domingo, 10 de agosto de 2008

BOM JESUS MILAGROSO

A ilha do Pico está em festa. Festas religiosas, festas cívicas. E nestas há sempre um fundo religioso, quando acontecem ao domingo. É uma tradição bastante antiga e que o povo picoense ainda não abandonou. Mas hoje fiquemos pela festa religiosa do Bom Jesus Milagroso. Realiza-se nas freguesias de São Mateus e da Calheta de Nesquim. Duas festas idênticas dedicadas ao mesmo Senhor, Rei do Céu e da Terra e que Pilatos, o timorato e cobarde Governador Romano, coroou de espinhos e vestiu com escárnio com uma reles capa, colocando-Lhe nas mãos, como cetro, uma cana verde.
É esse Senhor, que os católicos picoenses veneram em Imagens de excelente escultura que inspiram fé, piedade e amor. O Senhor a que muitos cristãos recorrem em horas de aflição e angústia, que não poucas são.
Em 1862 Francisco Ferreira Goulart, estando imigrado no Rio de Janeiro adquiriu ali e ofereceu à sua freguesia natal a Imagem do Bom Jesus. Logo que ela foi intronizada na paroquial de São Mateus, iniciaram-se as festas no dia 6 de Agosto que o calendário romano dedica à Festa da Transfiguração do Senhor.
E, a propósito desta solenidade escreveu o lajense, D. João Paulino:”Em 1882 no mês de Agosto passava pela freguesia de S. Mateus da ilha do Pico, por ocasião da festa que anualmente ali se celebra no dia 6 em honra do Bom Jesus um sacerdote da vila das Lajes da mesma ilha. Viu e admirou o entusiasmo religioso da imensa multidão de fieis que de todos os pontos da ilha e de fora dela ali haviam concorrido impelidos pela devoção à imagem do Senhor Ecce Homo que sob aquela invocação se venera na igreja da freguesia. Não é longa esta devoção .Há trinta anos não havia ali a imagem do Senhor que dela é objecto. Contudo é hoje tão popular em toda a ilha e tão conhecida fóra dela nas demais ilhas dos Açores e até de países estrangeiros pelos bons filhos destas terras, que durante os dois dias da festa e véspera a igreja, suas imediações e as ruas principais ofereciam de contínuo espectáculo dum formigueiro de povo, que se comprimia, acotovelava e remexia em todos os sentidos.”
Era penoso ir ao “Bom Jesus de Longe”, como dizia o povo. E daí, uma devota da Calheta de Nesquim, ter adquirido, no princípio do século passado, uma idêntica Imagem do Bom Jesus para a sua Igreja Paroquial, que passou a realizar a Festa, com toda a pompa, no mesmo dia 6 de Agosto. E ainda hoje essa solenidade se realiza, com grande afluência de fiéis, muito embora ainda se encontrem devotos que preferem ir ao “Bom Jesus de Longe”.
O dia 6 de Agosto é dia de festa para toda a Ilha. A paroquial de São Mateus, por instâncias do antigo e falecido Pároco, Pe. António Filipe Madruga, é hoje Matriz e Santuário do Bom Jesus. Todos os Bispos Diocesanos têm particular atenção por esta solenidade e quase sempre a ela presidem.
E lembrando o Pe. Filipe Madruga, recordo os antigos párocos P. Manuel Matos, Pe. José Garcia de Lemos e Pe. Joaquim Vieira da Rosa, este, naturalmente o grande administrador e homem de personalidade forte e que largos anos paroquiou em S. Mateus, até ao fal3cimento.
De recordar ainda o Professor José Inácio Garcia de Lemos, uma das figuras de maior relevo do concelho, onde exerceu, em períodos diferentes, o cargo de Presidente da Câmara. Mas é como colaborador da Paróquia que aqui o trago. Foi organista, tinha a seu cargo a organização externa das festas do Bom Jesus e, na memória de alguns, ficou aquele dia em que, regeu o Hino do Bom Jesus, executado pelas filarmónicas presentes nas solenidades, um acto que, pelo brilho que imprimiu às mesmas, causou a maior admiração e aplauso da assistência.
Agosto é o mês das festas religiosas do Pico, sem esquecer a festa da Padroeira da Madalena, realizada com solenidade, na segunda quinzena de Julho.
A ilha do Pico, nestas semanas de Julho e Agosto fica com a população duplicada ou mesmo triplicada. São os picoenses que vêm gozar férias; os emigrantes que, num retorno saudoso, aqui aparecem para passar estas semanas com amigos e familiares e assistirem às suas tradicionais festas religiosas; são os turistas estrangeiros que aproveitando o clima da ilha, aqui vêm, alguns quatro e cinco anos seguidos, para retemperar forças para os trabalhos do novo ano.
Todos vivem estas semanas com alegria, conforto e bem-estar, recordando o passado, convivendo com as pessoas de família ou amigos e até com aqueles que vão encontrando e que agora aqui habitam.
Bem vindos sejam!

Vila das Lajes,

29 de Julho de 2008
Ermelindo Ávila

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