sábado, 29 de agosto de 2009

A VILA DAS LAJES EM FESTA

Notas do meu cantinho


Mons. António Maria Ferreira, no seu livro “Perfumes de Lourdes” (1892) dedicou um capítulo às Lages do Pico. E escreve: “Foi o primeira logar dos Açores onde Nossa Senhora de Lourdes commeçou a ser publicamente invocada...”(...)“Em occasião aflictiva para os habitantes d’aquela villa, n’um d’esses dias em que o mar enfurecido parece, na phrase dos lagenses, querer engulir a terra, algumas canoas balieiras tripuladas por intrépidos marinheiros demandavam o porto, luctando corajosamente com as ondas enfurecidas; mas para os de terra havia iminente risco de os verem despedaçar-se nas penedias que tornam perigosíssima a entrada no porto”.(...)“...d´envolta com os gritos de angustias que de continuo irrompidam de todos os peitos eram repetidamente ouvidas de diferentes pontos da multidão as exclamações de :- Nossa Senhora de Lourdes livrae-os do perigo – Nossa Senhora de Lourdes salvai-os!.

“O facto é que a tempestade serenou, as embarcações entraram a salvo no porto, e da tripulação ninguem soffreu o menor dano. Desde então a confiança em N. Senhora de Lourdes começou a ganhar os corações entre aquele bom povo...”.

Estava-se em fins de 1882. Não tardou que se abrisse uma subscrição para a compra de uma imagem representativa da Virgem Maria nas suas aparições na cidade dos Pirinéus, França. Organizou-se uma subscrição que foi subscrita por vinte e sete Lajenses, sendo o primeiro o pároco Pe. António Ribeiro Homem da Costa e o vigésimo sétimo o Dr. João Soares de Lacerda. Entre os subscritores está a empresa baleeira de que é director Amaro Adrião de Azevedo e Castro, que também foi um dos subscritores individual. A Imagem chegou às Lajes a 4 de Setembro de 1883, e é da autoria do escultor Nunes, irmão do então Bispo coadjutor de Évora, D. Augusto Eduardo Nunes.

Nesse ano a festa teve lugar no dia 30 de Setembro, precedida de “uma devota novena em que se preparou o espírito dos fieis pela meditação das principais virtudes da Santíssima Virgem e leitura dos portentosos acontecimentos realizados em Lourdes por intervenção de Nossa Senhora”.

Foi uma festa de tamanho luzimento, como ali não se via desde há 60 anos, onde o Deus da Eucaristia se achou exposto em trono deslumbrante à adoração dos fiéis.

A festa terminou com o recolher da Procissão, tendo o Pe. Manuel José Lopes, então vigário, versado o tema: Ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.

Todos os anos se repetem em honra de Nossa Senhora de Lourdes estes festejos que se vão tornando cada vez mais esplêndidos.“

A festa passou a realizar-se na 4ª Dominga de Agosto (presentemente no último domingo), dia em que a igreja celebra o Imaculado Coração de Maria.

E Dom João Paulino, de cujos artigos publicados no antigo “Peregrino de Lourdes”, de Angra, em 1889, respigo estes dados, informa ainda:

Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite dum destes dias, conforme o tempo permite, tem lugar uma bonita iluminação chinesa que atrai concurso imenso de espectadores”.

Em 1884 foram expedidos de Roma dois rescritos, concedendo as seguintes indulgências: 1ª plenária no dia da festa a quem visitar a imagem de Nossa Senhora na sua igreja, desde a véspera até ao sol posto, orando ali pelas intenções do Sumo Pontífice, havendo-se previamente confessado e comungado; 2ª parcial de 100 dias por cada vez que visitar a imagem de Nossa Senhora tendo ao menos o coração contrito; 3ª indulgência de altar privilegiado aplicável aos defuntos por quem se celebrar a santa Missa no altar da Santíssima Virgem.

