Foi a 8 de Janeiro de 1908 que, na freguesia da Candelária desta Ilha do Pico, nasceu o emérito Bispo de Timor, Dom Jaime Garcia Goulart.
Devo à memória de tão distinto Filho da Ilha do Pico uma referência homenageante, não só pela amizade que sempre me dispensou mas, sobretudo, pela obra de extraordinário vulto que nos deixou, principalmente na Diocese de Timor, de que foi o primeiro Bispo, e igualmente pelos notáveis dotes de Bispo e de Homem de Deus.
Dom Jaime foi para Macau, afim de ingressar no respectivo Seminário de São José, em 1921.Nesse ano havia sido sagrado Bispo de Macau, na Matriz da Horta, seu tio, que viria a ser o Cardeal Dom José da Costa Nunes-
Ainda seminarista, acompanhou Dom José na sua viagem aos Açores, em 1930. Trazia o terceiro ano de Teologia e, no Seminário de Angra, completou o Curso. Foi aí que nos conhecemos. O Seminário vivia um período de transformação pouco adequado à formação dos alunos. Era um ambiente pesado, fiscalizado constantemente por um reitor ao qual faltavam talvez qualidades diria pedagógicas e humanas, para dirigir e orientar cerca de cento e cinquenta jovens das mais diversas idades.
O Seminarista Jaime Goulart vinha de um estabelecimento muito diferente, aberto e humano, sem deixar de ser disciplinado. Desconhecendo o ambiente, passou a viver dentro das normas da casa mas, aqui e ali, procurava expandir-se nos contactos com os colegas, no confraternizar amigo com todos, embora respeitando a disciplina e as separações dos cursos em prefeituras. Nos recreios, jogava, saltava a vara e praticava desportos com alegria e jovialidade, passando a ser uma referência que todos admiravam e respeitavam. ( Presentemente, sou talvez o único “sobrevivente” a dar este testemunho.)
Ordenado em 10 de Maio de 1931 na Paroquial da Candelária pelo tio Dom José, seguiu no fim do verão para Macau, viajando de barco, único transporte que então havia. A viagem, pelo Cabo da Boa Esperança, durava algumas semanas, tempo que, para uns era de férias e, para outros, de algum martírio. Ao partir recebeu do seu Bispo instruções para, semanalmente, enviar para “O Dever”, - que então se publicava em São Jorge sempre sob a direcção Pe. Xavier Madruga, antigo colega de curso e intimo amigo de Dom José - crónicas da viagem que ia fazer. E assim cumpriu. Elas aí estão nas páginas já amarelecidas do jornal, a revelarem já o que viria a ser “a acção pastoral de J.G.G. como padre e Bispo missionário – acção pautada pelo comando do cérebro, nos compromissos livremente assumidos e fielmente cumpridos”. Isto escreveu o Padre Tomás Bettencourt Cardoso na “Nota prévia” de “Textos de D. Jaime Garcia Goulart” por ele coordenados e publicados a quando da sua estada em Macau, em 1999.
E é ainda do P. Tomás este excelente comentário: “A simplicidade e subtileza destas linhas – o começo da VI crónica de Em viagem para a China – são o suficiente para se ficar ciente de que tais crónicas são de um valor inestimável, porque, antes de mais, fruto do esforço ingente do A. para as dar à estampa”.
Ao chegar a Macau o então Pe. Jaime Goulart assumiu as funções de professor de Latim no Seminário e no Liceu, até que, em 1933 foi destacado para Timor onde se conservou até 1937. Voltou a Macau para ser secretário do Prelado, e professor no Liceu e no Colégio de Santa Rosa de Lima. Decorridos dois anos, foi novamente destacado para Timor, primeiro como Vigário Geral e, a seguir, como Administrador Apostólico da nova Diocese, criada em 1940 pelo Papa Pio XII. E aí ficou, para sofrer o doloroso calvário que foi a invasão japonesa, que o obrigou a refugiar-se na Austrália. Penosa e arriscada foi a fuga de Timor pois, além de ser obrigado a descer por rochas altas até ao local de embarque, teve ainda de amparar uma religiosa já de avançada idade e doente. Uma odisseia que D. Jaime contava com algum humor.
