quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

2007 - 2008

Parece que foi ontem que assinalávamos o início de 2007. Afinal ele está a terminar seus dias. Voltamos a folha do calendário e um ano surge.
Que será 2008? Sabemos que é ano bissexto, o mesmo que é dizer que, ao mês de Fevereiro, será acrescentado mais um dia. E, de quatro em quatro anos, acontece o mesmo a menos que a sua expressão numeral não seja divisível por quatro . Antigamente era um ano de surpresas e de acontecimentos agoirentos. Nos últimos anos as pessoas deixaram de pensar assim e só sentem os efeitos porque os ordenados não se alteram e há mais um dia a contar nos orçamentos domésticos.
O ano que ora termina não deixa saudades à grande maioria das pessoas, segundo os alarmantes clamores que continuamente nos chegam. Que será o novo ano? A ter em consideração as premissas que nos oferecem os resultados do ano que dentro de dias terminará, não será nada famoso o de 2008.
Os ordenados e salários manter-se-ão estagnados ou, como actualmente se diz, estacionários, originando lutas laborais contínuas. Os preços dos géneros continuarão em subida vertiginosa, resultando uma carestia de vida insuportável. As crianças serão indesejáveis. As interrupções da gravidez ocuparão as mesas da cirurgia hospitalar com a agravante de faltarem as mesmas para os doentes carecidos da intervenções cirúrgicas que se vêm forçados a procurar alívios em hospitais estrangeiros. Haverá mais crianças abandonadas nas creches e, nas ruas, mais famintos.
Será perigoso chegar à terceira idade porque a eutanásia espreita…
Nas ruas andarão aos bandos os desempregados, porque só se manterão as actividades industriais que produzirem bons e avantajados lucros para os seus donos e senhores, sejam nacionais ou pseudo-nacionais (estrangeiros).
Aqui e ali as rusgas de rua e manifestações sindicais são uma constante. E tudo no mundo global, onde só se procura extremar os dois blocos: milionários e pedintes. Ricos, remediados e pobres era em tempos idos.
É triste e arrepiante o quadro que aqui fica traçado? Queira Deus que me engane e que a humanidade possa gozar de paz, de tranquilidade, de alegria de viver, de bem-estar social e material. E se isso acontecer e eu vivo for, cá estarei para aplaudir a mãos cheias, todo esse conforto e desafogo material, do qual resultará, naturalmente, a harmonia e o entendimento positivo e sério entre os povos e as nações.
Chegado à derradeira dezena da centúria, não acalento esperança alguma de que o Mundo venha a entrar numa época de paz e de desenvolvimento. A História repete-se e estamos naquele período em que a ganância, a vaidade, o desejo de mandar e de subjugar os mais fracos se desenvolvem de uma maneira drástica e arrepiante; a devassidão e a sodomia voltam a dominar os povos! Iremos cair novamente na época de Sodoma e Gomorra? Os divórcios, as desuniões, o abandono dos filhos, as desavenças familiares, a desagregação social, as tempestades, os desastres aéreos e marítimos, as derrocadas e os sismos; o terrorismo e os assaltos e roubos desenfreados; a droga e o alcoolismo; os motins e as revoluções internas; todas essas calamidades de que os meios de comunicação diariamente nos dão notícias alarmantes, não serão uma amostra dos cataclismos que poderão acontecer a qualquer momento e quando menos se esperar?
Serei pessimista? Poderei sê-lo mas nunca alarmista. Os sinais dos tempos dão-nos as provas concludentes de que o mundo está doente…
Que o Senhor a todos proteja e ampare no novo ano que vai começar, são os votos que aqui deixo com muita sinceridade e amizade.
Vila das Lajes,
20 de Dezembro de 2007
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

UM HERÓI DESCONHECIDO

Algumas vezes referi em escritos meus o herói nas lutas americana contra os Índios, John "Portugee" Phillipss.
Era natural desta vila ou melhor dizendo do subúrbio das Terras, filho de Filipe Cardoso e de sua mulher Maria de Jesus, naturais e fregueses da Matriz da Santíssima Trindade e moradores no lugar das Terras, desta Vila, nascido a 28 de Abril de 1832 e baptizado em 3 de Maio do dito ano. Faleceu aos 51 anos de idade, em Cheyenne, a 18 de Novembro de 1883. Ocorrem agora 124 anos.
"Rapaz ainda, emigrou para a América , numa antiga baleeira, de salto, como era vulgar naqueles tempos. Desembarcou nas costas do Pacífico, seguiu depois para Lesta, trabalhando com um grupo de aventureiros, como ele, que iam à cata de ouro. No verão de 1866 Phillips, chegou ao Forte de Kearney, com quatro companheiros. Ali todos arranjaram trabalho, parte do tempo contratados pelo chefe do posto do exército dos Estados Unidos.
Foi então que se deu a grande façanha do nosso conterrâneo. O forte onde trabalhava foi cercado pelos Índios e tornou-se forçoso pedir reforços ao forte de Laramie que ficava a mais de duzentas milhas.
Estava-se na véspera do Natal de 1866. Phillips ofereceu-se para ir até Laramie afim de levar uma mensagem do comandante, pedindo ajuda para combater a fúria dos indianos, dispostos a tudo conquistarem, para o que tinham de fazer grande carnificina entre os ocupantes do forte Kearmey. Caminhando, durante a noite, por entre matas bravas, iludindo assim a apertada vigilância dos assaltantes, num cavalo bastante adestrado, (consta que era o cavalo do próprio comandante do forte), para não ser apanhado pelos índios, conseguiu chegar ao Forte de Laramie e entregar o pedido de socorro. O cavalo, que tinha as ferraduras pregadas ao contrário para despistar os índios, ao chegar à parada caiu morto, exausto pela longa caminhada. O auxílio chegou ao forte sitiado e os assaltantes foram desbaratados. Todavia jamais perdoaram ao nosso herói o seu feito e, durante a vida, as suas propriedades eram constantemente assaltadas, como vingança, pelos índios.
Aquando do seu falecimento a Comissão do Congresso aprovou uma moção na qual se afirmou: "A morte de Mr. Phillps foi uma perda irreparável para esta terra, foi um homem sempre leal e verdadeiro em tudo, nunca se provando coisa alguma em contrário, honesto, cidadão correcto e prestante, amigo do seu amigo e do seu próximo.
"Não cremos que ninguém tenha feito mais por esta terra para abrir o caminho para a civilização que muitos de nós agora gozamos do que John Phillips. Muitos dos pioneiros que aqui se estabeleceram, lembrar-se-ão de tantas vezes que arriscou a vida na fronteira, desde Cache de la Pondre até aos confins da Montanha, enganando habilmente a astúcia dos peles vermelhas (índios), dando socorro a tantos que tinham caído, presas desses selvagens. Representou um papel muito importante no drama este país."
O Phillips visitou uma vez as irmãs, residentes no lugar das Terras, e é tradição que viajou num barco de guerra americano posto à sua disposição pelo Governo estadunidense. Num trabalho publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Vol. III, nº. l, 1962) permiti-me alvitrar que o Manuel Filipe, seu nome de baptismo, fosse homenageado na sua terra natal. Isso nunca se verificou.
Hoje, voltando ao assunto, decorridos que são quarenta e cinco anos sobre o meu primeiro escrito, e recordando as homenagens diversas que os Estados Unidos lhe hão prestado, como acontece com os seus heróis, por vezes tardiamente, ouso lembrar que nunca é tarde para se prestar a devida justiça a quem a merece.
Porque não colocar, na zona central das Terras, onde se situa a Ermida do Coração de Maria e o grandioso salão Social, aqui vai a razão deste texto, um busto do nosso herói ? Para isso poderia servir a foto verdadeira que aqui se publica.
Faço um apelo à Câmara Municipal e aos habitantes daquele progressivo lugar, para que não esqueçam o maior filho da localidade.
Uma vez mais presto a minha homenagem ao herói Manuel Filipe e espero que este modesto pedido seja atendido por quem de direito e não se faça, uma vez mais, "ouvidos de mercador" a tão importante assunto, como é o acto heróico de Manuel Filipe, ocorrido, precisamente, há 141 anos.
Vila das Lajes,
Natal de 2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

MONTE DE SANTA CATARINA

O monte de S. Catarina, situado entre a Vila e a Ribeira do Meio, se contribuiu para a separação dos dois núcleos habitacionais, também teve o mérito de oferecer aos seus habitantes um lugar aprazível e um primoroso miradoiro onde, em tardes outonais, principalmente, se acolhiam os lajenses, para desfrutar um dos mais belos panoramas picoenses.
A ermida, de secular existência – e que foi objecto de demanda judicial, em tempos passados, porque o proprietário dos terrenos adjacentes reivindicou a sua propriedade quando ela sempre fora propriedade da Igreja, tanto assim que estava separada por um muro com portão, tendo acesso pela encosta, o que hoje, infelizmente, se não verifica; - a ermida permitia, do pequeno adro, uma visão larga para o oceano e montanha, que era regalo, e ainda hoje isso se verifica, para quantos ali subiam.
Magnificas tardes ali passei com alguns companheiros da juventude, que não mais esquecerei.
Actualmente, com as obras executadas na zona, – quartel dos Bombeiros, Campo de Jogos e Hipermercado – tudo se modificou. Está em ruínas o acesso pelo Oeste â ermida, onde se venera Santa Catarina, cuja festa ali se realiza anualmente com apreciável número de devotos .
Quando éramos crianças – eu e os meus irmãos – passávamos os serões do Inverno a ouvir uma tia-avó materna contar-nos “casos” e lendas que aprendera nos seus velhos tempos de menina e moça. E uma das lendas era a de Santa Catarina. Contava-a mais ou menos nestes termos:
Em tempos remotos apareceu na costa de São João uma bela imagem de Santa Catarina de Alexandria. Aqueles que a acharam trouxeram-na piedosamente para a igreja da Vila e aí ficou depositada. No dia seguinte a Imagem desapareceu do altar onde fora colocada. As pessoas afligiram-se e trataram de a procurar até que alguém a encontrou novamente nas costas de S. João. Voltaram a traze-lo mas ela no dia seguinte voltou a desapareceu e regressou ao primitivo lugar até que alguém se lembrou de construir uma pequena capela, num monte sobranceiro à Vila, para a guardar. Na capela ou ermida tiveram o cuidado de abrir uma janela, a permitir que a imagem, do novo altar, visse o lugar, lá ao longe, onde aparecera a primeira vez. E, ao longo dos tempos, se tem conserva a Imagem na sua Ermida…
Santa Catarina passou a ser invocada como protectora das doenças mentais ou de outras enfermidades da cabeça das pessoas. Certo é que, todos os anos, no dia da sua festa, aparecem, junto do respectivo altar, algumas cabeças de massa, em cumprimento de promessas.
O local onde se diz que apareceu a antiga Imagem, em São João, passou a denominar-se “Ponta de Santa Catarina”. Ainda se mantém? – Não sei.
Lenda ou facto histórico, a ermida ali está mas a primitiva imagem desapareceu, sendo substituída, no século passado, pela actual, realmente de uma beleza escultural pouco vulgar.
A ermida e a casa de veraneio foram legadas à Igreja pelos derradeiros herdeiros dos antigos proprietários. Os terrenos anexos, como atrás se diz, estão sendo ocupadas por três imóveis de interesse público. Em breve, ao que consta, será inaugurado o complexo desportivo. Uma obra notável que dignifica o Município, seu executor, e indispensável, sob diversos aspectos, ao desenvolvimento desportivo da juventude picoense, que não só lajense.
Em vias de conclusão está o edifício destinado ao hipermercado. Uma moderna estrutura que, depois de um acidente lamentável, chega ao fim e vai contribuir de certeza para o desenvolvimento comercial desta zona.
Resta fazer uma ligação condigna entre a Vila e a Ribeira do Meio, para que os dois sítios, unidos territorialmente, possam progredir com acerto e eficiência.
E, para que isso se verifique, é indispensável dar uma ocupação útil aos edifícios do antigo matadouro e igualmente da central eléctrica. Este, segundo creio, pertence de direito à Câmara Municipal e nele poderia ser instalado qualquer serviço de utilidade local, como, v.g., o arquivo municipal. E porque não transformar o edifício do matadouro num estabelecimento hoteleiro?
Há que lhe dar uma ocupação condigna e capaz de servir os interesses lajenses. Dizem que o Turismo não se desenvolve por falta de camas. Não será a ocasião própria para ali se construir um hotel de três ou quatro estrelas?
A quem de direito, fica o repto.
Vila das Lajes,
21 de Novº. de 2007
Ermelindo Ávila

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

OUTRAS TERRAS...

