A MINHA NOTA
A pouco e pouco, com o rodar dos
tempos, vão desaparecendo os velhos baleeiros picoenses.
Aqui há semanas os jornais noticiaram a
partida do Mestre Barbeiro e, pouco depois, do José Lourenço, de Santa Cruz das
Ribeiras.
Desapareçam dois grandes homens que a
sua vida dedicaram, afanosamente, à arriscada faina de caçar o monstro marinho.
E não sei se outros mais ainda restam. Eles vão desaparecendo tal como
ingloriamente aconteceu com a baleação, por um imperativo legal que, ainda hoje
mal se compreende. Proteger uma espécie marinha é privar o homem de usufruir os
bens da Natureza que Deus lhes deixou. E
é mais do que certo que a Natureza com seus seres está ao serviço do homem e
foi criada para seu sustento. O homem deixa de ser, dest’arte, o chamado rei da Natureza para ser um seu fiel
servo.
Foram, a pouco e pouco, desaparecendo
os baleeiros. Uns partiram para o Pai,
outros emigraram, e a honrosa classe deixou, abruptamente, de existir.
Infelizmente.
Extinguiu-se a actividade desde o já
distante ano de 1987, há precisamente trinta anos, mas ainda hoje há quem vibre
ao sinal de baleia, agora somente para ir, mar fora, ver o monstro no seu
ambiente.
A proibição teve consequências funestas
para a economia destas ilhas. E não se procurou encontrar outra indústria que a
substituísse. E os baleeiros, que praticavam a actividade, na sua quase
totalidade, tiveram de emigrar para os Estados Unidos e/ou Canada, para
conseguirem os meios da sua subsistência. Basta ter em consideração que, no ano
de 1946, o valor do óleo de baleia produzido no porto das Lajes foi de 1.692
contos e a respectiva soldada ou quinhão do baleeiro atingiu 112 mil escudos.
Por seu lado o Estado arrecadou, de imposto de pescado, 150 mil escudos. E, no
ano de 1973, as baleias caçadas nos portos de Calheta, Santa Cruz, Lajes e São
Mateus, produziram 1.411. 555$20, segundo publicou “O Dever” em seu número de
16 de Fevereiro de 1974.
A última baleia, caçada pelo Oficial
Manuel Macedo Portugal Brum, na canoa “Maria Armanda”, foi em Outubro de 1987,
sendo somente aproveitados os dentes e a carne.
Em certa medida valeu a chegada do
Serge Viallelle que abriu nesta vila, em 1993, o estabelecimento turístico
“Espaço Talassa” dedicado à observação de baleias – ou Whale Watching, uma actividade que se implantou em todas as ilhas
mesmo naquelas onde nunca houve tradição
baleeira.
O mesmo acontece com os museus e com as
regatas quando é sabido que o Museu dos Baleeiros das Lajes do Pico é o museu
mais frequentado dos Açores. As regatas estão a fazer-se em portos onde nunca
houve baleação...E até fazendo parte dos programas de algumas festas, quando,
afinal, Terra de Baleeiros é somente uma: a Ilha do Pico e, mais concretamente,
a Vila das Lajes, onde quase toda a gente, comerciantes, artistas de
carpintaria, sapataria, serralharia, barbearia etc., e até alguns funcionários públicos
eram baleeiros.
Afinal, a baleação tem um longo
historial que, nem Dias de Melo, o grande escritor da actividade, completou!
Ainda é tempo e há quem o possa fazer.
Vila
Baleeira,
14-V-2017.
Ermelindo
Ávila
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