A vila das Lajes, tal como em 1883 (cento e vinte e seis anos são decorridos) continua a celebrar as festas em honra de Nossa Senhora de Lourdes com toda a pompa e brilhantismo

Vila das Lajes,

21 de Agosto de 2009

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

IMIGRANTES

Nota do meu cantinho

Por estas ilhas todas encontram-se imigrantes, da América ou do Canadá, que aqui vêm pelos mais diversos motivos: visitar os familiares, alguns já idosos, gozar férias e retemperar as forças físicas, ou tomar parte nas festas principais das terras da naturalidade.

Dá gosto vê-los, abraçá-los e sabe-los bem. Trocar com eles alguns minutos de conversa amena, dando-lhes as informações que mais lhes interessam, da terra, das pessoas, etc. E não deixamos de saber dos outros que também partiram há tantos anos e cá não puderem vir pelas mais diversas circunstâncias; e igualmente dos parentes, que muitos são, que daqui saíram um dia para não mais voltar. Normalmente, é assim todos os anos. Até alguns há que, obtida a reforma, por aí aparecem todos os anos.

No entanto, já não aparece o “senhor americano”, que voltava uma vez na vida, trazendo nas malas e baús as mais diversas ofertas para os familiares e amigos. Não faltavam os alvaróses nem as calças de ganga, tecido que agora anda na moda. Essa figura carismática desapareceu.

Presentemente o imigrante retornado ou de visita, - raramente vem para ficar, (embora o número destes seja bastante limitado), - apresenta-se com o mais simples trajar. Já não traz baús nem grandes malas, pois a tarifa que paga ao avião não o permite. para alem das roupas de uso corrente. Nem esbanja dólares, em rodadas de copos de vinho nas tabernas ou cafés. É assim que andam por aí. E é com esse estilo de vida simples que gostamos de os encontrar.

Como disse, são às dezenas ou talvez centenas os imigrantes que topamos por ai todos os anos, em romagem de saudade.

Antes, ou melhor nos finais do século XIX e primeiro quartel do século XX, e já não vou muito mais atrás, - a emigração era praticamente individual. Partiam, às vezes, na própria noite do casamento, assim realizado para que a mulher ficasse a cuidar dos pais, e por lá se andava alguns anos até se conseguir pecúlio para fazer a casa e comprar alguns prédios. Era fácil a compra, porque se estava numa época de crise e as rendas não bastavam aos senhorios, que eram compelidos a vender as propriedades para conseguirem os meios de subsistência. Quantos emigrantes, mesmo ainda nos Estados Unidos, encarregavam os pais ou outros parentes de comprar os prédios do morgado ou do visconde que se encontravam à venda! E foi assim que a propriedade se foi dividindo.

Outros, ao voltar, iam comprando terras de milho e pastagens para constituírem a sua pequena casa agrícola !

Raros eram os que emigraram com todo o agregado familiar. E esses iam para nunca mais voltarem.

Antes, havia sido a emigração para o Brasil. Uma emigração diferente. E até corria entre o povo que quem emigrava para aquele País nunca mais voltava. Era o país dos esquecidos. E, na verdade, quantos por lá ficaram! O Estado de Santa Catarina é um testemunho forte desse caminhar definitivo para outras terras e estranhas gentes.

Todavia diferente foi a emigração para o Canadá, pais quase desconhecido até meados do século XX. Presentemente esse País é o que mais está ligado às ilhas açorianas.

A emigração para o Canadá, inicialmente, só era permitida a jovens saudáveis. Depois passou a ser autorizada aos agregados familiares. E aí deu-se o êxodo quase completo destas terras. Novos e velhos para lá caminharam. Lá se fixaram. Felizmente muitos puderam continuar os estudos secundários, que haviam interrompido , e fazer cursos universitários que lhes têm permitido ocupar cargos de destaque, até o ingresso na Política.

Mas foi pela saída duma grande parte desses emigrantes que as nossas ilhas ficaram mais pobres. Desapareceu de cá a juventude e a população local deixou de renovar-se.