Na Austrália recebe a notícia da eleição para Bispo da mesma Diocese. É sagrado na Capela do Colégio Eclesiástico de S. Patrício em Manly, Sydney, na Austrália, no dia 30 de Outubro de 1945, pelo Delegado Apostólico, D. João Panico, com a assistência do Arcebispo de Sidney, D. Normano Gilroy e o Bispo de Armidale, D. João Colemau. Na cerimónia estiveram presentes os Cônsules de Portugal e do Brasil, além de outras entidades civis e religiosas. (A crónica do faustoso acontecimento está em “O Dever” de 12 de Janeiro de 1946 e é da autoria do Pe. Ezequiel Pascoal. )
Dom Jaime governou a Diocese de Timor desde 1940 a 1967, ano em que resignou devido a problemas de saúde. Passou então a residir nos Açores, primeiro na Candelária e Horta e, depois, em Ponta Delgada onde se fixou definitivamente e veio a falecer em 15 de Abril de 1997. Está sepultado no Cemitério de São Joaquim, daquela cidade.
Em 1964 recebeu do Governo Português a Ordem do Infante, no grau de Oficial, modesto galardão para quem levou uma vida a trabalhar, em Terras do Oriente, procurando sempre engrandecer o Padroado, e, sobretudo a ainda terra portuguesa de Timor. Bem mais merecia.
A freguesia natal, a Candelária do Pico, erigiu-lhe uma estátua junto da Paroquial, onde Dom Jaime foi baptizado, fez a profissão de fé, foi ordenado e celebrou a primeira Missa.
Falta a derradeira homenagem: a trasladação dos seus restos mortais para a Candelária, “cuja humilde pacatez não trocava por nada deste mundo”. Este ano centenário seria a ocasião propícia para se promover esse acto de elementar justiça a Alguém que tanto prestigiou e engrandeceu, com a sua nobilitante acção missionária Portugal e, sobretudo, esta Ilha que sempre o respeitou e admirou e orgulho sentia por esse “barão assinalado”, que “em perigos esforçados”, “edificou Novo Reino, que tanto sublimou”, parafraseando Camões..
Vila das Lajes,
15 de Abril de 2008
Ermelindo Ávila.
Devo à memória de tão distinto Filho da Ilha do Pico uma referência homenageante, não só pela amizade que sempre me dispensou mas, sobretudo, pela obra de extraordinário vulto que nos deixou, principalmente na Diocese de Timor, de que foi o primeiro Bispo, e igualmente pelos notáveis dotes de Bispo e de Homem de Deus.
Dom Jaime foi para Macau, afim de ingressar no respectivo Seminário de São José, em 1921.Nesse ano havia sido sagrado Bispo de Macau, na Matriz da Horta, seu tio, que viria a ser o Cardeal Dom José da Costa Nunes-
Ainda seminarista, acompanhou Dom José na sua viagem aos Açores, em 1930. Trazia o terceiro ano de Teologia e, no Seminário de Angra, completou o Curso. Foi aí que nos conhecemos. O Seminário vivia um período de transformação pouco adequado à formação dos alunos. Era um ambiente pesado, fiscalizado constantemente por um reitor ao qual faltavam talvez qualidades diria pedagógicas e humanas, para dirigir e orientar cerca de cento e cinquenta jovens das mais diversas idades.
O Seminarista Jaime Goulart vinha de um estabelecimento muito diferente, aberto e humano, sem deixar de ser disciplinado. Desconhecendo o ambiente, passou a viver dentro das normas da casa mas, aqui e ali, procurava expandir-se nos contactos com os colegas, no confraternizar amigo com todos, embora respeitando a disciplina e as separações dos cursos em prefeituras. Nos recreios, jogava, saltava a vara e praticava desportos com alegria e jovialidade, passando a ser uma referência que todos admiravam e respeitavam. ( Presentemente, sou talvez o único “sobrevivente” a dar este testemunho.)
