domingo, 10 de dezembro de 2017

SOLENIDADE DE CRISTO-REI

Notas do meu cantinho


Ao terminar o ano litúrgico, o tempo comum da Liturgia Católica, escreve


um autor a seguinte nota:



No final do ano litúrgico, a Igreja Católica celebra o triunfo de 

Cristo Rei. Uma celebração que tem algo de estranho para os critérios 

do mundo, porque o trono do rei não é de ouro mas o patíbulo da cruz , 

na qual Pilatos mandou escrever”. Este é o Rei dos Judeus”. O próprio 

Jesus falou aos discípulos daquela “hora eterna” de reinado, quando 

lhes explicou:”Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim. 

“Liturgia diária - a missa de cada dia. Calendário litúrgico”. Edições 

Paulistas.
A Igreja Católica acaba de celebrar a solenidade de Cristo-Rei. Trata-se de uma festa que encerra o ano litúrgico e foi estabelecida pelo Papa Pio XI, na década de vinte do século passado. Ganhou grande entusiasmo entre os cristãos e foi integrada nos organismos da Acção Católica.
Realiza-se no último domingo do Tempo Comum e reveste-se, normalmente, de grande solenidade litúrgica.
Deve-se ao P. Inácio Coelho, ao tempo Pároco da freguesia de São João, o início da realização da grande solenidade que teve sempre como orador o P. Xavier Madruga.
Logo a seguir foram criados na Diocese os diversos organismos da Acção Católica (A.C.). A Matriz das Lajes acolheu com entusiasmo esse movimento. Criaram-se, pois, a JOC masculina, a JIC e a LIC femininas pois tratavam-se de movimentos cristãos com mais influência da Paróquia. Tomaram eles à sua responsabilidade, além de outras actividades, a Festa do Senhor que se realizava no domingo seguinte para aproveitar o orador exímio que era o nosso antigo director e fundador, P. Xavier Madruga. A sua fala era sempre brilhante e atraía, por vezes, à Matriz, alguns admiradores que o escutavam com muito interesse.
A festa era, normalmente, precedida de tríduo preparatório. Apesar dos organismos da A.C. se haverem, praticamente, extinto, a festa de Cristo-Rei nunca deixou de se realizar, com homilia e Eucaristia cantada.
(A Matriz das Lajes possui um dos órgãos mais antigos da Diocese, de boa qualidade e de que é autor um notável Mestre e não lhe faltaram boas e bons organistas. Recordo D. Maria Adelaide Silva (a D Maria Mestra, professora Primária), D. Adelaide de Azevedo e Castro, D. Maria Xavier, Francisco Xavier de Azevedo e Castro além de outros mais. Na festa de Lourdes tocava o órgão o distinto organista Dr. Garcia da Rosa e as suas exibições eram autênticos concertos.)
A Matriz da Santíssima Trindade das Lajes do Pico, todos os anos vem realizando, com esplendor próprio, as festas do Calendário Litúrgico. Este ano e uma vez mais, cumpriu a solenidade de Cristo Rei, com Missa cantada e homilia.
Cristo Vence! Cristo Reina! Cristo Impera! Aleluia!

Lajes do Pico, Capital da Cultura da Baleia,
27-XI-2017

Ermelindo Ávila

FESTAS NATALÍCIAS

Notas Soltas

Cheira a Natal, dizem os mais antigos, que os novos vão-se entretendo em outras actividades.
O Natal hoje é muito diferente.
As crianças esperavam ansiosas pela noite do Menino que lhes havia-de deixar debaixo do travesseiro a sua oferta do Natal, e tão modesta que por vezes era ela: um boneco de pano, um carrinho de bois de madeira, uns rebuçados ou uns figos passados, que tudo era apreciado, e de que maneira!
Depois, a vida foi-se modificando. A economia doméstica foi-se melhorando, os pais puderam ter melhores possibilidades de compra, o comércio passou a importar grandes quantidades de brinquedos, dos mais sofisticados, desde o carro eléctrico aos aviões que se movem nos ares. Não faltam as confecções, das mais artísticas e tecidos ricos, os casacos de corte moderno, um sem número de vestuários das mais variadas e ricas cores. Para uns, é o crédito que se utiliza e se esgota, para outros é a riqueza e o luxo que se exibe. E, por vezes, no comércio ficam as dívidas a aguardar que se saldem…
Cedo vêm os pantagruélicos almoços de compadres e comadres, de conhecidos e amigos, de primos e outros familiares, que se tornaram numa quase tradição de bons manjares e melhores beberes.
Felizmente que ainda se guarda para o dia de Natal os repastos com os parentes mais íntimos, onde continuam a aparecer a massa sovada e a carne de caçoila, cuja tradição, felizmente, ainda se mantêm.
Quase caíram em desuso as visitas aos parentes e amigos.
Os serões vão desaparecendo e só restam bem poucos nas sociedades culturais e recreativas para os respectivos associados.
***
O mês de Dezembro tinha, em anos passados, um tom especial. Era o mês do Natal. O mês da grande festa. Toda a gente se preparava, material e espiritualmente, para as grandes celebrações litúrgicas. Todavia, com as normas estabelecidas pelo Concílio Vaticano II, a liturgia alterou-se bastante. O cerimonial simplificou-se de maneira a não torná-lo muito prolongado, mantendo, no entanto, diversas partes essenciais.
As principais festas eram normalmente precedidas de devoções preparatórias, as Novenas cantadas e com pregação especial. Ainda hoje, na Matriz das Lajes, são realizadas as Novena da festa de Nossa Senhora de Lourdes. As do Natal e de Nossa Senhora da Conceição há muito deixaram de se fazer.