As estatísticas actuais fornecem-nos dados confrangedores, facto que não é mais do que o resultado da emigração. Os benefícios de uns resultam muitas vezes no mal dos outros. No entanto não há que modificar as tendências naturais.

Certo porém que dá gosto receber os nossos imigrantes, embora por escassas semanas e com eles conviver alguns instantes, como foi o caso do almoço comunitário, chamemos-lhe assim, que teve lugar no passado domingo, a favor da igreja paroquial da Calheta de Nesquim, agora em reparação, e no qual se encontravam algumas dezenas de imigrantes, da localidade, que vieram para assistir à Festa do Bom Jesus, que ali se venera. Foi agradável e valeu a pena estar com eles, todos conhecidos e alguns velhos amigos.

Vila das Lajes, 4 de Agosto de 2009

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Supermercado

Notas do meu Cantinho


A vila das Lajes não tem sido muito feliz nas iniciativas que alguns particulares têm tomado. E não é de hoje mas de há tempos atrás. Haja em vista o que aconteceu com o malogrado campo de golfe.

Mais tarde veio o anúncio da construção de um hotel no fim da Silveira que, ao que parece, não passa de mera informação.

Anos decorridos surge a sociedade “Supermercados Ancora Parque, Lda”, com sede em Santa Catarina desta vila. E o que é certo é que a obra iniciou-se, até que um dia, o tecto do edifício em construção desabou, felizmente, sem atingir qualquer pessoa. Mais tarde, a cobertura foi reposta mas, algum tempo depois, as obras foram suspensas.

Parece que, novamente, se reiniciaram os trabalhos. Não confirmo porque por lá não tenho passado. No entanto consta que um dos sócios acaba de informar que o supermercado é para ser construído e instalado, embora tenha sido prejudicado o empreendimento por variadas imposições burocráticas que vêm impossibilitando a sua construção. Nada admira que isso aconteça...

Aqui há uns anos, houve quem pretendesse construir um edifício na zona do parque de campismo, destinado à instalação de um restaurante panorâmico. O local tinha e tem todas as condições para a implantação de um complexo turístico que, aliás, bastante viria valorizar a vila, mas a autorização foi negada mediante pareceres técnicos... Melhor foi que nada ali se fizesse, para o local ser transformado em arrecadação de embarcações...

Não sou um grande defensor da construção de supermercados. Prefiro o comércio tradicional devidamente estruturado e, dentro do meio urbano, quanto possível. Mas, a não ter nada, é preferível que se vá para uma construção moderna, ampla e onde se instale um comércio diversificado e evoluído, evitando-se que os compradores saiam para outras localidades, como parece estar a acontecer, o que só prejudica o concelho, com a fuga dos capitais e o fomento do desemprego.

Um dos actuais sócios dos “Supermercados Ancora Parque Lda.” é o luso-americano Comendador Manuel Eduardo Garcia Vieira que, na Califórnia, se tem notabilizado pelos seus empreendimentos industriais, valendo-lhe, a sua operosa e intensiva actividade, diversas homenagens e agraciamentos.

Na Silveira, subúrbio desta vila e local do seu nascimento, o Comendador Manuel Eduardo Vieira promoveu a realização de uma obra notável, o salão e a sociedade que o mantém e o respectivo complexo desportivo, empreendimento de vulto que muito valorizou a localidade e tem contribuído para a promoção sociocultural da respectiva população.

Tenho informações fidedignas de que o Comendador Manuel Eduardo Garcia Vieira se empenha para que o Supermercado lajense seja construído e entre em actividade com a possível brevidade. Rejubilo com a notícia e espero poder ainda visitar o moderno estabelecimento, naquela desenvolvida zona onde, actualmente, se situam empreendimentos de grande relevo: o quartel dos Bombeiros Voluntários, o complexo desportivo municipal, a padaria e pastelaria Bagaço, a Empresa da Vigo - Lajes, o minimercado Ancora - Parque, o Centro de Artes e de Ciências do Mar (antiga fábrica da baleia SIBIL), e o Posto de Turismo Municipal, no antigo Castelo de Santa Catarina.

