NOTA DO MEU CANTINHO
Há muitos anos que colaboro em “O
Dever”, de maneiras diferentes. Principiei por publicar uma crónica - reportagem
que, com espanto meu, foi apreciada por antigo professor a quem fazia aliás,
referência merecida.
Depois, aceite pelo Director do Jornal,
que o recebeu com muito carinho, o gosto pela escrita foi-se mantendo ao longo
dos anos, derivando, incipiente embora, para os problemas da terra que, já
então, eram bastantes. E a luta
pelo bem da terra continuou.
Ninguém foi capaz de se pôr na frente e
dizer: basta!
Nunca entrei em polémicas e se algum
escriba vinha à liça contestar o escrito, deixava-o passar para lhe dar a
resposta devida a seu tempo. E foi assim que cheguei até aqui...
Não faltaram, algumas vezes, poucas,
contestatários atrevidos, mas a esses a resposta era ignorá-los.
Muitas das crónicas, estão reunidas em
livros. Não refiro os títulos para não se julgar que estou aqui a fazer deles
propaganda. Fique isso para outros. A minha idade, já bastante avançada, não
permite que vá por aí para continuar a escrever, mantendo o “vício” que teve
começo há 85 anos...
E feita esta pequena observação, prefiro esquecer o
passado, mas nem sempre é possível...
+
Os jornais picoenses fazem-se eco da crise da Lavoura,
principalmente no concelho das Lajes, outrora o mais rico e próspero nas
explorações agrícolas. É lamentável que isso aconteça. Ignorar ou desprezar o
potencial agrícola do concelho é atitude que só posso classificar de malévola.
No concelho das Lajes estão as melhores
e mais férteis pastagens, os melhores terrenos de produção agrícola e, também,
os aptos à exploração vitivinícola.
Foi aqui perto que Frei Pedro Gigante
plantou os primeiros bacelos de Verdelho. Foi na zona da Ponta da Ilha – freguesia
da Piedade, especialmente – que se desenvolveu a cultura do vinho de cheiro, chegando
alguns jorgenses a adquirirem ali terrenos para o cultivo da vinha, cujo vinho
produzido levavam para a sua ilha. Um ano, porém, essa transferência não lhe
foi permitida, porque a produção mal deu para o consumo local. (Consta das
actas da Vereação Municipal).
Alguns produtores tinham embarcações
(veleiros) apropriadas ao transporte dos seus vinhos para o Norte da Europa.
Os proprietários de terrenos de cultura
exportavam cereais para outras ilhas e gado para abate no continente.
Quando o vapor “Lima” passava
mensalmente no porto das Lajes, e isso não foi há centenas de anos... era raro
o mês que não carregava, para Lisboa, mais de uma centena de cabeças de gado vacum.
Com o desenvolvimento da indústria de lacticínios (tenha-se em atenção a firma
Martins & Rebello) e isso não foi há muitas dezenas de anos, aumentou a
produção leiteira e diminuiu a de carne.
Hoje, parece que ambas estão em crise.
A produção leiteira vai diminuindo... A produção do vinho de qualidade vai
aumentando...
Na Piedade, existe uma extensa propriedade,
doada há mais de cem anos por um benemérito filho daquela freguesia e emigrado
no Brasil, que se destinava a escola agrícola. Nem são de contar as
vicissitudes porque tem passado o Posto “Matos Souto”...
Com a instalação da Região Autónoma, o
que superintendia na Agricultura preferiu tirar dali a chefia dos Serviços
Agrícolas e transferi-la para a zona vitivinícola...
Não é para esquecer o que então se passou... Aí têm o
resultado...Estarei enganado? Não terá sido mais uma farpoada no Sul do Pico
ou, mais propriamente, no concelho das Lajes?
O concelho das Lajes nunca tratou mal os outros. Até
ajudou a fundá-los, dando-lhes territórios do seu...
Que bom seria se não se ignorasse a História.
Lajes
do Pico,
8
de Abril de 2017.
Ermelindo
Ávila
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