segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MANHÃS DE SÁBADO nº. 117-

29-Janeiro-2011


Amanhã, na sua ermida própria, na Ribeira do Meio, subúrbio desta Vila das Lajes, celebra-se a festa de São Sebastião, Um acontecimento litúrgico que vem de remotas eras, pois a primitiva ermida já existia em 1592, um pouco mais de um século após o povoamento, dado que, nesse ano, uma tal Bárbara Gaspar testava a favor da ermida, então situada no cimo da Almagreira, também subúrbio das Lajes.

Várias foram as ermidas construídas nesta zona pelos primeiros habitantes da ilha. Além da primitiva, dedicada ao Apóstolo São Pedro, nome do primeiro pároco da Ilha, e que serviu de paroquial quinhentos anos, - “catedral ingénua” lhe chamou o historiador Lacerda Machado, - existiram a de Nossa Senhora dos Remédios e a Igreja da Misericórdia, aqui erguida em cumprimento do voto feito a quando da crise vulcânica de 1718-1720. Ambas já são desaparecidas. Mantém-se, felizmente, a dedicada a S. Pedro, bem como a referida ermida de São Sebastião e a de Santa Catarina. E isso porque , por estes lados, há grande devoção pelos Santos titulares. E não só.

De lembrar também uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição, construída por uma tal Maria Pereira, no local onde hoje se encontram a Igreja Nossa Senhora da Conceição e o convento franciscano, um dos mais grandiosos edifícios da Ilha, a servir actualmente de Paços do Concelho e cujas construções foram iniciadas em 1629.

Santa Catarina é a protectora dos doentes mentais e S. Sebastião, o santo invocado contra a peste, doença que nos anos vinte do século passado atingiu e fez várias vítimas quer na vila da Madalena quer nesta igualmente. Ainda hoje, passados três quartos de século, muitos recordam as horas de angústia e de sofrimento então vividos.

Mas, como disse, amanhã terá lugar a festa do santo protector das doenças pestosas e por isso, apesar da época invernosa, há sempre boa afluência de pessoas que, durante a tarde, assistem ao pequeno arraial para arrematar as ofertas ou promessas levadas a São Sebastião.

São igualmente vulgares as ofertas de carnes e outros produtos dos suínos abatidos, durante a semana antecedente, para uso doméstico. Velhos costumes que, infelizmente, estão a desaparecer e que vindo de remotas tempos, - primícias da terra e do trabalho do homem – contribuíam para a manutenção do culto católico.

A ermida de São Sebastião é um pequeno monumento histórico. Substitui, como referi, aquela que existia em 1592, e que recebeu várias visitas dos Prelados ou seus Visitadores - delegados e que dá denominação ao sítio que hoje se conhece como São Sebastião – o - velho.

E hoje por aqui fico.

Bom, dia!



Vila das Lajes,

24-Janeiro-2011

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Morte desejada - a matança do porco


Não julguem que se trata da Matança de São Bartolomeu, aquela que ocorreu na noite de 23-24 de Agosto de 1752, em França. É ou são outras mais simples e utilitárias que, nesta época do ano, principalmente, eram – e em algumas terras ainda são - a alegria e a fartura de muitas famílias: a matança do porco.

Aqui há bastantes anos, o Pe. Francisco Vieira Soares, nosso conterrâneo, fundou na freguesia dos Cedros, onde exercia o seu munus sacerdotal, a revista “Eco Cedrense”. Não teve o prazer de a dirigir por muito tempo pois o Prelado que chegara à Diocese, transferiu-o para a Lomba das Flores. E aí não se aquietou. Fundou uma filarmónica e construiu um passal. E idênticos na freguesia de Ponta Delgada para onde, poucos anos decorridos, foi transferido.

Mas, neste arrazoado, não quero hoje falar do saudoso conterrâneo e amigo, falecido precocemente. Referi, e a propósito, o “Eco Cedrense”, que continuou a publicar-se sob a Direcção do Pároco, Pe. José da Rosa Dutra, e no qual colaborava um grupo de redactores muito distinto, que exerciam sua actividade didáctica naquela freguesia faialense.

