quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ÓRGÃOS

Refiro somente os que existiram ou ainda se encontram na Ilha do Pico.

Que se saiba, poucos estão a ser utilizados, e alguns, vítima de incúrias, já os levou o tempo. Foi pena, pois eram instrumentos de grande categoria, e construídos por artistas célebres que ficaram na história.

Segundo um estudo levado a efeito por Nuno Mimoso, Grafismo de António José Ferreira, (publicado na http://www.meloteca.com, datada de 04-03-2008), a Região Autónoma dos Açores possuía cinquenta e três órgãos, quatro dos quais se situavam na Ilha do Pico.

Mas o Pico possuiu muitos mais órgãos que, infelizmente, foram desaparecendo, destruídos por incêndios, como foi o caso da Silveira, ou pela incúria dos homens.

Um dos órgãos mais antigo que existe pertence à Matriz das Lajes, construído em 1804 por António Xavier Machado e Cerveira. Foi restaurado em Junho de 1990 pelo distinto organeiro Comendador Dinarte Machado. É um excelente instrumento, tendo sido já utilizado em vários concertos de órgão, por organistas profissionais.

Segundo Nuno Mimoso, doze dos órgãos existentes nos Açores foram construídos pelo referido Cerveira.

Na igreja paroquial da Piedade existiu um órgão, o melhor construído em 1874 por Thomé Gregório de Lacerda, da Ilha de S. Jorge, tio do Maestro Francisco de Lacerda. “Sem estudo algum prévio , e somente por sua habilidade construiu o órgão da (sua) freguesia. Indo depois a S. Miguel para ouvir a respeito o célebre Pe. Joaquim Silvestre Serrão, que dirigiu a construção do órgão mais pequeno da Sé de Angra, abalançou-se a maiores empresas, construindo o órgão da Calheta de Nesquim, da ilha do Pico, o órgão da vila das Velas desta ilha de São Jorge e o da igreja de Nª. Sª. da Piedade da Ponta do Pico – que é um bom instrumento o melhor construído por Thomé Gregório de Lacerda.” (Pe. Manuel de Azevedo da Cunha, Notas Históricas).

O órgão da Calheta de Nesquim, igualmente desaparecido, havia sido construído em 1859.

A igreja de São João Baptista possuí um órgão, construído no ano de 1884 pelo organeiro António Nicolau Ferreira, de Ponta Delgada. Foi restaurado por Dinarte Machado, em 2006.

Na Matriz de S. Roque do Pico existiu um órgão, ali colocado em 1819, e construído por Marcelino Lima da cidade da Horta.

Na igreja de S. Bartolomeu, da Silveira, houve um órgão também construído em S. Jorge, que desapareceu no incêndio de 23 de Junho de 1924, que destruiu aquele templo. Depois de restaurada a igreja foi adquirido um outro órgão pertencente à igreja dos Biscoitos, S. Jorge, e que havia sido construído por Manuel Serpa da Silva, em 1890. Este órgão ficou totalmente danificado por um novo incêndio que se deu naquela igreja na noite de 16 de Agosto de 1966, e que destruiu a capela-mór.

Em Santo António (S. Roque) existe um órgão muito antigo, ultimamente restaurado pelo referido organeiro Dinarte Machado, e que julgo ser peça única existente nestas ilhas. É tradição que pertenceu à igreja do convento de S. Francisco, do Cais do Pico.

Presentemente estão a ser utilizados, acompanhando os cantos e hinos litúrgicos, harmónios electrónicos que, apesar de todos os esforços, não conseguem imprimir aos actos litúrgicos a solenidade que lhes era tradicional.

No entanto, sabido é que as paróquias, despovoadas como vão ficando, não podem reunir os fundos necessários para a aquisição de instrumento de tão elevado custo.

Basta ter em atenção que o órgão da igreja da Piedade, adquirido em 1874, custou 900$000, uma quantia bastante elevada para a época, quando o salário diário de um trabalhador oscilava entre $200 (reis). Pois, se em 1940 um funcionário tinha o ordenado mensal entre 500$00 e 600$000... E só mais esta referência: quando as obras da Matriz foram iniciadas o orçamento era de 1.000$00 e quando recomeçadas, em 1954, foi de mil contos, ( 5.000 euros).


Vila das Lajes,

Fev. 2011

Ermelindo Ávila

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