Há muito que trago em mente a figura do Pe. António
Cardoso, antigo condiscípulo e pároco e ouvidor que foi da Matriz da Santíssima
Trindade desta vila.
Chegou o momento de quebrar o silêncio.
E recordo-o aqui como acto de justiça que merece a sua memória.
O Pe. António Cardoso era natural da
freguesia da Criação Velha, onde nasceu a 7 de Julho de 1919. Desta ilha, mas
criança passou a residir na Matriz da Horta, para onde mudou a residência e a
família.
Frequentou o Seminário de Angra e foi
ordenado sacerdote em 16 de Junho de 1940. Celebrou a primeira Missa na Matriz
da Horta e aí ficou de coadjutor de Mons. José Pereira da Silva até à nomeação
para pároco da freguesia de S. Caetano, desta ilha.
Em Junho de 1950 foi nomeado Pároco da
Matriz das Lajes e ouvidor do concelho. Aqui vem encontrar as obras da nova
Matriz paradas desde 1910.
“O
Dever”, em ocasiões várias, mas principalmente depois da visita do
Subsecretário das Obras Públicas, em Setembro de 1945, não mais deixa de chamar
a atenção dos lajenses para a necessidade da conclusão das obras.
É reorganizada a Comissão dos Bens Culturais, constituída
anos antes pelo falecido Pe. José Vieira Soares. E a obra recomeçou em 1954. O
P. António Cardoso não mais descansou.
Em 28 Maio de 1967 (há 45 anos), era
inaugurada a nova Matriz e benzida pelo
Bispo da Diocese D. Manuel Afonso de Carvalho. Foi sagrada pelo Bispo Dom
Arquimínio Rodrigues da Costa, em 26 de Agosto de 1983. Era então pároco o Dr.
António Rogério Gomes.
Na Matriz das Lajes existe, desde 1882,
a veneranda imagem de Nossa Senhora de Lourdes, de grande devoção não somente
dos lajenses mas de uma boa parte dos picoenses e dos nossos conterrâneos da
Diáspora. Foi por isso que, a quando da sagração, foi solicitada, ao Bispo
diocesano a declaração de Santuário da
Virgem, que é na realidade, para
a Matriz das Lajes, pedido que aquele Prelado (já não era D. Manuel) rejeitou sem
que apresentasse quaisquer razões...
O custo total das obras, na segunda fase de conclusão,
foi de 1.205.689$45. Em 1970, era pago o empréstimo de 20.000$00, que havia
sido contraído para liquidação total das despesas da obra, ficando tudo
saldado.
Em Dezembro de 1969, o Pe. Cardoso adquiriu
para a Paróquia, com autorização do Bispo D. Manuel, a propriedade de “O
Dever”, do qual passou a ser director.
Durante a sua estadia na Paróquia é construída a
ermida do Coração de Maria, no lugar das Terras, a qual lhe mereceu o mais
desvelado cuidado e atenção, embora contasse sempre com um dedicado grupo de
paroquianos daquele lugar, que assumiram o financiamento das obras.
E depois, vê-se quase compelido a deixar
a paróquia, sendo nomeado capelão do Hospital de Angra, em 3 de Novembro de
1976 e pároco de São Bento da mesma cidade, em 14 de Dezembro de 1979. Ali
faleceu, em 7 de Julho de 1999.
Nos Estados Unidos da América do Norte,
quando qualquer pároco constrói uma igreja recebe de Roma o título de
Monsenhor. Por cá não há essa tradição. O titulo de Monsenhor é reservado aos
sacerdotes que, normalmente, exercem funções junto da cúria diocesana, pois
foram raros os que, não o sendo, receberam essa dignidade.
O Padre António Cardoso já não pode
receber o título de Monsenhor. A sua memória pode, no entanto, ser recordada
por qualquer outro meio condigno. Nunca é tarde para se fazer justiça.
A Igreja Matriz das Lajes tem dois
sacerdotes a ela ligados que jamais poderão ser olvidados: o Padre Manuel José
Lopes que a iniciou e o Padre António Cardoso que a concluiu, com abnegação e
sacrifício. Além do Pe. Francisco Xavier de Azevedo e Castro, vice - vigário e
ouvidor do concelho, que foi o autor do magnifico projecto. É um templo
majestoso que honra e dignifica a vila das Lajes. Importa que isso não se
esqueça.
Vila
das Lajes,
7
de Julho de 2012.
Ermelindo
Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário