Foram os caminhos primitivos. Atravessava-se a ilha, para ir do sul ao norte, pelas
veredas, canadas ou trilhos que a “cortavam”, em todos os sentidos.
Para ir para os lados da Fronteira, caminhava-se pelo
Caminho dos Ilhéus. “Quem conhece a morosidade ritual das obras públicas,
enche-se de pasmo perante a actividade prodigiosa com que o reduzido número dos
primeiros povoadores conseguiu, em poucos anos, realizar tal intento,
construindo o caminho dos ilhéos que,
prolongado, deu a volta completa à ilha. (1)
“Ernesto Rebello , que visitou a Vila
das Lajes, em “Notas Açorianas”, escreve:
“Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e
descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e
requeimada, entremeada aqui e alem por montes de rasteiras faias, descampados a que se dá o nome de mysterios, por serem estes os sítios por
onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do
Pico, chegamos afinal, ao cair da noite, à Vila das Lajes.” (2)
Para se sair da vila, pelo lado norte,
seguia-se o caminho dos ilhéus, pelo lado sul a ladeira da Vila e para os
terrenos do alto, a canada do Manuel Velho ou a Canada das Cruzes. A canada do
Tomé (depois conhecida por canada da Maricas do Tomé) servia para dar acesso
aos terrenos das ladeiras dó lado Leste. É pena que estes velhos caminhos não
estejam devidamente sinalizados, limpos e iluminados para permitirem o trânsito
nocturno.
Na Ribeira do Meio havia o caminho dos
Castanhos e a canada do Touril, para os matos. Na Almagreira um caminho que atravessava o lugar e, pela
canada Ana de Vargas, dava acesso à Silveira, onde havia diversas canadas,
entre elas a canada do Ajudante, e o caminho de Baixo. Ainda ali existe o caminho
Velho e outros mais.
A estrada real, entre as Lajes e S. Roque, passando
pela Madalena, foi construída na segunda metade do século dezanove. Nas
pontes da Ribeira do Meio estão as datas
de 1877 e 1879. Todavia a estrada que liga as Lajes à Piedade e, desta, à
Prainha, só foram construídas na década de quarenta do século XX. Até aí
continuaram os povos do Sul a trilhar as íngremes ladeiras e inóspitos caminhos
de calçada bruta e irregular, que não permitia o trânsito de veículos
motorizados. E já no século XX! Quem por ele teve de passar pode dar testemunho
do que difícil era o viajar pelo caminho da Ponta.
O tempo que se levava a subir as
ladeiras de tão terrível caminho – ainda me lembro da horrível Ladeira do
Barriga e de outras mais, pois também utilizei o antigo caminho, saindo das
Lajes ao romper do dia para chegar à Ribeirinha ao anoitecer...
Felizmente que tudo isso se modificou e,
hoje, a ilha é circundada por boa estrada asfaltada, diga-se de passagem. A
estrada Lajes - Piedade, quando construída, nos anos quarenta do século XX, foi
considerada a melhor dos Açores. Mas já não é.
Os turistas apreciam hoje as longas
caminhadas pelas canadas e caminhos rurais para desfrutar das paisagens, do
intenso arvoredo e do ar que se respira. Urge, portanto, ter em condições
aceitáveis esses velhos caminhos da ilha, que vários são, para proporcionar
àqueles que visitam a ilha, os meios indispensáveis a uma boa estadia. Se é que
interessa à ilha o desenvolvimento da nova actividade industrial...
__________________
1)
F.S.Lacerda Machado, “História do Concelho das Lages”, 1236, pág.124.
2)
Arquivo dos Açores, Vol.VIII, 1982, pág.
295.
Vila
das Lajes.
20-6-2012
Ermelindo
Ávila
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