NOTAS DO MEU CANTINHO
No nosso viver habitual, vão desaparecendo as nossas
seculares tradições. É a história que se adultera. São os hábitos e costumes
que vão.
Atravessamos uma época de verdadeira confusão social.
Nunca houve tanta riqueza acumulada e tanta pobreza. É
a chamada crise económica. As falências das actividades comerciais e
industriais, e particularmente da própria banca, são uma constante, e
normalmente arrastam para a miséria não poucas famílias. Basta estar atento ao
que nos transmite a comunicação social.
Com a “importação” de certas modernices
estranhas ao nosso viver substituído por certos sistemas sem significado, é
toda uma vida ancestral que se modifica sem proveito para ninguém,
Agora, surgiram, com certa insistência e
algum patrocínio de estranhos, no tradicional Dia do Pão Por Deus, os fantasmas
horripilantes, por vezes. E aquele, sim, tinha um significado altruísta e de
benemerência, que todos aceitavam e respeitavam, como, por cá, ainda hoje
acontece.
Quando a vida era mais difícil, quando
a pobreza atingia maior número de famílias, mais notória no dia de “Todos os
Santos” – 1º de Novembro - todas as casas se preparavam para receber aqueles
que lhes “batiam à porta” a pedir uma esmolinha
por amor de Deus ou o “pão por Deus”. E recebiam géneros de várias
espécies, que tudo lhes servia. Ultimamente, porém, são as crianças que, em
pequenos grupos, ainda aparecem com seus saquitéis, especialmente feitos de
retalhos pelas mães ou avós, a pedir, numa cantilena agradável, o “pão por
Deus!”. E nunca deixam de receber umas moedas ou uns doces – chocolates,
queijadas, e outros.
Felizmente que a tradição não se perdeu
e ainda hoje acontece, tal como anteriormente. É agradável recebê-los, com eles
ter uma pequena conversa, dar-lhes o desejado “pão por Deus” e despedi-los, até ao ano, se Deus quiser. Um gesto
cristão que só dignifica quem o pratica.
Este ano, porém, algumas escolas
prepararam as crianças com vestes horríveis, para percorrerem os lugares, representando
o Halloween que nada tem com os
nossos hábitos e costumes.
Por que não deixar a cada um a herança,
embora modesta, que recebeu de seus
avós? Não só é um gesto de respeito pelo passado como, sobretudo, um sinal de
cultura simpático e - porque não? – educativo.
Na realidade, vai desaparecendo, pouco a pouco, uma
tradição de alguns séculos. Em certos hábitos e costumes vamo-nos aproximando
de um estrangeirismo, diria feroz, que nos vai transformando em autênticas
pessoas neutras.
E não é dizer que hoje não haja pobreza.
Ela existe, a maioria das vezes encapotada e envergonhada. Aliás, os tempos que
decorrem, com a actual crise que se atravessa, provocam, se não por cá, nos
meios mais desenvolvidos, uma autêntica pobreza. Basta ter em atenção o que se
passa nalgumas cidades mesmo açorianas, onde já existem pessoas a viver na rua,
como há muito acontece nas nações mais ricas: os sem-abrigo. Nos Estados Unidos são os tramps – um verdadeiro flagelo social e uma vergonha para este
século.
A ilha do Pico, se não tem grandes
riquezas, também nela não existem ainda notórias carências e miséria. Mas
convêm acautelar.
Sabido que não é com o “pão por Deus” que se vai debelar qualquer surto de pobreza.
Mas não deixa de ajudar e é, sobretudo, um gesto dignificante que não se deve
ignorar e, muito menos, substituir pelo moderno halloween, ou qualquer outra diversion.
Este ano já passou o dia do Pão por Deus. Para o ano que vem
ele surgirá novamente. Um apelo fica: que pais e professores preparem os filhos
e alunos para uma simpática e cristã tradição que só dignifica quem a pratica. E
haverá sempre crianças que esperam por esse dia para saborearem uma
guloseima...
Lajes
do Pico,
7
de Nov. de 2016
Ermelindo
Ávila 0
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