domingo, 23 de outubro de 2016

OUTONO: O TEMPO DAS COLHEITAS

NOTAS DO MEU CANTINHO                                        


         Outrora assim era. Hoje é bastante diferente. Os hábitos e costumes vão-se modificando com o decorrer dos tempos e as pessoas vão-se adaptando aos novos sistemas de vida. E os mais antigos, que ainda recordam os velhos tempos, têm de se ir habituando aos poucos, sem apelo nem agravo.
         Semeava-se o milho geralmente na Primavera e colhia-se no Outono. Uma cultura que exigia grandes trabalhos: o semear, sachar, abarbar, desbastar, cortar a espiga e, depois, a colheita. Tudo tinha as suas épocas próprias e precisava de uma atenção especial da parte do Lavrador.
         O trigo, embora fosse e ainda é um cereal menos produtivo, não necessitava que o Lavrador lhe dispensasse tantos cuidados, a não ser, no período da maturação, vigiá-lo da praga (pássaros diversos, principalmente o canário) que o perseguia para lhe retirar o grão... E foi certamente, por isso que o lavrador o substituiu pelo milho, quando o cereal apareceu.
         O milho passou a ser o sustento principal das famílias pois era e é um cereal muito mais substancial. Grandes extensões de milho eram cultivadas. E foi assim que se procedeu à arroteia de muitos terrenos que estavam ainda abandonados, principalmente no alto da ilha.
         Presentemente, essas terras estão a ficar abandonadas ou transformadas em relvados para apascentação de gados domésticos.
         Mas, com a cultura do milho, o mesmo vai acontecendo. Deixou de haver a “desfolhada”, tal como a descreve Júlio Dinis, e passou a fazer-se a “ensilagem” destinada ao sustento do gado doméstico. (A ensilagem é feita em grandes sacos de plástico e não em silos, de dispendiosa construção)
Quando na ilha não existiam estradas (a estrada Lajes-Piedade foi inaugurada em 1943), eram os tradicionais “carros de bois” que faziam o transporte do milho, geralmente em maçarocas. Passavam pelas ruas da vila, fazendo uma grande chiadeira, que por vezes causava incómodo principalmente às pessoas doentes. Isso levou a Autoridade Administrativa a publicar editais proibindo o estridente ruído que foi evitado com a aplicação de qualquer produto nos eixos.

         A esfolhada, ou retirada da casca da maçaroca, reunia velhos e novos. Não faltava mesmo o elemento feminino. Era sempre um serão agradável, onde se contavam “casos”, anedotas, ditos jocosos, por vezes. Um alvoroço quando aparecia o festejado “milho rei”.
Chegaram – e felizmente! – as estradas. Depois as carrinhas motorizadas substituíram os carros de um boi ou de dois bois. Praticamente desapareceram as esfolhadas, feitas nas casas rurais dos próprios terrenos de cultivo. São poucas as Casas de lavoura que cultivam ainda este cereal. Era uma cultura trabalhosa e hoje não há, quase, mão-de-obra. A população diminuiu bastante e a juventude actualmente não vai para o trabalho rural. Ou estuda ou sai da ilha à procura de emprego nas cidades. Isto mesmo já escrevi tantas vezes que, suponho, vai-se tornando talvez fastidioso ler, uma vez mais, estas pequenas crónicas. Agora são as ensilagens que para comodidade do lavrador, ficam arrecadadas nos próprios terrenos de produção e servem, principalmente no Inverno, para sustento dos animais bovinos ou “gado da porta” como é conhecido.
         Talvez por isso, o dia da ensilagem é um dia especial. Geralmente, reúnem-se os familiares e os amigos e no final há a tradicional “merenda” que mais não é do que uma pantagruélica e abundante refeição especial preparada para aquele dia.
         O pão de milho e o bolo são raridades que praticamente se encontram, em pequenas quantidades, embora de fabrico caseiro, nos mini e super mercados.
         Actualmente o maior consumo vai para o pão de trigo fabricado nas Padarias licenciadas. Mas, mesmo assim, as pessoas vão-se habituando a substituir o pão por outros produtos que, dizem, são mais saudáveis.
         Hoje, é tudo tão diferente. A vida familiar vai-se modificando, gradualmente.

Lajes do Pico:
 19-10-2016

Ermelindo Ávila

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