sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RECORDANDO A ANTIGA BALEAÇÃO

É pena que as Bienais da Baleia não hajam continuado. Uma iniciativa interessante que, em duas épocas, trouxe a esta Vila e Ilha, vários cientistas interessados no estudo da baleação e que se ficou a dever ao antigo Secretário Regional da Economia, o Professor Universitário, Doutor Duarte Ponte.

O laureado escritor açoriano Manuel Ferreira publicou na Colecção Gaivota, da Secretaria Regional da Educação e Cultura, um valioso trabalho sob o título “O Morro e o Gigante”, que mais não é do que o título do primeiro dos seis textos que o volume encerra. A edição é de 1981, muito embora “O Morro e o Gigante” esteja datado da Primavera de 1955. E é sempre actual para os picoenses, muito embora haja decorrido mais de meio século sobre a sua primeira publicação.

Presentemente, já não se caça a baleia. Uma resolução discutível da União Europeia pôs fim a uma actividade de mais de dois séculos, iniciada pelos norte-americanos nos mares do Atlântico e trazida para os Açores pelos picoenses que, havendo saído “de salto”, em noite “escura”, um dia voltaram à ilha e aqui continuaram essa extraordinária actividade, que foi pão para a boca de muitas famílias e que mais tarde, assenhoreada por industriais oportunistas, veio a encher alguns bolsos.

Escrito numa linguagem vernácula e acessível a qualquer leitor, mesmo àquele que, de modestos conhecimentos seja detentor, “O Morro e o Gigante” é um perfeito trabalho narrativo da antiga actividade baleeira, quer na utilização da terminologia da baleação aqui introduzida pelos velhos baleeiros, quer pela descrição própria da caça e que merece ser trazida ao conhecimento da geração actual.

Marcelino Lima, outro escritor açoriano, escreveu também “À caça da baleia”, um texto do seu livro “Por Causa de um ramalhete”, publicado anteriormente, em 1933.

Embora o Autor descreva com certo relevo a vivência do antigo baleeiro “de salto”, e seja fiel ao emprego dos vocábulos estrangeiros, não é tão minucioso e realista na descrição da caça local como M.F., muito embora narre uma “arriada” no Cais do Pico onde, parece, exercia ao tempo funções públicas.

Ao ler Manuel Ferreira julga-se estar em presença de um autêntico baleeiro, dada a correcta e minuciosa narração que faz de uma caçada do gigante dos mares.

Não refiro hoje a obra, por demais conhecida, do escritor e saudoso amigo Dias de Melo, com certeza o maior escritor da saga baleeira.

Porque se me afigura de interesse, com a devida vénia, cito Manuel Ferreira:

É um espectáculo bruto, primitivo, infernal. Um quadro do princípio do mundo, de outro mundo, caricato e desconhecido. Num escárnio, contra a grandeza de todos os Impérios, o rei dos mares, o maior animal do mundo, sem nada que o iguale na terra ou no mar, força bruta, sem termo nem comparação, já nada é e nada pode – vencido e diminuído, por meia dúzia de homens de pé descalço, arremendados e desconhecidos – na história de todos os dias e de todos os tempos.

Referindo-se ao porto baleeiro das Lajes do Pico, escreve ainda M.F.:

As canoas, para cima das cem, à compita, numa aguarela de cores e de costados, ajuntavam-se e dividiam-se, pelo mar largo, conforme as empresas e distintivos. Cada ilha com duas e três companhias. Só as Lajes do Pico, à sua parte, com mais de meia dúzia de sociedades e alcunhas de guerra: “Toucinhos” e “Frades”, “Judeus” e “Senhoras”, “Serrafilhas”, “Queijeiros” e “Misérias”.

Actualmente, as canoas distribuídas pelos clubes navais, só servem para disputar regatas à vela e a remos. E, por enquanto, ainda há quem as tripule, mesmo que sejam meninas, como acontece.

A maioria ou quase totalidade das pessoas desconhece hoje aquilo que foi a caça à baleia. Pois se já são decorridos 27 anos sobre a proibição... (A última baleia foi caçada pelas canoas das Lajes no ano de 1987 !)