As novenas do Natal tinham liturgia própria. Eram realizadas de madrugada, cantadas e com Missa solene.

Os fiéis, levantavam-se de madrugada para assistir à novena antes de irem para os seus trabalhos de campo. Chegados ao adro, deixavam os seus casacos e utensílios de trabalho rural e assistiam à Missa e cerimónia próprias das Novenas. No final, no adro, substituíam os fatos e caminhavam, com os respectivos utensílios agrícolas, para os seus trabalhos de campo. Ao entardecer regressavam a suas casas e era então que tomavam a refeição quente da noite.

Era assim durante os nove dias que precedia o Natal. Hoje a novena não é feita à noite e a frequência não é tanta…Outros tempos…

Lajes do Pico,
3 de Dezº de 2017

Ermelindo Ávila

O MÊS DAS TRADIÇÕES

Respingos

No fim do mês, para não dizer em todo o mês, comem-se as castanhas, acompanhadas do vinho novo.
Chegámos já ao penúltimo mês do ano. Desde longos tempos é o mês de maiores tradições. Ontem, um ontem que vem de séculos, as pessoas cumpriam, com seriedade, as diversas tradições do ano.
Não refiro o mês dos Santos nem dos Defuntos tão presentes nos costumes populares que foram e continuam a ser respeitadas Daí o manter-se os ditos e provérbios bastante antigos nas tradições mais populares, que o povo sempre respeitou, como seja o dia de São Martinho, a 11 do mês: “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”. Mas há muitos mais que não padece serem repetidos. Fico-me apenas pelas castanhas.
O castanheiro não se desenvolve em todas as zonas da ilha. É uma árvore de difícil desenvolvimento e mesmo assim, só dá boa produção para o Norte da ilha. É por isso que, no Outono, era vulgar, grupos de moças da banda do Sul, muitas delas levando sacolas de milho à cabeça, atravessavam a Serra, ou seja, iam das bandas do Sul (Lajes, Ribeira do Meio, Almagreira, e Silveira), até à Prainha do Norte, e naquela zona trocavam milho por castanhas.
Algumas castanhas vinham do continente para os estabelecimentos comerciais já piladas, o que lhes dava um gosto de aperitivo muito apreciado. As aqui produzidas e comidas, ao serão, eram cozidas na grelha ou assadas nas brasas do lar, pois o fogão não era conhecido ainda.
Cada fruto tinha a sua época e era com ele que se “celebravam” tempos idos à maneira popular. Mesmo assim, quem não apreciava um punhado de castanhas? Pois, se não havia outros pitéos (petisco ou goludice)? Quem não apreciava as castanhas do mês de Novembro?
O viver das nossas gentes quase só se limitava àquele que para cá trouxeram os primeiros que aqui chegaram, e o mantiveram por largos anos ou séculos. Viviam longe da Mãe-Pátria, sem comunicações regulares e os veleiros que por aqui passavam, faziam-no de longe em longe e sem escalas regulares. Só algum barco estrangeiro, as baleeiras ou os veleiros que ligavam a Europa à América, do Norte ou do Sul e que normalmente eram aproveitados para o conhecido “embarcar de salto”, como aconteceu a tantos que nesse rudimentares meios de transporte, sofriam sobretudo as brutalidades dos oficiais e mestres. E quando chegavam àqueles inóspitos e desconhecidos continentes,“punham-se ao fresco”e “iam por terra dentro”...
Volvidos muitos anos sem que os pais tivessem notícias dos filhos ausentes, voltavam...
Vários escritores açorianos, não muitos mas dos melhores, aproveitaram o tempo do “Salto” para nos deixarem páginas literárias, das melhores da nossa literatura insular. Recordo, v.g. o conto de Nunes da Rosa, sobre o “Salto”, no “Gente das IIhas” que, nos primeiros anos do seu passado, fez sucesso e foi muito apreciado. Mais alguns mais tomaram a emigração de salto como tema das suas produções literárias e não se saíram mal. Ainda hoje os seus trabalhos não lidos, apreciados e até estudados pelos actuais críticos literários, que os há em relativa abundância.
Mas quem não aprecia um punhado de boas e saborosas castanhas, daquelas que os picoenses cultivam nas bandas do Norte?
É bom não esquecer que a ilha, a segunda em área do Arquipélago, tem as suas características especiais, nas produções diversas: os cereais, as frutas, as vinhas. E aqui e ali vão aparecendo as especialidades que, aliás, são o vinho verdelho, as laranjas, os ananazes, os figos, e outras produções e que, esquecidos durante alguns anos, voltam a ser produzidos e exportados.
Para os apreciadores não será de recusar um prato de castanhas e um cálice (dos grandes) da velha “Angelica”.
Estamos no mês de isso experimentar. Bons apreciadores não faltarão. Figos passados ao sol, castanhas cozidas ou assadas, angelica velha, vinho, tinto ou branco de alguns anos e as velhas aguardentes de vinho ou de figo, não se compram mas trazem-se da adega, pois lá estão meses ou anos à espera do amigo que passa…
A vida rural do lavrador do Pico, com suas alegrias e trabalheiras, não tem quem a iguale. Não utilizo nem aprecio bebidas. Estarei, pois, errado?
Vila –Capital da Baleia.
Novº de 2017

E. Ávila