NOTAS DO MEU CANTINHO
Terminou
definitivamente a caça à baleia e ficaram as canoas abandonadas nas
respectivas “casas dos botes”, dos portos açorianos. E açorianos
porque, nos Estados Unidos, onde a baleação teve o seu início e
foi escola para muitos emigrantes, somente ficou a recordação
desses tempos áureos e o New Bedford Whalling Museum que
arrecada o espólio riquíssimo dessa actividade marítima naquelas
paragens. Parece que hoje, talvez pelo estímulo dado pelos açorianos
que baleeiros foram e por lá se fixaram, estão a implementar a
prática da regata desportiva, não com as antigas baleeiras
americanas mas com as canoas importadas ou ali construídas por um
picaroto e que foram criação de um lajense. A canoa açoriana é
hoje considerada a mais bela embarcação do mundo. Muitos esquecem
porém que foi o lajense Francisco José Machado, o Experiente, o
inventor do novo estilo da canoa baleeira, iniciado com a embarcação
que ele construiu e denominou de “São José”. Infelizmente,
porém, o nome do grande lajense anda esquecido. Nem existe uma placa
junto da canoa que está arrecadada no Museu lajense, esta construída
pelo filho, Manuel José Machado que, com os irmãos, continuou a
construção de canoas que ficaram espalhadas pelas diversas ilhas
açorianas e até pelo porto de Setúbal onde existiu uma empresa
baleeira.
A Horta chamou a si, e
bem fez, a organização das regatas com botes baleeiros e está
entendida com New Bedford para a realização de regatas
internacionais, alternadamente na Horta e naquela cidade americana.
New Bedford foi
realmente um grande centro baleeiro. Em meados do século XIX possuía
mais de 300 navios, tantos como o resto dos Estados Unidos, dedicados
à baleação. Nessa época houve nos Açores, melhor dito no porto
das Lajes, uma tentativa com um brigue armado em baleeira, que não
resultou.(1)
Não
se esquece que a actividade baleeira, costeira, chegou aos Açores,
trazida pelos emigrantes retornados, aqueles que antes haviam partido
“de salto”. Teve, no entanto o patrocínio da Casa Dabney,
estabelecida na Horta no principio do século XIX. O primeiro
contrato escrito de baleação, que se conhece, é de 28 de Abril de
1876, entre Anselmo Silveira, da Calheta de Nesquim, duma parte, e
Samuel Dabney e George Oliver, americanos residentes na Horta, de
outra.
New
Bedford, decorridos quase dois séculos, conserva nas suas ruas
placas com o indicativo “Cidade Baleeira”. Nas próprias
habitações existem muitos “souvenirs” da baleação. E até no
Museu de Mistic Port, onde ainda se encontra uma antiga barca
baleeira, constantemente beneficiada, além das antigas e intactas
instalações que constituem as actuais secções do Museu, há um
artesão, que eu saiba, a fazer lembranças da baleação mas... em
osso de vaca, segundo ele próprio me informou. Demais os habitantes
daquela cidade americana têm orgulho da sua ascendência,
conservando a tradição baleeira com muito respeito. As regatas,
como disse, continuam nos Açores. Nos vários portos do Pico, v.g.,
estacionam canoas baleeiras, levadas dos portos onde se praticava a
actividade, e entregues a várias entidades, que as vão conservando
e no verão promovem, pelas suas festas, regatas à vela e/ou a
remos. E a juventude, tanto masculina como feminina, lá vai
praticando esse novo desporto, com entusiasmo. Ainda bem que isso
acontece, pois é a maneira mais prática de se recordar, ainda por
muitos anos, uma actividade que, durante mais de um século, foi
promotora de algum desafogo económico, de muitas famílias
picoenses, principalmente, pois eram os picoenses os grandes
baleeiros que, como oficiais ou trancadores, se deslocavam para todas
as ilhas e até para o continente, a praticar a baleação.
A Vila das Lajes, que
foi o principal centro baleeiro dos Açores, possui o Museu mais
visitado dos Açores, e algumas canoas, das que ficaram, para as
regatas. Restam as “casas dos botes”, onde foi instalado o Museu
e as “casas dos botes da Ribeira do Meio”, onde se guardam as
canoas hoje utilizadas nas competições. Mais nada indica o seu
passado histórico. O Museu deixou de ser um organismo autónomo para
ser uma “extensão” do hipotético Museu do Pico que, afinal, não
tem qualquer estrutura física, Como se, nos Açores, só pudesse
existir um museu – o Museu dos Açores- sem qualquer significação
histórica.
Importa sinalizar,
convenientemente, os espaços da vila ligados à antiga actividade
baleeira. As “Casas dos Botes” carecem de um indicativo visível.
O monumento aos baleeiros, além dos nomes dos antigos oficiais e
trancadores que lá existem, e muito bem, carece de ser assinalado,
com uma placa identificativa. Monumento ou homenagem aos baleeiros ,
como julgarem mais acertado. Restam ainda uma ou duas “Vigias”,
hoje utilizadas para ajudar a prática do whale watching.
O comércio,
principalmente aquele que se dedica à venda de scrimshaw,
deve utilizar e valorizar a identificação da baleação pois não
basta somente uma rua dedicada aos baleeiros. Toda a Vila é a
Vila Baleeira. Nas entradas da Vila é indispensável que sejam
colocadas placas com o indicativo VILA BALEEIRA.
As empresas que exploram
actualmente a observação de cetáceos deviam referir que se trata
de uma actividade que se seguiu à proibição da caça à baleia,
actividade que ainda hoje se praticaria se não fosse a descoberta do
petróleo e de outros produtos e sistemas mais sofisticados e que
levou os governos a decretarem a proibição da antiga e secular caça
à baleia ou cachalote.
Tudo
isto já foi dito. ( Ver “Album da Ilha do Pico”, do autor,
pág. 94 a 118). Convém, porém, repetir.
Orgulhemo-nos
do nosso passado!
Lajes do Pico,
Vila Baleeira
13-04-2013
Ermelindo Ávila
_____________
- Refiro a tentativa de João Paulino Laureano Narciso da Silveira que, cerca de 1850, armou um brigue para a caça da baleia, o qual não deu o resultado desejado .Ver “Figuras & Factos”, pág. 107 e 121, do Autor.
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