A Ilha do Pico tem dado, ao longo da sua vida de mais de cinco séculos, homens notáveis e que se hão distinguido nas artes, na cultura e nas ciências.
Há instantes, os meios de comunicação social deram a notícia do navegador solitário GENUÍNO MADRUGA ter pisado terras de Timor. Emocionou-me a notícia tal como aconteceu quando o vi sair no seu veleiro pelo porto das Lajes rumo ao mar alto no início da volta ao mundo, faz precisamente agora um ano. E recordei a Família Madruga, a família do Genuíno. Uma Família amiga que nunca esquecerei.
A Ilha do Pico tem dado, ao longo da sua vida de mais de cinco séculos, homens notáveis e que se hão distinguido nas artes, na cultura e nas ciências.
A Família Madruga é uma Família de artistas. Os seus filhos andam por aí com seus trabalhos de pintura, como ontem executavam primorosamente a gravura. E não só aqui. Uma Madruga, imigrada no Brasil, lá se distinguiu como a artista Alex Madruga, festejada pela Imprensa.
Aqui lembro o Fernando, presentemente em Macau. Estava-se no tempo da chamada guerra colonial. O Fernando e outro companheiro, partiram, clandestinamente, para a Europa. Chegaram a Paris. O companheiro por aí ficou. O Fernando seguiu e um dia chegou à antiga possessão portuguesa de Macau. Por lá ficou. Estabeleceu-se na ilha de Coloane com café e restaurante, numa rústica cabana. Mas nem por isso lhe faltaram os fregueses. O café fornecido pelo Fernando era uma especialidade e toda a gente macaense, ou de visita, para lá corria a tomar a bica. Conversámos e perguntei-lhe se após a anexação, voltava ao Pico. Respondeu-me que ficaria, porque os chineses eram seus amigos. Gostavam dos pratos que apresentava e serviam-se das hortaliças que o Fernando cultivava no pequeno terreno que circundava o restaurante. Certo é que, passados meses, a Imprensa noticiou a concessão de um terreno, em território chinês, para o Fernando fazer horta.
O Dr. Manuel Alexandre Madruga, licenciado em Belas Artes, ficou pela Horta como professor. Os filhos ingressaram igualmente nessa área artística: são arquitectos e pintores. E recordo, igualmente, o Pe Genuíno Madruga, um segundo Pe Américo.
E aqui impõe-se lembrar uma Senhora que me impressionou na adolescência distante. Refiro D. Maria das Dores Madruga, professora em São João, sua terra natal, que leccionou até ao limite de idade – 70 anos – e que sofreu imenso ao abandonar as alunas, passando todos os dias pelo edifício escolar à hora da abertura da escola. Não se conformava que a lei lhe impusesse tão brusca saída, tal a dedicação que votava ao Ensino e, sobretudo, às suas alunas.
O irmão, Manuel Alexandre Madruga sénior, era proprietário de terrenos ao sul desta vila. No tempo não havia veículos motorizados. Era o seu carro de um só boi que, diariamente, fazia a viagem de São João às terras da Queimada. E fazia-o sem pressas, muito calmamente. E se vinha de madrugada, a noite levava-o a casa. Era uma pessoa extraordinária. É o tronco de todos os Madrugas. À descendência transmitiu a calma, a serenidade, a inteligência...
O Genuíno, depois de descer o Atlântico, passar o cabo Horn, um feito notável, atravessar o Pacífico, costeando ilhas e ilhotas, chegou à antiga ilha portuguesa de Timor. Foi recebido festivamente pelos muitos portugueses que ainda lá se encontram e, talvez, por alguns nativos.
Timor é uma terra muito querida para os picoenses. Por lá andaram Dom Jaime Garcia Goulart, seu primeiro Bispo, o Pe. José Pereira da Silva Brum, o Pe. Isidoro da Silva Alves, o Pe. José Carlos Vieira Simplício, e outros mais.
Quem não recorda a odisseia do Pe. Brum, que aqui chegou com um grupo de sete alunos, que passaram a frequentar o Externato Lajense, e que, depois, caminharam para o continente, onde reorganizaram suas vidas. Um deles voltou a Timor já sacerdote.
Foi nessa terra que Genuíno Madruga acaba de aportar com o seu “Hemingway“. Vai refazer energias, reabastecer-se, restaurar o barco, para regressar à Terra-Mater.
Cá o esperamos com prazer e alegria... os que cá estiverem...
Vila Baleeira,
12-08-2008
Ermelindo Ávila
A Ilha do Pico tem dado, ao longo da sua vida de mais de cinco séculos, homens notáveis e que se hão distinguido nas artes, na cultura e nas ciências.