E foi o Prof. João Pereira Dutra, homem de invulgares qualidades literárias e artísta de gravações ímpar quem,(ao que julgo) na revista nos deixou um texto muito interessante sobre as “matanças dos porcos”, ou, “morte desejada”.

Vale a pena trazer aqui um naco dessa narração, aliás muito semelhante à que se praticava (ainda se pratica?) em algumas localidades picoenses.

E diz o citado Autor:”Quando a morte entra numa casa foi-se a alegria, aí só há choros, aí só há lágrimas, mas na morte do porco não há tristeza, nem choro nem lágrimas, mas sim uma sincera e franca “satisfação” que aquela morte é, desde há muito, desejada”.

E a findar: “É interessante como, de freguesia para freguesia é diferente a maneira de pôr os porcos a enxugar. Há freguesias que os penduram de focinho para o chão , como se estivesse fazendo ginástica e ainda outros com as bandas separadas em cima do arquibanco, para enxugar mais depressa.

Por cá as matanças realizavam-se de madrugada. A família que “matava porco” quase não dormia na noite da matança, para poder preparar tudo e avisar o matador e companheiros, para estarem a horas no local onde era abatido o suino. Estava-se na época da baleação. Normalmente, o “Vigia” descobria os cetáceos logo ao amanhecer, lá para o horizonte. O sinal de “baleia à vista” era dado, imediatamente, pois as baleias podiam tomar outro rumo ou, também, serem descobertas pelos “Vigias” de outros portos. E assim o porco tinha de estar preparado e pendurado (aqui era pela cabeça) e os homens já almoçados ao romper do dia, para não serem surpreendidos pelo “sinal de baleia.”

Hoje não há essa preocupação. Já não se caçam baleias. E até mesmo as matanças não se fazem em casa, mas no Matadouro. Tudo simples mas menos interessante e nada tradicional.

A semana da matança era de “dias de lida”. Cozia-se o pão de diversos tipos: pão de milho (ou de duas farinhas – trigo e milho -) caspiadas, “rosquilhas de água ardente”, bolo do forno.

Na véspera preparavam-se as cebolas e picavam-se para, misturadas com o sangue do animal, se fazerem as morcelas. Limpava-se e ornamentava-se a casa para receber os convidados e as visitas que sempre apareciam a ver o porco e se tinha muita grossura de toucinho. Os convidados ceavam com o dono da casa já os miúdos do porco (bifes do fígado e morcelas, além de outros manjares.

O dia seguinte era para desmanchar o porco e dividir as carnes: para cozer, para derreter e fazer os saborosos torresmos, para pôr a curtir a carne para a linguiça, e para os “presentes” às pessoas amigas ou a quem eram devidos favores. E que prazer tinham os miúdos em levar esses presentes para receberem uns trocos – 2$50 era uma fortuna – que guardavam ciosamente nos pequenos mialheiros. Tudo feito com ordem e atempadamente para que não houvesse descuidos, nem sempre bem aceites...

A civilização moderna afastou dos centros urbanos a criação de suínos. Se por um lado essa medida tem justificação pela defesa e higiene da salubridade públicas, por outro veio afastar desses animais uma alimentação caseira, muito mais saudável do que a que se importa, fabricada nem sabemos com que “matérias primas”.

Velhas tradições a recordar com alguma saudade.


Vila das Lajes,

17 de Janeiro de 2011

Ermelindo Ávila


domingo, 16 de janeiro de 2011

BATATA BRANCA

A batata branca chegou aos Açores depois da batata doce, aí por 1775. Um século depois do milho. É um tubérculo muito apreciado e até mesmo indispensável nas ementas alimentares.

Pelo menos na Ilha do Pico, até meados do século passado, era cultivada em pequena escala. Apenas nas hortas junto das habitações e servia, principalmente, para aumentar as sopas.

Aí pelos anos vinte do século passado, apareceu na Candelária uma qualidade de batata muito produtiva, parece que importada por José da Costa Nunes, pai do que viria a ser Cardeal Dom José da Costa Nunes. E tanto assim que, espalhando-se pela ilha, pois passou a ser comercializada pela população daquela freguesia, o povo a denominou de batata bispa, ou batata da Candelária. Passou a ser cultivada em larga escala e era muito produtiva. Agradável era, no princípio do verão, andar perto dos terrenos baixos e admirar extensos batatais verdejantes e floridos. Hoje são raros.

