A devoção a Nossa Senhora da Conceição é uma das mais antigas do calendário litúrgico português. E, naturalmente, alicerçada nessa devoção, são as inúmeras capelas ou ermidas dedicadas à Mãe de Deus sob o título de Nossa Senhora da Conceição, mesmo muitos anos antes de ser proclamado o dogma que definiu a Virgem como concebida sem mácula.
Nesta Ilha do Pico, a história regista um facto curioso. Narra Frei Diogo das Chagas, em seu “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”, que a ermida de Nossa Senhora da Conceição, junto da qual se fundou o convento dos franciscanos, em 1641, (a cuja ordem pertencia o Autor) pertencente a uma Mor (ou Maria) Pereira, a qual deixou em testamento que, “se os frades de São Francisco quisessem fazer convento junto daquela ermida, lhe deixava doada a fábrica e foros”.
E regista o motivo da construção da ermida, naquele lugar.
Mais tarde o convento foi ampliado. Ainda hoje é bem visível a diferença das duas construções, pois a segunda é de cantaria mais rica. No seguimento do convento foi construída, no lado Norte, a actual Igreja também dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
A propósito desta, diz Silveira de Macedo, (História das Quatro Ilhas que Formam o Distrito da Horta – Vol. I Pág. 206) que a igreja foi dedicada em 1768 (no entanto) “só em 1804 é que conseguiram ultimá-la (...)ficando um dos belos templos da ilha pelo primor da escultura dos retábulos e perfeição do dourado, possuindo já os ornamentos necessários, vasos sagrados, uma lâmpada de prata, coroas e resplendores em todas as imagens, o que tudo foi pasto das chamas de um voraz incêndio que em Fevereiro de 1830 reduziu a cinzas a igreja com suas imagens e alfaias, podendo apenas salvar-se o convento. “
A igreja foi restaurada pelo Pe. Francisco Salles, último guardião do convento, com as esmolas que chegaram de toda a parte mas, interiormente, só foi possível construir um pequeno altar onde colocaram três pequenas imagens; Nossa Senhora da Conceição, São Francisco e S. Benedito, que haviam pertencido a um dos extintos conventos da Horta. (Essas imagens, segundo me é dado saber, encontram-se no Museu de Arte Sacra daquela cidade).
Parece que o actual retábulo da Capela Mor veio do antigo convento da Glória, que existiu na Horta, onde hoje se encontra o Mercado Municipal.
A primitiva ermida, aquela que foi doada aos franciscanos por Mor Pereira, não foi destruída. Ficou junto do edifício do convento e, depois deste ter sido ocupado pelo Estado (por Decreto assinado por Dom Pedro de Bragança, em 17 de Maio de 1832) e entregue à Câmara Municipal, em 3 de Janeiro de 1840, serviu de arquivo da Repartição de Finanças, ali instalada, até que, na década de quarenta, do século passado, aquando das obras de restauro do convento, foi demolida. Ninguém pensou em conservá-la. Foi pena.
Na mesma Igreja, que serviu de paroquial enquanto as obras da nova Matriz não ficaram concluídas, e muitos anos decorreram, pois estiveram suspensas desde 1904 a 1967, no altar mor, além da Imagem de Nossa Senhora da Conceição, foram colocadas, a imagem de Santo António, adquirida pela antiga Irmandade, por volta de 1915, e a de Santa Teresinha, oferecida em 1927 por Francisca Angélica Ávila em cumprimento de um voto.
A capela mor e o respectivo retábulo foram pintados e dourados na década de trinta, pelo mestre Virgínio Belém. É dele também o desenho da pintura da abóbada da capela mor.
No altar lateral do lado esquerdo, foi colocada uma Imagem Senhor Jesus Crucificado, oferta da Companhia Baleeira Venturosa que, em 1927, custeou igualmente a construção do retábulo altar, obra esta do artista faialense António Contente. Neste altar ficaram também as antigas imagens de São José e de Nossa Senhora do Rosário, que haviam pertencido à Velha Matriz. Mais tarde o altar foi também dourado pelo Mestre Virgílio Belém, a expensas da mesma Sociedade Venturosa.
O altar do lado direito, com um modesto retábulo construído pelo Mestre Carpinteiro António Feliciano, era pintado a gesso, o qual era coberto com chapas de cortiça, a imitar uma gruta, nas festas de Nossa Senhora de Lourdes. Possui, actualmente, um retábulo, obra dos Mestres Rodrigues Quaresma, e foi dourado pelo Mestre Manuel Madruga. Nele encontram-se as imagens do Coração de Jesus, oferta de João Joaquim Brum da Silveira e as de Nossa Senhora e Sua Prima Santa Isabel (Visitação); imagens que, segundo a tradição, pertenceram à antiga Igreja da Misericórdia. São de uma beleza artística invulgar.
A Imagem de Nossa Senhora da Conceição foi adquirida em 1906 com esmolas angariadas em várias ilhas dos Açores pela jovem Rita Carolina. Trata-se de uma escultura de rara beleza, obra dum artista continental, que é também o autor de idênticas imagens existentes na Igreja da Conceição de Angra e na Matriz de Santa Cruz das Flores.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição ficou muito danificada com sismo de 1998. Foi a seguir completamente restaurada e os três altares convenientemente pintados e dourados. No entanto, dela foi retirado o coreto que havia sido construído quando os serviços da Matriz foram nela instalados em 1904.
O púlpito, que antigamente era constituído por um simples gradeamento, no qual se colocava uma coberta da cor litúrgica da celebração do dia, foi construído aquando da construção do altar do Senhor Jesus, pelos operários do Mestre Contente. Está agora também devidamente pintado e dourado.
Na ala lateral do lado leste da igreja franciscana está instalado um pequeno museu missionário. Se estivesse no corpo da igreja, ou mesmo, para início, no coro alto, podia receber alguns valores que pertenceram aos Bispos e Missionários picoenses, uma vez que o primeiro Bispo Missionário, Dom João Paulino, era natural desta vila, em cujo cemitério se encontra a capela - mausoléu com os seus restos mortais.
Não seria caso único, pois isso acontece por esse País fora !
Vila das Lajes,
3 de Dezº. de 2011
Ermelindo Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário