sexta-feira, 22 de abril de 2011

FOLAR DA PÁSCOA

A Páscoa é o tempo em que o povo judaico comemora a libertação do Egipto. É celebrada no 14º dia depois do equinócio da Primavera. Foi nesses dias que se deu a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. E para comemorar esse acontecimento, base da fé cristã, celebram os Cristãos, anualmente, a Ressurreição de Jesus Cristo no domingo seguinte à Páscoa judaica. Trata-se pois de uma festa móvel no calendário da Igreja, celebrada anualmente com grande esplendor litúrgico.

O Cristão vivia a Semana Santa com muito recolhimento. Mesmo que não assistisse diariamente às solenidades litúrgicas. Tinha, no entanto, um enorme respeito por esses dias em que a Igreja Católica comemorava a Paixão de Jesus Cristo.

Os trabalhos dos campos quase eram suspensos, só se efectuando os indispensáveis. Não se realizavam divertimentos de quaisquer espécies. Um quase silêncio respeitoso dominava os ajuntamentos das pessoas.

No ano de 1888 a freguesia da Santíssima Trindade tinha 3.170 habitantes, distribuídos pela Silveira - 1.468, Lajes (incluindo a Ribeira do Meio),1.497 e Terras 205. Toda a população, em idade canónica, cumpria os preceitos de confissão e comunhão. No respectivo registo não se encontra um faltoso. Não digo que fossem melhores ou piores. Eram simplesmente cumpridores das normas da Igreja.

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O povo cristão criou, para as refeições do dia de Páscoa, o folar. (As amêndoas vieram mais tarde).

O folar é, pois, tradicional da Páscoa, tal como a caçoilha é o prato preferido do Natal. Mas há sua diferença. No Natal predomina o prato de carne. O mesmo acontece no continente, pois é nessa época que há a grande matança para abastecimento geral.

Na Páscoa, ao menos por estes lados, não há prato especial. No domingo de Páscoa as refeições geralmente são frugais. Ao almoço (até há uns cinquenta anos) era partido o chamado folar grande que, quase sempre tinha ovos para toda a família. (Mas que era o folar? - Um pão de massa sovada, no qual se introduziam alguns ovos cozidos, cobertos com dois troços de massa, em forma de cruz ). Alguns folares eram distribuídos pela família e amigos. Por vezes era, e é ainda, uma troca de mimos.

Para o jantar cozinhavam-se pratos simples. Por vezes, carne de galinha e sopa de canja. Isto no tempo em que os horários das refeições eram diferentes: o almoço às dez horas da manhã e o jantar às cinco da tarde. Não havia pequeno almoço. Antes do deitar, cerca das nove/dez horas da noite, era a ceia, também muito frugal, pois era corrente o ditado: das grandes ceias estão as sepulturas cheias...

Depois, por exigência do funcionalismo vindo de fora, o horário das repartições modificou-se passando a haver um intervalo ao meio dia para o almoço. E hoje toda a gente adopta esse horário.

As cerimónias pascais tinham lugar de manhã. Principiavam pela procissão com o Santíssimo, seguindo-se logo a Missa da Ressurreição. Depois, era o almoço familiar e o domingo ficava livre para as visitas das famílias e amigos.

Vila das Lajes.

Páscoa de 2011

Ermelindo Ávila

1 comentário:

Fernando Pinto disse...

Boas noites, senhor Ermelindo! Procurei o seu e-mail, sem sucesso. Estou no Faial. Há cerca de um ano, sem querer, "descobri" a celebração da Procissão ou do Dia de Cornos; acabei por escrever um pequeno e despretensioso texto, que, com alguma surpresa - mas evidente satisfação -, está a receber bom acolhimento, precisamente sobre esta antiga celebração popular. E, se tudo correr bem, vou poder assitir, ao vivo, à celebração atual desta festa, ao que parece, profana. Permita-me que lhe pergunte, em jeito de pedido de ajuda: que sabe o senhor sobre a Procissão ou o Dia de Cornos nos Açores? Agradeço-lhe, desde já, a leitura deste comentário, e, é claro, qualquer pista ou ajuda da sua parte. Cordial e respeitosamente, Fernando Pinto