sábado, 16 de setembro de 2017

RECORDANDO…

 Notas do meu cantinho
                            
 Há dias, já no corrente mês, um dos meus filhos proporcionou-me uma viagem das Lajes à Madalena. Há dias acrescentados que não fazia este percurso. Recordei os anos sessenta do século passado em que fazia o mesmo trajecto em razão das funções que então desempenhava e que me obrigavam a uma deslocação diária. Tempos que já passaram e que, apesar de tudo, deixaram no nosso íntimo um misto de saudade e de bons recordares.
          No sainte de São João, terminus do concelho das Lajes, recordei a história e lembrei-me que só em 1723, aquando da criação do terceiro concelho da ilha do Pico, a freguesia de São Mateus deixou de pertencer ao concelho das Lajes e ficou incorporada no novo concelho, a Madalena, levando consigo os lugares da Terra do Pão e São Caetano, que hoje constituem uma freguesia independente.
          Ao passar na Terra do Pão, com as suas casas típicas, voltadas a Sul, desde o Mistério até à Igreja de Santa Margarida, recordei aqueles ditosos anos sessenta quando ali passava e via, nos balcões das cozinhas, os pratos a fumegar com os dejejuns da manhã…  
         O que não deixa de impressionar é que as referidas habitações mantêm o mesmo estilo arquitectónico: as frentes principais voltadas a Sul, com um ou dois balcões externos de serventia à sala principal e cozinha, cada um junto das empenas Norte e Sul. Um estilo que se conserva, ao contrário do resto da ilha, com uma arquitectura moderna mas desconfortante. E isso vai-se verificando em redor da Ilha, com mais incidência no concelho da Madalena, onde um modernismo exasperado, está a alterar constantemente a fisionomia das zonas urbanizadas, sem estilo nem sentido artístico.
         Um pouco além, já na freguesia de São Mateus, e aqui lembrei o Padre Filipe Madruga que esforços fez para que a freguesia fosse elevada a Vila. Os novos ramais de entrada e saída do centro da freguesia já estão ocupados por habitações, cada uma do seu estilo, a testemunhar a importação dos trazidos pelos emigrantes retornados e não só.
         Mas, o mais notado é a transformação da sede do concelho, numa ambição discutível de nova classificação, tornando o burgo numa discutível mistura de estilos urbanísticos.
         Nos anos quarenta, São Roque, a segunda vila da Ilha, com a expulsão dos franciscanos, abandonou o edifício municipal e desceu até ao Cais a ocupar o respectivo convento. Nessa altura procedeu-se a uma urbanização do respectivo território, abrindo algumas ruas que, mesmo assim, pouco alteraram a estrutura urbanística. Para quem se recorda o que era o antigo “Cais do Pico”.
         Com a abertura da Estrada do Sul, em 1943, a freguesia da Piedade tem procurado modernizar-se. Mas o que mais se tem notado é a modificação das adegas do antigos lugares de veraneio – Calhau, Cais do Galego e Manhenha, e a construção de exagerados prédios modernos, segundo os modelos das terras de emigração.
         Aqui há anos um deputado regional picoense apresentou no respectivo grupo parlamentar um projecto para que as vilas sede de concelho fossem elevadas a cidade, acabando-se com os esforços bairristas para que uma ou outra beneficiasse, atabalhoadamente, desse título. Foi rejeitado o projecto, ao contrário da Região Autónoma da Madeira, onde parece, essa medida foi oportuna e sensatamente tomada.
         Da minha última viajem pela ilha saiu este modesto escrito. Não será aproveitado por alguém muito menos pelos políticos actuais. Se resistir às destruições dos “papéis velhos” alguém lhe dará  certo acolhimento…  
Lajes do Pico, 6 de Julho de 2017

Ermelindo Ávila

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