sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A PRIMEIRA VISITA DA VIRGEM PEREGRINA

NOTAS DO MEU CANTINHO


         Foi, na realidade, um verdadeiro acontecimento histórico a primeira Viagem da Virgem Peregrina de Fátima à Diocese de Angra e Ilhas dos Açores.
         Quem compulsar a Imprensa dessa época poderá ficar com uma ideia, aliás sucinta, do que foi a visita da Virgem de Fátima na sua Imagem Peregrina. O jornal local “O Dever” dedicou-lhe uma minuciosa e extensa reportagem, pois tratou-se, na realidade, de autêntico acontecimento histórico que não mais se repetiu nas visitas posteriores.
         A Imagem Peregrina percorreu todas as ilhas e a maioria das Paróquias e a todas não foi, porque os meios de comunicação eram ainda bastante limitados. Não havia transportes aéreos e a passagem de uma para outra ilha quase se fez somente no antigo iate “Ribeirense” que, para o efeito, se transformou condignamente.
         A ilha do Pico foi visitada nos dias 27 a 29 de Junho de 1948, quase setenta anos são decorridos. Nesse ano não se realizou a festa de São Pedro.
         Acompanhou a Veneranda Imagem o Bispo da Diocese, D. Guilherme Augusto, a Comissão Diocesana, e também a Comissão Nacional.
          A Imagem peregrina chegou a esta Vila na tarde do dia 28 de Junho e recolheu à Igreja do Convento de S. Francisco. Ao anoitecer, realizou-se uma grandiosa procissão de velas, presidida pelo Bispo de Angra. Era quase meia-noite, quando regressou a São Francisco. O Bispo, aflito com sede (era um diabético), abandonou a procissão e correu para a Igreja a fim de beber alguma água, pois, daí a minutos quebraria o jejum e já não poderia celebrar no dia seguinte. Mas, felizmente, tudo correu pelo melhor (o Concílio Vaticano II ainda não estava em vigor…).
         Durante a noite, numerosos fiéis estiveram em vigília na Igreja a acompanhar a Veneranda Imagem. Entretanto os membros das Comissões foram recebidos em diversas habitações lajenses, onde pernoitaram. (Na nossa casa ficaram os meus antigos condiscípulos, Dr. Moreira Candelária e Pe. Artur Medeiros Paiva).
         A Vila encontrava-se toda engalanada, como jamais foi possível fazer. Em frente da Matriz em construção, a Câmara Municipal, de que era Presidente ao tempo o professor João Pereira Maciel, mandou erguer um monumental altar coberto, para a realização da Missa Campal que, celebrada por Dom Guilherme, teve início no começo do dia. No Largo, uma multidão de pessoas vindas das diversas freguesias do concelho, assistiu à celebração. A Veneranda Imagem chegou ao altar vinda em procissão e acompanhada de centenas ou milhares de devotos.
          Celebrada a Missa, Dom Guilherme usou da palavra para recordar a memória do antigo ouvidor, P. José Vieira Soares, falecido poucos meses antes e que, se fosse vivo, completaria naquele dia (29 de Junho) setenta anos de idade. Sobre a fala de Dom Guilherme escreve “O Dever”: O Venerando Prelado não podia deixar debandar aquela gente, que a maior parte de tão longe viera, sem uma palavra: e falou-lhes... Saudou a todos, e a todos louvou pelos esforços, canseiras, sacrifícios que hão despendido, naqueles dias abençoados. Louvou, ainda, os lajenses pelas ornamentações da sua Vila, lindamente preparada para receber a Virgem. A todos pediu que vivessem sempre a fé daquela hora, velassem pela educação dos seus filhos e fossem fiéis ao chamamento da graça.
          A seguir o P. Filipe Madruga, que estava a exercer as funções de Pároco da Matriz das Lajes, em nome da Paróquia, colocou na Veneranda Imagem um cordão de ouro com crucifixo no qual estava gravado: Lajes do Pico, Açores.
         Antes de sair das Lajes D. Guilherme permitiu que a Veneranda imagem da Virgem descesse ao Porto, cujas embarcações estavam todas engalanadas, velas subidas, arpões em guarda de honra. Linda a homenagem dos baleeiros!
         Na viagem para a Madalena a fim de seguir para o Faial, a Imagem Peregrina tomou lugar num pequeno trono armado num carro – andor. Foi-me permitido e a outros acompanhar a Senhora. Quando passávamos na Terra do Pão, o carro fez um desvio para a terra e fez com que um ferro colocado numa das casas, creio para suporte de um candeeiro, me atingisse e levasse ao chão da carrinha. Felizmente sem quaisquer consequências, graças à Senhora!
          A Veneranda Imagem da Virgem Peregrina já voltou à Ilha do Pico (e consequentemente aos Açores) outras duas vezes mas, infelizmente, nenhuma outra se revestiu do entusiasmo e esplendor da primeira visita. Ignoro a razão desse afrouxamento.

Lajes do Pico,
1 de Fervº de 2017.
Ermelindo Ávila


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