A MINHA NOTA
Chegou a época carnavalesca. As quintas-feiras que antecedem o Entrudo são festejadas pelos açorianos, desde remotas eras, com encontros pantagruélicos.
Hoje é dia de amigos. Um dia especial em que os amigos se juntam para festejar antecipadamente o Carnaval ou Entrudo, que se aproxima. Mas mais do que isso, é motivo para uma confraternização especial, à qual ninguém se escusa. E vale a pena continuar.
Para além de tudo o que possa imaginar, as quintas-feiras, cuja “comemoração” hoje se inicia, têm o mérito de juntar as pessoas que andam normalmente afastadas por afazeres vários e que nestes dias esquecem as agruras da vida para estarem juntas e recordarem diversas etapas da vida que passou.
Não sei quando tiveram início e qual o motivo que levou os nossos antepassadas a criarem estes dias para se juntarem e divertirem um pouco, se bem que seja um tanto diferente as comemorações actuais daquelas que se praticavam há anos passados.
As ilhas, antes de se conhecer o telefone, a rádio e a televisão, e da navegação se limitar aos barcos à vela e, mais tarde, aos vapores com viagens quinzenais, viviam num completo e confrangedor isolamento. Os serões eram passados à luz da candeia, provida de óleo de toninha e de baleia e, depois das velas de estearina, enquanto o petróleo aqui não chegou. Ao Pico a electricidade só cá chegou na década de trinta do século passado e por iniciativa particular...
As matanças dos porcos, normalmente nos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, mas sempre antes do Carnaval, eram motivo para as famílias de juntarem e confraternizarem. Por vezes, na noite do “dia de derreter”, os novos, com a ajuda dos velhos, organizavam um bailarico, melhor uma chamarrita, ao toque da viola da terra. Mas era no Carnaval que tinham lugar as grandes folgas, com tocadores convidados e bailadores experimentados.
Novos e velhos divertiam-se “à grande” (como soe dizer-se) pois os que não bailavam, jogavam às cartas, em partidas renhidas.
O Carnaval, porém, era diferente. As famílias e os amigos reuniam-se para “ver máscaras” e, nos intervalos da sua passagem, bailavam a chamarrita e por vezes a valsa. Nas salas dos abastados, onde havia piano, dançavam-se as valsas, mais tarde os tangos, e as quadrilhas, um baile artístico, dirigido em francês. Porém, à meia-noite da terça-feira de Entrudo tudo terminava porque, no dia seguinte – quarta-feira de Cinzas – era Quaresma, tempo de recolhimento e penitência. E todos ou quase todos cumpriam porque eram católicos praticantes!
No resto do ano só se realizava uma folga para homenagear algum emigrante de visita à terra. Mas, esses bailes, com tocadores escolhidos, eram destinados normalmente a convidados.
Hoje é tudo tão diferente!...
Vila das Lajes,
27 – Jan. – 2012
Ermelindo Ávila
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