Maria estava para ser Mãe. O Menino nasceu quando estava em Belém. As estalagens estavam cheias daqueles que, descendentes da Casa de David, se tinham ido recensear, tal como José. E não havendo lugar nas hospedarias, recolheram-se numa casa de animais. O Menino aí nasceu e teve como berço a manjedoura que lá existia. E no meio desta pobreza e desconforto, Maria envolveu o Filho em panos. Era o enxoval que possuía.
No entanto, o Céu iluminou-se. Um coro de anjos entoou o “Gloria in excelsis Deo” e os pastores que andavam pelos montes a guardar os rebanhos, acordaram sobressaltados. Uma estrela lhes apareceu e lhes indicou o caminho até junto do Menino e Seus Pais.
E o dia do Nascimento do Menino, que era o Filho de Deus, hoje, decorridos 2011 anos, ainda se celebra.
Os templos católicos iluminam-se e revestem as melhores alfaias para festejar a histórica data e o mais assombroso acontecimento da Humanidade.
O Nascimento de Jesus é um facto histórico que se encontra narrado nos Evangelhos. Celebra-se no dia 25 de Dezembro. Não importa que seja a data exacta. Importa celebrar o festivo evento.
Diz Ariel Alvarez Valdês (1): Jesus Cristo não nasceu no dia 25 de Dezembro. Esta é uma data simbólica. Porém, não podia ter sido escolhido um dia melhor para festejar o seu Nascimento. E se alguma vez, com eventuais descobertas, se viesse a conhecer exactamente o dia em que Jesus nasceu, não faria sentido mudar a data. Deveria continuar a celebrar-se a 25 de Dezembro. Porquê? Porque aquilo que se pretendeu, ao fixar esse dia, mais do que evocar um facto histórico, foi transmitir uma excelente mensagem.
E escreve o mesmo douto articulista: Nenhuma outra celebração religiosa – nem sequer a Páscoa, que é a mais importante das festas cristãs tem a carga de ternura e recolhimento que o Natal encerra.(2)
Até ontem havia quem celebrasse o Natal das mais diversas e díspares maneiras. Eram os jantares de colegas e amigos, com a distribuição mútua de prendas; as reuniões familiares junto das esplendorosas árvores do Natal e as mais diversas ofertas distribuídas por um improvisado “Pai Natal” para uns ou o São Nicolau para outros. As casas enfeitavam-se, e nelas não faltavam as vistosas “árvores de Natal”; as ruas principais iluminavam-se; e até os concursos dos Presépios se faziam aqui e ali.
Havia quem, para celebrar o grande acontecimento, se lembrasse dos pobres e necessitados. Todavia, no presente ano e, com certeza, nos que se lhe vão seguir, talvez isso não aconteça. Mas importa que haja quem socorra não só esses pobres, como igualmente aqueles que agora são privados de algum rendimento do seu trabalho, para que, ao menos no dia de Natal, encontrem uma mesa onde o pão chegue para todos os familiares, principalmente os idosos e as crianças, pois, para estas, nem talvez um brinquedo haja, como era tradição.
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Ao trazer aqui algo do que é, ainda hoje, a comemoração do Nascimento do Menino Jesus em Belém, recordo o Natal da minha adolescência e juventude, dezenas de anos são passados.
Dias antes eram as novenas, celebradas com esplendor litúrgico, já noite dentro, e com largo concurso de fiéis. Anteriormente, era a novena, incluída na Missa diária, ao amanhecer, para que os trabalhadores nela tomassem parte entes de seguirem para os seus trabalhos agrícolas. E muitos compareciam com as respectivas famílias.
Ainda tenho presente os cânticos entoados pela Capela, no antigo coreto da igreja de S. Francisco das Lajes, a servir de Matriz. O que encerrava a cerimónia tinha para nós um significado especial:
Ó Infante suavíssimo / Ó meu amado Jesus / Vinde alumiar minh’alma / Vinde dar ao mundo luz.
Esperávamos, ansiosamente, a Missa do Galo, à meia noite. Toda a gente corria para a Igreja. Não havia iluminação pública. Utilizavam-se no percurso os candeeiros as velas de estearina e, mais tarde a petróleo. O templo também era iluminado com candeeiros (lamparinas) a petróleo e, depois, com candeeiros incandescentes, quando estes apareceram.
O Presépio estava “escondido” com uma cortina, e só era desvendado quando o celebrante entoava o Gloria in excelsis Deo! As campainhas tocavam e os sinos repicavam, anunciando a Boa Nova. Não se batiam palmas mas havia um desusado sussurro na assistência, principalmente entre as crianças, a levantar as cabecinhas, no desejo de melhor verem o Presépio e a gruta onde se encontrava a manjedoira com o Menino reclinado e, junto, Seus Pais. Embeveciam-nos também o repuxo de água que, saindo de algures, caía no pequeno “lago”. Tudo eram surpresas e motivos de alegria.
As prendas do Menino Jesus, de mistura com figos passados, alguns deles das próprias figueiras da horta, eram bem singelas mas encantavam as crianças. Todavia, só apareciam quando eles acordavam no dia de Natal e as procuravam debaixo do travesseiro ou em sítios mais recônditos. Fosse o que fosse, eram essas modestas prendas motivo de grandes alegrias e enorme prazer para a miudagem.
Depois, tudo se modificou. Apareceram as árvores de Natal, enfeitadas e iluminadas (quando apareceu a electricidade) e nelas as prendas destinadas não só aos miúdos da casa como, igualmente, aos adultos. Uma maneira mais magnificente de celebrar o Natal. E, em algumas habitações, de mais elevados rendimentos, surgia o “Pai Natal” a substituir o Menino Jesus que, antes, era quem deixava as prendas ... Uma maneira paganizada de celebrar o Nascimento do Redentor...
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1)Ariel Alvarez Valdês, in Revista “Bíblica”, ano 57/Nº337. Tradução de Lopes Morgado.
2) ibidem
Vila das Lajes,
25 Novº.2011
Ermelindo Ávila
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