Agora outra actividade a substitui: “Ver baleias”, ou, em linguagem inglesa, “Whale Watching”. Mesmo assim há muitos, nacionais e estrangeiros, que se interessam pelo novo desporto, aqui introduzido pelo francês Serge Viallelle, pioneiro da nova actividade nos Açores e que acaba de ser galardoado com medalha de Mérito Turístico, Grau de Prata.

É pena que as Bienais da Baleia não hajam continuado. Uma iniciativa interessante que, em duas épocas, trouxe a esta Vila e Ilha, vários cientistas interessados no estudo da baleação e que se ficou a dever ao antigo Secretário Regional da Economia, o Professor Universitário, Doutor Duarte Ponte.

Espero que venham a continuar.


Vila das Lajes,

16 de Outº de 2010

Ermelindo Ávila

BUSTOS E MONUMENTOS - 6

29 - Os Pastores de São João – Na Monografia que publicou no Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Vol.1-nº.2) o Dr. Manuel Alexandre Madruga refere “A indústria do queijo, originária da própria freguesia, pois foi ali que se fabricou o primeiro queijo do Pico...” A indústria conseguiu grande fama, quer nas ilhas quer no continente, “Ainda hoje se fabrica queijo em S, João, como há uma centena de anos, utilizando-se os processos que permitiram a sua grande fama“, como diz o mesmo autor. O Decreto nº 19:669, de 30 de Abril de 1931, publicado quando era Ministro da Agricultura o picoense, Coronel Henrique Linhares de Lima. estipulou que “Á indústria caseira da Ilha do Pico é permitido o fabrico de queijo completo, tipo Pico (S. João). Não resultou a execução do decreto governamental. Os Serviços respectivos tornaram-se em meros fiscais, obrigando os produtores a cumprir exigências por vezes inaceitáveis. Mas o queijo de S. João não deixou de fabricar-se em moldes caseiros e a ter procura dos consumidores. Os pastores continuaram a palmilhar veredas e atalhos para recolher, todas as manhãs, lá nas pastagens do alto, o leite das suas vacas. Tal como o baleeiro picoense, o pastor é quase um herói, mormente nos tempos que decorrem, em que as dificuldades são enormes. Bem mereceram o monumento – o pastor e a pastora, sua companheira, que a respectiva Junta de Freguesia lhe dedicou.

30 - Monumento ao Baleeiro de S. Roque. Na plataforma em frente à antiga fábrica da baleia das Armações Reunidas, hoje transformada em Museu da Indústria Baleeira, a Câmara Municipal mandou colocar um monumento dedicado Baleeiro. Foi inaugurado no dia 27 de Julho de 2000, sendo presidente da Câmara o Engenheiro Manuel Joaquim Neves da Costa, conforme a placa no mesmo colocada. O Monumento representa uma canoa com um trancador empunhando um arpão em gesto de o enviar a um cachalote. Uma homenagem bastante expressiva àqueles que, durante tantas dezenas de anos, se dedicaram à arriscada faina.

31- Homenagem aos primeiros povoadores - Em S. Miguel Arcanjo ergue-se um monumento,”Uma cruz, lavrada em escórias basálticas assinalando no sopé desta extinta cratera vulcânica, (o Cabeço de S. Miguel Arcanjo), a vivência dos seus antepassados”. Nele foi descerrada uma placa em bronze que diz: “Homenagem da Câmara Municipal de S. Roque do Pico aos Primeiros Povoadores que no século XV fixaram residência no Cabeço de S. Miguel Arcanjo - 21 de Setembro de 1992.

32 - Monumento aos militares que lutaram no Ultramar – Em quase todas as freguesias da Ilha vem sendo colocados, todos os anos, ora numa ora noutra, placas com os nomes dos militares que serviram na guerra colonial. Homenagens merecidas a quem perdeu a vida ou a desgastou ao serviço de Portugal, nas antigas Províncias Ultramarinas. A Ilha conta umas boas centenas de jovens que por lá andaram. Infelizmente nem todos voltaram. A pedra - monumento erigido no largo em frente à Matriz desta vila, tem a seguinte inscrição: “Homenagem às vítimas da guerra colonial e aos cidadãos deste concelho que nela perderam a vida:

Gabriel Pereira Bagaço – 29 - 07 - 1968 – Guiné

José Leal Goulart – 2 - 04 - 1971 - Angola

António Alberto Machado Garcia - 14 – 07 – 1970 – Angola

José Cardoso Carias - 28- 09 – 1962 - Angola

José Vieira da Silva Cardoso - 17 – l2 – 1965 – Moçambique

Gabriel Jorge da Silva - 11 – 03 – 1969 – Moçambique

Silvino Barbosa Amaral - 15 . 11- l973 – Moçambique.”

