sábado, 28 de julho de 2012

EMBELEZAMENTO DA VILA


 
          Vão caminhando regularmente os trabalhos de alargamento do muro de defesa da vila, junto ao antigo campo de jogos. Não são muitos os trabalhadores que a empresa empreiteira ali tem mas, mesmo assim, não vale a pena ficarmos na apreciação do caso, pois desconhecemos as clausulas contratuais estabelecidas entre o Município e o empreiteiro.
          Julgo que a obra tem garantida a ajuda financeira da Comunidade Europeia e, consequentemente, é para ir até ao fim.
          Com a execução daquela obra fica a parte marítima da vila um tanto embelezada. Mas importa promover um arranjo conveniente junto da escola primária, abrindo-se um pequeno arruamento da rua Família Xavier até à rua P. Xavier Madruga, o que virá a permitir a construção de alguns prédios urbanos, além de um conveniente traçado urbano. Pena é que fossem permitidas construções urbanas que agora impedem a ligação da rua do Saco e rua Nova (Rua D. João Paulino) com o actual largo Edmundo Machado Ávila.
          Mas a rua Direita (Capitão-Mór Garcia Gonçalves Madruga) também carece que sobre ela se lhe lance um “olhar de misericórdia. Alguns prédios estão em ruína total. E eles têm a sua história. Um deles é o prédio mais antigo da vila. No princípio do século XVIII já residia nele uma Família que só o deixou de habitar a meados do século passado. Consequentemente tem mais de trezentos anos. Pertence ao património histórico da vila e merece um tratamento condizente com a sua  ancestralidade.
          Um pouco a seguir encontram-se as ruínas, assim lhe pudemos chamar, da antiga “Pensão Velha”. Perdeu a torre e o tecto há poucos anos. O frontispício, ou alçado principal, ainda conserva um aspecto razoável.  Impõe-se o seu restauro. Julgo que a Câmara, utilizando os poderes que lhe confere (ia) a Lei, podia tomar as necessárias providências para acabar com aquela triste situação.     
Neste semanário foi publicado, em 10 de Maio do corrente ano o Edital n.º 30/2012, da Câmara Municipal deste concelho anunciando o “Concurso público para a alienação do imóvel globalmente identificado como a “Casa Mariquinhas Tomé”. As propostas dos possíveis interessados deveriam ser entregues no Município até ao dia 28 de Junho. Não sei nem procurei saber se houve ou não concorrentes. Se os houve, folgo com isso pois será uma das soluções para tão gritante problema urbano da Vila. Se os não houve, o assunto é de grande melindre e só a Câmara Municipal pode, e deve, encontrar  os meios necessários para que aquela monstruosidade se transforme num prédio elegante, útil e a servir  a vila com dignidade. Não deve ser demolido, mas restaurado. Foi construído nos finais do séculos XVIII, princípios do século XIX por João Pereira de Lacerda e, depois, adquirido por  José Joaquim Machado, pai da Maricas do Tomé (Tomé, do marido Tomé Vieira Alves), que já nela vivia em 1888.
          E tão “rica” de cantaria é que perdeu há anos o tecto, mas as paredes exteriores e os alçados interiores conservam-se inalteráveis. E para o Leste não lhe falta espaço para uma possível ampliação.
          Para alugar a casa restaurada não faltariam, com certeza, interessados.
          A antiga “Casa da Feliciana”, a meio da rua Machado Serpa, fazendo canto com a rua de Olivença, está em ruínas. O lado norte perdeu o tecto há poucos anos e a parede do Sul há muito que está em ruínas. Impõe-se o apeamento e o arranjo do espaço onde se encontra  um dos “Passos” que ainda existem na vila, utilizados durante a procissão anual do Senhor dos Passos.  Tal como na “Pensão Velha”, a Câmara também pode aqui usar dos meios legais para  exigir o melhoramento que se impõe.
          O taipal que “esconde” a “Casa da Maricas do Tomé”, não pode nem deve continuar. Demais, aquele taipal só embaraça o trânsito, permitindo o estabelecimento de veículos em “espinha”, uma situação incompreensível na época que decorre.         
          A vila merece outra dignidade. Não foi aqui que o Pico começou?

