era tudo o que podia acontecer.
Curso superior só para algum privilegiado. Todavia, esses que em Coimbra, e só se falava nessa Universidade, talvez por mais antiga e ser melhor o acolhimento nas “repúblicas”, conseguiam tirar um curso superior, raramente voltavam às terras de origem. Ficavam pelo continente ou fixavam-se nas capitais dos distrito insulares, “encostando-se” a algum médico ou advogado que já tinha escritório conhecido e afreguezado.
Alguns, bem poucos, iam para o Seminário de Angra mas nem todos conseguiam prosseguir o curso, por razões as mais diversas. A disciplina era algo rigorosa e pouco pedagógica. Os companheiros, oriundos das mais diversas classes sociais, nem sempre eram acolhedores e camaradas, o pessoal de serviço, rústico e muito dele mal educado. Tudo isso fazia que a debandada principiasse nas primeiras semanas da chegada e continuasse pelos anos adiante. Uma situação que os dirigentes, talvez porque igualmente deficientemente preparados na mesma escola, jamais compreenderam. E o resultado está agora visível na ausência quase total de vocações, mesmo que o funcionamento daquele estabelecimento presentemente só exista para o curso superior – teológico. E é pena. As nossas ilhas são, na generalidade, de formação católica. Nas freguesias e lugares, onde exista um núcleo habitacional, há uma igreja paroquial ou ermida preparadas com alfaias para os actos do culto, principalmente a Eucaristia ou Missa, mas nem todas têm o privilégio de nelas se celebrar a missa dominical nem em horário fixo. A falta de clero, dizem, justifica a carência. É pena...
Na época que passa, as ilhas são verdadeiras terras de missão. Urge, pois, que a anomalia seja encarada de frente e resolvida com presteza para que amanhã, num amanhã que se afigura bastante próxima, os católicos não vão caindo no indiferentismo e, principalmente aqueles que obtenham cursos superiores, enveredem por outros caminhos. É tempo de se lhes acudir, nem que sejam atraídas para estas ilhas ordens religiosas com sacerdotes professos.
Adiantei-me na apreciação de uma situação que a todos é presente? Talvez não!

LAJES DO PICO,
3 de Setembro de 2013.

Ermelindo Ávila 

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