Fazia-se tarde. Zebedeu perdera-se pelas ruas a admirar os lindos brinquedos expostos nas montras dos grandes espaços comerciais, para a época do Natal. E havia-os de todos os preços, desde os mais baratuchos até aos de milhares de euros.Via-os e passava à frente. Os cobres que juntara no mealheiro durante o ano nem chegavam para comprar um simples pião, que lá os havia…
Voltou a casa, pesaroso, com a certeza de que naquele ano, o Pai Natal não chegaria à sua porta. Mas, mesmo assim, não se revoltara. Tinha um pressentimento de que alguma coisa de bom lhe havia de acontecer.
No dia seguinte e nos outros, logo que saia da escola, deambulava pelas lojas de brinquedos na intenção de descobrir algum que estivesse dentro do seu magro “orçamento”. Nada, porém…Parece que os preços subiam dia após dia.
A, mãe, que o esperava, estranhava a demora, pois ele era sempre pontual em chegar a casa logo que terminavam as aulas do Ensino Básico, que Zebedeu frequentava. E procurou saber o que se passava.
Um dia, perto da hora de terminar as aulas, saiu de casa e foi até perto do edifício escolar. Pôs-se em posição de não ser vista pelos alunos, à saída. E foi acompanhando ao longe o caminhar do filho, até que este se encaminhou para a zona dos mercados de brinquedos e por aí ficou. Estava descoberta a razão da demora do Zebedeu em chegar a casa. Voltou pressurosa, mas triste, sem que o filho de nada soubesse.
Em casa a mãe não deixou de pensar continuamente no caso. O filho desejava um brinquedo pelo Natal. Ela, viúva, só dispunha de uma magra pensão de invalidez, que mal dava para o “prato” e para os remédios que tomava diariamente. Para vestir valiam-lhe as dádivas dos benfeitores, que bem conheciam as suas necessidades materiais…Que fazer, pois?
O filho era uma criança invulgar: inteligente, dava boa conta das aulas. Conhecia as carências da mãe e nada exigia, sujeitando-se àquilo que, bom ou mau, ela lhe preparava. Na escola fazia os seus deveres com diligência e captava a simpatia da Mestra. Os próprios colegas, vivendo em melhores condições económicas, não raro lhe ofereciam uma esferográfica, um lápis, ou um caderno de papel, que aceitava com certa humildade e com gratidão. E eles não eram assim para todos os colegas. O Zebedeu gozava de uma estima de excepção, entre todos os que o conheciam.
Foi-se aproximando o Natal. Naquele ano a Mestra anunciou que iriam fazer uma festa para celebrar o Nascimento do Menino Jesus. Era o tempo em que não existia o Pai Natal e o Deus Menino era a figura principal da solenidade…(Hoje seria algo diferente, com o agnosticismo reinante…)
Alvitrou que os meninos, cujos pais o pudessem fazer, contribuíssem com alguma prenda para os outros que as não podiam comprar. Todos aceitaram a sugestão da Senhora Professora.
No dia destinado à festa, na sala de aula, foi colocado um bonito pinheiro para servir de “Arvore de Natal”. Decoraram-na com lâmpadas coloridas e com algumas séries que davam luz intermitente. Não faltaram bonecos e outros motivos natalícios. Todos os meninos – poucos faltaram…- levaram suas prendas para a Arvore, e alguns levaram mesmo duas…Para a Senhora Professora foi levada uma especial, preparada por alguns pais.
Decorreu a festa com muita alegria, à mistura com um lanche de bolos e guloseimas que a Mestra havia preparado. Durante a semana anterior foram ensaiados diversos cânticos próprios da quadra festiva, para que o ambiente fosse o mais agradável para todos e resulta-se num verdadeiro louvor ao Menino nascido em Belém.
Chegou o momento ansiosamente esperado por todos. Um dos alunos foi vestido de “São Nicolau”, como é já tradicional, e apareceu na sala para distribuir as prendas. Um silêncio e uma ansiedade pairava naqueles pequenos corações. Principiou a chamada…Apareceu a primeira prenda para o mais novinho, o Filipe. Outros foram seguindo, até que um leu: Zebedeu! Era um cavalo de boa estatura, com arreios e montado num pequeno estrado de rodas. Foi um delírio. Depois, seguiram-se outros até que, de novo, alguém leu no rótulo: Zebedeu! E, dali até ao fim, várias vezes apareceu o nome do nosso felizardo.
Os pais de outros alunos, sabendo da situação do Zebedeu e do desejo de ter uma prenda do Natal, foram pródigos em dar aos filhos prendas para o companheiro: brinquedos, roupas, livros e até uma caixa de bombons. A mãe, que estava presente, só chorava e o filho não tinha palavras para agradecer aos companheiros a quem abraçava fraternalmente e com muita ternura. Na noite de Natal, mãe e filho foram à “Missa do Galo” agradecer ao Menino Jesus tantas Graças. Para o Zebedeu foi o Natal mais feliz da sua vida.
