segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O PICO EM FESTA

A MINHA NOTA


A ilha do Pico está em festa. Uma festa contínua que se iniciou na Madalena, passa por São Mateus, “salta” a São Roque e termina na Lajes. Sem referirmos as que se realizam no mês de Setembro em diversas freguesias, a começar pela de Nossa Senhora da Piedade.
Em anos passados a festa principal da Ilha era a do Bom Jesus, em São Mateus. É isso que nos diz o Bispo Dom João Paulino, numa série de artigos publicados no “Peregrino de Lourdes”, de Angra, em 1889. E começa o primeiro, referindo-se à origem da Festa de Lourdes:
Em 1881 no mês de Agosto passava pela freguesia de S. Mateus da ilha do Pico, por ocasião da festa que anualmente ali se celebra no dia 6 em honra do Bom Jesus um sacerdote da vila das Lajes da mesma ilha. Viu e admirou o entusiasmo religioso da imensa multidão de fiéis que de todos os pontos da ilha e de fora dela ali haviam concorrido impelidos pela devoção à imagem do Senhor Ecce Homo que sob aquela invocação se venera na igreja da freguesia. E, depois, acrescenta: Há trinta anos ainda não havia ali a imagem do Senhor que dela é objecto.
E é o mesmo articulista que escreve:
Numa das primeiras entrevistas que teve com o seu inolvidável amigo o Padre António Ribeiro Homem da Costa, ouvidor das Lajes e vigário da matriz daquela vila, propôs-lhe o seu pensamento, (...) o Padre Ribeiro, longe de oferecer a menor hesitação imediatamente acolheu o pensamento do seu amigo apenas este lho comunicou. – O estabelecimento do culto de Nossa Senhora de Lourdes na vila das Lajes era da máxima oportunidade. E realmente foi o aconteceu. As primeiras festas realizaram-se em Setembro de 1883, pela chegada tardia da Imagem. (...) Festa de tamanho luzimento jamais fora vista dentro dos muros daquele templo.
Desde 1884, porém, a festa tem lugar no último domingo de Agosto. E já são decorridos cento e trinta e um anos.
A Madalena celebra (já celebrou no ano corrente) a sua festa principal no dia 22 de Julho, dia liturgicamente designado para a comemoração da Padroeira, Santa Maria Madalena. A festa religiosa sempre se celebrou com grande esplendor litúrgico. Os festejos externos são de realização mais recente. Por volta de 1965 a festa foi notoriamente solene e bastante concorrida. O Município havia conseguido que o feriado municipal se celebrasse no dia da Padroeira. A vila foi engalanada a preceito e uma feérica iluminação eléctrica cobriu a parte central do burgo. Para isso veio de Angra o técnico electricista Fausto. E assim tem continuado, felizmente.
São Roque, porque houve mudança inadvertida e prejudicial da sede do Município, passando de S. Roque para o antigo convento franciscano, extinto por decreto de D. Pedro em 1823, deixou de interessar-se um pouco pela festa do Padroeiro. E tanto assim que, actualmente, os festejos principais são aqueles que se realizam no Cais do Pico e se designam por “CaisAgosto”.
Uma festa assinalável e que decorreu com brilho foi a que se realizou em 16 de Agosto de 1940, integrada nas comemorações do Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal. Na ocasião, com a presença do Governador do Distrito e outras autoridades distritais, foi inaugurada nas imediações do porto do Cais do Pico a estátua do Rei Dom Dinis, que lá se encontra. Depois seguiu-se a solenidade religiosa na Matriz de São Roque, na qual foi orador o Ouvidor das Lajes, P. José Vieira Soares. Uma festa realmente brilhante e bastante concorrida.
Hoje São Roque continua a celebrar a festa do Padroeiro na sua igreja Matriz, a mais antiga da ilha e que ainda conserva a Capela mor oferecida, aquando da construção do templo, pelo Rei Dom João V. Uma relíquia que muito valoriza aquele templo e que merece ser acautelada com todo o carinho.
E, a propósito das festas de S. Roque, escreveu o saudoso P. José Idalmiro (Património Religioso – Concelho de S. Roque do Pico, pág.3): Em tempos não muito remotos assumiu a festa do Padroeiro que também o é do Concelho, esplendor assinalável. – Balões à veneziana emolduravam espectáculo atraente a iluminar o adro e a rua adjacente. Nesta, o célebre fogo de artifício que Tomé Mamede armava na sua oficina do Cais, era forte motivo de atracão dado o ineditismo do facto.”
E as Festas continuam. São indispensáveis para, na parte religiosa, afervorar a fé dos crentes, e na parte externa, pelo convívio ameno que proporciona a quantos nela tomam parte.
Não é possível, neste simples arrazoado, mais dizer.

Lajes do Pico,
24 de Julho de 2015

Ermelindo Ávila

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