domingo, 2 de setembro de 2012

SETEMBRO, O MÊS DAS VINDIMAS



          Está a terminar o mês de Agosto e somos chegados ao mês de Setembro.  Em poucos dias entramos no  Outono. Outrora era o mês das vindimas  e das colheitas. Uma azafama que ocupava todas as famílias na  recolha das uvas e dos cereais que, se eram abundantes, garantiam o sustento de toda a família durante o ano e, por vezes, servia de moeda de troca para a aquisição de géneros nos comércios e não só.
          A Ilha do Pico vivia em Setembro o mês mais trabalhoso do ano. Antes havia a preparação das adegas: o lagar vigiado para não vazar o mosto, o recolher das uvas, a escolha, o pisar, o recolher o néctar precioso nos balseiros, o estar atento à fermentação.
          Nos campos de semeadura era a desfolhada, o descascar, secar e debulhar e a recolha nas “vasilhas”, inicialmente de madeira e mais tarde de zinco, os chamados latões ou depósitos de milho. Não se fazem “burras” como em outras ilhas pois, naturalmente o  clima húmido não permitia deixar a maçaroca em casca ao ar livre. “Cada terra com seu uso”, diz o adágio popular.
          Em anos ou mesmo séculos passados o vinho de verdelho era a grande produção e riqueza da ilha. Vários Historiadores se referem a esse néctar precioso que, embarcado para  a Europa, principalmente, era rei nas mesas dos czares russos.
      “No ano de 1658 houve tanto vinho no Pico e em S. Jorge que se “averiguou que deu a Ilha do Pico quase quarenta mil pipas e se houvesse aproveitado toda a novidade o que se não fez por falta de piparias, excederia com vantagem. Veio esta abundância suprir as faltas de 1662 e 1663 em que para as celebrações de missas vinha do Faial.” (In “Fénix Angranse,2º V. P.368)-
          Em “Notas Faialenses” (Arqº dos Açores, V.VII, pág 65  ) escreve Ernesto Rebello (1842-1890): “Dizem que foi um padre, Fr. Pedro Gigante, que há muitos anos introduziu, nos terrenos mais próprios da semelhante cultura, alguns bacelos de vinha proveniente da ilha Madeira. – Este padre foi, efectivamente, um gigante do nome e na ideia, um filósofo às direitas. Viu que ilha do Pico era extensíssima, ainda pouco povoada e todos os casais dispersos à beira mar; quis secundar a poderosa acção química dos mariscos sobre a organização humana, aumentar o nervosismo, o amor dum para outro sexo, via já formigar crianças por toda a parte, mas ainda achava que o crescite et multiplicamine da Escritura não estava bem realizado, queria, desconhecia a necessidade de mais gente na nova ilha e disse de si para si: Se aqui houvesse bastante vinho, mas bem, dum certo que eu conheço, daquele que dá força e vida, realizava-se o milagre”. Desculpa-se o devaneio filosófico, pela  palavra de incentivo à cultura que foi a riqueza da ilha.
          Informa o autor citado, no seu extenso trabalho sobre as uvas  do Pico  que “Dotar uma ilha com a produção anual de 12 a 15 mil pipas de excelente vinho, dando uma receita aproximadamente de 300:000$000 de rs. não é um facto que deva passar desapercebido”. No tempo em que escreveu as Notas, a Ilha do Pico tinha 27 mil habitantes. O concelho mais populoso era o das Lajes com 10.658 habitantes e a vila das Lajes com 3.215 h.     
No seu erudito trabalho acrescenta E.R.: Em quanto às castas de uva, temos: Verdelho, Verdelho Silvestre, Boal, Bastardo, Dedo de Demo, Terrantês, Alicante, Moscatel, Uva tinta, Gallega, Isabel – Casta americana, recentemente (1870 ?) importada, bago grande, cor preta, um só bagulho, casca grossa, doce e fresca, produz abundantemente...substituindo talvez o antigo Verdelho.”
          E a concluir diz o autor citado: Mais algumas diversidades de uva existem na ilha do Pico, tais como o Moscatel de Jesus – Diagalves – Uva do Monte – Ferral, etc. Mas isto mais por curiosidade do que propriamente para produção, como mais abundosas, eram essas diversidades antes da moléstia, em que os agricultores a par do lucrativo e geral Verdelho, gostavam de apresentar outras espécies, quase sempre para mesa.
        Hoje, as vindimas são poucas e as adegas passaram a ser vivendas de verão dos respectivos proprietários.
       

Ermelindo Ávila

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