domingo, 20 de novembro de 2016

PÃO POR DEUS

NOTAS DO MEU CANTINHO


No nosso viver habitual, vão desaparecendo as nossas seculares tradições. É a história que se adultera. São os hábitos e costumes que vão.
Atravessamos uma época de verdadeira confusão social.
Nunca houve tanta riqueza acumulada e tanta pobreza. É a chamada crise económica. As falências das actividades comerciais e industriais, e particularmente da própria banca, são uma constante, e normalmente arrastam para a miséria não poucas famílias. Basta estar atento ao que nos transmite a comunicação social.
         Com a “importação” de certas modernices estranhas ao nosso viver substituído por certos sistemas sem significado, é toda uma vida ancestral que se modifica sem proveito para ninguém,
         Agora, surgiram, com certa insistência e algum patrocínio de estranhos, no tradicional Dia do Pão Por Deus, os fantasmas horripilantes, por vezes. E aquele, sim, tinha um significado altruísta e de benemerência, que todos aceitavam e respeitavam, como, por cá, ainda hoje acontece.
         Quando a vida era mais difícil, quando a pobreza atingia maior número de famílias, mais notória no dia de “Todos os Santos” – 1º de Novembro - todas as casas se preparavam para receber aqueles que lhes “batiam à porta” a pedir uma esmolinha por amor de Deus ou o “pão por Deus”. E recebiam géneros de várias espécies, que tudo lhes servia. Ultimamente, porém, são as crianças que, em pequenos grupos, ainda aparecem com seus saquitéis, especialmente feitos de retalhos pelas mães ou avós, a pedir, numa cantilena agradável, o “pão por Deus!”. E nunca deixam de receber umas moedas ou uns doces – chocolates, queijadas, e outros.
         Felizmente que a tradição não se perdeu e ainda hoje acontece, tal como anteriormente. É agradável recebê-los, com eles ter uma pequena conversa, dar-lhes o desejado “pão por Deus” e despedi-los, até ao ano, se Deus quiser. Um gesto cristão que só dignifica quem o pratica.
         Este ano, porém, algumas escolas prepararam as crianças com vestes horríveis, para percorrerem os lugares, representando o Halloween que nada tem com os nossos hábitos e costumes.
         Por que não deixar a cada um a herança, embora modesta, que recebeu de seus avós? Não só é um gesto de respeito pelo passado como, sobretudo, um sinal de cultura simpático e - porque não? – educativo.
         Na realidade, vai desaparecendo, pouco a pouco, uma tradição de alguns séculos. Em certos hábitos e costumes vamo-nos aproximando de um estrangeirismo, diria feroz, que nos vai transformando em autênticas pessoas neutras.
         E não é dizer que hoje não haja pobreza. Ela existe, a maioria das vezes encapotada e envergonhada. Aliás, os tempos que decorrem, com a actual crise que se atravessa, provocam, se não por cá, nos meios mais desenvolvidos, uma autêntica pobreza. Basta ter em atenção o que se passa nalgumas cidades mesmo açorianas, onde já existem pessoas a viver na rua, como há muito acontece nas nações mais ricas: os sem-abrigo. Nos Estados Unidos são os tramps – um verdadeiro flagelo social e uma vergonha para este século.
         A ilha do Pico, se não tem grandes riquezas, também nela não existem ainda notórias carências e miséria. Mas convêm acautelar.
         Sabido que não é com o “pão por Deus” que se vai debelar qualquer surto de pobreza. Mas não deixa de ajudar e é, sobretudo, um gesto dignificante que não se deve ignorar e, muito menos, substituir pelo moderno halloween, ou qualquer outra diversion.
         Este ano já passou o dia do Pão por Deus. Para o ano que vem ele surgirá novamente. Um apelo fica: que pais e professores preparem os filhos e alunos para uma simpática e cristã tradição que só dignifica quem a pratica. E haverá sempre crianças que esperam por esse dia para saborearem uma guloseima...


Lajes do Pico,
7 de Nov. de 2016

Ermelindo Ávila 0

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