É agradável viajar. Conhecer novos mundos, outras terras e outras gentes. Encontrar aqueles que um dia abandonaram os seus torrões natais e viajaram para o incerto, para o desconhecido, levando a alma amargurada pela saudade mas envolta numa réstia de esperança…
Foi isso que aconteceu a tantos milhares de açorianos que, vivendo horas amargas provocadas por carências várias, rodeados de filhos sem saber como lhes preparar o futuro, que era incerto, resolveram partir para outras terras, para o meio de novas gentes, e aceitar trabalhos desconhecidos.
Aqui os vim encontrar uma vez mais, decorridas algumas dezenas de anos, rodeados de filhos e netos e instalados em habitações confortáveis, auferindo as reformas que lhes permitem uma vivência relativamente fácil e feliz.
Apesar disso, eles não esquecem a terra de origem, nem desprezaram os amores pátrios. É, antes, consolador estar com eles e sentir o calor patriótico que os anima e que mais se releva e revela nas organizações sociais que criaram e mantêm com vivo e exemplar entusiasmo.
Foi isso que aconteceu agora, na cidade de Toronto, Canada,
onde se fixou, a meados do século passado, uma comunidade portuguesa e, sobretudo, açoriana, que acaba de inaugurar a sede própria da Casa dos Açores de Toronto, depois de vinte e cinco anos de existência e de ocupar prédios alugados. Um acontecimento que mereceu a presença do Presidente do Governo Regional dos Açores, do Secretário Regional da Economia, da Directora Regional das Comunidades, da Cônsul Geral de Portugal em Toronto e de outras entidades oficiais da Província de Ontário, além de representantes das mais de duas dezenas de associações regionais de Toronto e de centenas de açorianos portugueses e seus descendentes.
O programa das solenidades da inauguração, incluíu a celebração da XI Semana Cultural Portuguesa, o que permitiu a apresentação de diversas manifestações culturais: Conferências, lançamento de livros de edição portuguesa, cantares e até um dia dedicado à juventude. Lá estavam estudantes dos ensinos secundários e universitários, que apresentaram um programa rico de cultura e de arte portuguesas.
Foi muito sensibilizante e agradável estar esta semana na grandiosa e cosmopolita cidade de Toronto, encontrar velhos amigos e conhecidos e outros conterrâneos, que todos quiseram dar-nos um abraço de amizade e de respeito.
Não posso, nem devo esquecer o acolhimento que recebi e as gentilezas que me dispensaram. Não virei, concerteza, mais a Toronto, mas esta viagem, a quinta, tal como as outras, não mais a poderei esquecer. Desejava aqui deixar os nomes dos conterrâneos, amigos e conhecidos que encontrei. Impossível, tantos foram! Para todos, o meu cordial abraço de amizade.
Mas deixo, nestes rabiscos singelos, o meu agradecimento
respeitoso e profundo pela maneira atenciosa como me acolheram os ilustres membros dos corpos directivos da hoje CASA DOS AÇORES DE ONTARIO, e desejo-lhes as maiores felicidades, prosperidades e muitos progressos no desenvolvimento da sua patriótica actividade a bem da Comunidade e do prestígio de Portugal.
Toronto, 11 de Novembro de 2007
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

ANTIGOS COMBATENTES

A partir do dia cinco do corrente passa a existir no Largo Gen. Lacerda Machado, da vila das Lajes, tal como aliás vem acontecendo nas demais localidades da Ilha, um memorial em pedra basalto, a recordar aqueles jovens militares que estiveram a combater no Ultramar, entre os anos de 1960-1974. Trata-se de uma homenagem singela, promovida pelos próprios antigos combatentes, a perpetuar os nomes daqueles que, em momentos de amargura, foram retirados dos meios familiares para irem defender os territórios que estavam sob a jurisdição político-administrativa de Portugal; luta inglória que não alcançou mérito algum e que abruptamente foi abandonada…
Por lá ficaram alguns dos jovens picoenses, como aliás das diversas terras de Portugal. O número de falecidos foi de alguns milhares. Felizmente que, destas ilhas, o número de sacrificados em nome da Pátria não passou de algumas dezenas, se bem me recordo.
Três dos meus filhos estiveram nesses anos, ao mesmo tempo, no serviço militar. Dois deles no Ultramar, um em Angola e outro em Moçambique. E ambos só regressaram quando se deu a histórica descolonização… Foram horas, dias, meses e anos de aflictiva angústia, que não mais esqueceram. Felizmente que regressaram a casa, embora ficassem sujeitos a intermitentes sequelas.
Pior sorte tiveram os que não regressaram às suas casas e ao seio das respectivas famílias. Recordá-los é um acto de elementar justiça e homenagear a sua memória um gesto digno e plausível.
Pelo Ultramar ficaram;
1) Alferes José Vieira da Silva Cardoso, filho de João Vieira Cardoso, da freguesia de São João, falecido em Moçambique;
2) José Leal Goulart, filho de Jaime Leal Goulart, da mesma freguesia, falecido em Angola;
3) Gabriel Pereira Bagaço, filho de José Pereira Bagaço, da Ribeira do Meio, Lajes do Pico, falecido na Guiné;
4) José Cardoso Carias, filho de Júlio Cristiano Carias, da Calheta de Nesquim, falecido em Angola;
5) António Alberto da Silva Garcia, filho de Manuel Machado Garcia, da Almagreira, Lajes do Pico, também falecido em Angola;
6) Gabriel Jorge da Silva, filho de Manuel Jorge da Silva, de Santa Bárbara, Ribeiras, falecido em Moçambique; e,
7) Silvino Barbosa do Amaral, filho de Dinis Amaral, de Santa Bárbara, igualmente falecido em Moçambique.
Estes somente os do concelho das Lajes do Pico. cujos nomes constam do memorial inaugurado do passado dia 5 porque, infelizmente, dos concelho de São Roque e Madalena não me foi possível obter informações.
Mas outros mais terminaram seus dias ao serviço da Pátria como soe dizer-se.
Em 1931 deu-se em Angra do Heroísmo o revolta dos Deportados. Manuel Testa, natural da Ribeira do Cabo, desta vila, encontrava-se a prestar serviço militar no Castelo de S. João Baptista. Num noite foi escalado para fazer guarda, com outros, ao Comando Militar. E foi aí que uma bala traiçoeira, partindo inesperadamente da arma de um camarada, o atingiu mortalmente.
A quando da explosão que destruiu o quartel da Bateria, na cidade da Horta, em 22 de Abril de 1941, faleceram l2 militares, e um civil. Daqueles, três eram da ilha do Pico:
Manuel Ferreira Vieira, filho de José Vieira, e Claudino Quaresma Dias, filho de Alfredo Quaresma, ambos da Calheta de Nesquim, e ainda, Manuel Ferreira Morais, do concelho de São Roque do Pico.
Segundo informação de Júlio Cabral, datada de Janeiro de 1905, incerta no “Arquivo dos Açores”, Vol. III, respeitante a militares mutilados diz que no Hospital de Inválidos Militares Runa, inaugurado em 25 de Julho de 1827, estiveram internados os seguintes militares:
- Manuel Joaquim, cabo, filho de Joaquim José, natural da Ilha do Pico. Serviu no regimento de artilharia nº l. Fez as campanhas da liberdade, desde 8 de Julho de 1832 a 1834 desembarcando nas praias do Mindelo;
- João Inácio, soldado, filho de João Inácio, natural da Vila das Lajes do Pico. Nasceu a 21 de abril de 1882, assentando praça, como compelido, em 1 de Novembro de 1901. Serviu na arma da artilharia, e reformou-se em 29 de Setembro de 1903, desde quando entrou para o hospital. Ainda conheci este João Inácio (Senhura), ao qual fora amputada a mão direita, a trabalhar na “Farmácia Lajense”.
Mas, da Ilha do Pico, não somente os militares que acima refiro foram mutilados ou faleceram no serviço militar. Outros houve que aqui não se citam por falta de informação.
A todos, porém, envolvo no mesmo sentimento de respeito e homenagem.
Lajes do Pico,
5 de Outubro de 2007
Ermelindo Ávila

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SAÚDE E DOENÇA


Depois de muitos clamores e penares por terra e mar, chega-nos a notícia de que a Ilha do Pico vai voltar a ser a terra natal para as gerações futuras. Mas quando? - perguntamos nós.
Não é há muitos anos que a ilha do Pico foi interditada a nascimentos e… quase óbitos. É ver, com olhos bem abertos, o que se passa.
O nascer na ilha passou a ser um “crime” punível pelas leis regionais. E precisamente quando a taxa de natalidade, por circunstâncias várias, baixava drasticamente. Senão vejamos : No final do último quartel do século dezanove nasciam e eram baptizados na Matriz da SS. Trindade mais de 100 (cem!) neófitos naturais da paróquia. Na década de cinquenta o concelho registava somente cerca de cem nascimentos. E actualmente?
Nesse período raro, raríssimo era o óbito de um recém-nascido ou mesmo de uma criança de tenra idade.
Enquanto não houve serviço hospitalar no concelho os nascimentos tinham lugar nas residências das próprias mães, como aliás em toda a parte, e raramente eram assistidos por médico. Só a partir de 1960, com a entrada em funcionamento do antigo hospital concelhio (agora é Centro de Saúde), as parturientes começaram a utilizar, ainda em pequeno número, os serviços hospitalares, até que todas se convenceram que ali eram melhor assistidas, dado que o Médico Municipal tinha essa especialidade. E, para tal, foram sendo admitidas enfermeiras especializadas. Mas, chegou o dia em que era, talvez, necessário dar mais movimento, pois outra razão nunca encontrei, para que as parturientes fossem atendidas no Hospital Walter Bensaúde. Aí principiou a tragédia das travessias no canal, os nascimentos, casuais, a bordo das lanchas e das ambulâncias e sobretudo a deslocação para fora de casa das futuras mães com todos os inconvenientes que isso sempre acarretou.
Entretanto surge uma lei que permitia o registo de nascimento nas residências das mães. Mas quantos, por conveniência de aproveitarem os subsídios da Previdência, os faziam ( ou fazem) nas Conservatórias das cidades? Ou mesmo nos próprios hospitais, como parece que agora é permitido?!
Não é menos angustiosa a situação dos doentes e sinistrados. Porque não há médicos especialistas na Ilha, lá vão eles, de barco, de avião ou de helicóptero para o chamado hospital central da Horta e, quando este não o pode atender, para o de Angra e/ou Ponta Delgada. E depois para Lisboa… E por aí acontecem os desenlaces e, depois, as trasladações para aqueles que as podem suportar.
Há dias chamavam-me a atenção para uma estatística recentemente publicada, que indicava o número de consultas de especialidade feitas nos Centros de Saúde da Ilha do Pico. E via-se a triste realidade: o concelho das Lajes éra o que acusava menor número de consultas naturalmente à falta de médicos especialistas. Talvez esse o motivo, pois todos sabemos que as populações vão envelhecendo dia-a-dia e as carências aumentam constantemente.
São bem poucos os clínicos especialistas que se deslocam ao concelho das Lajes. Está para detrás da ilha e é cómodo ficar pelos outros concelhos onde as comunicações com o exterior são mais rápidas. Será esta a razão forte, ou outra ou outras existem para justificar a ausência de especialistas no concelho? Além disso, até há pouco havia dois consultórios particulares nesta Vila - hoje existe um – e neles podiam ou podem exercer, facultativamente, médicos especialistas vindos de outras ilhas ou até do continente. Mas essas consultas, com certeza, não são registadas nas estatísticas oficiais.
Estou somente a lembrar o que por aí vai sobre a saúde dos lajenses. E a propósito, pessoalmente, só tenho a registar o meu reconhecimento pela maneira gentil e atenciosa como sou recebido e tratado de meus achaques, que já não são poucos, pelos Médicos lajenses, a quem devo esta palavra de gratidão.
Sei que mais não podem fazer. Os meios auxiliares de diagnóstico de que dispõem são primários, uma legislação que lhes coarcta a actividade e umas instalações que já se encontram obsoletas. E não se fala, nos meios políticos, em outras conseguir ou as actuais melhorar.
O centro de saúde de S. Roque é de construção recente. O edifício antigo foi restituído à Misericórdia local, sua proprietária.
Anuncia-se que a Madalena vai ter novo centro de saúde.( Há quem diga que será o hospital de ilha. Mas essa hipótese já foi posta quando se construiu o de São Roque…)
No das Lajes não se ouve falar. Nem sequer os representantes do Povo, possivelmente atarefados em outros sectores…
É realmente uma lástima (para usar uma expressão popular) o que nos está a acontecer para estas bandas do Sul.
Quando é que temos políticos lajenses que se interessem pela sua terra e que façam valer, com dedicação e isenção, perante as entidades públicas, os direitos dos povos que os elegeram, se bem que compreenda que, para alguns, será difícil essa missão ?…
Vila das Lajes,
Dia de “Pão por Deus”
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