Ordenado em 10 de Maio de 1931 na Paroquial da Candelária pelo tio Dom José, seguiu no fim do verão para Macau, viajando de barco, único transporte que então havia. A viagem, pelo Cabo da Boa Esperança, durava algumas semanas, tempo que, para uns era de férias e, para outros, de algum martírio. Ao partir recebeu do seu Bispo instruções para, semanalmente, enviar para “O Dever”, - que então se publicava em São Jorge sempre sob a direcção Pe. Xavier Madruga, antigo colega de curso e intimo amigo de Dom José - crónicas da viagem que ia fazer. E assim cumpriu. Elas aí estão nas páginas já amarelecidas do jornal, a revelarem já o que viria a ser “a acção pastoral de J.G.G. como padre e Bispo missionário – acção pautada pelo comando do cérebro, nos compromissos livremente assumidos e fielmente cumpridos”. Isto escreveu o Padre Tomás Bettencourt Cardoso na “Nota prévia” de “Textos de D. Jaime Garcia Goulart” por ele coordenados e publicados a quando da sua estada em Macau, em 1999.
E é ainda do P. Tomás este excelente comentário: “A simplicidade e subtileza destas linhas – o começo da VI crónica de Em viagem para a China – são o suficiente para se ficar ciente de que tais crónicas são de um valor inestimável, porque, antes de mais, fruto do esforço ingente do A. para as dar à estampa”.
Ao chegar a Macau o então Pe. Jaime Goulart assumiu as funções de professor de Latim no Seminário e no Liceu, até que, em 1933 foi destacado para Timor onde se conservou até 1937. Voltou a Macau para ser secretário do Prelado, e professor no Liceu e no Colégio de Santa Rosa de Lima. Decorridos dois anos, foi novamente destacado para Timor, primeiro como Vigário Geral e, a seguir, como Administrador Apostólico da nova Diocese, criada em 1940 pelo Papa Pio XII. E aí ficou, para sofrer o doloroso calvário que foi a invasão japonesa, que o obrigou a refugiar-se na Austrália. Penosa e arriscada foi a fuga de Timor pois, além de ser obrigado a descer por rochas altas até ao local de embarque, teve ainda de amparar uma religiosa já de avançada idade e doente. Uma odisseia que D. Jaime contava com algum humor.
Na Austrália recebe a notícia da eleição para Bispo da mesma Diocese. É sagrado na Capela do Colégio Eclesiástico de S. Patrício em Manly, Sydney, na Austrália, no dia 30 de Outubro de 1945, pelo Delegado Apostólico, D. João Panico, com a assistência do Arcebispo de Sidney, D. Normano Gilroy e o Bispo de Armidale, D. João Colemau. Na cerimónia estiveram presentes os Cônsules de Portugal e do Brasil, além de outras entidades civis e religiosas. (A crónica do faustoso acontecimento está em “O Dever” de 12 de Janeiro de 1946 e é da autoria do Pe. Ezequiel Pascoal. )
Dom Jaime governou a Diocese de Timor desde 1940 a 1967, ano em que resignou devido a problemas de saúde. Passou então a residir nos Açores, primeiro na Candelária e Horta e, depois, em Ponta Delgada onde se fixou definitivamente e veio a falecer em 15 de Abril de 1997. Está sepultado no Cemitério de São Joaquim, daquela cidade.
Em 1964 recebeu do Governo Português a Ordem do Infante, no grau de Oficial, modesto galardão para quem levou uma vida a trabalhar, em Terras do Oriente, procurando sempre engrandecer o Padroado, e, sobretudo a ainda terra portuguesa de Timor. Bem mais merecia.
A freguesia natal, a Candelária do Pico, erigiu-lhe uma estátua junto da Paroquial, onde Dom Jaime foi baptizado, fez a profissão de fé, foi ordenado e celebrou a primeira Missa.
Falta a derradeira homenagem: a trasladação dos seus restos mortais para a Candelária, “cuja humilde pacatez não trocava por nada deste mundo”. Este ano centenário seria a ocasião propícia para se promover esse acto de elementar justiça a Alguém que tanto prestigiou e engrandeceu, com a sua nobilitante acção missionária Portugal e, sobretudo, esta Ilha que sempre o respeitou e admirou e orgulho sentia por esse “barão assinalado”, que “em perigos esforçados”, “edificou Novo Reino, que tanto sublimou”, parafraseando Camões..
Vila das Lajes,
15 de Abril de 2008
Ermelindo Ávila.
2 comentários:
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