sábado, 16 de setembro de 2017

A ESTÁTUA DE D. DINIS

A MINHA NOTA

            Há setenta anos (1940) a Nação Portuguesa celebrou o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal (1140-1640). A Ilha do Pico não esqueceu o histórico acontecimento e inaugurou, no antigo porto do Cais do Pico, a estátua do Rei-Lavrador, D. Dinis. Para a cidade da Horta veio a estátua do Infante Dom Henrique, com a diferença de que esta era em mármore e o tempo encarregou-se de a desfazer aos poucos, enquanto a de D. Dinis, sendo de bronze, tem resistido a todas as intempéries.
Era Vice-Presidente da Comissão Nacional dos Centenário o Coronel Henrique Linhares de Lima, natural do Cais do Pico, que havia exercido ou ainda exercia o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Tendo aquelas estátuas sido retiradas das praças públicas e devolvidas a armazém, entendeu Linhares de Lima enviá-las para o seu distrito natal, e mais: na Assembleia Nacional, de que era deputado, apresentou um projecto de Lei mudando o nome da ilha do Pico para ilha de Dom Dinis. O projecto foi largamente contestado e mereceu a recusa da Câmara Corporativa de então. Um dos grandes opositores do projecto foi o General Lacerda Machado. “O Dever” arquiva diversos artigos de opinião desaprovando a proposta. No entanto, a estátua do Rei veio para a ilha do Pico e, embora devesse ter ficado nas Lajes, primeira terra povoada, Linhares de Lima, porque era ele que determinava a colocação, levou-a para a sua terra. Tinha, como soe dizer-se, a faca e o queijo na mão…
A inauguração realizou-se a 16 de Agosto de 1940, dia da festa do Padroeiro, São Roque e decorreu, diga-se em boa verdade, com solenidade e esplendor.
Era presidente da Câmara Municipal de São Roque Celestino Freitas e ao acto compareceram os presidentes dos outros dois concelhos da Ilha. Presidiu ao acto inaugural o Governador Civil do Distrito, Capitão Moreira de Carvalho que navegou da Horta para o Cais num vaso de guerra que estacionava no porto daquela cidade. Trouxe consigo numerosa comitiva. Na inauguração, falou, em nome do Município de São Roque, Almério Tavares que desempenhava as funções de chefe da Secretaria do Tribunal Judicial. Na residência de Raimundo Mesquita, em São Roque, foi servido o almoço ao Governador e demais entidades presentes.
Na Matriz de São Roque, realizou-se a solenidade em honra do Padroeiro, sendo orador o ouvidor das Lajes, P. José Vieira Soares. A seguir, realizou-se a Procissão, tendo, em todos os actos, estado presente o Governador e Comitiva.
Decorreram já, como acima referi, setenta anos. A estátua continua no mesmo local onde foi colocada mas, virada para o Canal, quase ninguém dá por ela, uma vez que foi construído novo porto, bastante distante, onde se processa todo o movimento portuário.
A ilha continua a ser do Pico, com a montanha sempre em frente, mais procurada do que nunca pelos visitantes nacionais e estrangeiros. Simples e bela, na sua majestade deslumbrante, é o encanto dos picoenses que a contemplam embevecidos, ao declinar da tarde, quando o sol se põe ou mesmo, com os raios de luz a anunciar o novo dia que vem chegando. Mas isso é para os poetas que sabem aproveitar o encanto e a beleza de uma ilha que, sem ser de bruma, para os naturais parece esquecida e adormecida… 
Lajes do Pico,
Agosto de 2017

Ermelindo Ávila

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