PÃO POR DEUS

É uma tradição muito antiga que ainda é mantida por alguns nos tempos actuais.
Os pobres aproveitavam este dia para recolher um pouco nos seus alfobres e conseguir algumas provisões. E de tudo lhes davam: algum dinheiro, pouco, porque não existia em abundância, frutas da terra, milho em cambadas ou em grão, batatas, cebolas, peixe seco, etc. De tudo o que a terra e o mar davam.
O pagamento era um agradecimento singelo mas sentido: - Seja pelo amor de Deus e pelas almas dos vossos…
Os pobres, quando recolhiam à noite, iam radiantes pelas esmolas conseguidas e com as famílias, se as tinham, davam graças ao Senhor e imploravam as bençãos do Céu para os seus benfeitores.
Presentemente, quase desapareceram os pedintes mais idosos. Ficaram as crianças que tudo aceitam, sobretudo umas moedas e algumas guloseimas, que essas são bastante apreciadas. Mas mantêm a tradição, o que é importante.
E a propósito de esmolas, recordo-me que, a meados do século passado, o governador civil de um dos distritos insulares, pretendendo acabar com a pobreza e a pedincha nas ruas, pois tornava-se uma nota deselegante para os visitantes (turistas) que começavam a aparecer pelas Ilhas, criou uma Comissão de angariação de donativos para serem distribuídos pelos pobres. E para que os habituais pedintes não andassem de casa em casa, diariamente, a esmolar, resolveu criar um dístico que o contribuinte tinha o direito de afixar na porta da residência com estes ou semelhantes dizeres: "Esta casa contribui para a Comissão de Assistência". E porquê? Simplesmente para que os pobres e carecidos não fossem importunar os moradores com suas pedinchas…
Em outro burgo açoriano estabeleceu-se a norma de os estabelecimentos comerciais ou congéneres, só distribuírem esmolas ao sábado, até ao meio dia.
Estando, casualmente, num desses estabelecimentos, num sábado, entrou um pobre a pedir uma esmola. O empregado que o atendeu, respondeu-lhe: Não sabes que já passa da hora? Mesmo assim, entregou-lhe uma moeda de dez centavos… Retirara-a de um pequeno montículo, onde outras, de igual valor, ainda ficaram. E o pobre calcorreava as ruas da cidade durante uma manhã - não podia ultrapassar do meio dia – para juntar um escudo ou dois. Que nem dava para o pão da semana.
Fiquei intimamente magoado com aquela grosseira atitude. Felizmente que, na minha terra, tal não acontecia.
Hoje será diferente. Por aqui não aparecem mendigos e, no "Dia do Pão Por Deus" só as crianças, aos grupos, filhos de pobres ou remediadas, - porque ricos não os há - em ar festivo aparecem com seu saquitel, a percorrer as casas , a pedir "Pão por Deus, por amor de Deus" . E nunca vão de mãos vazias" pois há sempre qualquer coisa a dar-lhes, "pelas almas dos nossos".
Penso nestes costumes, dos poucos que ainda se vão mantendo, e penaliza-me que, com a evolução social a que se vai assistindo, num futuro muito o próximo, estas e outras boas tradições, passarão ao esquecimento. Nem todos compreenderão este meu pesar por haverem deixado de apreciar os costumes honestos que vieram dos nossos avoengos.
É doloroso que assim aconteça.
Vila das Lajes, 20 de Outubro de 2007

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Império de São Mateus

No passado mês, a freguesia de São Mateus celebrou a festa do seu Padroeiro. Aliás isso acontece todos os anos e em todas as paróquias da ilha como nas demais da Diocese, que anualmente festejam o seu Padroeiro.
São Mateus, porém, tem um significado especial pois integra, nessa festa, o único Império do Divino Espírito Santo que ali se realiza, com a distribuição de rosquilhas a todos os participantes na solenidade. E vale a pena ver o magnífico cortejo de açafates incorporado na procissão do Padroeiro na qual, também, se inclui uma Coroa do Espírito Santo. Foi assim no dia 21 de Setembro último, cumprindo a população um voto muito antigo no qual colabora a própria Paróquia e também a população da Paróquia de São Caetano, dado que o voto foi feito quando as duas comunidades constituíam uma só paróquia.
Fora da época do Pentecostes, apenas se realizam na Ilha do Pico os Impérios de São Mateus e o de São Pedro, primeiro Padroeiro da Ilha, cuja igreja, actualmente uma pequena ermida, ainda se conserva na vila das Lajes. E já conta mais de quinhentos anos! Mas hoje refiro-me especialmente ao Império de São Mateus.
Estava-se no ano de 1718. Uma violente crise sísmica, principiando em Santa Luzia, abalou toda a ilha, seguida de erupções vulcânicas. O fogo rebentou em terra e no mar. Um verdadeiro inferno, como diz o povo. Mas vejamos muito sumariamente o que nos dizem os historiadores coevos.
Sobre os bodos que se costumam realizar anualmente em louvor do Divino Espirito Santo, escreve o Padre Alberto Pereira Rey, em escrito de 1753 (Arquivo dos Açores, Vol. III, pág.286): "Pelos anos de 1718 na ilha do Pico, a 2 do mês de Outubro (deve ser Fevereiro) rebentou o fogo dos minerais, que tem nas entranhas da Terra , de tal sorte, que parecia se acabava o mundo, ficando o espaço de quatro léguas tanto a Norte, como para a parte do Sul cheia de pedras, como de escamas que parecem montes altos, fazendo pontes pelo mar fora, até onde chegava a fúria dos minerais (fogo), não padeceram lesão alguma naqueles lugares, onde o fogo tudo converteu em pedra, algumas casas de moradores que nelas tinham trigo e vinho dedicado e separado para gastarem no ano seguinte com os Pobres no dia do Bodo do Divino Espírito Santo…"
Silveira de Macedo – servindo-se do "Auto voto que fizeram os faialenses quando o fogo rebentou na freguesia de Santa Luzia da Ilha do Pico" e da "Memória do vulcão da freguesia de São João da ilha do Pico ( extraído do Livro do Tombo da Matriz da vila das Lajes, daquela ilha)" ( aonde pára ele?…), - diz que o fogo rebentou em Santa Luzia no dia 1 de Fevereiro de 1718 e, no dia 2, a sul na freguesia de São João.
Por seu lado o Doutor Gaspar Frutuoso, (1589) narra: "Como tenho dito, na era de mil quinhentos e sessenta e dois, a vinte e dois (?) de Setembro, dia de São Mateus, uma légua da Vila de São Roque, caminhando para a Prainha do Norte, em cima, no cume da serra, quase da banda do Sul, como espaço de três léguas da falda do Pico, ficando ele para a banda do leste, tremendo primeiro a terra em um terço de hora dezasseis vezes, com contínuos e horrendos abalos e tão grandes estrondos, como de grossas peças de artilharia, em um lameiro arrebentou fogo fazendo cinco bocas muito grandes, sendo uma a principal e maior, de que manou uma grande ribeira de polme, que correu para a banda do norte por espaço de uma légua e meia até cair da rocha abaixo e fazer um grande cais abaixo da rocha onde se espraiou aquele polme e se tornou pedra viva, em que se não pode pôr pé descalço, nem se cria nenhum género de erva, nem mato, até hoje, sendo em alguma parte onde se não acabou de cobrir daquele polme ( "Livro Sexto de Saudades da Terra", a pág. 303.
Foi então que o "povo de São Mateus, receando o perigo mais próximo pela abundância de cinzas que caíam sobre a freguesia, concorreram à igreja a implorar a clemência divina e conjuntamente com os povos de São João, renovaram suas preces e votos dos antepassados. É que o voto de São Mateus deve reportar-se ao ano de 1562, aquando dos fenómenos ocorridos no dia 21 de Setembro. Tão violentos foram os tremores de terra e tão longe caíram as cinzas e a lava que, diz ainda o historiador, o povo do Pico se refugiou nas Ilhas de São Jorge, do Faial e da Terceira.
Como se verifica na narração de Frutuoso, a lava deste vulcão, ocorrido no Pico do Cavaleiro (?), correndo para o mar, formou a planície onde veio a fundar-se o Cais do Pico.
As preces e os votos dos nossos antepassados, seriamente atormentados por tais cataclismos, foram tão fervorosos que ainda hoje se cumprem com grande devoção e entusiasmo, por vezes emocionante, sendo testemunho, de tais votos, os Impérios do Espírito Santo que se realizam em toda a Ilha, mas em moldes diferentes daqueles que se praticam nas demais ilhas dos Açores, pois esses Impérios são realizados com a distribuição de pães de massa sovada, rosquilhas ou bolos de véspera, conforme as zonas, a todos os que comparecem nos arraiais. E não são esquecidos até aqueles que, por doença ou qualquer motivo justo, não podem comparecer.
É o que se verifica na freguesia de São Mateus, como atrás referi, cujo Império tem lugar no dia da festa do Padroeiro, a 21 de Setembro, com a ida da Coroa em cortejo à Igreja, onde está durante a Missa solene e, depois, tem lugar a coroação do Mordomo.
Vila das Lajes do Pico
19 de Outubro de 2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Modernização da Vila

Há cerca de dois ou três anos a Câmara Municipal promoveu, no Auditório Municipal, uma reunião com uma equipa de Arquitectos que havia convidado para procederam ao estudo urbanístico da vila das Lajes. Não foi apresentado, se me recordo, qualquer relatório elaborado por esses Técnicos. Se existe deve encontrar-se no Arquivo municipal.
Interessante seria que, se existe, esse relatório ou estudo viesse a público para que os lajenses, - e não só… - tomassem conhecimento do parecer técnico sobre o estado da vila e seus possíveis arranjos urbanísticos.
Realmente, importa tomar uma posição sobre o estado actual do velho burgo, com uma existência que já ultrapassou os quinhentos anos e que é, assim, uma das mais antigas Vilas da Região, com um traçado que vem dos primórdios da sua criação mas que foi executado com sentido artístico. Olhe-se, com olhos abertos, para esse mesmo traçado urbanístico e ficar-se-á com a certeza do que venho de dizer.
Mas a vila não pode ficar por aí, com certas zonas decrépitas, e espaços abandonados. Há que fazer alguma coisa no sentido de a modernizar e a equiparar a outras que, de simples "aldeias" vão caminhando a passos largos para a urbanização que querem citadina.
Agradável seria que a zona urbana, em vez de caminhar para norte, se desenvolvesse no lado sul, ocupando os terrenos que ficam dum lado e de outro do ramal, levando-se a chamada zona industrial para melhor sítio, que não aquele.
Não será fácil proceder a grandes e inovadores arranjos. Mas algo se poderá empreender.
Não há muitos anos procedeu a Câmara ao calcetamento das ruas da Vila e dos respectivos passeios. Parece que a obra não ficou completa pois o empreiteiro – não constaria do caderno de encargos? – não procedeu ao nivelamento da calçada, o que provoca, em dias de chuva, a retenção das águas em sítios mais baixos…
Se, no entanto, o executor da obra não satisfez o seu compromisso, ainda será tempo de o obrigar a corrigir os defeitos deixados.
Além disso, vai sendo vulgar as diversas entidades exploradoras de serviços – electricidade, telefones, etc., abrirem valas para a reparação dos cabos subterrâneos. É um serviço que não pode ser evitado, uma vez que, aquando do lançamento desses cabos, não houve a necessária cautela na execução das "caixas". Mas importa que, ao remexer-se na calçada, tudo seja reposto com o necessário cuidado.
A Vila está sendo sinalizada para a regularização do trânsito. Todavia nem todos os sinais, a fazer fé nas reclamações ou críticas que se ouvem, são suficientemente esclarecedores. Além disso podia ter - se alterado o trânsito de certas ruas transversais, de maneira que umas permitissem a subida e outras a descida. E, a propósito, quando evitar a desorganização do estacionamento na rua Capitão Mór e Largo Lacerda Machado?
Volto a referir a "histórica" casa da Maricas do Tomé - Bem a meu pesar o faço, pois custa ver aquele montão de pedra e verdura no chamado "Centro Histórico" sem que haja quem lhes acuda. E nem só este, como a casa da Feliciana, à entrada da rua de Olivença. São mazelas que dão um sinal de desinteresse pelo embelezamento da vila e causam surpresa aos inúmeros visitantes estrangeiros que aqui chegam.
E já não refiro a Casa do Primeiro Povoador e a ponte adjacente.
Talvez resultante da actividade marítima, provocada satisfatoriamente pela exploração do "Whale Watching" a zona voltada ao mar, conhecida pela "Pesqueira", está sendo a mais movimentada da vila. Lá existem cafés-restaurantes, estabelecimentos de artesanato, residenciais, e até o Museu dos Baleeiros, que, apesar de outras "concorrências" continua a ser bastante visitado.
O antigo campo de futebol, um espaço com uma história rica, vem sendo ocupado pelo "estaleiro" das obras da Muralha da Cortina da Vila, que, segundo se diz, estão a chegar ao fim. Assim sendo, há que dar-lhe uma utilização capaz de servir os habitantes da vila e os visitantes. Não sei se algum estudo há feito nesse sentido, uma vez que campo de jogos não será mais, pois está em vias de conclusão o complexo de Santa Catarina.
Impõe-se transformar aquele espaço numa zona de lazer. Um jardim, devidamente arborizado, com bancos de descanso, a construção de um arruamento junto da muralha, e qualquer outra construção de utilidade pública. Mas, para tanto, impõe-se que o piso seja subido para o nivelamento da actual rua que o circunda, evitando que se transforme num lago como acontecia nos dias de enchente, ainda bem vivos na memória dos lajenses.
É tempo de algo se fazer, antes que outro destino menos conveniente lhe seja dado.
Estou em crer que os gestores municipais estão atentos aos "casos" que acima registo. Contudo, não faz mal lembrar que se olhe para a Vila, uma vez que, até aqui, se tem estado voltado para outras zonas…
Vila das Lajes,
14-10-2007
Ermelindo Ávila

