Como sempre, trabalhavam-se os actos eleitorais. Não havia comícios nem disputas públicas. Os votos eram pedidos de porta a porta e pela calada da noite. Terminados os actos eleitorais a vida das pessoas voltava à normalidade.
Os partidos não eram muitos. No princípio da República apenas dois os que por cá militavam: os democráticos e os unionistas. E bastavam. O elemento feminino não tinha direito a voto, nem mesmo os analfabeto que, aliás, representavam uma parte importante da população.
Tudo se reduzia a um pequeno ou limitado número de eleitores. E eram esses que manobravam os destinos dos povos, principalmente das câmaras municipais, pois as juntas de freguesia ou de paróquia tinham atribuições limitadas.
Os militantes políticos nada recebiam pelos cargos que exerciam. E isto durante muitos anos, até mesmo no chamado Estado Novo. Depois, tudo se modificou e hoje exercer um cargo político é ter a garantia de auferir ordenados avantajados e invejáveis, quando a grande maioria das pessoas se vê a braços com graves problemas financeiros, derivados dos parcos proventos que recebe e que estão sempre ameaçados de cortes. De realçar os chamados funcionários públicos que, recebendo seus salários dos cofres do Estado, estão sujeitos aos cortes que, dizem, vão permitir saldar os défices do Estado, os quais, segundo se julga, ninguém procura averiguar como foram contraídos…
O quinzenário As Lages, cuja publicação se iniciou nesta vila em Fevereiro de 1914 e do qual era Director, proprietário e editor, Gilberto Paulino de Castro, no seu número 103, de 15 de Abril de 1919, e sob o título “Comissão Administrativa Municipal”, traz a seguinte notícia, que nos apraz aqui transcrever como documento histórico que é, e decorridos que são quase cem anos:
“De acordo. 0s dois grupos políticos desta localidade, unionista e democrático, propuseram ao Exmº Governador Civil deste distrito a nomeação da comissão municipal administrativa deste concelho, por alvará de s. Exª sancionada e assim constituída e representada: Presidente:- Manuel Quaresma Melo, independente. Vogais: - Leonardo Xavier de Castro Amorim e Edmundo Machado Ávila, unionistas; José Francisco Pimentel e Manuel Vieira Cardoso, democráticos. - Cumprimentamos o sr.José Lopes da Silveira Gomes, digno representante do partido democrático deste concelho, pela seleccionada escolha que fez para a representação do mesmo partido na administração deste município. Desde a primeira e subsequentes sessões em que têm tomado parte, mostraram ou fizeram-lhes mostrar o que devem ser e como devem proceder os filhos dilectos do querido pai Afonso!... A César o que é de César” .
Conheci pessoalmente os indicados membros do executivo camarário. Todos eles pessoas de bem.
O Presidente, Manuel Quaresma Melo, era comerciante e oficial de baleia. Duma simpatia extrema. Teve, no entanto, morte trágica. Ele, a Filha e o Genro e dois netos foram vítimas do surto de peste que atingiu esta vila, por volta de 1922. Além do Senhor Quaresma outros mais foram tingidos pela terrível doença que só desapareceu com a construção do antigo campo de jogos, que dali retirou o matagal de junco onde as pessoas, incautamente, faziam lixeira e era pasto da ratazana.
Mas, voltemos à política de outras eras. Não era perfeita como jamais foi em tempo algum, pois as quezílias nunca deixaram de existir. Hoje separa, por vezes, as sociedades, as pessoas e as famílias. Promove, incobertamente, a vingança. Muitas vezes não tem pejo em caluniar para vencer e alcandorar-se nos lugares cimeiros do mando. Governa os povos segundo os caprichos pessoais, quantas vezes de encontro aos princípios básicos do bom senso, da seriedade e do são convívio.
Como me dizia alguém: a política é uma tristeza e uma lástima de que é vítima o Zé Povinho. Bem a definiu Bordalo Pinheiro!…
Vila das Lajes,
30-Março-2011
Ermelindo Ávila.
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