Notas do meu cantinho
O
quase silêncio estabeleceu-se na Vila. Ainda hoje, alguém que não é de cá me
fazia a pergunta: A Vila foi sempre
assim? Respondi-lhe, como não podia deixar de fazer, com a realidade dos
factos.
O movimento, principalmente em certas
horas do Pico, era bastante elevado. Além de outros veículos, chegavam e
partiam os autocarros com bastantes passageiros e não raro havia
desdobramentos. Mas essa época passou. Em certas horas do dia ninguém se
encontra por aí, nem os de fora, nem os que cá residem, e bem poucos são.
O verão passou. Os visitantes
regressaram às suas terras e os estudantes, aliás bem poucos, às suas escolas. Deixou
de se ver os grupos de turistas, que, despreocupadamente, passavam à nossa
porta.
Ainda existem por cá algumas
repartições públicas, mas não aquelas que cá deviam estar instaladas.
O concelho é o de maior extensão
agrícola, mas os serviços respectivos foram ardilosamente de cá afastados para
se fixarem em local mais agradável aos respectivos serventuários. E não foi
sempre assim. Os funcionários de então já se afastaram por aposentação. Outros
foram substitui-los, mas a situação gravosa continua. Não será tempo mais que
suficiente para pôr as coisas nos seus devidos lugares? Os gestores públicos
são outros e amanhã outros ainda serão.
É tempo de se criarem serviços, aliás
indispensáveis ao funcionamento normal da vila, e neles fixar quem deseje neles
trabalhar.
E o que vem de dizer-se não constitui
novidade. Por esse País fora estão as Autarquias a criar serviços, para fixar os
respectivos jovens. E são os mais diversos e promissores.
Criem-se também aqui serviços que
promovam a criação de postos de trabalho para a juventude, e não só.
Reorganizem-se os existentes de maneira mais promotora de ocupação de braços
que garantam o emprego e a consequente subsistência das famílias e proporcionem
a fixação dos jovens porque, felizmente, ainda há alguns que desejam voltar.
Mas tudo tem de ser promovido com
acerto e isenção, não vá adoptar-se soluções erradas, como aconteceu. Como diz
o velho ditado: Querer desculpar uma
asneira é cometer outra! Há que criar uma legislação específica para a
juventude açoriana.
Algumas vezes tenho aqui, nos meus
escritos, tratado este tema, embora sem resultado. Enquanto me for possível, a ele voltarei para que a
solução devida seja encontrada. Serei importuno para alguns? Não importa. Em
toda a minha vida tenho procurado, denodadamente, estar ao lado da Terra que
muito amo e das suas gentes, minhas irmãs.
Aceito que o Mundo esteja em
transformação política, social e económica e que essas transformações cheguem
com seus méritos e malefícios aos lugares pequenos. Demais, estamos em ilhas
rodeadas de mar por todos os lados, o que condiciona demasiado o viver dos
naturais. E é, sobretudo isso, que importa que governantes tenham em atenção.
Não podemos, como os barcos à deriva, ficar por aqui sujeitos às intempéries que todos os Invernos
assolam, de maneira desastrosa, as ilhas e os que nelas habitam, principalmente
as mais carecidas de meios concretos de sobrevivência.
A Ilha do Pico, mercê da sua
constituição geológica, tem características especiais e é isso que devem ter em
atenção aqueles a quem está entregue a administração da coisa pública, para que
não haja a duplicidade de filhos e
enteados...
Estarei a laborar em erro?... O tempo o
dirá.
A Vila das Lajes - chamada maldosa ou graciosamente de
avoenga (velha e “canoca”?...) tem
legitimidade para usufruir do Direito e que o seu governo seja entregue a quem
estiver disposto a pugnar, legítima e entusiasticamente, pelo progresso e
desenvolvimento do seu povo.
Abandoná-la à sua sorte é um crime
desastroso que não pode nem deve consentir-se. Os picoenses não têm só deveres,
mas direitos como quaisquer ilhéus ou continentais.
E, dentro do
Pico, há lugares mais beneficiados do que outros o que está a provocar
(maldosamente?) o desequilíbrio económico e social. É preciso que se tenha isso
em atenção e se tomem medidas de ordenamento correctas e eficazes. Mas já!
Parar é morrer! E o mal pode ser
contagioso...
Vila
das Lajes.
22-09-2016
Ermelindo
Ávila
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