domingo, 8 de julho de 2012

TRILHOS OU CANADAS



        Foram os caminhos primitivos. Atravessava-se  a ilha, para ir do sul ao norte, pelas veredas, canadas ou trilhos que a “cortavam”, em todos os sentidos.
Para ir para os lados da Fronteira, caminhava-se pelo Caminho dos Ilhéus. “Quem conhece a morosidade ritual das obras públicas, enche-se de pasmo perante a actividade prodigiosa com que o reduzido número dos primeiros povoadores conseguiu, em poucos anos, realizar tal intento, construindo o caminho dos ilhéos que, prolongado, deu a volta completa à ilha. (1)
        “Ernesto Rebello , que visitou a Vila das Lajes, em “Notas Açorianas”, escreve: “Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e requeimada, entremeada aqui e alem por montes de rasteiras  faias, descampados a que se dá o nome de mysterios, por serem estes os sítios por onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do Pico, chegamos afinal, ao cair da noite, à Vila das Lajes.” (2)
        Para se sair da vila, pelo lado norte, seguia-se o caminho dos ilhéus, pelo lado sul a ladeira da Vila e para os terrenos do alto, a canada do Manuel Velho ou a Canada das Cruzes. A canada do Tomé (depois conhecida por canada da Maricas do Tomé) servia para dar acesso aos terrenos das ladeiras dó lado Leste. É pena que estes velhos caminhos não estejam devidamente sinalizados, limpos e iluminados para permitirem o trânsito nocturno.
        Na Ribeira do Meio havia o caminho dos Castanhos e a canada do Touril, para os matos. Na Almagreira  um caminho que atravessava o lugar e, pela canada Ana de Vargas, dava acesso à Silveira, onde havia diversas canadas, entre elas a canada do Ajudante, e o caminho de Baixo. Ainda ali existe o caminho Velho e outros mais. 
A estrada real, entre as Lajes e S. Roque, passando pela Madalena, foi construída na segunda metade do século dezanove. Nas pontes  da Ribeira do Meio estão as datas de 1877 e 1879. Todavia a estrada que liga as Lajes à Piedade e, desta, à Prainha, só foram construídas na década de quarenta do século XX. Até aí continuaram os povos do Sul a trilhar as íngremes ladeiras e inóspitos caminhos de calçada bruta e irregular, que não permitia o trânsito de veículos motorizados. E já no século XX! Quem por ele teve de passar pode dar testemunho do que difícil era o viajar pelo caminho da Ponta.
        O tempo que se levava a subir as ladeiras de tão terrível caminho – ainda me lembro da horrível Ladeira do Barriga e de outras mais, pois também utilizei o antigo caminho, saindo das Lajes ao romper do dia para chegar à Ribeirinha ao anoitecer...
        Felizmente que tudo isso se modificou e, hoje, a ilha é circundada por boa estrada asfaltada, diga-se de passagem. A estrada Lajes - Piedade, quando construída, nos anos quarenta do século XX, foi considerada a melhor dos Açores. Mas já não é.
        Os turistas apreciam hoje as longas caminhadas pelas canadas e caminhos rurais para desfrutar das paisagens, do intenso arvoredo e do ar que se respira. Urge, portanto, ter em condições aceitáveis esses velhos caminhos da ilha, que vários são, para proporcionar àqueles que visitam a ilha, os meios indispensáveis a uma boa estadia. Se é que interessa à ilha o desenvolvimento da nova actividade industrial...
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1) F.S.Lacerda Machado, “História do Concelho das Lages”, 1236, pág.124.
2) Arquivo dos Açores, Vol.VIII,  1982, pág. 295.
Vila das Lajes.
20-6-2012
Ermelindo Ávila

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