Impossível é outras referir, por se tornar extenso em demasia esta nota de homenagem que, afinal, a todos deseja envolver com respeito e gratidão.


Vila das Lajes,

29 – Setº - 2010

Ermelindo Ávila


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - V

25 – Estátua de D. Dinis - Para comemorar o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal, foi destinada ao Pico a estátua de D. Dinis, oferecida pela Câmara Municipal de Lisboa. Discutiu-se ao tempo onde a mesma deveria ser colocada e a grande maioria opinava pelo concelho das Lajes visto o primeiro povoador se ter fixado na zona que hoje é a Vila das Lajes. e onde existe ainda a primeira igreja dedicada a S. Pedro. Actualmente é, como sempre foi, o mais antigo templo da Ilha. O Coronel Linhares de Lima, vice-presidente da Comissão Nacional das Comemorações, não aceitou as razões que lhe foram apresentadas e determinou que a estátua ficasse na sua terra natal. E assim aconteceu. À cerimónia da inauguração da Estátua de D. Dinis, junto ao antigo porto do Cais do Pico, que teve lugar no dia 16 de Agosto de 1940 presidiu o Governador do Distrito, tendo a presença de todas as autoridades concelhias, além de numeroso público.

26 - Cruzeiro da Independência e Restauração - Uma vez que a estátua de Dom Dinis, destinada à Ilha do Pico, fora colocada em S. Roque, o Presidente da Comissão Distrital das Comemorações atribuiu ao Município Lajense um subsídio para a construção de um cruzeiro - monumento para assinalar na vila das Lajes o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal. O projecto foi de António Garcia, ao tempo desenhador da Junta Autónoma das Estradas, que fazia parte do departamento de fiscalização da estrada Lajes - Piedade, em construção. A obra de pedreiro foi dirigida pelo hábil Mestre Manuel Macedo Bettencourt e executada pelos pedreiros da sua Companhia. A inauguração realizou-se no dia 1 de Dezembro de 1940, e, numa das faces do cunhal, foi colocada uma lápide em mármore com a indicação do acontecimento; placa que foi retirada há poucos anos, sem qualquer explicação pública. Todavia o Cruzeiro, uma obra grandiosa, continua no largo principal da Vila a assinalar o faustoso acontecimento.

27 - Padrão Henriquino - Em 1960 Portugal celebrou o V centenário da Morte do Infante de Sagres. O acontecimento revestiu-se de grandes solenidades pelo Continente e Ilhas. O ex-distrito da Horta marcou pelos actos oficiais que realizou para recordar D. Henrique, aquele que promoveu de forma assombrosa o descobrimento e povoamento destas ilhas. O concelho das Lajes do Pico assinalou não só o V Centenário do Falecimento de Dom Henrique como associou ainda o V. Centenário do povoamento da Ilha, promovendo uma sessão solene e a inauguração dum monumento, (embora de contextura algo diferente e um pouco deslocado do primitivo local), ao lado da Maré, frente ao penedo negro onde desembarcou o primeiro povoador, Fernão Alvares Evangelho. O Padrão lá está, no que hoje é denominado Largo de S. Pedro, pois ao lado fica a primitiva Igreja, dedicada ao Apóstolo que dera o nome ao primeiro Pároco, Frei Pedro Gigante. No topo do monumento duas datas existem: l460 – 1960. Na ocasião da inauguração o orador de então afirmou: “Este padrão...não constitui um monumento qualquer a embelezar o local. Na sua matéria bruta encerra o sentimentos patriótico de todos os picoenses, homenageando a memoria do Infante, cujo centenário a Nação entusiasticamente vem de comemorar: e assinalando o local aonde aportou o primeiro povoador. Igualmente presta homenagem ao sacrifício, valentia e heroicidade daqueles que, num esforço assombroso, desbravaram a terra, levantaram as habitações, povoaram a ilha e a integraram nos bens do Reino de Portugal”.