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Protecção da orla costeira das Lajes do Pico

Vão-se aproximando do fim as obras de protecção marítima desta vila. Já saiu do porto, para outra ilha, a barca que transportava para o alto mar os materiais extraídos da zona onde está a construir-se o molhe de defesa, ao norte da baía e mesmo no local da antiga “carreira”.
Embora os trabalhos hajam sofrido atraso motivado nos temporais do Inverno passado, eles no entanto puseram à prova a eficiência da obra que mesmo assim, há que continuar na parte sul, para que a vila das Lajes, uma vez por todas, deixe de ser inundada pelos mares do Oeste, em ocasiões de enchentes. Quando será considerada a execução de um segundo molhe, a Sul do que, agora, foi construído? Os lajenses interrogam-se e não há quem lhes responda. E é pena. Na verdade, parte norte da Vila fica defendida, o mesmo porém já não acontece com a parte Sul, ou seja a zona do Calhau Grosso, outrora defendida pela enorme cortina de pedra que se levantava naquele espaço e que foi desaparecendo com o rodar dos anos. Era uma “pedreira” ali ao lado, onde facilmente se extraíam muitas toneladas de pedra que servia para diversas construções e até para a muralha de defesa , junto à zona marginal da Lagoa, quando, em 1936, um enchente de mar destruiu a velha muralha. E bem reclamaram os habitantes da parte baixa da Vila para que não se retirasse pedra que constituía uma excelente defesa. Tudo foi em vão. Ninguém quis ou soube ouvir o seu justo reclamar.
E se “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, há que estar atento, que, depois desta obra executada não fica completa a “Protecção da orla marítima das Lajes do Pico”
Os lajenses, na generalidade, senão todos, estão satisfeitos com a obra realizada. E nesse sentido sabem ser agradecidos. Esperam porém que, em futuro próximo e consoante os resultados obtidos com as obras em curso, se venha a reconhecer a imperiosa necessidade de se lhe dar continuidade.
Segundo uma comunicação oficiosa de 18 de Abril de 2005, ia ser estudada a eventual manutenção do acesso à obra, tal como o têm vindo a reclamar muitos lajenses.
Ao que nos consta os estudos já foram realizados. O acesso parece que, logicamente, vai tornar-se definitivo, muito embora haja que realizar-se algumas obras de consolidação e “adaptação” ao local.
Seja como for. Importa que o acesso seja mantido e o piso do trânsito sobre o molhe devidamente consolidado. E mais deve ser considerado. Esta a razão forte deste arrazoado.
Todos temos a nítida certeza de que não vai construir-se no futuro uma “doca”. Sabemos que não nos está reservada essa, aliás, excelente estrutura, pois não ignoramos que pedir tal, a “ira dos deuses” voltar-se-ia contra nós. Mas pedir não ofende…
Neste momento, que se julga o aprazado, pede-se somente que, a meio do molhe em construção, voltado para o “Poção”, ou seja a nova bacia agora criada, seja construída uma plataforma com escadaria de acesso, que bem poderia servir no futuro para a acostagem de qualquer embarcação de maior calado.
E porque não?
Vão em bom ritmo as obras de desassoreamento e arranjo da Lagoa ou porto interior. Junto da muralha de defesa está a ser construída uma plataforma donde enrocarão as rampas de acostagem das embarcações de pesca e de recreio. E isso torna-se muito importante para dar um arranjo disciplinado àquele espaço, uma vez que, no último ano, as pequenas embarcações existentes no porto duplicaram.
O terrapleno junto da muralha poderá ser o início do passeio marítimo que a Câmara Municipal projecta realizar até ao Portinho, na zona da Ribeira do Meio.
Estarei a sonhar? Talvez. O tempo, porém, o dirá.
O turismo marítimo principia a desenvolver-se nesta terra. É preciso dar-lhe condições para que daqui não se venha a afastar. E é no turismo que está o desenvolvimento futuro da economia desta parte da ilha.
Não demorem, pois, com as estruturas indispensáveis ao seu desenvolvimento. É o apelo que hoje aqui fica.
Em todas as terras ditas civilizadas encontramos pelos largos e jardins aves, das mais variadas espécies. As populações tratam-nas com carinho e dão-lhes alimento. Vi isso na América, em Lisboa, na França e outros mais sítios por onde andei. Porque não dispensar o mesmo carinho às patas que há poucos anos se fixaram nas lagoas desta vila? Porque as exterminam com requintes de malvadez?
Um pedido aqui deixo: Não as maltratem pois elas dão um ambiente novo e interessante à pacatez do meio onde vicejam.
Vila das Lajes
27 de Setembro de 2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

REGATAS BALEEIRAS

A frota baleeira tem andado por essas ilhas numa azÁfama tremenda. E não só.
Voltaram às regatas já que outra utilidade não têm as airosas canoas. E não se têm sucedido mal. Foram à Galiza e arrancaram de lá os troféus. Voltaram agora aos Estados Unidos e no porto baleeiro de New Bedford foram os marinheiros picoenses e faialenses mostrar uma vez mais o seu valor de homens do mar, já que não é a primeira vez que ali se deslocam.
Por cá as regatas programadas pelos serviços náuticos, têm-se realizado em alguns portos açorianos, principalmente pelas festas principais, fazendo parte dos respectivos programas. Todavia não só agora que isso sucede. Sempre assim aconteceu ao longo dos anos.
O bote baleeiro, uma criação do lajense Francisco José Machado, no último quartel do século XIX, ao longo dos anos, e mais de um século já passou, tem sido "requisitado" para tomar parte em regatas "oficiais" e particulares.
Aqui há anos foram os botes lajenses tomar parte numa regata realizada na baía de Angra integrada nas Festas da Cidade. A vitória foi sua.
Aquando da visita régia, a 28 de Junho de 1901, à cidade da Horta, os Reis D. Carlos e D. Amélia, que viajavam no cruzador D. Carlos, foram recebidos por uma esquadrilha de canoas-baleeiras, a remos, que contornaram o navio e o acompanharam ao ancoradouro.
No dia seguinte houve uma regata à vela e a remos de canoas baleeiras e embarcações de recreio. Os régios visitantes assistiram à regata a bordo do cruzador S. Gabriel. (l)
Não nos diz o historiador quem ganhou a regata mas sabemos que foram duas canoas das Lajes pertencentes, respectivamente, às companhias das "Senhoras" (União Lajense, L.da.) e "Judeus" (Nova Sociedade Lajense, L.da.)
D. Carlos ficou muito satisfeito com a homenagem dos baleeiros (que nas ruas da cidade haviam já levantado, em homenagem às Magestades um artístico arco triunfal que se destacou entre os demais), e ofereceu às duas canoas vencedoras uma canoa baleeira.
Como ficou dito, as regatas têm continuado. Os botes baleeiros, depois da drástica proibição da caça do cachalote, foram distribuídos pelos diversos clubes navais e servem agora para, na época do verão, fazerem regatas a remos e à vela, nos portos onde se realizam festividades cívicas e religiosas. E não importa que essas zonas hajam sido estações baleeiras…
Foi a maneira encontrada de dar utilidade a um património que ameaçava desaparecer, como aconteceu a outras embarcações de notório valor histórico que, nos séculos XIX e XX, muito contribuíram para o desenvolvimento económico das ilhas do chamado Grupo Central do Arquipélago Açoriano.
A "Calheta", a primeira embarcação motorizada que, nos meses de verão, fazia ligação das ilhas do Faial, Pico, S. Jorge e Terceira, ficou limitada às viagens do Canal; a "Espalamaca", o "Terra-Alta", e já não refiro o "Ribeirense", o "Andorinha", o "Bom Jesus", o "Espírito Santo", a "Helena" e outros mais que constituíram a riqueza económica e o progresso social do último século, para as gentes destas ilhas, porque alguns desses outros rumos tomaram, todos ingloriamente foram abatidos como peças incómodas do progresso actual.
Vila Baleeira,
Setembro de 2007
Ermelindo Ávila

domingo, 16 de setembro de 2007

AS APARIÇÕES DE LOURDES (1858-2008)

No próximo ano dois acontecimentos notáveis ocorrem nas solenidades de Nossa Senhora de Lourdes: os cento e cinquenta anos das Aparições de Nossa Senhora, na Gruta de Massabielle, à Bernardette, hoje já elevada à dignidade dos Altares; e os cento e vinte e cinco anos da celebração da primeira Festa em honra de Nossa Senhora de Lourdes na Matriz das Lajes do Pico..
A “Semana dos Baleeiros”, que não passa de um complemento externo das solenidades religiosas, tem sido objecto, nas últimas semanas, de sugestões, não refiro críticas, pois cada um é senhor de ter critério diferente sobre os actos externos que têm vindo a ser programados .
O Culto Mariano deve merecer um tratamento especial no ano dos “centenários”, pois não é todos os anos que se celebram conjuntamente dois factos históricos de relevância tamanha.
Altere – se, se assim entender a comissão respectiva, o programa das festas externas. Reduza-se o tempo destinado à denominada “Semana dos Baleeiros” que, dest’arte, deixará de ser “Semana” para ter outra denominação adequada. A parte religiosa, essa não poderá sofrer alteração de maior, pois é normal, nas solenidades mais relevantes das comunidades religiosas, as festas principais serem precedidas de novenário litúrgico e, no dia da festa, Missa solene e Procissão. É um programa secular que está estabelecido em todas as paróquias e não vai ser a Matriz das Lajes a modificá-lo.
A organização do novenário pode ter sofrido correcções. Antes havia sido estabelecido um programa litúrgico diferente. A meio da tarde, cerca das quatro horas, reuniam-se os fiéis na paroquial para a celebração daquela devoção que constava de Invitatório, um trecho litúrgico cantado, o sermão, normalmente para ele se convidavam os mais notáveis oradores sacros, a Ladainha laurentina, cantada, e os hinos de encerramento. As partituras haviam sido adquiridas no Continente, aquando da introdução desta solenidade. Nos últimos três dias de novena o Santíssimo era exposto no Trono, o mesmo sucedendo durante a Missa solene do dia. Hoje, com as alterações litúrgicas introduzidas pelo Concílio Vaticano II, isso não seria possível. Aliás em nada ficou prejudicado o acto litúrgico, antes valorizado com a Eucaristia e distribuição da sagrada comunhão. Consequentemente uma vivência mais condizente com a época actual.
O programa externo foi bastante alterado com a “criação” da “Semana dos Baleeiros”. E uma semana, se a memória me não falha, são sete dias. Mas isso não importa. Dias a mais ou a menos não me interessa, se bem que não esteja aqui a defender a minha dama... Já a bem poucos ou quase nenhuns actos do programa externo assisto, muito embora defenda que o programa externo deva manter-se. Pois se ele sempre existiu desde a primeira festa… Noutros moldes? Naturalmente. Os tempos evoluíram e não devemos ficar na cepa torta…
Porque alguns distintos articulistas apresentaram suas opiniões sobre a “Semana dos Baleeiros”, já incluída nos cartazes turísticos, aqui deixo uma sugestão, que aliás não é invenção minha.
Durante alguns anos o programa dos actos externos reservava um lugar especial à parte cultural. Normalmente eram convidadas individualidades, que aqui vinham fazer conferências sobre os mais diversificados temas. Vieram sacerdotes, professores universitários e personalidades de comprovada cultura. Algumas dessas conferências foram publicadas, quer em boletins de instituições culturais quer em separatas. Não me consta que algum dos eruditos conferencistas recebesse qualquer benesse pelo seu trabalho. Permito-me lamentar que se tenha excluído dos programas esses eventos culturais. Somente…
Mesmo assim atrevo-me a deixar aqui uma sugestão, muito simples mas que será de frutuosa utilidade.
Em Lourdes, onde se deram as Aparições de Nossa Senhora a Bernardette – 1858- vão comemorar-se os cento e cinquenta anos desse acontecimento extraordinário.
Segundo a Voz Portucalense (29-8-2007), “A preparação está a ser dimensionada para ocorrer ao longo de um ano, de 8 de Dezembro de 2007 a 8 de Dezembro de 2008, através de um amplo programa de formação e divulgação do sentido teológico, devocional e cultural deste acontecimento” Este jubileu está a ser organizado sob a direcção do Bispo de Tarbes-Lourdes.
E o mesmo semanário - órgão da Diocese do Porto - escreve ainda: “A história de Lourdes escreve-se dia-a-dia. Não é uma lenda de tempos passados. Cento e cinquenta anos depois das aparições era necessário agradecer as graças recebidas, tomar consciência da nossa missão no início do terceiro milénio, abrir mais amplamente as portas do santuário”.
A introdução da devoção a Nossa Senhora de Lourdes, nesta terra, vai perfazer cento e vinte e cinco anos. Foi a primeira terra açoriana onde Nossa Senhora foi invocada publicamente, a primeira vez. Esse facto histórico traz aos lajenses grandes e sérias responsabilidades. E foi em 1883 que, após a chegada da veneranda Imagem, teve lugar a primeira festa de Nossa Senhora Aparecida, no último domingo de Setembro. Nos anos seguintes, porém, passou a realizar-se no último domingo de Agosto, pois, no antigo calendário litúrgico, a Igreja dedicava esse domingo, salvo erro, ao Imaculado Coração de Maria.
A Matriz da Santíssima Trindade das Lajes do Pico, a partir daquele ano de 1883 tornou-se o autêntico Santuário da Virgem para onde, durante todos estes anos, acorrem peregrinos vindos das mais diversas paragens.
Importa, pois, pensar desde já o que vai ser o próximo ano . É um ano duplamente jubilar para os lajenses. Há que ter isso em muita consideração e preparar desde já a faustosa comemoração.
Creio que muitas pessoas desconhecem hoje o que foram as Aparições de Nossa Senhora em Lourdes, como “discutem”, sem conhecimento de causa, o que representaram para Portugal e para o Mundo cristão as Aparições de Fátima em 1917, apesar de tanta pregação nesse sentido.
Adequado seria promover no próximo ano, para além do novenário, um Congresso ou Jornadas Marianas em que o tema das Aparições e não apenas, seja tratado por eruditos sacerdotes ou leigos, devidamente credenciados. Seria um acontecimento cultural e religioso de tamanha relevância, que ficaria a marcar, louvavelmente, as comemorações dos cento e cinquenta anos das Aparições em Lourdes e os cento e vinte e cinco anos da introdução da solenidade de Lourdes na Matriz das Lajes do Pico.
Porque se trata de um evento de responsabilidade, um ano não será demais para o preparar. Julgo que ninguém se escusará a dar a sua colaboração a tais Jornadas!.