A Família Madruga é uma Família de artistas. Os seus filhos andam por aí com seus trabalhos de pintura, como ontem executavam primorosamente a gravura. E não só aqui. Uma Madruga, imigrada no Brasil, lá se distinguiu como a artista Alex Madruga, festejada pela Imprensa.
Aqui lembro o Fernando, presentemente em Macau. Estava-se no tempo da chamada guerra colonial. O Fernando e outro companheiro, partiram, clandestinamente, para a Europa. Chegaram a Paris. O companheiro por aí ficou. O Fernando seguiu e um dia chegou à antiga possessão portuguesa de Macau. Por lá ficou. Estabeleceu-se na ilha de Coloane com café e restaurante, numa rústica cabana. Mas nem por isso lhe faltaram os fregueses. O café fornecido pelo Fernando era uma especialidade e toda a gente macaense, ou de visita, para lá corria a tomar a bica. Conversámos e perguntei-lhe se após a anexação, voltava ao Pico. Respondeu-me que ficaria, porque os chineses eram seus amigos. Gostavam dos pratos que apresentava e serviam-se das hortaliças que o Fernando cultivava no pequeno terreno que circundava o restaurante. Certo é que, passados meses, a Imprensa noticiou a concessão de um terreno, em território chinês, para o Fernando fazer horta.
O Dr. Manuel Alexandre Madruga, licenciado em Belas Artes, ficou pela Horta como professor. Os filhos ingressaram igualmente nessa área artística: são arquitectos e pintores. E recordo, igualmente, o Pe Genuíno Madruga, um segundo Pe Américo.
E aqui impõe-se lembrar uma Senhora que me impressionou na adolescência distante. Refiro D. Maria das Dores Madruga, professora em São João, sua terra natal, que leccionou até ao limite de idade – 70 anos – e que sofreu imenso ao abandonar as alunas, passando todos os dias pelo edifício escolar à hora da abertura da escola. Não se conformava que a lei lhe impusesse tão brusca saída, tal a dedicação que votava ao Ensino e, sobretudo, às suas alunas.
O irmão, Manuel Alexandre Madruga sénior, era proprietário de terrenos ao sul desta vila. No tempo não havia veículos motorizados. Era o seu carro de um só boi que, diariamente, fazia a viagem de São João às terras da Queimada. E fazia-o sem pressas, muito calmamente. E se vinha de madrugada, a noite levava-o a casa. Era uma pessoa extraordinária. É o tronco de todos os Madrugas. À descendência transmitiu a calma, a serenidade, a inteligência...
O Genuíno, depois de descer o Atlântico, passar o cabo Horn, um feito notável, atravessar o Pacífico, costeando ilhas e ilhotas, chegou à antiga ilha portuguesa de Timor. Foi recebido festivamente pelos muitos portugueses que ainda lá se encontram e, talvez, por alguns nativos.
Timor é uma terra muito querida para os picoenses. Por lá andaram Dom Jaime Garcia Goulart, seu primeiro Bispo, o Pe. José Pereira da Silva Brum, o Pe. Isidoro da Silva Alves, o Pe. José Carlos Vieira Simplício, e outros mais.
Quem não recorda a odisseia do Pe. Brum, que aqui chegou com um grupo de sete alunos, que passaram a frequentar o Externato Lajense, e que, depois, caminharam para o continente, onde reorganizaram suas vidas. Um deles voltou a Timor já sacerdote.
Foi nessa terra que Genuíno Madruga acaba de aportar com o seu “Hemingway“. Vai refazer energias, reabastecer-se, restaurar o barco, para regressar à Terra-Mater.
Cá o esperamos com prazer e alegria... os que cá estiverem...
Vila Baleeira,
12-08-2008
Ermelindo Ávila
1 comentário:
Caro Sr. Ermelindo
Quero prestar a minha homenagem póstuma ao nosso querido mentor Pe. Jose Pereira da Silva Brum que Deus o tenha na sua misericórdia.
Eu era um dos 7 alunos timorenses que tiveram o privilégio e a honra de privar com o Sr. Pe. Brum e a sua Família em Santa Bárbara do Pico. Dos ,7 dois ordenaram-se Sacerdotes (Pe. Adelino e Pe. Elias) e 1 é o actual Ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor Leste (Zacarias da Costa).As sementes lançadas por este Grande Homem em Timor deu muitos frutos e os filhos de Timor estão-lhe muito gratos. Um Abraço
Alipio Godinho
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