quarta-feira, 15 de outubro de 2008

BOTOS E POMBAS

O Escritor faialense, Ernesto Rebello, nas “Notas Faialenses”, publicadas no “Arquivo dos Açores”(1886) dedica o capitulo XIX do seu notável trabalho, à caça dos “Botos e Pombas”,na Vila das Lajes. E para cá chegar, ao cair da noite, da Madalena às Lajes, levou nada menos de “nove horas de jornada”.
Na alegre perspectiva daquela povoação, maxime para quem vem fatigado e batido de chuvas e ventanias, acrescendo ainda que nessa ocasião estávamos no fim do inverno, que os dias bons eram ainda raros e que uma nortada aguda nos fazia assoprar nos dedos e embrulhar aconchegadamente nuns cobertores de lã, que nos haviam emprestado pelo caminho.
Os nossos companheiros de jornada eram um rapaz da vila, que tinha ido ao Faial, donde regressava, por causa do recrutamento, um homem da Madalena, que tinha a seu cargo os dois péssimos burros que montávamos e um cão rafeiro, de raça ordinaríssima, que durante todo o caminho matara, na serra, dois coelhos, dos quais o arrieiro logo se apoderara, e pela estrada vários ratos de enormes proporções.”
E não continuo a transcrição, para aqui dizer o que Ernesto Rebello nos narra da caça aos botos e pombos.
Botos são o que a moderna Ecologia chama Golfinhos e que era caçados para deles extrair o óleo ou azeite que alimentava as candeias...A sua carne não era utilizada, ao contrário da toninha cuja carne era uma das peças basilares da alimentação dos picoenses. Mas deixemos essas histórias que causam engolios aos actuais ecologistas...
No entanto, só esta afirmação de E.R.:”Os lajenses dão certa solenidade a esta pesca”. E não só.
Quantas pessoas, de diversas origens, se deslocavam à Vila das Lajes para assistir à caçada”!
Não menos interessante a narrativa da caça ao pombo da rocha na qual tomou parte Ernesto Rebello que, referindo o companheiro Francisco e a irmã Maria, que o acompanharam, faz esta afirmação:
Agradeci-lhe muito a bela noite que me havia feito gozar e atrevi-me a oferecer à pequena Maria uma moeda de seis tostões”.
Desapareceram os pombos da costa mas, em suas substituição trouxeram para o pombo trocaz, culturas uma espécie prejudicial às culturas como se tem verificado ultimamente.
Mas, porque não caça ao coelho bravo que prolifera por esses campos, atravessa as estradas com grande desfaçatez e tudo destrói onde entra. E dizem os prejudicados agricultores e vinhateiros que basta um coelho para destroçar uma vinha. Eles por ai andam despreocupadamente nesses campos que vão-se tornando em autênticos matagais.
Há anos houve quem teve a infeliz ideia de trazer para cá os pardais, que acabaram por dar cabo, quase completamente, do antigo canário cujo canto, no campo em manhãs primaveris ou nas casa que os recolhiam, tudo alegravam com seu trinado.
Mas hoje refiro o torcaz, uma espécie que quase não existia e que, para regalo dos caçadores, para cá trazido livremente, sem qualquer protesto ou impedimento legislativo da entidade fiscalizadora, ao que nos consta.
A Ilha do Pico vai-se tornando uma verdadeira coitada onde amanhã somente poderão ocupa-la as aves selvagens, mas não todas, pois até o milhafre, que aqui se alimentava do rato, vai desaparecendo.
As cagarras, com a sua musica rofenta, em noites escuras, vai desaparecendo. O pombo da costa não existe. Mas teima-se em introduzir outras espécies prejudiciais às culturas para que não faltem boas peças aos praticantes da caça.
Vila das Lajes,
1 de Outº de 2008
Ermelindo Ávila

1 comentário:

Anónimo disse...

Pombos das rochas ?
Não faltam. São muito abundantes