Vila das Lajes,
9 de Setembro de 2007-09-09
Ermelindo Ávila

sábado, 8 de setembro de 2007

"O DEVER" NAS LAJES

No ano em que o jornal lajense celebra noventa anos de vida operosa e difícil, impõe-se uma palavra sobre a sua publicação nesta vila, cujo primeiro número – o 983, saiu no dia 3 de Setembro de 1938, ocorrem hoje (69) sessenta e nove anos.
É verdade que o jornal iniciou a sua publicação no dia 2 de Junho de 1917, na Vila do Topo, S. Jorge, onde se encontrava a paroquiar desde 1911, o seu Fundador e Director, P. João V. XAVIER MADRUGA, passando na semana seguinte a publicar-se na vila da Calheta, onde paroquiava o Pe. Manuel Joaquim de Matos, que assumiu a edição e administração do jornal e nesses cargos se manteve até ao falecimento.
A partir daí assumiu a Administração e Redacção do Jornal o Poeta e Jornalista Samuel da Silveira Amorim. Mas o jornal continuava a ser perseguido pelos caciques locais, o que levou o P Xavier Madruga a pedir para que ficasse sob a alçada do Oficial Censor da Horta, situação que era de natureza precária. Isso levou o Proprietário a requerer a transferência do jornal para as Lajes do Pico. Foi então que houve de proceder à partilha da tipografia: a maquinaria e tipo afecto à feitura do jornal ficou para o Pe. Xavier Madruga; e a parte tipográfica, Minerva e tipo, para a Família do P. Matos, cujo cunhado já a explorava por conta própria. Em parêntesis se diga que o prelo havia sido comprado em Angra, aos proprietários do antigo jornal “O Tempo”. Aliás dizia o Pe. Madruga que toda a maquinaria havia sido paga do seu bolso mas que, por um acordo feito a pedido do Pe. Manuel Joaquim de Matos, que tinha em S. Jorge a responsabilidade da Redacção e da Administração, aquiescera em que a tipografia ficasse para os dois, bem como a casa onde estava instalado o jornal.
Tanto assim que só vieram para as Lajes o prelo e as caixas de tipo respectivas. Indo aos Estados Unidos, o Pe. Madruga comprou em Boston uma guilhotina, uma minerva e uma grafadeira para a secção de trabalhos; e no decorrer dos anos foi renovando o tipo, já cansado e adquirindo outro para títulos.
Quando da transferência do prelo e tipo para as Lajes, cujo material foi transportado pelo antigo iate “Andorinha”, encarregou-se da expedição o Sr. Samuel Amorim, bom amigo de saudosa memória.
Tudo decorreu pacífica e cordialmente, sem atropelos de quaisquer direitos de propriedade. Magoa pois que, decorridos quase setenta anos, haja quem se atreva a classificar menos correctamente a transferência do jornal.
Quando o material de “O Dever” aqui chegou encontrava-se o Pe. Xavier Madruga em viagem pela Europa, tomando parte na Peregrinação Nacional a Budapeste, onde se realizou o Congresso Eucarístico. Na secção portuguesa do Congresso e a convite do Presidente da Peregrinação, o Arcebispo de Mitilene, fez uma conferência sobre a Eucaristia, que as agências noticiosas logo espalharam pelo mundo. E foi aí que o Senhor Arcebispo o convidou para ficar na Capital. Ele não aceitou porque, uma das razões principais, a mãe era de avançada idade e desejava estar junto dela. Mais tarde veio a penitenciar-se de não ter aceitado o convite…
O Pe. Xavier Madruga desejava que o jornal iniciasse a publicação logo que o prelo chegasse às Lajes, mas preferiu-se aguardar o seu regresso, principiando a publicação , como acima se diz, a 3 de Setembro de 1938.
No jornal iniciou logo as suas impressões de viagem, que depois havia de reunir em volume, sob o título “…ATÉ AO DANÚBIO” . e, além deste, já havia publicado anteriormente “Dos Açores a Roma”, com as suas impressões de viagem aquando da canonização de Santa Teresinha, em 1925. Depois, só um pequeno volume, com os artigos que escreveu sobre a sua visita a São Jorge!… para pregar nas festas de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de Maio de 1949, a convite do P. Teixeira Soares,
Vigário de Santo Amaro e ouvidor do concelho. O livrinho tem o título “Magnificat ou o Milagre de Fátima em Terra Açoriana” e é uma separata de “O Dever”. Nesses artigos dá testemunho da maneira simpática como foi recebido e do carinho e respeito que lhe foi dispensado, não só pelos colegas como de distintas personalidades jorgenses.
Todo este arrazoado vem a propósito da diabrite que se enviou impensadamente, creio, para o ar, num programa que tem larga audiência nos Açores e que só teve o mérito de realçar a memória respeitosa e saudosa de tão distinta figura do clero açoriano, no fim do século XX.
“ Dever” nas Lajes há quase setenta anos. Tinha vinte e um anos quando assumi os cargos de Editor e Administrador. Cheio de entusiasmo procurei colaborar o melhor que me foi possível e já antes, desde 1932, dava a minha modesta colaboração ao jornal do Senhor Padre Madruga, como então era conhecido. E assim continuei. Já decorreram (75) setenta e cinco anos. Nem sempre foi fácil. Também sofri, quer conjuntamente com o Director, quer pessoalmente e não raras vezes. Recordo aquele dia em que fomos notificados para comparecer no Tribunal Judicial para esclarecer quem era o autor do artigo “Aqui também é Portugal!”. Um caso que foi resolvido na Relação e que custou ao Director de “O Dever” a “módica” quantia de dez contos, paga ao Advogado de defesa! Naquele tempo, uma fortuna.
Representei o jornal em diversas jornadas, conferências e congressos, o que me deu certa alegria, pois tive ocasião de visitar terras desconhecidas e contactar com jornalistas de grande craveira cultural e profissional.
Nunca deixei de estar na linha da frente, quando se tratava dos interesses da minha e nossa terra. Algumas vezes fui maldosamente “apedrejado” mas procurei sempre sair ileso, porque só pugnava e defendia a verdade e os direitos do nosso povo.
Hoje, arrumado, como habitualmente se diz, vivo ainda intensamente os problemas da terra e espero que um dia, que já não vejo, a Vila das Lajes do Pico ocupe o lugar a que tem direito e merece com justiça. E “O Dever”, o seu mais acérrimo defensor, continue a lutar desassombradamente pela terra e pelos direitos das suas gentes e que, daqui a dez anos, ao celebrar o centenário, os lajenses lhe prestem e ao seu Fundador as homenagens devidas e merecidas.
Vila das Lajes do Pico,
Setembro de 2007
Ermelindo Ávila

sábado, 1 de setembro de 2007

IMPRENSA PICOENSE

Orlando Castro,. Jornalista, em tempo, do “Jornal de Notícias”, andou pelos Açores no Verão de 1993, visitando especialmente as ilhas do Grupo Central, onde se demorou dezoito dias. Das Crónicas que escreveu para a Imprensa Continental, publicou, depois, “Açores- Realidades Vulcânicas”, um livro de 137 páginas, com vinte pequenos capítulos, incluindo o Prefácio da lavra de José Manuel Tavares Rebelo, Presidente da Casa dos Açores do Norte.
Um dos capítulos é dedicado à (IM)PRENSA (sic). Principia por referir o centenário “O Telégrafo”, infelizmente já desaparecido para, de seguida, aludir à Imprensa que já existiu nas Ilhas do Grupo Central – Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. Faz alusão ao primeiro jornal agrícola português . “O Agricultor Micaelense” (1843) Não esquece o “Açoriano Oriental”, felizmente transformado em diário aqui há uns anos passados, e, da ilha de São Jorge, cita alguns títulos.
Sobre o Pico e o Faial apenas escreve: “Embora com grande tradição, se é que a ancestralidade pode ser considerada como uma tradição, a Imprensa açoriana não existe enquanto tal. O que existe são várias imprensas, e nem por isso menos dignas, cada uma no seu nicho, cada uma na sua ilha. O sentido de arquipélago não passa de uma miragem. Mesmo entre o Faial e o Pico, separados por escassos 6 Kms, há uma barreira enorme. Não são, mas parecem e funcionam como se fossem “países” diferentes, com culturas e línguas antagónicas.” (pág.73)
Não sei onde o sr. Castro teve tempo para, em três semanas (l8 dias)
tanto descobrir. Mas mais não cito.
Porfírio Bessone no seu “Dicionário Cronológico dos Açores” (1932) insere uma relação das publicações açorianas que ocupa 24 (vinte e quatro páginas) e não inclui todos os jornais que existiram, v.g., na ilha do Pico.
A primeira Imprensa que houve na ilha foi trazida para as Lajes pelo professor Manuel Tomás Pereira em Setembro de 1874, muito embora nela não tenha sido impresso qualquer periódico. (Arquivo dos Açores, Vol.IX, p.41) O primeiro jornal existente na ilha foi publicado na Madalena, “O Picoense”, fundado em 1874 pelo ainda estudante Dr. Urbano Silva Ferreira.
Até à actualidade a Madalena fundou doze periódicos, incluindo dois em S. Mateus. Actualmente publica o semanário “Ilha Maior” no vigésimo ano de publicação.
Nas Lajes publicaram-se oito jornais, incluindo “O Dever” que há meses celebrou 90 anos de existência, muito embora se edite nesta Vila somente a partir de Setembro de 1938 ( ocorrem agora 69 anos).
Em São Roque do Pico publicaram-se : O Echo do Pico, 1878; Boletim Judicial, 1879; O Picaroto, 1882; O Pico, 1885, este fundado e dirigido pelo malogrado Poeta Manuel Henrique Dias; O Independente, 1882; O Picaroto, 1890, com várias séries; O Popular, 1890; O Futuro, também com várias séries; e o Picoense, com várias séries, igualmente. Presentemente há o Jornal do Pico já no quarto ano de publicação.
Embora alguns dos jornais fossem de efémera duração, presentemente os jornais picoenses, já com assinalável existência, têm colaboradores distintos que lhes asseguram existência promissora e estável.
A Ilha do Pico não é apenas uma das vinte mais notáveis, em diversos aspectos, no mundo. Vive uma época de cultura notável que a distingue entre as demais do Arquipélago. Felizmente!

