Crónicas
da minha ilha
De
vez em quando, sou surpreendido com o título de qualquer outro
jornalista ou colaborador, muito embora ao seu e erudito Director, o
consagrado jornalista e escritor, Padre Xavier Madruga se fique a
dever a criação deste “cantinho” a cujo autor sempre procurei
prestar homenagem.
Outro
refiro hoje, aqui, para lembrar os notáveis trabalhos que nos deixou
o Historiador probo e respeitado e não menos erudito, o Gen. Lacerda
Machado. Escreve o distinto Lajense: “À
falta de forno, cozeram na laje
o pão rudimentar das suas refeições frugais, e mais tarde o bôlo
(…); assavam a carne no borralho; o funcho substituiu a hortaliça,
que inda não houvera tempo de cultivar, ou de que faltavam sementes,
uso que ainda subsiste, pôsto que raramente; inventaram môlhos,
gratos ao paladar, para suprir a falta do azeite de oliveira, tardia
em frutos, costume que perdura, pois só recentemente se começou a
tentar a sua cultura.” (1)
Mais:
até tarde, durou o primitivo, principalmente nos quintais, junto das
habitações.
A
Leste da Vila das Lajes muitos procuram o funcho como hortaliça
alimentar. Como hortaliças, outras ervas se iam descobrindo nas
hortas e nos terrenos baixos, que entraram no catálogo das plantas
preferidas.
Logo
se foram construindo os fornos caseiros (para a cozedura do bolo -
pão da época). Outros fornos construiram os lavradores, ao lado
daquele, muito maiores em área, para a secagem do milho colhido nas
terras dos proprietários. (Conheci dois: um grande e o outro pequeno
ainda em uso semanal).
Já
há muitos anos que deixou de utilizar-se a “Burra” para guardar
o milho, com a capa de casca, destinado ao consumo familiar. Passou a
ser arquivado em barricas ou “arquibancos” nas próprias
residências.
Com
a cultura do trigo modificaram-se alguns usos domésticos, passando o
trigo a ser utilizado em boa parte da ementa caseira, pois é sabido
que o milho cá apareceu depois de descoberto nos Estados Unidos da
América e, de lá, para aqui importado.
As
atafonas ou instrumentos de triturar o milho até ficar em farinha,
devem ter sido trazidos pelos povoadores - refiro a atafona e o
moinho de vento. Nas cozinhas existiam as pequenas atafonas para moer
a cevada. As atafonas movidas pelo “gado da porta”, serviam para
a farinação do trigo e do milho e para acudir à falta de pão.
Além
dos géneros de produção local já indicados, usava-se não somente
as carnes extraídas dos diversos animais, como ainda o peixe
cozinhado de diversas formas.
Nesta
zona Pico o peixe é bastante utilizado pela população e faz
excelentes “pratos”. Lembro o caldo de peixe fresco, que não só
os lajenses, como até os visitantes apreciam.
Aqui
há umas dezenas de anos chegou a esta vila um casal com filhos, que
aqui se fixou, cujo chefe vinha exercer funções oficiais. Voltando
à Metrópole um dos filhos tornou-se jornalista e, numa das suas
crónicas, escreveu sobre o caldo de peixe. E usou esta expressão ou
outras idênticas – foi há tantos anos!: ”Caldo de peixe como o
que se cozinhava na vila das Lajes do Pico, nunca mais encontrei!”.
1)Lacerda
Machado, História
do Concelho das Lages, 1991, pag. 78.
Lajes
do Pico, 15 Fev. 2018
E. Ávila
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