NOTA
DO MEU CANTINHO
Outrora o mês de Maio era o mês “de encanto e de
flores”. Estava-se em plena Primavera e os campos apresentavam um ar festivo
com encantos mil. Os tempos vêm mudando e hoje não se vêem árvores verdejantes
nem flores mimosas por essas encostas e nos pequenos jardins das residências.
“Mês de encantos e de flores / Maio ditoso floriu...”
Na Igreja, o mês era dedicado à Virgem e, em todas ou
quase todas as paroquiais, um grupo de jovens, normalmente de meninas,
preparava-se para acompanhar a devoção diária ante a Imagem de maior devoção,
com uma assistência fora do comum.
Não eram somente as chamadas “beatas”
de missa diária, mas muitas outras pessoas, devotas da Mãe de Deus.
Cantavam-se variados cânticos, que a apologética
devocional era muito variada e alguns cânticos eram de uma beleza musical fora
do comum.
Havia quem fosse à igreja, somente no mês de Maio,
para ouvir os belos cânticos que o coro apresentava diariamente, normalmente
novos e com belas melodias.
As igrejas eram excelentemente decoradas com as mais
belas flores da época, principalmente rosas das mais variegadas cores e com
aromas estonteantes, que se espalhavam por todo o templo, grande ou pequeno.
Flores, afinal, que eram trazidas dos campos ou, principalmente, dos pequenos
jardins que, normalmente, todas as casas possuíam. E se não existiam jardins
delimitados, havia roseiras brancas, vermelhas, cor-de-rosa, amarelas, que
todos tinham o prazer de cultivar, até nos cantos dos quintais ou até nas encostas
das habitações, e que, naquele mês, levavam à sua igreja, em homenagem à
Senhora do Rosário, Nossa Senhora de Lourdes, Senhora da Piedade, Mãe de Deus, ou
Senhora da Alegria e, mais recentemente, Nossa Senhora de Fátima. Embora os
títulos fossem diferentes a devoção era a mesma e sempre crescente,
Que belos
eram os jardins públicos das cidades açorianas. Lembro o de Angra, na minha
distante juventude, onde existia um variado roseiral de variegadas cores e
qualidades, que tornava aquele magnífico recanto um local ameno onde apetecia ficar, à sombra das frondosas árvores e num ambiente
aromático. Cuidadoso e hábil era o respectivo jardineiro para cuidar daquele
verdadeiro oásis, onde os angrenses se deleitavam nas tardes de Primavera e
Estio. Os jardins das outras cidades do Arquipélago não cheguei a conhecer, nessa
época de saudosa memória.
Mercê dos altares cuidadosamente floridos e dos perfumes
que evoluíam das flores que os engalanavam, as igrejas açorianas alimentavam ambientes
místicos, onde a fé dos crentes rejuvenescia, no exemplar espírito religioso
que neles se sentia e a todos atraía. E ainda hoje…
A Liturgia actual, principalmente a resultante das
reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano II, trouxe algumas modificações à
prática religiosa. Deu-se mais importância à Missa ou Eucaristia, como é natural,
mas as celebrações só têm lugar quando há sacerdotes, o que, infelizmente, na
ilha do Pico nem sempre acontece. Basta considerar que, para cerca de vinte
paróquias, existem seis ou sete párocos, quando, antes daquelas reformas, todas
as paróquias e até os curatos estavam providos de párocos residentes e, por
vezes, também de curas. Mas os tempos mudaram. As vocações diminuíram e não
poucos membros do sacerdócio pediram escusa...
Estamos no mês de Maio. Verdade que os tempos são
outros. As invernias são mais prolongadas. Tudo é diferente... Até o mês de
Maio tem sido algo invernoso. Não é o mesmo de outros tempos, quando belos
coros cantavam devotamente à Virgem:
Mês de encanto e de flores,/ Maio ditoso findou.../
Mas não cessem os favores,/ Que seu carinho outorgou!
Vila
das Lajes do Pico,
Maio
de 2017.
Ermelindo
Ávila
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