Notas do meu cantinho
O
Pe. José Carlos Vieira Simplício já estava sepultado no Cemitério municipal
desta Vila, vítima de doença incurável, quando me deram a notícia do seu
falecimento, na cidade de Angra, onde se encontrava há anos. Senti
profundamente a sua morte, pois éramos amigos de longa data. Sempre acompanhei
a sua acidentada vida por Timor, pelos Estados Unidos da América – Califórnia,
e por algumas ilhas dos Açores e, agora, na dolorosa doença que, naturalmente,
o levou.
José
Carlos foi um dos primeiros alunos do externato liceal de D. Olga Soares, desta
Vila e primeiro Director do seu jornal “Estímulo”. Entretanto iniciou cedo a
sua colaboração em “O Dever”.
Aos quinze anos
publica os seus primeiros versos: “Murmúrios dos meus quinze anos”. O Poeta
faialense Osório Goulart, em “Duas palavras” de apresentação, escreve: “José Carlos, esperançoso poeta em embrião
incipiente cultor das letras, vai, como a flor desabrochante se inclina para o
sol, inclinar-se naturalmente para a luz emotiva da inspiração com que as Musas
o abraçam e acarinham nos murmúrios dos seus primeiros versos”. E não se
enganou o consagrado poeta faialense.
Não publicou muitos livros mas sim, boa
e inspirada poesia. E recordo a Cantata Mariana que escreveu e o Maestro Emílio
Porto musicou para o Grupo Coral das Lajes e que tanto êxito alcançou. De
assinalar ainda “Os Maiores Dias da Vila da Madalena”, Notas de reportagem, que
escreveu e publicou aquando da celebração do duplo centenário do culto e do
povoamento da ilha. No entanto o trabalho de maior fôlego foi, creio, “Padres
da Ilha do Pico”, do qual publicou, em 1976, o primeiro volume. Afirmou-me
diversas vezes que o segundo volume estava pronto, mas nunca chegou a ser
publicado. Julgo que está, inédito, em algum dos seus “caixotes”…
Um outro interessante trabalho é “Daqui
Houve Missionários até aos Confins do Mundo”, publicado no ano jubilar de 2000
e no qual o erudito Autor escreve: “A
verdadeira abertura, ou melhor, o Pórtico destas páginas são os três parágrafos
que destacámos da Mensagem do nosso bispo D. António de Sousa Braga, para o
Jubileu Missionário Diocesano celebrado na ilha do Pico.”
Por oferta do notável investigador
histórico, possuo todos os seus livros, com dedicatórias amigas que guardo
religiosamente recordando esse ilustre Sacerdote que sempre quis ser Padre e
que desenvolveu, em todas as terras por onde andou - Timor, Califórnia e
algumas Ilhas dos Açores - uma actividade cultural, e sacerdotal invulgar.
Devo-lhe uma amizade leal e sincera
desde o primeiro ano do Ensino Secundário, quando principiou a frequentar o
primeiro Externato desta Vila. Não o esquecerei jamais até que o Senhor me
chame. Mas não podia, neste momento doloroso, deixar de aqui registar singelas
palavras de homenagem, de reconhecimento e de gratidão à sua veneranda
memória.
O P. José Carlos amou sempre a sua
terra, a Almagreira. Subúrbio desta vila. A respectiva ermida mereceu-lhe
sempre um carinho muito afectuoso e bastante contribuiu para o seu restauro e
modernização. A ele se fica a dever a instituição da Festa da Titular, Rainha
Santa Izabel, e, para ela, procurava trazer oradores distintos.
Nos últimos anos sofreu males físicos
que muito o atormentaram e inutilizaram intelectualmente. Como atrás disse, há
anos que, em razão dessas enfermidades, estava recolhido na casa de Saúde de
Angra. E ali faleceu antes de atingir os oitenta anos de idade (4 de Agosto de
1937). Há quase dois anos ocorreu o cinquentenário da celebração da sua
primeira Missa. Não sei se alguém o recordou, pois o P. José Carlos já se
encontrava um enfermo… Veio ser sepultado no cemitério desta vila não sei se
por sua determinação se por deferência da entidade testamentária. Mas fica bem
junto dos seus…
Que o Senhor o haja recebido em seu
Reino, pois a memória do saudoso Amigo, sacerdote distinto, investigador
histórico, poeta e escritor invulgar será recordada por anos largos.
Requiescat
in pace!
Vila das Lajes, 10 de Junho de 2017
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