A MINHA NOTA
Quando a vida era risonha e bela, havia tradições e costumes que se respeitavam e cumpriam nas épocas próprias. É o caso das castanhas que hoje trago à ribalta.
Por estes lados do Sul da Ilha o castanheiro não medrava, capazmente. Desenvolvia-se a árvore, mas os frutos eram mesquinhos. Daí que se tornasse necessário procurá-las nos sítios próprios, neste caso a Norte da Ilha.
O comércio importava a castanha do continente, mas não era igual à que se produzia nestas ilhas. Tinham um sabor diferente...
Em chegando às proximidades da comemoração de Todos os Santos, reuniam-se as moças destas bandas em ranchos, e, pelos caminhos da Serra, iam até à Prainha do Note, comprar castanhas, pois por ali os castanheiros produziam bons frutos. Seguiam pelo “caminho dos burros”, descansavam muitas vezes às “mesas”, para chegarem ao destino nas primeiras horas da manhã. Ali compravam uns meios alqueires de castanhas ou trocavam por produtos de cá, e voltavam, chegando a casa ao entardecer. Uma viagem longa mas alegre, pelo convívio e pela amenidade do tempo de Outono, que muito classificavam de a “Primavera das Ilhas”.
Como anteriormente já referi, a Prainha fica no outro lado da Ilha. Lajes e Prainha são as duas freguesias mais próximas. E quem refere as Lajes diz, normalmente, Almagreira, Silveira e Ribeira do Meio. É só atravessar a Serra e já se está num ou noutro lado.
Disse produtos de cá mas não muitos. A Prainha sempre foi uma das zonas da Ilha onde se produziram bons cereais, especialmente o trigo e o milho.
Infelizmente, esses cereais vão sendo abandonados. Já não se encontram as cearas de trigo, onde geralmente as raparigas passavam as manhãs e o entardecer a espantar a praga,( canários, principalmente, pois os pardais apareceram em intensidade a meados do século passado), que caía sobre as searas de trigo. O trigo, que fez parte da diminuta bagagem dos povoadores, foi o primeiro cereal produzido na ilha. O milho só apareceu mais tarde, aí por 1670, trazido por Denis Gregório de Melo, capitão -general dos Açores. Dada a sua larga produção passou a ser o cereal preferido na alimentação do homem, deixando o trigo de ser cultivado em grandes quantidades. Por estes lados, era normal intensificar-se a sementeira de trigo quase só nos anos em que se tinha o encargo da função em louvor do Divino Espírito Santo.
Actualmente, o milho passou a ser quase só cultivado para alimento dos bovinos, no Inverno, depois de mecanicamente ensilado. Contudo vale a farinha de trigo importada.
E ficamos com as castanhas. Não passam de um fruto que, depois de assado ou cozido, serve de sobremesa nas refeições da época, ou nas adegas, de aperitivo às provas do vinho novo.
Vila das Lajes,
Outubro de 2011.
Ermelindo Ávila
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