Vila das Lajes.
31 de Agosto de 2007
Ermelindo Ávila

sábado, 18 de agosto de 2007

AS FESTAS DE VERÃO

É assim que as classifica o povo. Desde remotas eras. Eram as festas e os arraiais a única distracção que existia nas freguesias até meados do século passado.
As populações juntavam-se nos adros das respectivas igrejas onde se celebravam as festas dos Santos Padroeiros ou os de maior devoção e aí passavam as tardes, assistindo ao arrematar, por vezes em despique acalorado, das “ofertas” que eram de variadas espécies: produtos da terra, tais como maçarocas de milho, frutos das quintas e dos quintais, massa sovada dos mais variados feitios. A figura de uma perna, de um braço ou de uma cabeça, conforme a graça da cura de uma doença que havia afectado uma daquelas partes do corpo humano; uma vaquinha ou um porco, pela cura de um animal doméstico que havia sofrido alguma enfermidade, etc. E outros mais.
Nos arraiais os moços iniciavam ou mantinham namoros que, quase sempre, os levavam ao casamento “para toda a vida”.
Um viver patriarcal e cristão. Bons tempos!...
A meados do século XIX surgiram as filarmónicas e os arraiais passaram a ter maior assistência e, naturalmente, mais alegria. E os arraiais continuaram, abrilhantados pelas filarmónicas que foram aparecendo em quase todas as freguesias, numa simpática nota de cultura, até nossos dias.
Dom João Paulino de Azevedo e Castro, ao tempo Vice-Reitor do Seminário de Angra e que pode ser considerado o iniciador da Festa de Nossa Senhora de Lourdes nesta vila, como na Sé de Angra e em Santo Antão, S. Jorge, onde paroquiava o irmão, Pe. Francisco Xavier de Azevedo e Castro, em artigos publicados no “Peregrino de Lourdes”, de Angra, em Julho de 1889 (in “Textos de D. João Paulino”, Provisões e outros escritos, Vol. II, Macau – 1997, coordenação do Pe. Tomás Bettencourt Cardoso), relata a primeira festa realizada nesta vila em honra de Nossa Senhora de Lourdes, em Setembro de 1883. E permito-me a transcrição:
“A Vila das Lajes, triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias um aspecto risonho, alegre e animado. Desacostumada de ver gentes de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos capitães-mores, em que a festa anual do Corpus Christi atraía ao seu recinto, vindos de todo o concelho, uns legendários corpos de milícia armados de chaços e espadas em atitude bélica, - vê-se, durante estes dias, povoada de estranhos, que em atitude pacífica, armados quando muito do rosário a visitam, atraídos de todos os pontos da ilha pelo encanto da devoção à Virgem de Lurdes.
Há uma nota muito característica destes ajuntamentos, que não deve ficar em silêncio. A popularíssima viola, companheira inseparável de gente folgazã, mesmo durante as romarias, por ocasião de alguma festa religiosa, onde só deve reinar o recolhimento e a piedade, não se tem ouvido durante aqueles dias abençoados, e os bailados tão frequentes noutras romarias e sempre funestas consequências para a moral e para os costumes, não se acomodam, ao que parece, naquela atmosfera embalsamada pelos suaves perfumes que exalam as virtudes da Virgem sempre pura.”
Mas, antes, o mesmo Autor, no citado artigo faz referência aos festejos externos, embora com certa parcimónia, escrevendo:
“Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite de um destes dias, conforme o tempo o permite, tem lugar uma bonita iluminação à chinesa que atrai concurso imenso de espectadores.”
É o tradicional arraial nocturno, abrilhantado, desde o início, pela Filarmónica Lajense e, posteriormente, por outras filarmónicas, principalmente do Faial, que aqui vinham, gratuitamente, somente no desejo dos seus componentes gozarem as festas que tinham grande nomeada nestas ilhas.
Mas não apenas a Festa de Nossa Senhora de Lourdes era assistida por milhares de pessoas. O mesmo na Festa do Bom Jesus em São Mateus, na Festa de Nossa Senhora da Piedade, na Ponta da Ilha, no Bom Jesus da Calheta, na de Santa Maria Madalena, na de São Roque, na Senhora do Carmo em Santo Amaro, para só estas citar, pois a lista abrangeria todas as freguesias picoenses, onde as festividades religiosas dedicadas, principalmente, aos Santos Padroeiros eram e ainda hoje algumas são precedidas de arraiais nocturnos, sempre muito frequentados os quais sempre decorreram, normalmente, com ordem e respeito.
No entanto, em diversas festas algo se modificou. Hoje, algumas delas são precedidas de “semanas” recreativas, desportivas, culturais e folclóricas e outros atractivos, tendo quase sempre o concurso de artistas contratados, filarmónicas e grupos artísticos estranhos à localidade.
Estamos uma vez mais no verão e as festas principais de cada localidade estão aí. Decorrem até ao mês de Setembro. Arrastam para a ilha muitos picoenses que mourejam a vida pelas outras ilhas e por terras da Diáspora. É sempre um prazer encontrá-los, quase todos os anos, e com eles travar uma amena conversa de amizade e de saudade, recordando até tempos idos...
Que todos, residentes ou visitantes, possam gozar as festas com alegria, é o voto que aqui deixo com muita simpatia.

Lajes do Pico, Julho de 2006
Ermelindo Ávila

sábado, 11 de agosto de 2007

A grande Semana Lajense

É a Semana da Senhora, a Padroeira das gentes lajenses e picoenses, Nossa Senhora de Lourdes. A Senhora que há 124 anos tem altar reservado na Matriz da Santíssima Trindade ao qual o Papa Leão XIII concedeu a mercê de ALTAR PRIVILEGIADO.
Hoje não somente o altar mas todo o templo deveria ser considerado Santuário, tal como acontece a outros nos quais estão entronizadas Imagens de grande devoção do Povo crente.
Quando, há anos, foi apresentada petição junto da entidade competente para que a Matriz da Santíssima Trindade desta vila, fosse considerada Santuário da Virgem de Lourdes, indeferiu-se esse requerimento sem qualquer explicação, num gesto de aparente prepotência que chocou deveras os crentes e devotos d’Aquela que, por dezoito vezes, “apareceu a uma inocente filha do povo”.
Igual povo, que não o de Lourdes, anda há mais de um século a suplicar e louvar a Virgem de Massabielle e isso não basta para que a “Casa Santa, Mimosa de Deus” seja considerado um Santuário, onde o povo que professa a fé cristã, suplica à sua Padroeira as graças e benesses de que necessita? Será melhor assistir, indiferente, ao seu afastamento da Casa de Deus ?…
No livro Perfumes de Lourdes, editado em Angra do Heroísmo em 1892, escreveu o seu autor Mons. António Maria Ferreira, a páginas 331: “Lages do Pico – Foi talvez o primeiro logar dos Açores onde Nossa Senhora de Lourdes começou a ser invocada, não obstante ser o Fayal a primeira Ilha onde foi exposta ao culto a primeira Imagem de Nossa Senhora de Lourdes.
“Em occasião aflictiva para os habitantes d’aquela villa, n’um d’esses dias em que o mar enfurecido parece, na phrase dos lagenses, querer engulir a terra, algumas canôas balieiras tripuladas por intrepidos marinheiros demandavam o porto, luctando corajosamente com as ondas enfurecidas; mas para os de terra havia eminente risco de os verem despedaçar-se nas penedias que tornam perigosíssima a entrada do porto.
“As proximidades da lagôa cuja bacia forma o porto achavam-se apinhadas de povo que pressuroso havia accudido a presenciar aquele triste espectáculo. Nos momentos de maior angústia apparece alli um filho da localidade que era considerado por todos como tendo sido objecto de uma insigne graça de Nossa Senhora de Lourdes. A sua presença e a sua palavra conseguiram serenar um pouco aquelles corações afllictos inspirando-lhes uma tal confiança na miraculosa Senhora de Massabielle, que d’envolta com os gritos de angustias que de continuo irrompiam de todos os peitos eram repetidamente ouvidas dos diferentes pontos da multidão as exclamações de:- Nossa Senhora de Lourdes livrai-os do perigo – Nossa Senhora de Lourdes salvae-os!
O Facto é que a tempestade serenou, as embarcações entraram a salvo no porto, e da tripulação ninguem soffreu o menor dano. Desde então a confiança em N. Senhora de Lourdes começou a ganhar os corações entre aquele bom povo e a sua devoção dia a dia conquistava terreno. Estava desta forma inaugurado n’aquela villa e no archipelago e diocese de Angra o culto publico em honra da Virgem dos Pyreneus.”
Que mais acrescentar para justificar a necessidade de intensificar o culto da Virgem de Lourdes na terra lajense, que parece esquecer-se daqueles recuados momentos de angústia em que a Virgem foi invocada publicamente e atendeu de maneira assombrosa – milagrosa? – os povos aflitos !
Vamos celebrar uma vez mais a Festa de Nossa Senhora de Lourdes.
Nas últimas duas semanas de Agosto, tal como desde 1884, as nossas gentes vão estar junto do altar, tomando parte no Novenário e nas solenidades do dia. E igualmente muitos picoenses e outros que aqui chegam de outras ilhas e das Terras da Diáspora. É um tempo forte de empolgante solenidade, dedicado à Senhora que, junto do porto e quando as antigas canoas baleeiras estavam em perigo, ouviu as preces angustiosas do povo ali reunido a presenciar os horrores da tragédia que se aproximava mas que a Virgem afastou com sua maternal bondade!
Já não há homens que pratiquem a ardilosa pesca. Restam apenas alguns que ainda foram baleeiros, mas a tradição ficou. Todavia, nuns vislumbres de fé tradicional, todos os lajenses a eles se unem ali, no mesmo local, onde a Virgem foi invocada há 124, junto do porto, a escutar a Palavra do sacerdote e a viver emocionados ainda esses momentos de recordação e de fé ardente que era !
Celebremos com alegria as maravilhas que o Senhor fez!

Vila Baleeira,
2 de Agosto de 2007
Ermelindo Ávila

domingo, 5 de agosto de 2007

Bom Jesus Milagroso

Estamos no mês de Agosto. O mês das Festas do Pico por excelência. Há semanas realizaram-se as festas da Padroeira, na vila da Madalena. Agora temos a Festa do Bom Jesus Milagroso, em São Mateus do Pico.
Em 1984 o Padre António Filipe Madruga, Pároco de S. Mateus e Reitor do Santuário, presidiu pela última vez à solenidade do Bom Jesus. O cronista da festa, professor Helder Melo, no Boletim Paroquial “Ecos do Santuário”, no número de Setembro daquele ano, escrevia: “O Reitor do Santuário testemunhou a felicidade que sentia por voltar a orientar as solenidades e por presidir àquela Concelebração solene da Eucaristia, na qual entoou as Orações Presidenciais quase com o mesmo belo timbre de voz dos bons tempos da sua acção pastoral.”
Afinal, foi o derradeiro ano pois, logo a seguir, no dia de Todos os Santos, quando em Angra assistia à ordenação diaconal do Rev. Pe. Zulmiro Sarmento, o Padre António Filipe Madruga terminava sua vida terrena para a continuar na Mansão dos Justos. E já lá vão quase 23 anos.
À frente da Paróquia de São Mateus encontra-se, presentemente, o Sacerdote que, naquele ano de 1984, teve a seu cargo a Liturgia da Palavra, “o Pe. José Carlos, cujo bem elaborado sermão, por iniciativa do Pároco
será publicado em Separata” como nos diz a reportagem da festividade. Afinal isso não chegou a acontecer.
O Pe. Filipe Madruga foi um sacerdote que todo se deu à sua missão eclesial e apostólica. Os testemunhos que o seu Boletim – e seu porque o fundou em 1968 e com ele terminou em 1984 –no último número e ao P. Filipe Madruga dedicado, relevam de maneira incontestada, a sua nobilitante acção como sacerdote e como pároco. E logo na primeira página nos apresenta os “depoimentos” de quatro Bispos, incluindo do diocesano, e do Vigário Geral da Diocese. Que mais preciso seria para demonstrar a sua vida plena de doação e sacrifício? Dom Jaime Garcia Goulart, Bispo resignatário de Dili, escreveu: “De facto, o Padre António Filipe Madruga foi acima de tudo um verdadeiro Sacerdote, totalmente devotado à Igreja e às almas. Todo se consumiu neste indefectível amor, que torna grande o mais humilde Padre.”
Mas, além do testemunho que, naquele Boletim, deixou a Professora Universitária, Doutora Rosa Maria B. Goulart, interessa recordar o P.S.: “Se ninguém levasse a mal que saíssemos um pouco do assunto, permitir-nos-íamos uma breve referência – que, pela nossa parte, é também testemunho de gratidão- à actividade de D. Maria do Espírito Santo e D. Maria da Conceição Madruga, pelo melhor que de si deram à freguesia de São Mateus. A primeira, em tudo quanto fosse necessidade: em casa, na igreja, onde quer que houvesse doença, sofrimento ou morte. A segunda, mais no silêncio abnegado – portas dentro onde nunca lhe conhecemos tréguas.”
Afinal, tudo foi esquecido!…A memória do Pe. António Filipe Madruga perdeu-se com o decorrer dos anos.
Segundo fontes mais aceitáveis, o culto ao Bom Jesus, cuja Imagem Veneranda foi trazida do Brasil por um benemérito filho da freguesia, Francisco Ferreira Goulart, foi inaugurado em São Mateus do Pico no dia 6 de Agosto de l862. Cento e quarenta e cinco anos são passados.
Por Decreto do Bispo de Angra, de 1 de Julho de 1862, ano do centenário da inauguração do culto ao Bom Jesus, a igreja de S. Mateus foi elevada à categoria de Santuário; e, em 20 de Setembro de 1968, solenemente sagrada pelo Bispo Dom Jaime Garcia Goulart.
Foi enobrecida com o título de Igreja Matriz por despacho do Prelado Diocesano, de 20 de Setembro de 1972.
O sismo de 1998 abalou aquele templo, como aliás aconteceu à grande maioria das igrejas da ilha mas, felizmente, foi já totalmente recuperada e voltou ao seu anterior estado artístico.
Prepara-se uma vez mais a Paróquia de São Mateus para celebrar a festa do Bom Jesus Milagroso. Antigamente, era um lugar de romaria de toda a ilha. Não havia transportes motorizados e os carros de bois só serviam para transportar as roupas e os farnéis. Eram, em muitos casos, romarias de penitência. Levava-se por vezes oito dias a chegar a São Mateus. Não havia locais de alojamento mas muitas pessoas da freguesia num gesto altruísta de verdadeiro espírito cristão, facultavam as suas residências, ou casas devolutas, aos romeiros para “se abrigarem da noite”. Depois a Paróquia construiu um salão a que chamou “casa dos romeiros”. Tudo isso passou. Com as facilidades de comunicação, as deslocações dos devotos ou simples forasteiros fazem-se no próprio dia, normalmente, para tomar parte na procissão, que não deixa de ser um acto penitencial pelo seu longo percurso.
“Romeiros de São Mateus / Descansai, tomai alento / Que a Virgem Nossa Senhora / Nos há-de dar bom tempo”. Era uma das quadras que os romeiros cantavam, quando paravam para descanso e, num terreiro ao lado do caminho, bailavam uma “Chamarrita”, baile regional de remotas eras. Tempos passados…

