sábado, 16 de novembro de 2013

MONTES E VALES

A MINHA NOTA

O Caminho do Vitorino, recentemente inaugurado na encosta leste da ilha do Pico veio permitir uma ligação fácil e cómoda aos terrenos incultos e à rede de estradas e caminhos florestais, em boa hora construídos na ilha do Pico.
Essa rede de comunicações favorece a exploração de muitos terrenos e o seu melhor aproveitamento, proporcionando o aumento substancial da produção leiteira, uma das maiores riquezas da ilha.
Segundo informa o Dr. Manuel Alexandre Madruga, “Os primeiros balbucios industriais da freguesia de S. João devem remontar à época do povoamento. Supomos, no entanto, que só a partir da altura em que se verificaram as erupções vulcânicas (1718-1720) a indústria propriamente dita terá dado os primeiros passos ainda que hesitantes.”
E depois, acrescenta: A indústria do queijo, originária da própria freguesia, pois foi ali que se fabricou o primeiro queijo do Pico, deve ter-se desenvolvido paralelamente à tecelagem por serem ambas produto das actividade pastoril tão do gosto daquele povo”.(1)
Realmente o “queijo do Pico” criou fama em todo o Arquipélago e não só. Tanto assim que , num estudo promovido pelo antigo Ministério da Agricultura, refere-se que: ”No Pico, particularmente nas freguesias das Lagens e Ribeiras, fabrica-se também um tipo sui generis de queijo mole, conhecido por isso sob a designação de queijo do Pico, com formato de 10 centímetros de diâmetro e 3 de altura, com cerca de meio quilograma, o qual lembra o Camembert no paladar. Produto exclusivo da indústria doméstica, largamente utilizado e muito apreciado em todas as ilhas, susceptível de maior consumo, este queijo é comprado em fresco pelos negociantes da freguesia de S. João, que lhe fazem a cura e o exportam sobretudo para o Faial, Terceira e S. Miguel.”. E um pouco à frente informa: “no Pico há 12 (fábricas), uma na freguesia da Criação Velha, no concelho da Madalena e 11 no concelho das Lajens. Todas preparam manteiga e queijo.”(2)
Na Horta foi criada a Comissão de Fomento dos Lacticínios do Distrito da Horta, pelo decreto nº 158 586, de 10-7-1930. Foi o caos. O fabrico do queijo do Pico deixou de ser produto doméstico para só ser possível em estabelecimentos licenciados. E a fiscalização não mais deixou de “andar em cima dele”
Mais tarde, veio o decreto nº 19.669 de 30 de Abril de 1931, (era Ministro da Agricultura o Coronel Henrique Linhares de Lima) que, embora estabelecesse que “À indústria caseira da Ilha do Pico é permitido o fabrico de queijo, tipo Pico (S. João),” essa actividade doméstica não conseguiu desenvolver-se .
Já mais recentemente, veio do Governo Regional, o DLR/SRAP/ 96/32, estabelecer as normas sobre a denominação de “Queijo do Pico”. Daí surgiram as queijarias, uma dúzia, por toda a ilha, que mais atrofiaram a actividade. Valeu a firma MARTINS & REBELLO que a tempo chegou aqui e instalou a fábrica da Silveira com abrangência em toda a ilha, permitindo, ou até mesmo estimulando o desenvolvimento da produção leiteira. Mas um dia aquela firma desapareceu. As instalações também já não existem.
Surgiu, depois, a Lacto Pico que construiu a nova fábrica do Mistério da Silveira. Mas também ela tem andado sob “mar bravo”. (Votos faço para que se mantenha e até prospere.)
A Ilha do Pico , além da possibilidade de desenvolvimento da sua actividade agro-pecuária, pode e deve explorar o potencial dos seus montes e vales, os vários cabeços e as diversas lagoas que se escondem no seu interior, além das diversas e variadas espécies botânicas, que não só a faia (Myrica faya, ait) ou do zimbro ou cedro das ilhas (Juniperus Oxycedrus,L.) e de outras.
Estão construídos os caminhos de acesso. Falta a mão de obra e talvez o estimulo governamental (?) para que a ilha desenvolva o seu potencial económico, que não apenas nos lacticínios.

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1)-Madruga, Manuel Alexandre – A Freguesia de S. João da Ilha do Pico na Tradição Oral dos Seus Habitantes, 1957.
2)-A Agricultura no Distrito da Horta (Subsídios para o seu estudo) – Separata do Boletim do Ministério da Agricultura, Ano XIII, Nos. 1 a 4, - III série.

Lajes do Pico,
4-11-2013

Ermelindo Ávila

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