quarta-feira, 18 de junho de 2008

OBRAS MARÍTIMAS

No dia 8 do corrente mês foram solenemente inauguradas, pelo Presidente do Governo Regional e com a presença de diversos Secretários Regionais, da Presidente do Município Lajense, outras entidades oficiais, e muitos picoenses, as obras de construção do quebra-mar para a protecção da Vila; o canal de entrada no Porto das Lajes, dragado e alargado; e a construção do núcleo de recreio náutico, na Lagoa (Porto interior) desta vila. Cerimónia que coincidiu “com a evocação do Dia Mundial dos Oceanos”.
Nesta ocasião vale a pena recordar um pouco, num enquadramento histórico que vem a propósito, o que os lajenses têm sofrido e lutado pela defesa da sua Vila.
“O ano de 1725 foi memorável para os habitantes da Vila das Lajes, por uma tempestade marítima que lhes inundou a Vila, causando muitos estragos, nos dias 14 a 20 de Abril. (Hist. 4 Ilhas, Vol. I. pág.219). Nessa ocasião fizeram um voto ao Senhor Jesus das Preces, (cuja imagem tem em muita veneração).”
No dia 26 de Agosto de 1893 um grande ciclone assolou a Vila das Lajes, invadindo o mar alteroso a vila, destruindo as culturas e fazendo outros grandes prejuízos em toda a Ilha. A Família Dabney, ao tempo na Horta, importou dos E. U. muitas toneladas de milho cujo cereal foi distribuído pelos povos sinistrados destas ilhas.
Um jornal da época, “Cartão de Visita”, citado pelo historiador Francisco Borba (Boletim do Museu Etn. da Ilha Graciosa, vol. n.º 5, pág. 107), narra esse acontecimento, dizendo que o povo se reuniu na igreja a fazer preces e concluídas estas, saiu em procissão levando o vigário a pesada imagem do Sr. Bom Jesus. E acrescenta: “Estavam ancorados na Lagoa o hiate S. João Baptista, o cahique Espírito Santo e o Barco Bom Jesus.” As tripulações conseguiram ir a bordo acautelar as amarrações mas, no “Bom Jesus” ficou um jovem de 20 anos, Manuel Machado, que, por não saber nadar, acabou por ser levado pelas vagas não mais sendo visto.
Construído o muro de acesso ao caneiro, a bacia interior era utilizada como ancoradouro das embarcações locais, principalmente no verão, onde permaneciam, ainda em nosso tempo, as lanchas a motor “Lourdes” e “Hermínia”, que faziam o tráfego de carga e passageiros entre os portos da ilha e a Horta. Depois foram também as baleeiras “Margarida”, “Zélia”, “Aliança”, “Gigana”, “Rosa Maria” e os batelões de descarga da E.I.N. que faziam serviço, primeiro ao velhinho “Funchal” e, depois, aos navios “Lima”, “Corvo”, “Terceirense” e a outros cargueiros. Mais tarde foram as traineiras da pesca do atum, enquanto a malfadada fábrica de conservas funcionou…
Em 1936 um violento ciclone derrubou a muralha que suportava a rua marginal da Pesqueira. As obras de reconstrução foram imediatamente iniciadas e, dois anos depois, estavam concluídas. Era Director das Obras Públicas o Engenheiro Angelo Corbal Hernandez que, apesar do seu esforço e da técnica utilizada, não deixou de ser acusado de estar a fazer uma obra onde gastava imenso dinheiro. Não demorou a inspecção que só serviu para louvar o distinto técnico.
(Nessa altura consolidou o muro de acesso ao caneiro de entrada na Lagoa, que nunca fora concluído, muito embora a sua construção fosse autorizada por alvará de 17 de Setembro de 1851.Com o remanescente orçamental, alargou a plataforma da entrada do caneiro, pelo lado mar, pois tencionava instalar aí o porto de desembarque, na zona do Poção. Foi afastado pela política que então aqui se implantara e nunca mais o Engenheiro Angelo Corbal voltou às Lajes. “Voltou-se”,antes, para a Calheta de Nesquim e Ribeiras…)
Em 1843, segundo a “História das Quatro Ilhas”, a Câmara Municipal das Lajes reclamava já a construção de uma muralha em torno da Vila das Lajes. Quase um século decorrido, é iniciado, em 1914, o muro de defesa da Vila, mas o alinhamento que lhe deram não foi aquele que os lajenses desejavam e tecnicamente o mais aconselhável. Lacerda Machado, em artigo publicado no jornal “As Lages”, escreveu que a muralha devia ter sido construída a partir do redondo do muro do caneiro, junto da orla marítima, até ao “Calhau Grosso”. E o mesmo quinzenário, sob o título “Obras da Muralha”, em 15 de Maio de 1914, escreveu: “A largura da muralha que ia seguindo 2 metros, passou para 1,50 portanto menos de meio metro. “
E foi decorrer, novamente, quase cem anos, para que o quebra mar de protecção da Vila fosse construído. No entanto, parece que só vai impedir a entrada do mar bravo na parte norte da Vila, permitindo mesmo assim maior segurança na entrada e no porto interior (Lagoa). Todos se congratulam, pois, com as obras – quebra-mar e construção do núcleo de recreio náutico realizadas – agora inauguradas. Mas parece que não bastam. A parte sul da Vila fica ainda sem segurança. O tempo poderá vir a demonstrar que, as obras agora realizadas são insuficientes para a defesa total da Vila. E a Vila não se pode ser mudada… Já sofreu bastante delapidações. Não continuem com as mutilações que lhe têm imposto e continua a sofrer.
Congratulo-me com as obras realizadas, que trouxeram alguma segurança e valorização à minha terra. Mas espero que não se fique por aí. Algo mais há a realizar. É indispensável continuar com a obra que agora foi principiada. Os lajenses não podem esperar mais um século por novos empreendimentos de fomento e desenvolvimento.
Por hoje mais não adianto.
Vila Baleeira,
13 de Junho de 2008
Ermelindo Ávila

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