Vila das Lajes, 2007-12-04
Ermelindo Ávila
Voltou a casa, pesaroso, com a certeza de que naquele ano, o Pai Natal não chegaria à sua porta. Mas, mesmo assim, não se revoltara. Tinha um pressentimento de que alguma coisa de bom lhe havia de acontecer.
No dia seguinte e nos outros, logo que saia da escola, deambulava pelas lojas de brinquedos na intenção de descobrir algum que estivesse dentro do seu magro “orçamento”. Nada, porém…Parece que os preços subiam dia após dia.
A, mãe, que o esperava, estranhava a demora, pois ele era sempre pontual em chegar a casa logo que terminavam as aulas do Ensino Básico, que Zebedeu frequentava. E procurou saber o que se passava.
Um dia, perto da hora de terminar as aulas, saiu de casa e foi até perto do edifício escolar. Pôs-se em posição de não ser vista pelos alunos, à saída. E foi acompanhando ao longe o caminhar do filho, até que este se encaminhou para a zona dos mercados de brinquedos e por aí ficou. Estava descoberta a razão da demora do Zebedeu em chegar a casa. Voltou pressurosa, mas triste, sem que o filho de nada soubesse.
Em casa a mãe não deixou de pensar continuamente no caso. O filho desejava um brinquedo pelo Natal. Ela, viúva, só dispunha de uma magra pensão de invalidez, que mal dava para o “prato” e para os remédios que tomava diariamente. Para vestir valiam-lhe as dádivas dos benfeitores, que bem conheciam as suas necessidades materiais…Que fazer, pois?
O filho era uma criança invulgar: inteligente, dava boa conta das aulas. Conhecia as carências da mãe e nada exigia, sujeitando-se àquilo que, bom ou mau, ela lhe preparava. Na escola fazia os seus deveres com diligência e captava a simpatia da Mestra. Os próprios colegas, vivendo em melhores condições económicas, não raro lhe ofereciam uma esferográfica, um lápis, ou um caderno de papel, que aceitava com certa humildade e com gratidão. E eles não eram assim para todos os colegas. O Zebedeu gozava de uma estima de excepção, entre todos os que o conheciam.
Foi-se aproximando o Natal. Naquele ano a Mestra anunciou que iriam fazer uma festa para celebrar o Nascimento do Menino Jesus. Era o tempo em que não existia o Pai Natal e o Deus Menino era a figura principal da solenidade…(Hoje seria algo diferente, com o agnosticismo reinante…)
Alvitrou que os meninos, cujos pais o pudessem fazer, contribuíssem com alguma prenda para os outros que as não podiam comprar. Todos aceitaram a sugestão da Senhora Professora.
No dia destinado à festa, na sala de aula, foi colocado um bonito pinheiro para servir de “Arvore de Natal”. Decoraram-na com lâmpadas coloridas e com algumas séries que davam luz intermitente. Não faltaram bonecos e outros motivos natalícios. Todos os meninos – poucos faltaram…- levaram suas prendas para a Arvore, e alguns levaram mesmo duas…Para a Senhora Professora foi levada uma especial, preparada por alguns pais.
Decorreu a festa com muita alegria, à mistura com um lanche de bolos e guloseimas que a Mestra havia preparado. Durante a semana anterior foram ensaiados diversos cânticos próprios da quadra festiva, para que o ambiente fosse o mais agradável para todos e resulta-se num verdadeiro louvor ao Menino nascido em Belém.
Chegou o momento ansiosamente esperado por todos. Um dos alunos foi vestido de “São Nicolau”, como é já tradicional, e apareceu na sala para distribuir as prendas. Um silêncio e uma ansiedade pairava naqueles pequenos corações. Principiou a chamada…Apareceu a primeira prenda para o mais novinho, o Filipe. Outros foram seguindo, até que um leu: Zebedeu! Era um cavalo de boa estatura, com arreios e montado num pequeno estrado de rodas. Foi um delírio. Depois, seguiram-se outros até que, de novo, alguém leu no rótulo: Zebedeu! E, dali até ao fim, várias vezes apareceu o nome do nosso felizardo.
Os pais de outros alunos, sabendo da situação do Zebedeu e do desejo de ter uma prenda do Natal, foram pródigos em dar aos filhos prendas para o companheiro: brinquedos, roupas, livros e até uma caixa de bombons. A mãe, que estava presente, só chorava e o filho não tinha palavras para agradecer aos companheiros a quem abraçava fraternalmente e com muita ternura. Na noite de Natal, mãe e filho foram à “Missa do Galo” agradecer ao Menino Jesus tantas Graças. Para o Zebedeu foi o Natal mais feliz da sua vida.
Vila das Lajes, 2007-12-04
Ermelindo Ávila
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