NOTAS DO MEU CANTINHO
É um acto de mera justiça recordar alguém
que anda esquecido. Há muito que deixou de lembrar-se a figura insigne do
notável orador sacro, jornalista integérrimo, homem de bem e sacerdote
orientador de almas, que nem sempre o público anónimo conheceu e soube
respeitar em toda a sua grandeza sacerdotal e intelectual.
Sofreu bastante a
incompreensão e malévola apreciação que alguns, felizmente não muitos, dele
fizeram para, mais tarde, lhe reconhecerem o valor intelectual e a integridade
e honestidade do seu valor como homem e como sacerdote.
O Padre João Vieira XAVIER MADRUGA foi Alguém
que passou na vida fazendo o bem.
No seu livro “Padres
Açorianos – Bispos – Publicistas - Religiosos” escreveu o Cónego José Augusto
Pereira:
Nasceu
na Vila das Lages, a 1 de Junho de 1883. Foi Prefeito e Professor do Seminário,
donde saiu em 1911 para Pároco e Ouvidor da Vila do Topo, em S.Jorge, passando
depois a Pároco da Candelária da ilha do Pico e está hoje (1939) manente na sua terra natal.
Fundou e ainda dirige o semanário O Dever que
começou a publicar, na Calheta de S. Jorge a 2 de Junho de l917.
Por sua vez o P.
José Carlos, no seu trabalho “Daqui houve
Missionários até aos confins do Mundo – (2000), referindo o P. João Vieira
Xavier Madruga, escreve: “Quando, na
última fase da sua vida, se estabeleceu na casa da família, nas Lajes do Pico,
entregue ao seu jornal “O Dever”, e
colaborando pastoralmente na paróquia, e não só, foi até aos Estados Unidos da
América do Norte. Acenou-lhe nesse sentido um bom número de colegas, uns de
quem tinha sido companheiro e outros de quem fora superior e mestre no Seminário
de Angra. Pensavam eles sobretudo em quão frutuosa seria a sua pregação entre
os nossos que para lá partiram e ficaram. Abalou e assim aconteceu. Quase dois
anos (de 1946 a 1948) de intensa e alargada evangelização por igrejas
portuguesas e outras com importantes núcleos da nossa gente, tanto na Nova
Inglaterra como na Califórnia. Deu-se por inteiro a missões paroquiais,
retiros, novenas, tríduos, sermões de festas, conferências, entrevistas na
rádio e na imprensa luso-americana, etc.”
O P. Xavier Madruga, sempre que viajava,
publica no jornal extensas crónicas de viagem. Aconteceu assim quando foi a
Roma à Canonização de Santa Teresinha, de cuja viagem publicou uma série de
crónicas que, em 1930, reuniu em livro:
“Dos Açores a Roma”. Em 1955, quando tomou parte no Congresso Eucarístico realizado
em Budapeste, em 1938, e em cuja secção portuguesa fez uma notável conferência,
publicou as suas crónicas sob o título: “...Até ao Danúbio - Jornada de Fé e
Cultura”. Só ficaram por publicar as “Cartas da América”, de que se encarregou
o Núcleo Cultural da Horta, nunca cumprindo, porém, esse compromisso... Uma
história para passar ao esquecimento...
“O Dever” foi fundado numa época em que o
republicanismo acerbado combatia a Igreja com ferocidade e os jacobinos de
então não toleravam o jornal católico, nem o seu Director.
O P. Madruga não desistiu nunca de combater as
investidas dos jacobinos jorgenses mas sofreu imenso com todos os ataques e
aleives, inclusivamente com o roubo das chaves da Igreja do Topo que foram, em
cortejo alarve, lançá-las ao mar. Coisas de há um século... O P. Madruga e o
seu jornal foram defensores acérrimos e entusiastas dos interesses lajenses. No
entanto ainda está por prestar-lhe a homenagem devida.
Em 1955 celebrou
as Bodas de Ouro Sacerdotais. Nessa ocasião a Câmara Municipal deliberou
denominar a rua, onde ainda existe a casa do seu nascimento, de Rua P. Xavier
Madruga.
Aquando da ocorrência do centenário do seu
nascimento, já o P. Madruga era falecido, a Câmara Municipal promoveu uma
sessão solene a recordar o notável sacerdote lajense, da qual foi orador o
escritor micaelense e seu dedicado Amigo, João Silva Jr.
Foram singelas essas homenagens. Ainda é tempo
de algo mais se fazer em sua memória: descerrar o seu retrato nos Paços do
Concelho e colocar uma placa na casa onde nasceu e viveu.
Ao comemorar-se o centenário do “seu”
jornal seria azada essa singela homenagem. Fica a lembrança. Que a saibam
aproveitar.
Lajes do Pico,
Maio de 2017
Ermelindo Ávila
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