Está a terminar o mês de Agosto e somos
chegados ao mês de Setembro. Em poucos
dias entramos no Outono. Outrora era o
mês das vindimas e das colheitas. Uma
azafama que ocupava todas as famílias na
recolha das uvas e dos cereais que, se eram abundantes, garantiam o
sustento de toda a família durante o ano e, por vezes, servia de moeda de troca
para a aquisição de géneros nos comércios e não só.
A Ilha do Pico vivia em Setembro o mês
mais trabalhoso do ano. Antes havia a preparação das adegas: o lagar vigiado
para não vazar o mosto, o recolher das uvas, a escolha, o pisar, o recolher o
néctar precioso nos balseiros, o estar atento à fermentação.
Nos campos de semeadura era a
desfolhada, o descascar, secar e debulhar e a recolha nas “vasilhas”,
inicialmente de madeira e mais tarde de zinco, os chamados latões ou depósitos
de milho. Não se fazem “burras” como em outras ilhas pois, naturalmente o clima húmido não permitia deixar a maçaroca em
casca ao ar livre. “Cada terra com seu uso”, diz o adágio popular.
Em anos ou mesmo séculos passados o
vinho de verdelho era a grande produção e riqueza da ilha. Vários Historiadores
se referem a esse néctar precioso que, embarcado para a Europa, principalmente, era rei nas mesas
dos czares russos.
“No ano de 1658 houve tanto vinho no Pico
e em S. Jorge que se “averiguou que deu a Ilha do Pico quase quarenta mil pipas
e se houvesse aproveitado toda a novidade o que se não fez por falta de
piparias, excederia com vantagem. Veio esta abundância suprir as faltas de 1662
e 1663 em que para as celebrações de missas vinha do Faial.” (In “Fénix
Angranse,2º V. P.368)-
Em “Notas Faialenses” (Arqº dos
Açores, V.VII, pág 65 ) escreve Ernesto
Rebello (1842-1890): “Dizem que foi um
padre, Fr. Pedro Gigante, que há muitos anos introduziu, nos terrenos mais
próprios da semelhante cultura, alguns bacelos de vinha proveniente da ilha
Madeira. – Este padre foi, efectivamente, um gigante do nome e na ideia, um
filósofo às direitas. Viu que ilha do Pico era extensíssima, ainda pouco
povoada e todos os casais dispersos à beira mar; quis secundar a poderosa acção
química dos mariscos sobre a organização humana, aumentar o nervosismo, o amor
dum para outro sexo, via já formigar crianças por toda a parte, mas ainda
achava que o crescite et multiplicamine da
Escritura não estava bem realizado, queria, desconhecia a necessidade de mais
gente na nova ilha e disse de si para si: Se aqui houvesse bastante vinho, mas
bem, dum certo que eu conheço, daquele que dá força e vida, realizava-se o
milagre”. Desculpa-se o devaneio filosófico, pela palavra de incentivo à cultura que foi a
riqueza da ilha.
Informa o autor citado, no seu extenso
trabalho sobre as uvas do Pico que “Dotar uma ilha com a produção anual de 12
a 15 mil pipas de excelente vinho, dando uma receita aproximadamente de
300:000$000 de rs. não é um facto que deva passar desapercebido”. No tempo
em que escreveu as Notas, a Ilha do Pico tinha 27 mil habitantes. O concelho
mais populoso era o das Lajes com 10.658 habitantes e a vila das Lajes com
3.215 h.
No seu erudito trabalho acrescenta E.R.: Em quanto às castas de uva, temos:
Verdelho, Verdelho Silvestre, Boal, Bastardo, Dedo de Demo, Terrantês,
Alicante, Moscatel, Uva tinta, Gallega, Isabel – Casta americana, recentemente
(1870 ?) importada, bago grande, cor preta, um só bagulho, casca grossa, doce e
fresca, produz abundantemente...substituindo talvez o antigo Verdelho.”
E a concluir diz o autor citado: Mais algumas diversidades de uva existem na
ilha do Pico, tais como o Moscatel de Jesus – Diagalves – Uva do Monte –
Ferral, etc. Mas isto mais por curiosidade do que propriamente para produção,
como mais abundosas, eram essas diversidades antes da moléstia, em que os
agricultores a par do lucrativo e geral Verdelho, gostavam de apresentar outras
espécies, quase sempre para mesa.
Hoje, as vindimas são poucas e as adegas passaram a
ser vivendas de verão dos respectivos proprietários.
Ermelindo Ávila
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