domingo, 10 de dezembro de 2017

FESTAS NATALÍCIAS

Notas Soltas

Cheira a Natal, dizem os mais antigos, que os novos vão-se entretendo em outras actividades.
O Natal hoje é muito diferente.
As crianças esperavam ansiosas pela noite do Menino que lhes havia-de deixar debaixo do travesseiro a sua oferta do Natal, e tão modesta que por vezes era ela: um boneco de pano, um carrinho de bois de madeira, uns rebuçados ou uns figos passados, que tudo era apreciado, e de que maneira!
Depois, a vida foi-se modificando. A economia doméstica foi-se melhorando, os pais puderam ter melhores possibilidades de compra, o comércio passou a importar grandes quantidades de brinquedos, dos mais sofisticados, desde o carro eléctrico aos aviões que se movem nos ares. Não faltam as confecções, das mais artísticas e tecidos ricos, os casacos de corte moderno, um sem número de vestuários das mais variadas e ricas cores. Para uns, é o crédito que se utiliza e se esgota, para outros é a riqueza e o luxo que se exibe. E, por vezes, no comércio ficam as dívidas a aguardar que se saldem…
Cedo vêm os pantagruélicos almoços de compadres e comadres, de conhecidos e amigos, de primos e outros familiares, que se tornaram numa quase tradição de bons manjares e melhores beberes.
Felizmente que ainda se guarda para o dia de Natal os repastos com os parentes mais íntimos, onde continuam a aparecer a massa sovada e a carne de caçoila, cuja tradição, felizmente, ainda se mantêm.
Quase caíram em desuso as visitas aos parentes e amigos.
Os serões vão desaparecendo e só restam bem poucos nas sociedades culturais e recreativas para os respectivos associados.
***
O mês de Dezembro tinha, em anos passados, um tom especial. Era o mês do Natal. O mês da grande festa. Toda a gente se preparava, material e espiritualmente, para as grandes celebrações litúrgicas. Todavia, com as normas estabelecidas pelo Concílio Vaticano II, a liturgia alterou-se bastante. O cerimonial simplificou-se de maneira a não torná-lo muito prolongado, mantendo, no entanto, diversas partes essenciais.
As principais festas eram normalmente precedidas de devoções preparatórias, as Novenas cantadas e com pregação especial. Ainda hoje, na Matriz das Lajes, são realizadas as Novena da festa de Nossa Senhora de Lourdes. As do Natal e de Nossa Senhora da Conceição há muito deixaram de se fazer.

As novenas do Natal tinham liturgia própria. Eram realizadas de madrugada, cantadas e com Missa solene.

Os fiéis, levantavam-se de madrugada para assistir à novena antes de irem para os seus trabalhos de campo. Chegados ao adro, deixavam os seus casacos e utensílios de trabalho rural e assistiam à Missa e cerimónia próprias das Novenas. No final, no adro, substituíam os fatos e caminhavam, com os respectivos utensílios agrícolas, para os seus trabalhos de campo. Ao entardecer regressavam a suas casas e era então que tomavam a refeição quente da noite.

Era assim durante os nove dias que precedia o Natal. Hoje a novena não é feita à noite e a frequência não é tanta…Outros tempos…

Lajes do Pico,
3 de Dezº de 2017

Ermelindo Ávila

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