sábado, 16 de setembro de 2017

AS FESTAS DO VERÃO

NOTAS DO MEU CANTINHO

            Praticamente terminaram as festas de verão, se bem que, numa ou noutra paróquia, ainda se realizem as festas dos Padroeiros, como são os casos de Piedade e São Mateus. Festas de menor luzimento não deixam de atrair os naturais da freguesia que vivem fora e que, anualmente, regressam ao torrão natal para tomar parte nas celebrações. É um costume ou tradição que vem de longe e que se mantém, agora que as comunicações são mais facilitadas, por terra, mar ou ar.
            É sempre agradável encontrar os nossos conterrâneos de volta à terra, a reviver os cantinhos onde nasceram e foram criados.
Eles partiram um dia para conseguirem melhor viver e um futuro mais próspero para os filhos. Mas não esquecem o lugarzinho que lhes foi berço. Lá longe, não escrevem tanto como antigamente, mas a TV e o telemóvel estão sempre ligados para saberem notícias dos seus e novidades da terra. É, na realidade, uma aproximação mais simpática. E, até acompanham com interesse as novidades da terra, através dos próprios jornais, embora as notícias sociais, e disso se queixam, sejam raras ou quase inexistentes.
            Mesmo assim, os jornais são lidos e os artigos ou notícias de interesse recortados e cuidadosamente guardados, até para deixarem aos filhos…
            Alguns emigrantes ainda aí estão para assistirem às festas das suas freguesias, que, para eles, têm um interesse muito especial. É o que acontece, v. g., na freguesia da Piedade, onde as festas da Padroeira e a de Nossa Senhora das Mercês, esta festejada no fim de Setembro, são lembradas com enternecido amor, até porque alguns desses visitantes há muito que cá não vinham e agora chegam saudosos do seus e da própria terra-mãe.
            São Mateus vai celebrar a 21 de Setembro a festa do Padroeiro. Nesse dia cumpre o voto feito em 1718-1720, quando as erupções vulcânicas atingiram Santa Luzia e, depois, os locais onde deixaram, a testemunhar tamanhos cataclismos - os “Mistérios”. São decorridos trezentos anos!
            O voto é representado pela distribuição de rosquilhas a todos os que ali vivem ou por ali passam no dia de São Mateus. Houve até anos em que a Paróquia contribuía com algumas “contas” de rosquilhas para que ninguém voltasse a casa sem levar um “arrelique”. Afinal, um “império” idêntico aos que se realizam nas diversas freguesias da Ilha, durante o tempo litúrgico do Pentecostes.
É caso para louvar o povo picoense que será ainda hoje, se não erro na afirmativa, aquele onde o pão, nalguns lugares também o vinho, são distribuídos a todos os forasteiros e aos doentes ou impossibilitados de comparecer no arraial.
Vale a pena recordar estes acontecimentos históricos que continuam a dar testemunho da crença e do respeito pelos votos dos antepassados, que se cumprem com escrupuloso cuidado e que são transmitidos de pais a filhos e a netos. E tal é o respeito por tão antiga tradição que, presentemente, algumas festas recentes vão introduzindo prazenteiramente, os tradicionais “impérios”.
Este povo do Pico é excepcional. Não lhes evitem cumprir as honrosas tradições. Ajudem-nos quando as dificuldades surjam para que a memória dos antepassados não caia no esquecimento.
Lajes do Pico, 29 de Agosto de 2017

Ermelindo Ávila

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