Vila das Lajes,
16-Julho-2912
Ermelindo Ávila
        

domingo, 22 de julho de 2012

Quando é homenageada a memória do Pe. António Cardoso ?




Há muito que trago em mente a figura do Pe. António Cardoso, antigo condiscípulo e pároco e ouvidor que foi da Matriz da Santíssima Trindade desta vila.
        Chegou o momento de quebrar o silêncio. E recordo-o aqui como acto de justiça que merece a sua memória.
        O Pe. António Cardoso era natural da freguesia da Criação Velha, onde nasceu a 7 de Julho de 1919. Desta ilha, mas criança passou a residir na Matriz da Horta, para onde mudou a residência e a família.
        Frequentou o Seminário de Angra e foi ordenado sacerdote em 16 de Junho de 1940. Celebrou a primeira Missa na Matriz da Horta e aí ficou de coadjutor de Mons. José Pereira da Silva até à nomeação para pároco da freguesia de S. Caetano, desta ilha.
        Em Junho de 1950 foi nomeado Pároco da Matriz das Lajes e ouvidor do concelho. Aqui vem encontrar as obras da nova Matriz paradas desde 1910.
“O Dever”, em ocasiões várias, mas principalmente depois da visita do Subsecretário das Obras Públicas, em Setembro de 1945, não mais deixa de chamar a atenção dos lajenses para a necessidade da conclusão das obras.
É reorganizada a Comissão dos Bens Culturais, constituída anos antes pelo falecido Pe. José Vieira Soares. E a obra recomeçou em 1954. O P. António Cardoso  não mais descansou.
        Em 28 Maio de 1967 (há 45 anos), era inaugurada a nova Matriz  e benzida pelo Bispo da Diocese D. Manuel Afonso de Carvalho. Foi sagrada pelo Bispo Dom Arquimínio Rodrigues da Costa, em 26 de Agosto de 1983. Era então pároco o Dr. António Rogério Gomes.
        Na Matriz das Lajes existe, desde 1882, a veneranda imagem de Nossa Senhora de Lourdes, de grande devoção não somente dos lajenses mas de uma boa parte dos picoenses e dos nossos conterrâneos da Diáspora. Foi por isso que, a quando da sagração, foi solicitada, ao Bispo diocesano a declaração de Santuário da Virgem, que é na realidade, para a Matriz das Lajes, pedido que aquele Prelado (já não era D. Manuel) rejeitou sem que apresentasse quaisquer razões...
O custo total das obras, na segunda fase de conclusão, foi de 1.205.689$45. Em 1970, era pago o empréstimo de 20.000$00, que havia sido contraído para liquidação total das despesas da obra, ficando tudo saldado.
        Em Dezembro de 1969, o Pe. Cardoso adquiriu para a Paróquia, com autorização do Bispo D. Manuel, a propriedade de “O Dever”, do qual passou a ser director.
Durante a sua estadia na Paróquia é construída a ermida do Coração de Maria, no lugar das Terras, a qual lhe mereceu o mais desvelado cuidado e atenção, embora contasse sempre com um dedicado grupo de paroquianos daquele lugar, que assumiram o financiamento das obras.
        E depois, vê-se quase compelido a deixar a paróquia, sendo nomeado capelão do Hospital de Angra, em 3 de Novembro de 1976 e pároco de São Bento da mesma cidade, em 14 de Dezembro de 1979. Ali faleceu, em 7 de Julho de 1999.
        Nos Estados Unidos da América do Norte, quando qualquer pároco constrói uma igreja recebe de Roma o título de Monsenhor. Por cá não há essa tradição. O titulo de Monsenhor é reservado aos sacerdotes que, normalmente, exercem funções junto da cúria diocesana, pois foram raros os que, não o sendo, receberam essa dignidade.
        O Padre António Cardoso já não pode receber o título de Monsenhor. A sua memória pode, no entanto, ser recordada por qualquer outro meio condigno. Nunca é tarde para se fazer justiça.
        A Igreja Matriz das Lajes tem dois sacerdotes a ela ligados que jamais poderão ser olvidados: o Padre Manuel José Lopes que a iniciou e o Padre António Cardoso que a concluiu, com abnegação e sacrifício. Além do Pe. Francisco Xavier de Azevedo e Castro, vice - vigário e ouvidor do concelho, que foi o autor do magnifico projecto. É um templo majestoso que honra e dignifica a vila das Lajes. Importa que isso não se esqueça.