Decorridos alguns anos, aquele tubérculo foi atingido por uma doença que lhe produzia uma espécie de caroço preto, que a tornava incapaz de ser utilizada.

Habituados como estavam os picarotos ao uso da batata, e aproveitando os iates do Pico que semanalmente viajavam até S. Miguel, passaram a importar daquela ilha em pequenas quantidades o apreciado tubérculo.

Mais tarde apareceram batatas de semente arran baner e ut to date, importadas da Europa. Foi então que se começaram a semear grandes extensões de terreno das novas espécies que se reproduziam em larga escala, e que constituíam uma parte importante da alimentação das pessoas como acompanhamento de diversos pratos. Era o que o povo chamava “batatas escoadas”, porque cozidas em água, em apreciáveis quantidades.

Presentemente, principalmente os restaurantes fazem acompanhar certos pratos de “batatas fritas”, ou seja batatas cortadas em pequenas tiras e passadas na sertã. Já não se encontram grandes batatais. Já não existe mão-de-obra e por essa razão os terrenos vão ficando abandonados.

O mesmo acontece com a batata doce, um pouco mais trabalhosa no seu cultivo, mas de grande produção e muito utilizada na alimentação quer das pessoas quer ainda dos suínos de engorda.

Uma época extraordinária que passou ingloriamente à história desta ilha.


Vila das Lajes, Dezembro de 2010


Ermelindo Ávila


domingo, 9 de janeiro de 2011

OS REIS


Por razões de ordem litúrgica, a Igreja Católica transferiu a festa dos Reis Magos, ou Epifania, para o domingo a seguir ao primeiro do ano, entre 2 e 8 de Janeiro

Anteriormente a celebração tinha lugar no dia 6 e embora não fosse “dia santo de guarda”, era guardado pelo povo cristão que aproveitava esse dia para, nos chamados ranchos dos Reis, ir de porta em porta saudar os amigos e conhecidos.

A acompanhar os Reis Magos junta-se, normalmente, um grupo de jovens que, nos cantares apropriados, fazia o coro.

Os reis trajavam a rigor, não faltando as coroas reais (em cartão vistosamente pintado), fazendo lembrar os nobres daqueles tempos de há dois mil anos, quando eles, vendo um astro estranho, se dispuseram a caminhar para Belém, trazendo como ofertas, ao Menino recém-nascido, ouro, incenso e mirra.

Os Magos, ao chegar a Jerusalém, perguntaram onde s6ava o Rei dos Judeus que acabara de nascer. Esta pergunta perturbou o Rei Herodes e não apenas ele mas toda a cidade de Jerusalém. Interrogando os sumos sacerdotes e os escribas do povo, eles foram unânimes: “Em Belém de Judá.” Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em aparecera a estrela.”

Quando chegaram a Belém entraram na casa onde a Sagrada Família se alojara e caindo de joelhos, adoraram o Menino.

Avisados em sonho de que não voltassem à presença de Herodes, voltaram por outros caminhos para as suas terras.

É esse grande acontecimento que o povo cristão comemora nesta ocasião. Um feito extraordinário que, passando-se em terras do Oriente, jamais deixou de ser recordado, até com manifestações populares.

Hoje, dada a vida agitada e tumultuosa do povo de Deus, quase passa esquecida a visita dos sábios do Oriente ao Senhor dos Céus e da Terra. E é pena.

Ainda recordo a ânsia com que, meninos e moços, aguardávamos a visita dos Reis, envoltos em seus mantos

coloridos, de cetro na mão, e coroa real, no meio dos quais vinha sempre o Rei preto, que era por vezes o terror da pequenada.

Depois das saudações ao Menino, colocado em altar com trono erguido no meio da sala, onde não faltavam os pratinhos de trigo verdejante e as laranjas “americanas” ou as tangerinas, os donos casa serviam figos passados, licores e outros acepipes, sempre bastante apreciados.

Particularmente para a miudagem, era uma noite especial, sempre aguardada com grande alvoroço e entusiasmo, embora os cantares fossem sempre os mesmos repetidos de ano a ano.