28 - Monumento aos Baleeiros – Trata-se de um monumento em homenagem aos baleeiros de toda a Ilha. Aqueles que praticaram a actividade, a partir da época de cinquenta, do século passado, têm seus nomes gravados nas placas de mármore que cobrem o monumento, obra do artista Pedro Cabrita dos Reis, de renome internacional. A inauguração oficial teve lugar no dia 28 de Agosto de 2001, integrada na ”Semana dos Baleeiros” e foi bastante concorrida. A extensa placa do cais exterior do porto das Lajes, onde foi implantado o monumento, encontrava-se repleta de assistentes e de antigos baleeiros. Nas duas faces do Monumento estão gravados os nomes dos baleeiros e a denominação das armações respectivas, os nomes dos construtores e dos botes e lanchas de reboque que construíram e, numa das faces do pórtico, encontra-se a seguinte inscrição: Sendo impossível reunir todos os nomes daqueles que, durante mais de um século, fizeram da baleação a sua actividade principal, inscrevem-se neste monumento os nomes dos homens, Sociedades e património que constam dos registos oficiais a partir do ano de 1954. Uma homenagem justíssima àqueles que, durante mais de um século, tanto contribuíram com os seus trabalhos e canseiras, e alguns com as próprias vidas, para o desenvolvimento de uma actividade industrial que muito beneficiou a economia local.


Vila das Lajes,

29 – Setº - 2010

Ermelindo Ávila


terça-feira, 12 de outubro de 2010

CRÓNICAS

Escrever uma crónica é algo difícil. Tem de saber-se trabalhar, com correcção, o assunto escolhido. Mas, quando não há assunto?...

A crónica pode considerar-se um escrito simples e narrativo mas também pode ser destinado ao tratamento adequado de um assunto que surja e que mereça uma análise apropriada ou até mesmo narrar, em jeito de reportagem, um acontecimento que haja ocorrido.

São tão diversos os temas que podem ser tratados numa crónica!...

Entendo que, além disso, a crónica deve ser feita num estilo simples e em linguagem acessível. Mormente quando se trate de crónica a ocupar, em tempo e dia certo, um espaço do jornal ou de um programa radiofónico. Não deve esquecer-se que os programas da rádio ou da TV são escutados muitas vezes e/ou vistos por muitas pessoas que pouco sabem ler ou mesmo são quase analfabetas que, infelizmente, ainda as há por esse mundo de Deus. Como é natural, esses radiouvintes não entendem, muitas vezes, linguagem rebuscada e, como tal, inacessível à maioria das pessoas.

Os dicionaristas dão à crónica diversos significados. José Pedro Machado, entre outros, diz no seu dicionário que a crónica é a “Narração histórica, redigida segundo a ordem do tempo em que se deram os factos.” Por outro lado o Dicionário Houaiss, além dessa definição, muitas outras trás, entre elas, diz que a crónica “Originalmente se limitava a relatos verídicos e nobres, entretanto grandes escritores a partir do século XIX passaram a cultivá-la, reflectindo com argúcia e oportunidade a vida social, política, os costumes, o quotidiano, etc. Do seu tempo, em livros, jornais e folhetins.”

E não trago aqui o grande cronista Fernão Lopes, autor da Crónica Geral do reino de Portugal, narrador e escritor primoroso, fundador da grande prosa portuguesa, no dizer de um seu biógrafo.

Saber escrever em bom português não carece de ir aos dicionários rebuscar termos impopulares. Basta fazer uso de linguagem correntia, e num estilo perfeito, sem que a gramática seja ignorada mas, antes, tratada com respeito e dignidade.

Não deve ignorar-se que muitos há, mesmo alguns que não foram além da Instrução Primária ou Ensino Básico, que até sabem redigir com certa elegância e propriedade de termos.

No entanto, e isso também acontece quantas vezes, o escriba, irreflectidamente com certeza, “dá ponta – pés” na gramática sem que de tal se aperceba !