Vila das Lajes,
7 de Julho de 2012.
Ermelindo Ávila

domingo, 8 de julho de 2012

TRILHOS OU CANADAS



        Foram os caminhos primitivos. Atravessava-se  a ilha, para ir do sul ao norte, pelas veredas, canadas ou trilhos que a “cortavam”, em todos os sentidos.
Para ir para os lados da Fronteira, caminhava-se pelo Caminho dos Ilhéus. “Quem conhece a morosidade ritual das obras públicas, enche-se de pasmo perante a actividade prodigiosa com que o reduzido número dos primeiros povoadores conseguiu, em poucos anos, realizar tal intento, construindo o caminho dos ilhéos que, prolongado, deu a volta completa à ilha. (1)
        “Ernesto Rebello , que visitou a Vila das Lajes, em “Notas Açorianas”, escreve: “Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e requeimada, entremeada aqui e alem por montes de rasteiras  faias, descampados a que se dá o nome de mysterios, por serem estes os sítios por onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do Pico, chegamos afinal, ao cair da noite, à Vila das Lajes.” (2)
        Para se sair da vila, pelo lado norte, seguia-se o caminho dos ilhéus, pelo lado sul a ladeira da Vila e para os terrenos do alto, a canada do Manuel Velho ou a Canada das Cruzes. A canada do Tomé (depois conhecida por canada da Maricas do Tomé) servia para dar acesso aos terrenos das ladeiras dó lado Leste. É pena que estes velhos caminhos não estejam devidamente sinalizados, limpos e iluminados para permitirem o trânsito nocturno.
        Na Ribeira do Meio havia o caminho dos Castanhos e a canada do Touril, para os matos. Na Almagreira  um caminho que atravessava o lugar e, pela canada Ana de Vargas, dava acesso à Silveira, onde havia diversas canadas, entre elas a canada do Ajudante, e o caminho de Baixo. Ainda ali existe o caminho Velho e outros mais. 
A estrada real, entre as Lajes e S. Roque, passando pela Madalena, foi construída na segunda metade do século dezanove. Nas pontes  da Ribeira do Meio estão as datas de 1877 e 1879. Todavia a estrada que liga as Lajes à Piedade e, desta, à Prainha, só foram construídas na década de quarenta do século XX. Até aí continuaram os povos do Sul a trilhar as íngremes ladeiras e inóspitos caminhos de calçada bruta e irregular, que não permitia o trânsito de veículos motorizados. E já no século XX! Quem por ele teve de passar pode dar testemunho do que difícil era o viajar pelo caminho da Ponta.
        O tempo que se levava a subir as ladeiras de tão terrível caminho – ainda me lembro da horrível Ladeira do Barriga e de outras mais, pois também utilizei o antigo caminho, saindo das Lajes ao romper do dia para chegar à Ribeirinha ao anoitecer...
        Felizmente que tudo isso se modificou e, hoje, a ilha é circundada por boa estrada asfaltada, diga-se de passagem. A estrada Lajes - Piedade, quando construída, nos anos quarenta do século XX, foi considerada a melhor dos Açores. Mas já não é.
        Os turistas apreciam hoje as longas caminhadas pelas canadas e caminhos rurais para desfrutar das paisagens, do intenso arvoredo e do ar que se respira. Urge, portanto, ter em condições aceitáveis esses velhos caminhos da ilha, que vários são, para proporcionar àqueles que visitam a ilha, os meios indispensáveis a uma boa estadia. Se é que interessa à ilha o desenvolvimento da nova actividade industrial...
__________________     
1) F.S.Lacerda Machado, “História do Concelho das Lages”, 1236, pág.124.
2) Arquivo dos Açores, Vol.VIII,  1982, pág. 295.
Vila das Lajes.
20-6-2012
Ermelindo Ávila

sábado, 7 de julho de 2012

AO ACASO...