Vila das Lajes,
Agosto de 2007
Ermelindo Ávila

sábado, 28 de julho de 2007

Os Botos

Hoje chamam-lhe golfinhos. Botos ou golfinhos ou moleiros, são uma e a mesma espécie de mamíferos que os Lajenses, em tempos passados, aproveitavam para diversos usos. Todavia, não deixam de ser animais interessantes que não atacam o homem e que, em certas e determinadas épocas, cabriolam pelos mares, causando gosto aos observadores.
Não é agora que foi descoberta a observação dos botos. Eles sempre andaram pelos mares das ilhas e, quando foi necessário utilizar o óleo e a carne, constituíram uma excelente ajuda às paupérrimas economias domésticos dos povos insulares.
Aqui há setenta/oitenta anos era agradável viajar nos barcos da Insulana, o “Lima” e o “São Miguel” substituído depois pelo “Carvalho Araújo” e, encostados às amuradas dos navios, ver os botos em correrias a acompanhar os barcos à ilharga, dando cambalhotas e elevando-se por vezes fora das águas. No meio do Oceano, navegando do Pico para São Jorge ou desta ilha para a Terceira, rara era a viagem, e várias fizemos, em que não tivéssemos por agradável companhia os simpáticos animais.
Mas, como todo o ser criado tem seu destino traçado, os botos eram caçados, principalmente no porto desta Vila, para utilização das populações, tal como os outros peixes e animais marinhos e, mais tarde, o cachalote.
Ao criar o mundo “Deus criou os grandes peixes e todos os animais que têm vida e movimentos, os quais foram produzidos pelas águas segundo a sua espécie… E Deus viu que tudo era bom. E os abençoou dizendo: crescei e multiplicai-vos, e enchei as águas do mar…E depois disse: «Façamos o homem à sua imagem e semelhança, e presidia aos peixes do mar, às aves do céu e aos animais selvagens e a toda a terra…»
Utilizando os animais, as aves e os peixes, o homem está a servir-se de um mandato do Criador, que tudo pôs à sua disposição.
Recusar ao homem o direito de fruição dos animais, das aves, dos peixes, das árvores e dos bens da terra é cercear-lhe um direito que lhe foi outorgado pelo Criador, Senhor de todas as coisas criadas. Mas sobre isso não faço comentários.
Valendo-me do Comendador Ernesto Rebelo, falecido em 1902, escritor faialense, em «Notas Açorianas», publicadas no «Arquivo dos Açores», a partir do volume sétimo respigamos:
«Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e requeimada, entremeada aqui e além por moitas de rasteiras faias, descampados a que se dá o nome de Mistérios por serem estes os sítios por onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do Pico, chegámos finalmente, ao cair da noite, à Vila das Lajes»…
«Encaminhámo-nos para o velho e estragado Convento de São Francisco, que domina a Vila no qual um amigo obsequioso nos havia permitido permanecer num desguarnecido quarto.» E aqui deixo para trás as peripécias porque passou durante a noite com as chuvas que pingavam do soalho e com o barulho das cagarras que lhe pareciam gritos de vozes humanas.
O rapaz que o acompanhava de manhã, chamou-o para um grande divertimento que iam ter: «Um cardume de botos que foi avistado ao romper da manhã, já saíram algumas lanchas a ver se conseguem metê-los na Lagoa e a povoação toda está de espreita na costa, há-de ter que ver». Ernesto Rebelo descreve a seguir minuciosamente o rodear dos botos para o interior da Lagoa e, depois, a caçada.
«No fim de duas horas de trabalho, estavam estendidos na costa sessenta e nove valentes botos e começou a mais simples faina de os retalhar, para ali mesmo serem derretidos em enormes caldeiras.
«A pesca tinha sido excelente e os lucros importantes, pois quanto azeite houvesse obtinha certo e bom preço, para exportação.
«As tripulações das lanchas em um dia de trabalho, haviam ganho mais do que num ano de pescaria miúda…»
A caça ao boto era um dos principais rendimentos da classe marítima. O azeite não só era exportado, como ainda utilizado nas candeias que alumiavam os serões das famílias e a própria carne era salgada e utilizada na alimentação de suínos e como isco para a pesca. Nada era desaproveitado.
Hoje…fico por aqui.

Vila das Lajes,20 de Julho de 2007
Ermelindo Ávila

domingo, 22 de julho de 2007

A Ilha do Pico não terá direito a um campo de golfe?

Há anos, “nem eu sei há quantos”, houve uma sociedade legalmente constituída que projectou a construção de um campo de golfe na zona do Mistério da Silveira. Para tal, julgo que a Câmara Municipal, pois é a legítima proprietária do terreno, embora esteja afecto as Serviços Florestais, cedeu a essa Empresa o espaço necessário para a implantação de um complexo turístico destinado à prática do Golfe, um desporto em crescente desenvolvimento mundial.
As obras do novo empreendimento começaram naquela época – são decorridos vários anos. De alguns “quintais” da vila das Lajes foram levantados muitos metros cúbicos (centenas, milhares?) de terra para o novo campo mas, a dado momento, as obras foram suspensas. Razão? Desconheço. 0 certo é que motivos devem ter existido e, como se trata de uma empresa particular, só ela tem o direito de suspender ou prosseguir com os trabalhos. Da nossa parte só lamentamos a decisão.
Mas, julgo que embora decorridos tantos anos, há uma solução: O terreno deve ter sido cedido a título precário e, não tendo sido utilizado no fim para que foi cedido, impõe-se que volte à posse do Município.
Na Carta Turística dos Açores, (não importa que não seja este o nome técnico), distribuem-se por algumas ilhas campos de golfe. Mesmo para a Ilha do Faial onde, inicialmente, não estava prevista a construção desse complexo. Mas os faialenses tanto reclamaram, que conseguiram. A Ilha do Pico, onde já estava iniciado um campo, ficou excluída desse programa, por lapso ou propositadamente?!…
Verdade que, por razões incompreensíveis, não pertence ao grupo das ilhas da coesão. Daí, talvez, o esquecimento a que vem sendo acintosamente votada.
No entanto, porque não tem direito a ilha do Pico a um campo de golfe, se à ilha estão a chegar muitos turistas de diversas nacionalidades, fora de grupos excursionistas, que aqui se demoram, não só um dia nem dois mas muitos mais, a gozar o clima, os acidentes geográficos, os poentes multicolores, a paisagem extasiante que a própria montanha oferece ?!…
Acaba de ser fundada uma Empresa Municipal, a CULTURPICO, destinada à aquisição de equipamentos turísticos, desportivos, recreativos, culturais, ambientais e habitacionais. E a Presidente da Câmara, no “Boletim Municipal” do mês de Fevereiro deste ano, donde extraio a notícia, afirma: “O concelho das Lajes do Pico precisa, merece e há-de ter tudo o que for melhor. Não nos comparamos com o que há de pior, mas sim com o que o mundo tem de melhor para oferecer. Ser medíocre é pensar que só os outros é que merecem do melhor que há na vida.”
Subscrevo com prazer a afirmação conceituosa da Presidente da Edilidade Lajense. Mas é preciso que ela se concretize nos mais simples pormenores. E é por isso que venho chamar a atenção para a conclusão (não conheço qual o andamento das obras) de tão importante empreendimento indispensável ao progresso do concelho.
Como igualmente desconheço qual a situação jurídica deste assunto mas, se não estou em erro, creio que o Município tem competência legal para tomar posse administrativa da obra e promover o prosseguimento dos trabalhos até à sua conclusão, quer por administração directa da Empresa Culturpico, quer chamando interessados que àquela entidade se associem, não apenas para a execução dos trabalhos mas sobretudo para a futura exploração do empreendimento.
ノ uma oportunidade que urge desenvolver para que não surjam inesperados oportunistas estranhos à ilha a aproveitar-se da situação.
A Empresa recém–criada pela Câmara Municipal tem um caminho longo a percorrer para o desenvolvimento do concelho. Todavia, e segundo os economistas, o Turismo deve estar no primeiro plano das preocupações municipais pois é um sector do qual depende (em grande medida!) o progresso e, consequentemente, o futuro do próprio concelho e da ilha não pode ser relegado a segundo plano das preocupações ou projectos da Autarquia. Em todas as terras está este sector a desenvolver-se assombrosamente e nem todas elas dispõem do potencial que se encontra na Ilha do Pico.
Sabemos que o Turismo se dispersa por diversas vertentes – os caminhos pedrestes para as zonas altas, os miradouros, os lugares de lazer, a restauração e hotelaria, etc.
Mas um campo de golfe, modalidade desportiva de tanto interesse mundial, está entre o “equipamento” turístico mais apreciado pelos endinheirados e não só. ノ preciso aproveitar com urgência a oportunidade e os bens com que a Natureza nos dotou.
Vila Baleeira, 10 de Julho de 2007
Ermelindo Avila

