Depois apareceram os moinhos de vento.
No Pico houve dois tipos: o somente de pedra, com a cobertura de madeira, de dois pisos no interior, saindo da respectiva junção o pau que sustentava no exterior as quatro velas ou panos; e o de madeira, assente num soco de pedra. Ambos os tipos de moinho giravam em volta do “monte” conforme a direcção do vento. E quando o vento era capaz de mover os panos, presos em quatro armações, o moleiro assoprava num grande búzio que produzia um sinal de alarme que percorria o povoado. Era então que mulheres e homens e, por vezes rapazes, seguiam com os sacos da “novidade”, de um ou dois alqueires (quinze ou trinta litros) , para o moinho, onde eram atendidos “à vez”.
Igual função tinham as atafonas que, normalmente, só eram utilizadas para o serviço do próprio dono, se bem que houvesse excepções pois algumas havia que também moíam “para fora”. E porque o dinheiro era raro, o pagamento, quer nos moinhos, quer nas atafonas, era feito mediante uma pequena quantia de farinhas que o moleiro retirava das respectivas sacas.
Mas, porque os moinhos eram instalados, normalmente, em pequenas elevações, tornavam-se lugares lazer para alguns que neles passavam algumas horas.
Com a instalação da actividade baleeira, os moinhos serviam para o respectivo moleiro fazer a vigia de baleias como acontecia no que estava instalado na “Terra da Forca” que, diariamente, era ocupado pelo vigia Francisco Moniz Barreto que já sucedera ao Pai, José Moniz.
Com a instalação das moagens a quase totalidade dos moinhos deixou de ser utilizada, mas alguns continuaram a servir de “vigia”, pelo local onde se encontravam. É o caso do moinho da Terra da Forca, já referido, e o do Cabeço da Era, na Piedade, ocupado pelo vigia das Armações da Calheta.
Daqueles (dois) que existiram na Terra da Forca, nos Biscoitos, no Soldão, e no Mistério da Silveira, resta o do fim do Mistério, no início da freguesia de São João, hoje transformado em Posto de Turismo. Não sei se outros mais há à volta do Pico.
Foi pena que os deixassem ao abandono e viessem a desaparecer. Eram testemunhas fortes dos trabalhos e das canseiras dos nossos avós e,
ao mesmo tempo, sinais de vida destas gentes que, por aqui, ainda hoje, mourejam o pão de cada dia.
Bem poucos anos bastaram, para que tudo se tornasse diferente. Nem moagens há, pois deixaram de cultivar o trigo; e o milho é bem escasso. É quase tudo importado, até que se volte à terra quando a fome, que não anda longe, por aqui passar...
Lembro-me da moagem que o Dr. José Maria de Melo, que aqui exerceu as funções de facultativo médico municipal e acabou por se transferir para as Velas, tinha instalada na rua que ainda alguns conhecem por “rua do engenho”. A casa principal, onde se encontrava a maquinaria, ainda lá existe. Ao lado havia a casa da caldeira, que já desapareceu. A caldeira era alimentada a lenha, que um carro de um boi trazia do Mistério. Na moagem tanto se moía o trigo como o milho. E estava preparada para tratar a farinha, retirando-lhe o calouro. Com a ida do proprietário para S. Jorge, a moagem para lá foi transferida e as casas, que haviam sido construídas para a instalação da indústria, foram vendidas. Resta, como disse, a principal, de três pisos.
Depois vieram as moagens para farinação de milho. A primeira foi instalada na rua de Olivença, rua de Baixo, onde mais tarde foi construída a sede da Sociedade de Santo António. Creio que o primeiro proprietário foi Gil Xavier Bettencourt que veio, mais tarde, a trespassá-la para Epifânio Batista. Este, passando a encarregado da Central Eléctrica, nos anos trinta, encerrou a moagem e passou a trabalhar na moagem da central, então nos baixos do edifício do convento franciscano. Depois instalou uma moagem na Ribeira do Meio, próximo dos Biscoitos, e uma outra na Silveira. Em Santa Cruz das Ribeiras, pela mesma época, Manuel Silveira de Ávila (Veludo) instalou uma moagem, perto do porto; e o Dr. José Alves Pereira montou uma moagem na Calheta de Nesquim. Ficou assim o concelho com uma cobertura de moagens de farinação de milho que, praticamente, vieram a substituir os antigos moinhos.
Já uma vez recordei este assunto. Não importa repeti-lo. Diz um velho aforismo: Recordar é viver.
Vila das Lajes,
5 de Maio de 2011.
Ermelindo Ávila
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