Foi em 3 de Agosto de 1862 que se deu o motim popular que, na história, ficou como o ”ano do barulho”.
Anos depois, em 24 de Novembro de 1897 dava-se na Piedade o “corte dos alamos”. E se do primeiro acontecimento não se registaram vítimas, já o mesmo não se deu com o segundo, pois, segundo Manuel d’Ávila Coelho, houve três .
No trabalho intitulado “Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico”, publicado no número 3 do vol, 2 do Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Dez.º 196l) escreveu o seu autor, prof. Manuel d’Ávila Coelho: “A coincidência do aumento das fintas com a introdução do sistema métrico provocou um grande ajuntamento de povo que, ligado ao de outras freguesias, se dirigiu às Lages para protestar energicamente contra a deliberação tomada….
Este movimento que deixou fundas inimizades entre várias famílias e por muito tempo, ficou conhecido pelo “ano do levanto” …
Com o corte dos alamos que tinham sido plantados em 1779, houve nova agitação na freguesia, a que não faltaram hábeis pescadores de águas turvas, como se vê da pasquinada que naquela data se publicou sobre o assunto.
Refere-se o Autor ao livro de 144 páginas, publicado em Angra do Heroísmo no ano de 1898 - cento e dez anos são decorridos - da autoria de José Silveira Nunes – o Manha - no qual procura fazer, a seu modo, o relato dos acontecimentos que provocaram três vítimas mortais.
Os álamos encontravam-se no antigo largo do Império, a norte da Igreja Paroquial e na descida para o Calhau.
A antiga capela, construída no século dezasseis, é assim descrita por Ávila Coelho:
Edificação do princípio do século l6º tinha porta larga, em arco de volta inteira que descansava sobre colunas de bonitos capiteis, cantaria com soco bastante saliente e cimalha com pirâmides, tudo em boa pedra lavrada, - Foi demolida quando do alargamento da estrada municipal. Um crime.
A capela foi abandonada, com o corte dos alamos, e nela, mais tarde, instalada a estação dos CTT e um escritório particular. Com os trabalhos do arranjo do caminho do Calhau, porque a antiga capela impedia o alargamento, foi imperioso demolir a antiga capela, já em ruínas. Entretanto as Irmandades, logo que a abandonaram por causa do corte dos alamos, que faziam alameda do respectivo recinto, onde se realizava o Império, haviam construído uma nova capela no Curral da Pedra. Este local, após a conclusão da estrada Lajes-Piedade, por volta de 1944, foi alargado, dali partindo o arranjo do caminho para o Calhau.
Não foi, pois, crime, a sua demolição, mas uma necessidade provocada pelo progresso, o que aliás aconteceu em outras terras. Sem a demolição da antiga capela não seria possível o alargamento do caminho, como aliás era desejo da população e uma necessidade imperiosa.
Felizmente, do “Barulho” ou “levante” não houve vítimas a registar mas os prejuízos causados foram enormes e irreparáveis.
A população de todo o concelho, incitada por alguns encobertos interessados, “ roubaram as colecções dos padrões dos novos pesos e medidas, o quadro sinóptico dos mesmos pesos e medidas, as posturas municipais e vários papeis e documentos da Secretaria. A este respeito escreve Lacerda Machado na “Justificação” com que dá início à “História do concelho das Lages”: “No Ano do barulho (1862), o povo amotinado queimou toda a papelada que pude haver às mãos nas repartições públicas, e com ela, os quatro primeiros livros de termos de vereação (actas), compreendendo o período decorrido desde a criação da vila até Junho de 1773. Assim ficaram perdidos quase três séculos da história local”, melhor dito, da ilha do Pico.
Valeram as recolhas feitas por Frei Diogo das Chagas, que por aqui andou nos anos de 1646, e que fez boa colheita de documentos que existiam nos serviços municipais, arquivados agora no “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”; obra que só viria a ser totalmente publicada, sob a direcção do Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, em l989. E é no Prefácio que o douto Mestre nos diz:”
“Contendo matéria em grande parte diferente, mas de incontestável interesse histórico, é o capítulo dedicado à ilha do Pico. Trata, é certo, como os respeitantes às demais ilhas, do descobrimento desta parcela açoriana, da descrição da ,mesma, das suas paróquias e ermidas, dos vigários, da população e de vários casos dignos de memória. …Enfim, um acervo de interessantes notícias através das quais poderemos em certa medida, reconstituir a vida social picoense nos primeiros dois séculos de vida humana, nas regiões correspondentes às vilas das Lajes, de São Roque e da Madalena.”
Julgo que tudo isso foi possível porque Frei Diogo das Chagas era irmão natural de Frei Mateus da Conceição, guardião do convento franciscano desta vila, a cuja ordem ambos pertenciam. E por essa circunstância a demora de Frei Diogo, nas Lajes, não deve ter sido limitada, permitindo-lhe assim a recolha de documentos importantes para o seu excelente trabalho que hoje representa um manancial precioso para a história desta ilha., como aliás nos diz o Professor Doutor Teodoro de Matos.