Que se saiba, ao menos, tratar bem o “sujeito”, o “predicado” e os “complementos”, colocando-os nos seus devidos lugares e nos tempos certos, é o que importa.

A crónica está no fim. Não era aquela que o ou os leitores naturalmente esperavam. É a que foi possível neste momento. Não se destina a escritores eruditos, que felizmente alguns são, mas aos que se entretêm com coisas de menos importância, rabiscadas por outros que simples são como eles.




Vila das Lajes,

9 de Outubro de 2010.

Ermelindo Ávila

domingo, 10 de outubro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - 4

20 - Pe. José Amaral Mendonça. Natural do Cabeço Chão - Bandeiras, onde nasceu a 16 de Abril de 1884, paroquiou na Luz, Graciosa, em Santa Bárbara das Ribeiras e, finalmente, em S. Luzia do Pico, donde se retirou por motivo de doença, para a freguesia natal, falecendo em 29 de Setembro de 1962. “Pobre e humilde, sem nunca ter tido assento em pólos de destaque, civis ou eclesiásticos – vivendo horas dramáticas com os seus paroquianos soube sempre estar ao lado deles na compreensão, ampará-los nas frustrações, lutando e vencendo ao travar a dura batalha pela promoção dos seus valores éticos e sociais.” Calejou as mãos nos trabalhos de pedreiro, ajudando os paroquianos a restaurar as suas casas ou a construir novas para os casais que se formavam (Pe. José Idalmiro A. Ferreira, in “Esta Terra Esta Gente!”). Razões de sobra teve a Câmara Municipal de S. Roque em colocar no Largo entre à Igreja de S. Luzia uma placa assinalando nome de tão prestigiosa personalidade: “Largo Pe. José Medeiros Mendonça – 450º Aniversário do Concelho de S. Roque do Pico – 29-6-1992”. Na mesma data outra placa foi inaugurada no muro do adro da Igreja onde se lê: “Passou fazendo o Bem. Ao Pe. José Medeiros Mendonça, Pároco 1920 – 1960 – Memória do seu Povo – 29-6-1992” .

21 – João Bento de Lima. Foi um dos políticos mais sagazes que houve na Ilha do Pico, antes do 28 de Maio. Funcionário Municipal , donde retirava a subsistência, era o chefe político do concelho que mais adeptos contava, pela maneira como a todos tratava e servia. Toda a ilha conhecia o sr. João Bento de Lima e a ele recorria, principalmente quando tinha qualquer causa pendente no tribunal da comarca. Por essa razão a Câmara Municipal colocou à entrada do adro que dá acesso ao convento franciscano do Cais do Pico, onde então funcionavam o Tribunal, a Câmara Municipal e as demais repartições públicas, um plinto com o medalhão de João Bento de Lima, em homenagem ao prestante cidadão. A placa diz: “João Bento de Lima – Homenagem dos Picoenses – Nasceu a 13-12–1859. Faleceu a 11–7-1917 – Inaugurada a 1- 1- 1933”.

22Dr. Manuel José da Silva - Nascido nos Estados Unidos da América do Norte, onde estavam imigrados os Pais, no ano de 1892, tinha ele dois anos quando veio com os pais para S. Miguel Arcanjo, da freguesia e concelho de S. Roque do Pico, donde eram naturais os progenitores. Feita a escola primária a seguir frequentou os liceus da Horta e de Ponta Delgada. Concluído o curso liceal, matriculou-se na faculdade de medicina na Universidade de Coimbra, frequentando Simultaneamente os cursos de Filosofia e de Direito. (Esta Terra –Esta Gente). Ainda não havia concluído o curso universitário e é convidado para Deputado por Oliveira de Azeméis. Nunca mais abandonou a Política. Foi incansável na defesa dos interesses das ilhas açorianas, tendo conseguido alguns serviços e melhoramentos, muito embora fosse curto o seu mandato, pois, com a Revolução de 28 de Maio, teve de afastar-se da política, fixando residência na Horta, depois de ter passado, com outros companheiros faialenses, alguns meses como deportado em Angra. Faleceu, de doença que não perdoa, na sua casa da Horta a 7 de Maio de 1935. Em 21 de Setembro de 1993 a população de São Miguel Arcanjo prestou-lhe condigna homenagem, descerrando, em pedestal de basalto, uma placa em bronze, onde se lê: Homenagem ao seu muito ilustre conterrâneo, o Doutor Manuel José da Silva. Do povo de São Miguel Arcanjo. Á cerimónia da inauguração, além de muitos picoenses, compareceu a Família do homenageado.

