A MINHA NOTA
O Caminho do
Vitorino, recentemente inaugurado na encosta leste da ilha do Pico
veio permitir uma ligação fácil e cómoda aos terrenos incultos e
à rede de estradas e caminhos florestais, em boa hora construídos
na ilha do Pico.
Essa rede de
comunicações favorece a exploração de muitos terrenos e o seu
melhor aproveitamento, proporcionando o aumento substancial da
produção leiteira, uma das maiores riquezas da ilha.
Segundo informa o
Dr. Manuel Alexandre Madruga, “Os primeiros
balbucios industriais da freguesia de S. João devem remontar à
época do povoamento. Supomos, no entanto, que só a partir da altura
em que se verificaram as erupções vulcânicas (1718-1720) a
indústria propriamente dita terá dado os primeiros passos ainda que
hesitantes.”
E depois,
acrescenta: A indústria do queijo, originária
da própria freguesia, pois foi ali que se fabricou o primeiro queijo
do Pico, deve ter-se desenvolvido paralelamente à tecelagem por
serem ambas produto das actividade pastoril tão do gosto daquele
povo”.(1)
Realmente o “queijo
do Pico” criou fama em todo o Arquipélago e não só. Tanto assim
que , num estudo promovido pelo antigo Ministério da Agricultura,
refere-se que: ”No Pico, particularmente
nas freguesias das Lagens e Ribeiras,
fabrica-se também um tipo sui generis
de queijo mole, conhecido por isso sob a designação de queijo do
Pico, com formato de 10 centímetros de diâmetro e 3 de altura, com
cerca de meio quilograma, o qual lembra o Camembert no paladar.
Produto exclusivo da indústria doméstica, largamente utilizado e
muito apreciado em todas as ilhas, susceptível de maior consumo,
este queijo é comprado em fresco pelos negociantes da freguesia de
S. João, que lhe fazem a cura e o exportam sobretudo para o Faial,
Terceira e S. Miguel.”. E
um pouco à frente informa: “no Pico
há 12 (fábricas), uma na freguesia da Criação Velha, no concelho
da Madalena e 11 no concelho das Lajens. Todas preparam manteiga e
queijo.”(2)
Na Horta foi criada
a Comissão de Fomento dos Lacticínios do Distrito da Horta, pelo
decreto nº 158 586, de 10-7-1930. Foi o caos. O fabrico do queijo
do Pico deixou de ser produto doméstico para só ser possível em
estabelecimentos licenciados. E a fiscalização não mais deixou de
“andar em cima dele”
Mais tarde, veio o
decreto nº 19.669 de 30 de Abril de 1931, (era Ministro da
Agricultura o Coronel Henrique Linhares de Lima) que, embora
estabelecesse que “À indústria caseira da
Ilha do Pico é permitido o fabrico de queijo, tipo Pico (S. João),”
essa actividade doméstica não conseguiu desenvolver-se .
Já mais
recentemente, veio do Governo Regional, o DLR/SRAP/ 96/32,
estabelecer as normas sobre a denominação de “Queijo do Pico”.
Daí surgiram as queijarias,
uma dúzia, por toda a ilha, que mais atrofiaram a actividade. Valeu
a firma MARTINS & REBELLO que a tempo chegou aqui e instalou a
fábrica da Silveira com abrangência em toda a ilha, permitindo, ou
até mesmo estimulando o desenvolvimento da produção leiteira. Mas
um dia aquela firma desapareceu. As instalações também já não
existem.
Surgiu, depois, a
Lacto Pico que construiu a nova fábrica do Mistério da Silveira.
Mas também ela tem andado sob “mar bravo”. (Votos faço para que
se mantenha e até prospere.)
A Ilha do
Pico , além da possibilidade de desenvolvimento da sua actividade
agro-pecuária, pode e deve explorar o potencial dos seus montes e
vales, os vários cabeços e as diversas lagoas que se escondem no
seu interior, além das diversas e variadas espécies botânicas, que
não só a faia (Myrica faya, ait) ou do zimbro ou cedro das ilhas
(Juniperus Oxycedrus,L.) e de outras.
Estão construídos
os caminhos de acesso. Falta a mão de obra e talvez o estimulo
governamental (?) para que a ilha desenvolva o seu potencial
económico, que não apenas nos lacticínios.
_____
1)-Madruga, Manuel
Alexandre – A Freguesia de S. João da Ilha
do Pico na Tradição Oral dos Seus Habitantes,
1957.
2)-A
Agricultura no Distrito da Horta (Subsídios para o seu estudo)
– Separata do Boletim do Ministério da Agricultura, Ano XIII, Nos.
1 a 4, - III série.
Lajes do Pico,
4-11-2013
Ermelindo Ávila
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