Creio que vale a pena recordar estas singelas comemorações, que tinham um sentido de singeleza mas sobretudo de respeito e sinceridade pelos acontecimentos de há dois mil anos: o Nascimento do Menino Jesus numa reclinado numa manjedoura no estábulo de animais; a visita dos pastores que, na serra, foram avisados pelos anjos; e, decorridos alguns dias, a adoração dos santos Reis Magos.

A propósito, escreve um comentarista : “”Sublinhando, de modo expressivo, a universalidade da Mensagem cristã, dirigida a todos os homens, mesmo aqueles que, segundo as concepções estreitas do judaísmo, viviam fora da Geografia e da História da Salvação, o evangelista mostra como na visita dos Magos se realizam as profecias do Antigo Testamento.”



Janeiro de 2011

Ermelindo Ávila

sábado, 1 de janeiro de 2011

ANO NOVO

NOTAS DO MEU CANTINHO


Estamos já no ano novo. “Há dias” entrámos no século 21 e já passaram dez anos. Uma velocidade que ultrapassa o som...

Chegamos ao ano de 2011 e nada sabemos do que nos espera. Como sempre as surpresas serão tamanhas. O Mundo está em permanente evolução e numa ebulição tremenda. Não há por aí, mesmo o governante mais esperto, que seja capaz de prever o futuro. E não faltam os projectos. Mas uma certeza fica: a incapacidade da sua realização.

Terminou o décimo ano deste terceiro milénio. Não deixou saudades. Os povos viveram horas amargas. Por toda a parte. Temos presente, apenas como exemplo, a situação dos mineiros do Chile, que, felizmente, não resultou em tragédia mas que, nem por isso, deixou de abalar o mundo, (ia a escrever civilizado mas não vale a pena...)

Há dias terminou em Lisboa a Cimeira da NATO. Uma cimeira que nem durou vinte e quatro horas mas que, mesmo assim, reuniu os maiores senhores do Mundo. E não durou tanto tempo porque, segundo a opinião de alguns órgãos da Comunicação Social, os problemas já iam estudados e praticamente resolvidos. Apenas uma formalidade do processo.

Portugal teve praticamente dois dias de descanso, com a Cimeira, pois os assuntos nacionais foram relegados para plano secundário. Mas voltaram depressa à ribalta. E continuam.

A greve nada resolveu. Os salários e ordenados baixaram e a economia do País continua numa corda bamba.

“Aperta-se o cinto” e continua a promover-se em força o “banco alimentar”. É que a fome anda por aí, embora em alguns casos, encoberta. É, em muitos casos, a pobreza envergonhada.

Portugal vive presentemente uma situação terceiro-mundista. Se não por estas ilhas, pela maior parte do velho País.

Estão em curso processos de averiguações de irregularidades cometidas em vários sectores. Mas não aqueles que deviam ser instaurados... Não na chamada classe média e muito menos na pobre mas naqueles magnates que , em diversos sectores, dominam o país. Um País que se engrandeceu há quinhentos anos com as descobertas e conquistas e que, de um momento para o outro, foi reduzido à mínima expressão territorial e ao descalabro económico, para ser “um jardim à beira mar plantado”, sem árvores nem arbustos, até porque os que restaram os incêndios (casuais ou criminosos?), vão todos os anos destruindo.

Com o cinto apertado, para que os trapos não caiam aos pés, vamos entrar no novo ano. Esperanças e promessas não faltam. Mas quais? Temos uma economia de restos. As empresas vão falindo e os despedimentos vão engrossando o desemprego.

Como disse, os salários e ordenados vão diminuindo e os investimentos em actividades que poderiam ser produtivas não aparecem.

Por estas ilhas a situação económica não será tão dramática. Mas não deixa de ser preocupante. Os terrenos foram abandonados. As indústrias estão em decadência. Tudo se importa , como sejam os géneros alimentícios, os materiais de construção, o vestuário e calçado. Pois se não há quem trabalhe os prédios agrícolas, nem faça o vestuário e o calçado e tudo o mais...

Desapareceram os alfaiates e as costureiras, os sapateiros, os serralheiros e os funileiros...