23Dr. José Machado Serpa - Nasceu na freguesia da Prainha do Norte a 9 de Março de 1864 e faleceu na Horta, onde residia, a 20 de Dezembro de 1945, aos 81 anos de idade. Conheci-o e com ele estive algumas vezes na Redacção do “Correio da Horta”, onde ia muitas manhãs para se encontrar com o jornalista Raul Xavier. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e iniciou a sua actividade como subdelegado do Procurador da Republica no Tribunal da Boa Hora. Depois foi Conservador do Registo Predial na Ribeira Grande. Informa o escritor Manuel Greaves ( “In Memoriam “ -1948): Em 1888 iniciou e redigiu um semanário político, Folha Insulana . Em Coimbra, em 1886, publicou um opúsculo sobre A Indústria piscatória nas ilhas do Faial e Pico. Quando estava de Conservador do Registo Predial da Ribeira Grande, publicou Monografia do concelho do Nordeste. Quando faleceu estava a publicar em jornais da terra um estudo – A fala das nossas gentes. Este trabalho já se encontra publicado em livro. E diz ainda Manuel Greaves: “Machado Serpa foi uma das mais distintas figuras que passou pelos Açores.” Foi eleito Senador e deixou de exercer as funções judiciais. Com a implantação da República foi nomeado Governador Civil da Horta. Foi uma Figura notável e um humorista de grande verve, criando simpatia por onde passava. Defendeu sempre os interesses do Distrito com grande paixão. Deixou a política com o 28 de Maio e passou a residir na sua casa da Horta, conservando porém todos os haveres herdados dos Pais. Na casa onde nasceu, na Prainha, foi descerrada uma placa, em bronze, que lá se conserva, e que diz: Nesta casa nasceu a 9-3-1864 o ilustre Senador e Magistrado Dr. José Machado Serpa – Homenagem da Prainha do Norte . 15 de Agosto de 1988.


27-09-2010

Ermelindo Ávila


sábado, 2 de outubro de 2010

OUTONO

O mês que antecede o Inverno ele aí está com o seu clima ameno, a permitir ainda os derradeiros banhos de mar. O Sol, liberto de nuvens, continua a aquecer os campos e permite o caminhar despreocupado pelas ruas e vielas em horas de lazer ou pelos atalhos e veredas quando se tem de ir para os campos, pois está-se na época das colheitas: dos milhos e das uvas. Dos cereais já pouco se fala, pois os terrenos destinados a essa cultura estão ocupados por milhos para o sustento dos gados. Não se fala, pois, em colheitas, que poucas se fazem, mas nas silagens que hão-de alimentar os bois e as vacas durante o inverno. É ver as centenas de molhos de milho verde enfardados em sacos plásticos, uns brancos outros pretos, aos cantos dos serrados, para serem utilizados na época das chuvas.

O ano foi muito triste para a produção de uvas. A quebra, como diz o povo, foi enorme. Prédios houve que não deram um cacho, outros uns reduzidos cestos. Quando se classificam certos terrenos de património mundial eles são um testemunho amargo da carestia que vai por aí.

Não só os prédios de semeadura e vinha estão quase improdutivos. As pastagens não apresentam melhores perspectivas. É espraiar a vista por esses montes e planícies do alto da Ilha para se ficar com uma visão triste do seu aspecto desolador. As zonas verdes, onde vicejavam as ervagens que alimentavam as manadas que por lá pastavam, e muitas lá continuam, apresentam-se praticamente secas, dando-nos a ilusão de serem cearas de trigo maduro.

Num estudo do antigo Ministério da Agricultura, de 1932, pode ler-se: “ Na altitude de 700 a 800 metros principia a região das pastagens –os baldios – como lá dizem, zona de terrenos riquíssimos em que, principalmente durante o verão, é apascentada a grande parte do gado da ilha”.

