Notas
do meu cantinho
Quando “O Dever” iniciou as comemorações do
centenário, em 2 de Junho de 2016, tive oportunidade de fazer o seu pequeno
historial. Não vou repeti-lo. Isso seria fastidioso.
Limito-me a falar dos jornais
picoenses, que alguns foram, hoje representados, além deste semanário, pelo “Ilha Maior”, que já ultrapassou vinte e
oito anos e pelo “Jornal do Pico”,
com doze anos de existência: Vidas fulgurantes que não deixam de honrar a Imprensa
açoriana, aliás bastante decaída, excepção feita à ilha de São Miguel, com três
diários, um deles, o “Diário dos Açores”
quase tricinquentenário.
Angra perdeu há poucos anos o seu
centenário “A União”, que encerrou
ingloriamente. O mesmo aconteceu na Horta com o centenário “O Telégrafo” e, logo depois, com o já
idoso “Correio da Horta”, que havia
sucedido à velha “Democracia”.
Centenário é já a “Crença”,
de Vila Franca do Campo, fundada pelo Mestre Pe. Ernesto Ferreira, e que,
presentemente, é propriedade da Igreja
Paroquial. Tal como acontece agora com o “O
Dever”.
O século XIX foi fértil na publicação
de jornais, quase todos de feição política. É de fazer excepção aos fundados
pelo Pe. Nunes da Rosa, ouvidor da Madalena, Pároco das Bandeiras e
escritor-contista emérito. Em Janeiro de 1899, fundou “A Voz” e logo depois “A
Ordem”. Mais tarde, em 1918, “Sinos
de Aldeia” que cheguei a conhecer mas que, por sua morte desapareceu quando, afinal, por sua
vontade, devia ter ficado na Biblioteca da Câmara Municipal da Madalena, que
ele desejou se fundasse e onde fosse igualmente recolhida a sua pequena
biblioteca. Dou disso testemunho...
Em São Mateus, existiu o “Cartão
de Visita”, fundado e dirigido pelo professor J. I. Garcia de Lemos. Tão
diminuto como, realmente,
um cartão de visita, nele encontrava-se porém o artigo de fundo, as notícias e
até os pequenos anúncios.
Não
deixo de fazer referência a dois boletins paroquiais, que, além das notícias
das respectivas Paróquias, alargavam a sua
informação para as notícias e interesses das sua freguesias. Refiro o “Ecos do Santuário” que o Pe. Filipe
Madruga criou e manteve, enquanto paroquiou na freguesia de São Mateus, e o “Bom Combate” que Monsenhor José Fortuna também publicou, na Paróquia da
vila da Madalena, enquanto ali foi Pároco. Com o falecimento do Pe. Filipe e a
transferência para a Matriz da Horta do Pe. Fortuna, que ali foi levado à
dignidade de Monsenhor, desapareceram os dois periódicos que, como se disse,
eram mais do que simples boletins.
No século XX, alguns párocos sentiram a
necessidade de levar a casa dos seus paroquianos, dado que alguns não eram
habituais frequentadores dos actos religiosos, as notícias paroquiais, criando
para isso pequenos boletins policopiados, como foi o caso, dentre outros, do “Peregrino” do Pe. Tomás Cardoso e,
depois, do Pe. Luciano Oliveira. (Este chegou a ser impresso quando o Pe.
Luciano Oliveira sucedeu ao Pe. Tomás Cardoso, como vigário da Vila de S. Roque).
Publicaram ainda boletins paroquiais o Pe. António Cardoso, na vila das Lajes,
o Pe. Norberto, em Santa Cruz das Ribeiras, e o Pe. João Domingos, na Ribeirinha,
e talvez outros mais. Voltar a esse artesanal sistema será um erro de
resultados negativos.
A igreja açoriana, como atrás referi, acabou
com alguns jornais, entre eles, o centenário “A União” e o “Correio da
Horta”, e passou a utilizar um portal de notícias na “Internet” a que a maioria
das pessoas, não entende nem tem acesso. Simplesmente um erro de administração,
que tarde talvez será corrigido.
Os jornais picoenses prestam aos
respectivos Municípios excelente serviço pondo-os, semanalmente, em contacto
com os cidadãos. Resta, pois, aos órgãos autárquicos ter em atenção essa
circunstância e ajudar, substancialmente, a sua manutenção. Demais, nenhum dos três
jornais picoenses é órgão de qualquer partido político, que se saiba, como
acontecia aos periódicos do século XIX, razão pela qual, volto a referir, alguns
desses pequenos jornais tiveram vida efémera.
Um jornal com cem anos de existência, como
é o caso de “O Dever”, não pode nem deve terminar. É um Património rico de
história, valorizante da terra que o deve manter a todo o custo.
Vila
das Lajes,
22 de Maio de 2017.
Ermelindo Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário