Há quinze anos foi para o ar, pela primeira vez, o programa da Antena 1, com o singelo título de “Manhãs de Sábado”.
Nada de relevante haveria se o programa se limitasse a ser igual a outros mais que aparecem diária ou semanalmente nos receptores que utilizamos. Mas “Manhãs de Sábado” era algo diferente, quer na organização quer na massa ouvinte que aos sábados de manhã o escutava com interesse e o acolhia com simpatia.
É o que tenho verificado nestes dois anos em que colaboro modesta e singelamente no Programa, dado que são diversos os radiouvintes que dele me têm falado. E se as minhas contas não falham, foram mais de 700 os programas emitidos.
De Santa Maria ao Corvo, passando pelas outras Ilhas do Arquipélago, havia alguém que falava da sua Ilha, dos seus problemas, da sua cultura, das paisagens e belezas naturais, dos acontecimentos mais relevantes, da sua própria história. É desses eventos que as pessoas gostaram sempre de ouvir e não de um simples e contínuo programa musical, que satura a maior parte das vezes. O radiouvinte folga quando ouve o nome da sua ilha, das pessoas suas conterrâneas ou da história que muitas vezes desconhece.
Julguei-me sempre um colaborador emprestado, ocupando um posto que não era ou não devia ser meu. Todavia, enquanto cá estive, procurei desempenhar o melhor que soube este lugar especial.
E, a terminar, deixo aqui este simples apontamento:
Fez ontem 54 anos que, nesta ilha, se deu início à construção da estrada longitudinal, como é conhecida, com ela terminando a construção das estradas nacionais da ilha que, durante cinco séculos por elas esperou.
A inexistência de estradas nestas ilhas dos grupos central e ocidental, S. Jorge, Pico e Flores, principalmente, é responsável directa pelo atraso económico e social que nelas se verificou, e ainda hoje tem seus reflexos, obrigando a que os naturais se refugiassem em outras ilhas, onde lhes era facilitada a vida deles e dos próprios filhos.
Enquanto os habitantes da Fronteira do Pico iam até ao Faial, os povos da Ponta da Ilha encaminhavam-se para a Terceira onde ainda hoje é notável a colónia de picoenses que por lá anda. Não poucos, já nos tempos modernos, preferiram ir até S. Miguel.
São Jorge sempre preferiu a Terceira, naturalmente, por pertencer ao antigo distrito de Angra, tal como a Graciosa. Para tais ligações muito contribuíram os antigos barcos do Pico, inicialmente iates à vela e depois motorizados. Mas são tempos passados que estão presentes na memória saudosa de quem os viveu.
A grande maioria por lá ficou e muitos dos seus descendentes, actualmente, mercê de circunstâncias diversas, mal conhecem suas origens.
Desviei-me do assunto do dia. Nada se perdeu. Isto para referir o quão difícil era a comunicação das ilhas entre si. Uma carta demorava quinze dias. Não existiam telefones e somente o Morse levava o telegrama muitas vezes em cifra, a comunicar uma noticia urgente. O isolamento era atrofiante. Só quem o viveu pode dar testemunho dessas épocas, não muito distantes. Mas, felizmente, tudo se modificou com a Rádio e, a seguir com, a Televisão, que entra em nossas casas a toda a hora, mesmo sem pedir licença, como alguém, jocosamente, me dizia.
O mutismo vai continuar a imperar nestas ilhas que, classificadas de secundárias, passam ao esquecimento.
As MANHÃS DE SÁBADO voltam ao esquecimento, depois de três lustres de actividade frutuosa em prol das gentes açorianas.
Calam-se os colaboradores, emudecem os organizadores, cai o pano e o Programa passa ao esquecimento da Instituição, que não dos radiouvintes.
Para aqueles que foram seus dedicados organizadores, Mário Jorge Pacheco e João Almeida e para a plêiade brilhante dos colaboradores, o meu Bem Hajam pelo trabalho desenvolvido a bem da Terra Açoriana.
Até sempre!
Vila das Lajes,
18 de Fevereiro de 2011.
Ermelindo Ávila
2 comentários:
Como diria a canção calam-se as vozes! É mais cómodo. Assim não vamos a lado nenhum meus senhores!
O BIC....CALARAM-LHE
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