Infelizmente a lavoura, outrora a riqueza da ilha, está em crise. Anuncia-se a abolição das quotas leiteiras, um sistema que inicialmente foi contestado mas que, estabilizado, estava a dar, ao que se julga, resultados vantajosos. E assim sendo, a produção de lacticínios volta a entrar em crise.

A Ilha do Pico não pode continuar a viver horas incertas e amargas como aquelas que suportou em anos passados.

A exportação de lacticínios nunca se operou com segurança. De inicio o queijo era produzido pelo próprio lavrador e criou fama. Havia quem o recebia ainda fresco e o preparava para, depois, proceder à sua venda. E que excelente era!

Depois vieram as fábricas que produziam, não o queijo do Pico mas um queijo tipo S. Jorge, como era conhecido. Mas, mesmo assim, nunca pôde competir com o produzido naquela ilha. Mais tarde apareceu um industrial continental que tomou conta da produção de lacticínios da ilha do Pico – queijo e manteiga – mas também desistiu, nem sabemos a razão.

Entretanto apareceram, há pouco mais de uma dezena de anos, as chamadas “queijarias”, ou seja fabriquetas familiares, ao que julgo, para dar execução ao Despacho do Secretário da Agricultura e Pescas (de 11-10-1996), que novamente regulamentou a Denominação de origem “Queijo do Pico”. Parece que estão todas encerradas. E assim vai correndo.

O sector dos lacticínios nesta ilha, onde sempre teve fama o “Queijo do Pico “ como diz o citado estudo de 1932: “No Pico, particularmente nas freguesias das Lajes e das Ribeiras, fabrica-se também um tipo sui generis de queijo mole, conhecido por isso sob a designação de queijo do Pico, com formato de 10 centímetros de diâmetro e 3 de altura, com cerca de meio quilograma, o qual lembra o Camembert no paladar. - Produto exclusivo da industria doméstica, largamente utilizado e muito apreciado em todas as ilhas, susceptível de maior consumo, este queijo é comprado fresco pelos negociantes da freguesia de S. João, que lhe fazem a cura e o expor sobretudo para o Faial, Terceira e S. Miguel”.

Todavia o seu fabrico já fora regulado pelo Decreto nº 19:669, de 30 de Abril de 1931, quando era Ministro da Agricultura o picoense, Coronel Henrique Linhares de Lima, o qual estabelece no seu art.º. 4º: “À indústria caseira da ilha do Pico é permitido o fabrico de queijo completo, tipo Pico (S. João)”.


Vila das Lajes,

26 -09-2010

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - 3

Nos anteriores artigos referi os bustos que na Ilha do Pico assinalam personalidades picoenses. Além desses verdadeiros monumentos existem algumas placas com a mesma finalidade. Aqui trago aquelas que são do meu conhecimento. Se outras houver, agradeço que me informem se possível, pois não desejo excluir ninguém desta modesta homenagem que aqui presto a gente da minha terra que se distinguiram em diversas áreas.

16 - Dimas José Alves Soares. Artesão de excelente qualidade artística, trabalhava sobretudo em dente e osso de baleia, produzindo peças de inestimável valor e arte. Além disso construía miniaturas de botes baleeiros, de grande qualidade artística, pois tudo era feito com exigente medida e perfeita imitação das peças que lhe serviam de modelo. Afinal, uma arte que herdou do tio Manuel Vieira Soares Júnior, seu mestre e a quem a Câmara Municipal, após o seu falecimento, consagrou o seu nome na rua onde existe a casa onde nasceu, viveu e faleceu. O Dimas era igualmente um verdadeiro artista principalmente na arte do scrimschaw, muito admirado por nacionais e estrangeiros. Para lhe prestar a devida homenagem a Câmara Municipal, em solene acto, descerrou uma lápide em bronze na casa onde nasceu e viveu, na rua Dom João Paulino, desta vila.