E que a emperrante burocracia não mais impeça novos empreendimentos, como, aliás, vem acontecendo em outras terras açorianas, onde o desenvolvimento é notório e benéfico para as respectivas populações.

Vila das Lajes,

3 – 08 – 2009

Ermelindo Ávila

AS FESTAS

A MINHA NOTA

As festas religiosas, por estas bandas, tinham maior expressão no acto litúrgico propriamente dito. Os dias de novena que antecediam o dia da festa, já eram de festa. A parte da tarde desses dias era destinada ao acto religioso, constituído por hinos e ladainhas cantados pela Capela, por vezes com o reforço de músicos de fora da paróquia e não faltava pregação, muitas vezes a cargo de orador convidado. Nos três últimos dias, a novena terminava com Bênção do Santíssimo, solenemente exposto em seu trono.

A parte externa constava tão somente do arraial nocturno normalmente realizado de véspera, com fogo preso e iluminação à “veneziana”. (A electricidade ainda não tinha cá chegado). O tiroteio entre o castelo e o navio, era por vezes empolgante e dava testemunho do valor artístico do pirotécnico. O fogo de artifício era construído na ilha Terceira, depois passou a ser no Cais do Pico, por artistas dali.

Num dos seus escritos, acerca da origem e solenidade da Festa de Nossa Senhora de Lourdes, na vila das Lajes, sua terra natal, que teve início em 1883, refere o então reitor do Seminário de Angra, depois Bispo de Macau, Dr. João Paulino de Azevedo e Castro:

Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite dum desses dias, conforme o tempo o permite, tem lugar uma bonita iluminação chinesa que aqui atrai concurso imenso de espectadores”. (Do artigo Incremento da devoção publicado no “Peregrino de Lourdes” de 27 de Junho de 1889, decorridos que são 120 anos!)

Pelos anos fora era esse como que o figurino das festas religiosas principais da Ilha. Depois, com a criação das Filarmónicas, os arraiais nocturnos passaram a ser constituídos por concertos musicais, para os quais, aqueles agrupamentos musicais se preparavam com os seus melhores reportórios. E que aplaudidos eram pelas centenas de espectadores!

A partir do início da última metade do século passado, tudo se modificou. Nasceram as “Semanas de Festas”. E, embora se mantenham os arraiais nocturnos e os concertos das filarmónicas locais, mais interessam os modernos grupos de música pop, contratados no continente ou em outras ilhas e algumas vezes do estrangeiro. Com tais festejos parece haver diminuído o interesse das populações, principalmente da juventude, pelas solenidades religiosas, embora ainda se mantenha o novenário e a liturgia solene do próprio dia.

É o caso da Festa de Santa Maria Madalena, do Bom Jesus, em São Mateus, Calheta de Nesquim e Criação Velha, de São Roque, na Matriz do titular, e de Nossa Senhora de Lourdes na Vila das Lajes.

Interessa aqui referir que, com excepção da Madalena e Criação Velha, as demais solenidades tinham o concurso e o empenho dos baleeiros locais que contribuíam, com importâncias monetárias, por vezes avultadas, retiradas das respectivas “soldadas”, para o brilhantismo das festividades.

E tanto assim que, ainda hoje, os baleeiros que restam, fazem empenho em estar presentes na procissão de Nossa Senhora de Lourdes, junto das canoas que se instalam em frente das antigas casas dos botes – onde presentemente está instalado o “Museu dos Baleeiros”, - em homenagem sentida Àquela Senhora que os livrou tantas vezes de perigos e mortes iminentes. O mesmo acontecia e ainda acontece em São Roque, na festa de Nossa Senhora do Livramento que se venera na Igreja do Convento franciscano.

Neste momento só pretendi recordar o estilo das festividades de há cem anos. Nada mais.

BOM DIA!

Vila das Lajes.

25 de Julho de 2009 Ermelindo Ávila