          O Verão chegou. Os campos estão verdejantes. O mar está calmo. As neblinas e as nuvens raramente surgem pois o vento parece que se mudou para outras paragens. É chegado o mês de  Julho, o mês mais calmo do ano. .
       Nas escolas  terminaram as aulas e andam agora os alunos preocupados com os exames que têm de fazer para ser avaliado, bem ou mal, um ano de trabalhos. Uns estão confiantes outros  mostram-se preocupados, pois, durante o tempo de aulas, nem sempre se dedicaram ao estudo das matérias com a devida atenção e preocupação.  
        As “piscinas” marítimas  abriram e algumas delas ostentam, orgulhosamente, as bandeiras que a entidade respectiva lhes distribuiu, depois de analisadas as respectivas águas. E já se vêem por aí os banhistas. Afinal eles nunca faltaram, mesmo na estação invernosa, pois para alguns, é de bom tom afrontar as águas frias do Inverno.
        As chamadas “Festas do Verão” vão aparecendo por essas ilhas  e os emigrantes, para  nelas tomarem parte, já chegam.
         São as Sanjoaninas, na cidade de Angra e em Vila Franca do Campo. Depois, as festas  da cidade da Praia, as Festa do Espírito Santo em Ponta Delgada e, muitas outras sem cunho religioso, como “A Maré de Agosto”, em Santa Maria, “A Semana do Mar” na Horta, o “Cais Agosto”, em S. Roque do Pico, a Festa do Emigrante, na ilha das Flores e tantas  mais nas restantes ilhas.
        Verdade seja que as ditas festas religiosas são as que mais atraem os emigrantes: Santa Maria Madalena, Bom Jesus, S. Roque, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Piedade. Terminada esta, é o regresso, com as saudades mais vivas e o desejo de voltar, o que nem sempre acontece ...
         Os veraneantes, -  propriamente dito, aqueles que, mais do que  assistir às festas, vêm para repousar depois de um ano de trabalho e cuidar de alguns  bens que cá deixaram, e esses já são muito poucos,  ou simplesmente visitar os familiares, e gozar um pouco do ambiente calmo e reconfortante da terra natal, - vão sendo raros. Demais, nos tempos que decorrem, torna-se difícil viajar só ou acompanhado da família, dado o elevado custo das passagens pouco acessível a quem aufere ordenados de baixo montante. E a situação agora mais se agrava com a carestia da vida actual; da crise que atinge todos os lares, quer pelos contínuos despedimentos, quer pelos baixos salários agravados com  o  corte dos subsídios de férias que a visão esclarecida de um governante criou, aqui há anos,  mas que agora a Troika impede de serem abonados.  Um sinal evidente de que a soberania quase não existe e os mandões estrangeiros, pois praticamente são eles que governam a nação,  proíbem a atribuição dos subsídios àqueles que deles bem carecem e a que têm direito.
        Um momento histórico, mas muito aflitivo para os portugueses e, de modo especial, para os açorianos, que continuam a ser portugueses, embora parece, por vezes, pertencerem a uma classe secundária. E neste âmbito, muito havia a dizer, pois, por vezes, as esferas superiores esquecem que aqui também é Portugal!...
        Mas. afinal, valerá a pena  isto escrever?  Há tantos anos que o faço, numa luta inglória, que apetece parar... Demais, um dia isso vai acontecer...

        Vila das Lajes,
        2-Julho-2012
        Ermelindo Ávila.