Completaram-se as
obras do Jardim da Baleia, como o classificam. O antigo Juncal
desapareceu, bem como o rectângulo que servia de campo de jogos. Uma
nova feição tomou a parte oeste da vila, dando-lhe, na verdade,
outra dignidade e beleza. Mas, em nosso entender, há ainda algo a
executar para que aquele espaço se torne atractivo e acolhedor.
Refiro, por agora, os chamados “bancos de jardim” que se tornam
indispensáveis para que as pessoas possam repousar e não nos
muretes de cimento que lá abundam.
O Jardim foi possível
ali implantar (faltam os canteiros e as flores para que possa ser
jardim e não apenas o relvado e as árvores) porque se alteou o muro
de defesa e se construiu, embora com deficiências (basta olhar para
o desaparecimento dos blocos de coroamento), o troço de muralha na
zona da antiga “carreira”.
O muro de defesa,
propriamente dito, foi alargado e alteado, nele se construindo, a
espaços, bancos de descanso. Julgo que assim ficou a vila
resguardada dos temporais que, periodicamente, assolavam a parte
baixa, dando maior segurança aos habitantes daquela zona.
E porque estamos já
no Outono e ficou para trás o Verão, será de lembrar que, nesta
mudança de estações, aconteciam, por vezes, temporais e ciclones
que deixavam a parte oeste da Vila num montão de destroços.
Lembro-me do ciclone
de 1936 que derrubou a muralha em frente da zona Norte da Vila sem,
contudo, fazer vítimas, como o de 1893.
Diz um jornal da
época, citado pelo historiador Fernando Borba:
“Na madrugada de 23 (aliás 28) do mês de Agosto de 1893, o vento
começou a soprar com enorme violência, do quadrante S.S.E., fazendo
grandes estragos no campo. Cerca das 8 horas, como continuasse com a
mesma intensidade, aniquilando inteiramente os milheirais, o digno
vigário desta vila celebrou preces na igreja matriz, a que
concorreram muitos fieis. (...) O acto religioso ia talvez a meio,
quando as pessoas que estavam próximas à porta principal da igreja,
cheias d'alvoroço, soltaram este grito aflictivo: - o mar! O vento
havia avançado mais para oeste, enfurecendo as ondas que, nesta
ocasião, já chegavam até à igreja”.
Importa dizer que se
refere o articulista à antiga matriz, que ficava na zona onde hoje
está a Capela Mor da actual matriz. Uma das minhas avós contava que
o mar invadira a igreja e deixara peixes em cima dos altares!
Nessa ocasião,
estavam ancorados no porto o iate S. João Baptista, o caíque
Espírito Santo e o barco Bom Jesus. Os tripulantes do iate e do
barco conseguiram ir a bordo e reforçar as amarrações. O mesmo não
sucedeu ao caíque Espírito Santo. Nele ficou o infeliz Manuel
Machado, rapaz de 20 anos, por não saber nadar, desaparecendo um
pouco mais tarde.
Isto, em resumo, o
que nos narra o historiador citado, baseando-se na narração do
jornal “Cartão de Visita”, nº107, de 24 de Setembro de 1893.
(1)
A ilha ficou
devastada e foram muitas as ajudas que vieram de fora, incluindo dos
Estados Unidos. D. Rosa Dabney Forbes, ao tempo, residente na Horta,
importou dos Estados Unidos um barco com milho que fez distribuir
pela população picoense. Para as Lajes, vieram 50 sacos que foram
distribuídos por 19 famílias. Algumas delas receberam quatro sacos
cada.
Outros ciclones tem
havido ao longo dos tempos, mas julgo que o mais devastador foi o de
93. Precisamente, há 120 anos. Destruiu a Mouraria, a Pesqueira, e a
Rua Nova da Lagoa. Além do Manuel Machado, desapareceu o comerciante
João Machado Alves, que se encontrava no seu estabelecimento e do
qual o mar o arrebatou. Este estabelecimento estava instalado no
prédio que é, actualmente, de Serge Viallelle.
A muralha que
circunda a Vila, foi construída no ano de 1914. Há cem anos
portanto. Foi, erradamente, lançada muito junto da parte baixa da
vila, quando o podia ter sido muito próximo da costa, recuperando-se
os quintais que antes existiam e que os temporais foram conquistando
para o mar. Bem reclamou o jornal “As Lages”, (que ao tempo se
publicava) inclusive, o estreitamento da largura que foi sofrendo ao
aproximar-se da Maré. Entretanto, ia desaparecendo o “Calhau
Grosso” com a contínua retirada de pedra para construções. Os
habitantes da beira-mar bem reclamavam mas de nada serviu...
(1) Boletim
do Museu Etnográfico da Graciosa, nº 5. pág.103 e seg.s
Lajes do Pico,
28 de Agosto de 2013.
Ermelindo Ávila
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