E não há necessidade de recorrer a lendas que os antigos historiadores, à falta de elementos concretos, procuraram inventar e fantasiar…
Vila das Lajes,
8 de Julho de 2008
Ermelindo Ávila
Anos depois, em 24 de Novembro de 1897 dava-se na Piedade o “corte dos alamos”. E se do primeiro acontecimento não se registaram vítimas, já o mesmo não se deu com o segundo, pois, segundo Manuel d’Ávila Coelho, houve três .
No trabalho intitulado “Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico”, publicado no número 3 do vol, 2 do Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Dez.º 196l) escreveu o seu autor, prof. Manuel d’Ávila Coelho: “A coincidência do aumento das fintas com a introdução do sistema métrico provocou um grande ajuntamento de povo que, ligado ao de outras freguesias, se dirigiu às Lages para protestar energicamente contra a deliberação tomada….
Este movimento que deixou fundas inimizades entre várias famílias e por muito tempo, ficou conhecido pelo “ano do levanto” …
Com o corte dos alamos que tinham sido plantados em 1779, houve nova agitação na freguesia, a que não faltaram hábeis pescadores de águas turvas, como se vê da pasquinada que naquela data se publicou sobre o assunto.
Refere-se o Autor ao livro de 144 páginas, publicado em Angra do Heroísmo no ano de 1898 - cento e dez anos são decorridos - da autoria de José Silveira Nunes – o Manha - no qual procura fazer, a seu modo, o relato dos acontecimentos que provocaram três vítimas mortais.
Os álamos encontravam-se no antigo largo do Império, a norte da Igreja Paroquial e na descida para o Calhau.
A antiga capela, construída no século dezasseis, é assim descrita por Ávila Coelho:
Edificação do princípio do século l6º tinha porta larga, em arco de volta inteira que descansava sobre colunas de bonitos capiteis, cantaria com soco bastante saliente e cimalha com pirâmides, tudo em boa pedra lavrada, - Foi demolida quando do alargamento da estrada municipal. Um crime.
A capela foi abandonada, com o corte dos alamos, e nela, mais tarde, instalada a estação dos CTT e um escritório particular. Com os trabalhos do arranjo do caminho do Calhau, porque a antiga capela impedia o alargamento, foi imperioso demolir a antiga capela, já em ruínas. Entretanto as Irmandades, logo que a abandonaram por causa do corte dos alamos, que faziam alameda do respectivo recinto, onde se realizava o Império, haviam construído uma nova capela no Curral da Pedra. Este local, após a conclusão da estrada Lajes-Piedade, por volta de 1944, foi alargado, dali partindo o arranjo do caminho para o Calhau.
Não foi, pois, crime, a sua demolição, mas uma necessidade provocada pelo progresso, o que aliás aconteceu em outras terras. Sem a demolição da antiga capela não seria possível o alargamento do caminho, como aliás era desejo da população e uma necessidade imperiosa.
Felizmente, do “Barulho” ou “levante” não houve vítimas a registar mas os prejuízos causados foram enormes e irreparáveis.
A população de todo o concelho, incitada por alguns encobertos interessados, “ roubaram as colecções dos padrões dos novos pesos e medidas, o quadro sinóptico dos mesmos pesos e medidas, as posturas municipais e vários papeis e documentos da Secretaria. A este respeito escreve Lacerda Machado na “Justificação” com que dá início à “História do concelho das Lages”: “No Ano do barulho (1862), o povo amotinado queimou toda a papelada que pude haver às mãos nas repartições públicas, e com ela, os quatro primeiros livros de termos de vereação (actas), compreendendo o período decorrido desde a criação da vila até Junho de 1773. Assim ficaram perdidos quase três séculos da história local”, melhor dito, da ilha do Pico.
Valeram as recolhas feitas por Frei Diogo das Chagas, que por aqui andou nos anos de 1646, e que fez boa colheita de documentos que existiam nos serviços municipais, arquivados agora no “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”; obra que só viria a ser totalmente publicada, sob a direcção do Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, em l989. E é no Prefácio que o douto Mestre nos diz:”
“Contendo matéria em grande parte diferente, mas de incontestável interesse histórico, é o capítulo dedicado à ilha do Pico. Trata, é certo, como os respeitantes às demais ilhas, do descobrimento desta parcela açoriana, da descrição da ,mesma, das suas paróquias e ermidas, dos vigários, da população e de vários casos dignos de memória. …Enfim, um acervo de interessantes notícias através das quais poderemos em certa medida, reconstituir a vida social picoense nos primeiros dois séculos de vida humana, nas regiões correspondentes às vilas das Lajes, de São Roque e da Madalena.”
Julgo que tudo isso foi possível porque Frei Diogo das Chagas era irmão natural de Frei Mateus da Conceição, guardião do convento franciscano desta vila, a cuja ordem ambos pertenciam. E por essa circunstância a demora de Frei Diogo, nas Lajes, não deve ter sido limitada, permitindo-lhe assim a recolha de documentos importantes para o seu excelente trabalho que hoje representa um manancial precioso para a história desta ilha., como aliás nos diz o Professor Doutor Teodoro de Matos.
E não há necessidade de recorrer a lendas que os antigos historiadores, à falta de elementos concretos, procuraram inventar e fantasiar…
Vila das Lajes,
8 de Julho de 2008
Ermelindo Ávila
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