O milho e o trigo, as batatas, as laranjas e as maçãs vêm de longes terras. Ou da Espanha ou da América central.

E os nossos terrenos, outrora férteis e de fácil cultivo, estão abandonados. Povoam-nos os arvoredos selvagens e o silvado. Restam as chamadas criações mas estão a entrar em crise com a falta de escoamento do gado, uma vez que o Matadouro Industrial já não tem capacidade para trabalhar todo o gado que por lá aparece. Mas este é caso para outra ocasião.


Dezembro de 2010

Ermelindo Ávila

UMA PRENDA ESPECIAL

Aproximava-se o Natal. Na escola todos os alunos procuravam escrever cartas ao Pai Natal ou ao Menino Jesus, conforme a formação que tinha, a pedir os brinquedos mais diversos.

Delmiro, um dos alunos, o mais aplicado e distinto da aula, nada escrevia. Sabia, pelos anos anteriores, que nada conseguiria e preferia ficar quieto, preparando as suas lições.

Nunca faltava às aulas e não só ia com as lições sabidas como ainda ajudava os companheiros nos seus trabalhos escolares.

Os pais, embora pobres, procuravam que os filhos não faltassem à escola, muito embora isso, por vezes, lhe fosse penoso, principalmente no inverno, quando o mau tempo não deixava enxugar as roupinhas, lavadas ao sábado, para os filhos levarem para a escola na segunda-feira. Mas tudo ia decorrendo muito embora com certa dificuldade.

Os dias iam passando. As férias do Natal aproximavam-se. Todas as famílias procuravam enfeitar suas casas com arvores de Natal, com iluminações multicolores e decorações diversas , prateadas e douradas. Não faltavam as prendas para novos e velhos. Os pais do Delmiro nada podiam preparar dada a sua extrema pobreza.

Na escola a professora, uma jovem que ali estava a leccionar há dois anos, anunciou que, naquele ano, iam fazer uma festa escolar muito especial. E com os alunos iam preparando as singelas decorações. Para isso distribui folhas de cartolina para que cada um fizesse um desenho, a seu gosto, para ser exposto. Delmiro recolheu-se na carteira e começou a fazer o seu desenho. Levou alguns dias e, como é natural, evitava que fosse visto pelos colegas e pela Mestra. Só o entregou no momento próprio para ser exposto. Uma paisagem, com árvores, arbustos e flores várias. Em fundo um pôr de sol maravilhoso, com nuvens multicolores a espargirem junto dos raios solares, as mais belas cores. Um encanto, que causou admiração a todos.

No dia escolhido para a realização da festa, apareceram na escola os pais dos alunos e outros convidados. Todos admiraram as decorações. Todos ficaram encantados com as recitações de versos próprios da quadra e com as canções que um grupo de alunos, ensaiado pela Professora, cantou. Uma linda festa do Natal, afinal. Mas não foi tudo.

Quando chegou a ocasião própria, a Professora falou para anunciar que, naquele ano, ia ser entregue uma prenda muito especial a um aluno da última classe, que naquele ano terminava a instrução primária, e, com muito pesar seu, ia deixar a escola. Tratava-se, nem mais nem menos, do Delmiro, o mais distinto aluno, que por isso ia receber a prenda anunciada: uma bolsa de estudos para puder continuar a estudar no liceu e, posteriormente, se assim o entendessem, tirar um curso superior. Era uma oferta de uma instituição de solidariedade social que quis premiar um aluno brilhante, com uma inteligência fora do comum.

Alguns pais dos outros alunos entregaram também ao Delmiro suas prendas em agradecimento pelas ajudas que ele prestava aos filhos, na preparação das matérias estudadas.

Escusado será dizer que os pais do Delmiro ficaram muito sensibilizados e reconhecidos. Ele chorava de alegria, o que era natural para a sua idade.

Na realidade, era para si a melhor prenda do Natal que jamais podia ter. Todos, professora, alunos e pais destes o felicitaram muito entusiasticamente, dando vivas ao Pai Natal pelo que acabara de acontecer. E para o Delmiro e para os pais e irmãos, aquele Natal foi diferente e nunca mais foi esquecido nas suas vidas.


Natal de 2010.

Ermelindo Ávila