17 - Pe. Inácio Coelho. Nasceu em Santo António do Pico em 1888. Iniciou a sua actividade sacerdotal como prefeito do Seminário e, depois, foi colocado como Pároco da freguesia de São João em 1921, onde paroquiou durante trinta e oito anos. Encontrando-se sem família que o amparasse na velhice resolveu ir para junto dos familiares residentes na Califórnia, para onde emigrou em 1959. Naquele Estado prestou serviço como assistente na paróquia de Nossa Senhora de Fátima de Laton, diocese de Fresno, faleceu em Hayward, em 1987 com 98 anos de idade. São João não mais o esqueceu. Sempre dedicado à sua igreja, procurava conduzir os seus paroquianos pelos caminhos da moral e da verdadeira religião católica, promovendo com brilho as respectivas festividades, organizando a catequese com o maior cuidado e esmero e prestando, além disso, uma assistência social aos seus paroquianos, que jamais o esqueceram. E tanto assim que no dia 7 de Outubro de 2007 descerraram solenemente na casa do passal onde sempre residiu, uma lápide em bronze, recordando o “generoso amigo e dedicado enfermeiro dos paroquianos e o fomentador de actividades culturais e comunitárias” como então foi afirmado.

18- Pe. Manuel Bernardo Maciel. Um dos mais notáveis poetas açorianos e nacionais, o Pe. Bernardo Maciel nasceu na freguesia de S. João em 4 de Junho de 1874 e faleceu na mesma freguesia, depois de grande sofrimento, em 22 de Março de 1917, contando portanto 43 anos, incompletos. Um seu biógrafo escreve: “Nasceu poeta, isto é, como lemos algures: -tinha na alma a infinita sede da Felicidade, a infinita paixão da Beleza e a infinita sensibilidade da Dor.” E escreve o Dr. Ruy Galvão de Carvalho, - é a este crítico literário que estou a referir – “Alma sensível à Beleza e à Arte, o seu destino foi por isso o de um infeliz, o de um incompreendido, o de um verdadeiro “vencido da vida” – como alguém disse” – Orador de raça, possuía uma voz ‘bem timbrada’ insinuante, agradável.” Em vida publicou somente “Livro de Alma” mas deixou alguns mais prontos para serem publicados. Em 4 de Junho de 1999 foi descerrada, pelo Presidente do Município Lajense, Eng.º Cláudio Lopes, uma lápide em bronze na casa onde nasceu o Pe. Maciel, homenagem merecida a tão distinta personalidade, que jamais será esquecida.

19 - Pe. José Rodrigues Alberto – Natural da freguesia de Santo António, concelho de São Roque. Paroquiou na terra natal. “A reconstrução e ampliação da ermida foi unicamente fruto da sua persistência. Tornou a ermida sede de um curato e, por isso mesmo, teve de enfrentar as insultuosas reclamações da Junta de Paróquia quando, para ele, foram transferidas as festividades da Trindade, baptismos e casamentos, desde sempre realizados na paroquial.” Além disso empregou os maiores esforços pela criação de uma escola primária para os dois sexos. A quando dos incidentes de Santa Luzia, que levaram ao afastamento do pároco próprio, o Pe. Alberto enfrentou as maiores dificuldades quando assumiu a paroquiação daquela freguesia. Dedicado à freguesia da sua naturalidade, apesar das dificuldades monetárias que existiam, conseguiu tudo fazer pelo bem estar material e social dos seus paroquianos. A ele se ficou a dever o facto do órgão portátil do século XVII, do antigo convento franciscano “primeiro das Lajes e depois de São Roque”, transferido por despacho de 18 de Maio de 1850 do Governador Civil da Horta, para a igreja de Igreja de Santo António, ficando “a dever-se ao zeloso sacerdote Padre José Rodrigues Alberto o facto de este referido órgão, à semelhança de tantos outros, não ter sido desmantelado”. A quando da inauguração do Centro Social, instalado na antiga Casa do Povo, e que recebeu o nome de Pe. José Rodrigues Alberto, a Câmara Municipal inscreveu no mesmo: “Ermida de Santa Ana – Centro Social Pe. José Rodrigues Alberto – 16-07-1999. (Pe. José Idalmiro, in “Notas Históricas - Santo António do Pico”).


Vila das Lajes,

25-09-2010

Ermelindo Ávila