quinta-feira, 19 de julho de 2007

D. JOSEFINA CANTO E CASTRO celebra centénário

Há cinco anos tive o prazer de assinalar, num modesto escrito, os 95 anos da distinta Senhora. Agora, com redobrado júbilo, venho, na modéstia do meu dizer, congratular-me com os CEM ANOS, que hoje celebra a distinta Poetisa, jornalista, musicóloga e professora, rodeada da ilustre Família, no Sul da Califórnia, Estados Unidos da América do Norte, onde passou a residir.
D. Josefina Amarante Freitas do Canto e Castro nasceu no dia 19 de Julho de 1907 em Providence, Rhode Island, E.U.A.. Com um ano de idade veio com os pais para S. Jorge, passando ainda menina, a residir na cidade de Angra e ali, conheceu o marido, também ele poeta e jornalista, Francisco do Canto e Castro, fixando a seguir residência no lugar do Cais do Pico, concelho de São Roque, em cujo concelho ele era ao tempo, funcionário de Finanças. Dali o casal transferiu-se para a Horta, onde residiu até emigrar para os Estados Unidos.
Na Horta, D. Josefina foi professora de piano e francês e colaborou na “Horta Desportiva”, depois de adquirida pelo marido, até regressar aos E.U.A.. É aí que a vai encontrar o Pe. Xavier Madruga, fundador e director deste semanário, aquando da sua visita à América. E, numa das suas excelentes “Cartas da América”, (cuja publicação em livro foi autorizada ao Núcleo Cultural da Horta, mas que este instituto nunca realizou), o Pe. Xavier Madruga presta homenagem à ilustre Senhora, pondo em relevo o trabalho exaustivo que estava a realizar: Poetisa e escritora, nunca escreve nem fala que não seja para cantar as Figuras máximas da nossa incomparável História, as suas grandes Datas Nacionais, a musicalidade harmoniosa da Língua Portuguesa e o dever que todos têm de a tornar conhecida e amada dos estrangeiros.
E, depois, afirma: “Pela rádio e na imprensa, nas Sociedades e Clubes da Califórnia, nos Colégios e Liceus onde se tem encontrado a ensinar, é contínuo e perseverante o seu esforço e a sua acção, porfiada, constante, obstinada pela nossa Pátria, de quem se constituiu, voluntariamente, animadora e advogada, sem credenciais, nesta grande nação.”(…)“Actualmente professora na Douglas School de Pebble Beach, próximo de Monterey ali ensina espanhol e francês, como poderia ensinar português e inglês”.
E, quase a terminar a sua “Carta da América”, publicada neste jornal no dia 15 de Março de 1947, precisamente há sessenta anos, escreve ainda o Pe. Xavier Madruga acerca de D. Josefina Canto e Castro: Rezar, sofrer, dar bom exemplo: duas mão postas, molhadas de lágrimas, são chaves de ouro capazes de abrir o coração mais endurecido ou a inteligência mais desnorteada.
D. Josefina, decorridos alguns anos, voltou ao Pico e fixou residência em São Roque, terra que primeiro habitou após o casamento. Ali viveu rodeada do maior carinho e amizade durante alguns anos, leccionando música e piano como ocupação dos “tempos livres”. E foram vários os alunos que, depois, seguiram a carreira musical. Sentindo que os anos passavam, voltou para junto dos Filhos e Netos, nos Estados Unidos e fixou-se novamente na Califórnia. Aqui iniciou a sua colaboração em “O Dever” sob a rubrica “Da Minha Janela”, continuando-a nos Estados Unidos até há cerca de dois anos. A sua colaboração era semanária e, quando o original não chegava a tempo, arreliava-se com o atraso.
Foram muitos e diversificados os assuntos e temas tratados em “Da minha Janela”, local de observação atenta dos problemas, os mais diversificados, desta ilha.
Três livros de poemas publicou a distinta e inspirada Poetisa: “Naquele Tempo…Poemas Bíblicos”, 1ª edição em 1941 e 2ª edição em 1985; “Poemas de Ontem”,1989 e “Despedida”, l996.
Sempre interessada pela literatura açoriana, numa das muitas cartas que me escreveu, (12 de Agosto de 1997), diz: Fiquei surpreendida com tantos livros publicados recentemente e a lançar este verão. Os Açores estão, deveras, a lançar a sua literatura. O que falta é mais comunicação e vendas entre as Ilhas. Não será possível melhorar a situação? Quem sabe!
O “Tribuna Portuguesa”, jornal que se publica em Modesto, Califórnia, no dia 1 de Julho corrente, ao celebrar os 100 anos de D. Josefina Canto e Castro escreveu, e aqui transcrevo com a devida vénia: …Emigrou em 1945. Teve uma vida indescritível de empenho, de solidariedade, de bem escrever, de ser mulher com M grande. Lutadora de muitas causas, a sua “Janela” é a pérola mais preciosa deste jornal. Faz l00 anos no dia 19 de Julho e vai estar acompanhada por toda a família no Sul da Califórnia. Happy Birthday.
Com emoção, respeito e amizade, também aqui deixo os meus votos de Parabéns à Veneranda Senhora, seus Exmos. Filhos e Familiares. Feliz Aniversário!
Pico,19 de Julho de 2007
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 13 de julho de 2007

AS LUTAS LIBERAIS

Está-se a comemorar a partida dos soldados açorianos, arregimentados por D. Pedro IV, e que foram desembarcar na Praia do Mindelo um facto, que ficou na História e que os açorianos ainda recordam com todos os seus incidentes e aventuras. Celebram-se agora 175 anos e Ponta Delgada, donde partiram os “Bravos do Mindelo”, vai assinalar a efeméride com o descerramento de” um memorial em forma de pirâmide com 1,80 metros de altura, de pedra serrada, onde ficará a proclamação de D. Pedro IV”, como informa a Imprensa micaelense.
Mas não eram somente da ilha de São Miguel os soldados que o Rei-Soldado reuniu para constituir o grupo que viria a desembarcar numa das praias do Porto e, com ele, conquistar o poder ao Rei D. Miguel, seu irmão.
Os povos do Pico e Faial eram fiéis ao rei D. Miguel. Nas Câmaras Municipais havia ele sido aclamado com toda a pompa, em 9 de Setembro de 1828. Sabedor disso, o irmão D. Pedro, como representante da filha, futura Rainha D. Maria, fez desembarcar, em 21 de Abril de 1831, no porto de Santa Cruz das Ribeiras, um batalhão, sob o comando do Conde de Vila Flor. Nesse batalhão vinha incorporado o Batalhão Académico, que foi albergado em S. João, pelo Alferes Vieira de Bem.
Entrando na Vila das Lajes, em Abril de 1831, a divisão liberal comandada pelo Conde de Vila Flor, depois duque da Terceira, foi por este encarregado o capitão Manuel Machado Soares de prover às subsistências da divisão durante a estada das tropas na ilha, missão delicada, porque as populações sentindo na consciência o pecadinho da afeição pelo Senhor D. Miguel , fugiam (para os montes) à aproximação das forças liberais. “
Contava minha bisavó, que ainda conheci muito bem, que, à frente da tropa, ia um arauto avisando as populações para abaterem gado e cozerem pão para alimento dos soldados.
E Lacerda Machado (in “Os Capitães Mores das Lages”) narra o seguinte episódio: “Em 1931 desembarcou em Santa Cruz o Conde de Vila-Flôr, com a divisão liberal, marchando em direcção às Lajes. Ao passar em frente da casa do capitão José Bettencourt da Silveira, este saiu-lhe ao encontro e convidou o Conde e o seu estado-maior a tomar uma refeição.” “…no decurso da refeição, Manuel Homem encheu o copo e perguntou ao dono da casa como se chamava, no intuito de lhe fazer um brinde, ao que o interrogado respondeu naturalmente: José Bettencourt… Manuel Homem pousou bruscamente o copo na mesa, e insistiu, se era com efeito esse o seu nome. O capitão José Bettencourt, é claro, nada compreendia do que se estava passando, mas confirmou… Interveio o Conde, nobremente, dizendo, com firmeza, que mais Marias havia na terra, e que quando mesmo não houvesse, estavam numa casa onde se lhes tinha oferecido expontânea hospitalidade. – Apurado o caso, Manuel Homem julgou ter diante de si outro José Bettencourt, miguelista assanhado que, no Faial, se tornou muito conhecido, sendo por isso notado no livro negro dos liberais e que, ao ter a infausta notícia da aproximação das tropas constituicionais, se safou para o Pico metido numa pipa!”
José Bettencourt Brum da Silveira era filho de D. Izabel Brites Bettencourt Brum e Silveira e do alferes José Francisco Silveira, natural, segundo uns da freguesia Matriz das Lajes, segundo outros, de S. João, porque afinal era natural…do mistério!” (onde havia rebentado o vulcão de 1720).
Quando houve notícia da aproximação das tropas liberais, como acima se refere, não apenas o povo mas sobretudo os rapazes em idade militar refugiaram-se nas “casas de pasto” existentes nas «terras do alto” para não serem incorporados no Batalhão. No entanto, alguns apanhou-os a tropa e lá seguiram. Entre eles foi o “Pereira Soldado”, desta vila, como ficou conhecido – “o qual entretinha a velhice a contar as aventuras ocorridas durante a ausência por terras estranhas…”
Demais não foi pacífica a passagem de D. Pedro pelo arquipélago. Tenha-se presente o Decreto que suprimiu diversos mosteiros, conventos e colegiadas dos …Açores, entre eles “os conventos de religiosos menores de S. Pedro de Alcântara e de Nossa Senhora da Conceição na ilha do Pico”; decreto que foi expedido do Paço em Ponta Delgada, em 17 de Maio de 1832 e que foi assinado por D. Pedro, Duque de Bragança.
E não repito mais do que escrevi anteriormente (Vidé: “Figuras & Factos – Notas Históricas” (1993)”.
Vila das Lajes,
Julho de 2007
Ermelindo Ávila.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

AS FESTAS DA SILVEIRA

Estamos com o verão em casa. É a época das festas mais apetecidas.
Outrora, os lajenses tinham como festas principais as chamadas Festas de Verão da Silveira. Era então a Silveira a estância de veraneio. Todos para lá se transferiam, ou para as próprias adegas do “Caminho de Baixo” ou para casas de velhos amigos. Raros eram os que dispensavam uns dias na Silveira, sobretudo para aproveitar melhor a apreciada água da Fonte e gozar a frescura do lugar, com um clima excepcional.
Mas a Silveira tem um encanto especial para os lajenses, que Amâncio Victor (P. Francisco Vieira Soares), um dia, em antigo publicado na antiga revista “Eco Cedrense”, (25 - IV – 1929) que ele próprio havia fundado na freguesia dos Cedros, da Ilha do Faial, onde e encontrava como coadjutor do Pároco, assim exaltou: “Fresca e vistosa, com as suas casitas brancas de neve cercadas de luxuriantes latadas, donde pendem os mais saborosos cachos a vigiar-nos por detrás da verdura das folhas com um risinho malicioso, abraçando-nos em desejos e submetendo a uma duríssima prova o nosso respeito pelo alheio, a Silveira do Pico é, sem dúvida, o melhor lugar da Ilha onde, com sossego, depois de quase um ano de trabalho extenuante, nos podemos entregar nos braços da natureza durante uns dois meses de verão, a renovar forças e a fazer novas provisões de vida e saúde para novos trabalhos”.
E a Silveira, subúrbio da Vila das Lajes, sempre assim foi. Normalmente, ia-se para a Silveira nos primeiros dias de Julho para aproveitar as Festas de Santo Cristo, que tradicionalmente se realizam no primeiro domingo do mês.
A 15 de Agosto celebrava-se, como ainda hoje, a festa da Mãe de Deus, por certo a maior da localidade. A seguir, no dia 24 a do Padroeiro, S. Bartolomeu.
“O Dever” a 13 de Setembro de 1930 , a propósito da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, dá seguinte notícia: “No dia 13 de Agosto de 1930, à noite, houve uma importante e encantadora procissão de velas com edificante piedade e pregação ai ar livre (no Largo do Beleza e no balcão de José Naia) em honra de Nossa Senhora de Fátima. A primeira Imagem chegada à Ilha foi entronizada na igreja da Silveira, onde se realizou a festa a que se refere a notícia. Esta passou a realizar-se no mês de Setembro."
Durante alguns anos dei o meu modesto concurso nas Festas da Igreja de S. Bartolomeu da Silveira. Mas nisto tudo há uma história algo rocambolesca.
O Pároco da Silveira era o lajense, Pe. Manuel Vieira Feliciano, que ali exerceu o seu múnus desde o falecimento do Pe. Jerónimo, em 1904, até ao seu falecimento, em 26 de Março de 1962. Embora a Silveira fosse um curato sufragâneo da Matriz das Lajes, o Pe. Feliciano, seu cura, administrava-o como paróquia dado o óptimo relacionamento e amizade que sempre existiram entre ele e o Pároco, P. José Vieira Soares, colegas de curso. A ele se ficou a dever o restauro completo da Igreja de São Bartolomeu, pasto de um pavoroso incêndio sucedido na noite de 23 para 24 de Junho de 1924.
Restaurada a igreja, e adquiridas as respectivas imagens dos santos ali venerados, foram recomeçadas as festas e organizada a respectiva capela sob a regência de Francisco Vieira Beleza, uma notável voz de baritono e que havia sido companheiro do Pe. José d’Ávila nas aulas do grande mestre Pe. João Pereira da Terra.
O Pe. Feliciano tinha por hábito servir o jantar (hoje seria almoço…) aos colegas sacerdotes e aos músicos da Capela que tomavam parte nas festividades. Estava-se nos primeiros anos da Ditadura Militar. A acção dos partidos políticos ainda não havia terminado. Durante o repasto de uma das festas, discutiram-se assuntos políticos e sobretudo a acção do Governador que, como então acontecia, se “encostara” a um dos partidos. No dia imediato o Governo Civil estava informado do que se passara em casa do P. Feliciano e, imediatamente, os sacerdotes foram chamados à Policia da Horta para declarações. Nada resultou. No entanto Pe. Feliciano, não tolerando o desrespeito da sua casa, acabou com a capela e o Beleza e seus companheiros deixaram de colaborar nas festividades de S. Bartolomeu.
Novo como era e alheio a toda a politiquice da época, passei a colaborar nas festas da Silveira com músicos de S. João, David Ferreira, João Barroso, Tomás Ganhado, sob a regência de Gil Xavier Bettencourt. Chegamos os dois a ir na moto de João de Brum Bettencourt, uma possante moto que trouxe dos E.U. e que nos levava e trazia (os três) .
Com a chegada à freguesia do Prof. Manuel José dos Santos, excelente músico, organizou ele uma capela na Silveira e assumiu a sua regência. Era organista D. Angélica Vieira. O orgão, que o segundo incêndio veio a destruir, fora construído pelo organeiro Manuel Serpa da Silva, em 1890 para a igreja dos Biscoitos, São Jorge, e fora vendido para a igreja da Silveira porque a Igreja dos Biscoitos era muito húmida e estava a estragá-lo.(P. M. Azevedo Cunha, in “Notas Históricas” - 1924).
E já agora uma nota: No frontispício da Igreja de São Bartolomeu existe uma placa onde se lê:. “Construída com esmolas do povo. Começada em 1879 . Concluída em 1888”.
Eram concorridos e alegres os arrais das festas da Silveira. Lá se encontravam as primeiras frutas da época, escolhidas e de óptimo aromo e paladar, algumas de espécies raras.
Vila das Lajes,
1 de Julho de 2007
Ermelindo Ávila