NOTAS DO MEU CANTINHO
Os micaelenses, e com eles os açorianos
em geral, estão a celebrar as festas em honra de Santo Cristo Milagroso. Festas
centenárias, elas vivem na alma dos católicos açorianos que, em horas de amargo
sofrer, muitos deles se voltam para o Santuário que alberga a Veneranda Imagem,
a implorar graças, as mais diversas.
E isso vem de há séculos.
Recordo que uma das minhas bisavós que ainda
conheci na minha infância, tinha à cabeceira da sua cama, como era habitual em
muitas famílias, um quadro com a fotografia da Imagem de Santo Cristo que
venerava com muita devoção. E em muitas casas, ao menos aqui no Pico, isso
acontecia. Tanto assim que Imagens de Santo Cristo existem em diversas igrejas
da Ilha do Pico. Conheço algumas, embora com títulos diferentes: Bom Jesus, em
São Mateus, Calheta, e Criação Velha; Santo Cristo, num dos subúrbios da vila
da Madalena; Senhor Jesus, na vila das Lajes e Santa Cruz das Ribeiras, e,
naturalmente, outras mais, sob as mais diversas invocações.
Assisti, pela primeira vez, às festas
em louvor de Santo Cristo dos Milagres na década de sessenta, do século passado.
Era, então, funcionário da Câmara Municipal da Madalena e fui representar o
Município levando o respectivo estandarte, a convite da Comissão da Irmandade.
Das Lajes foi meu falecido irmão Gabriel, e da Horta António Simões, então
vereadores dos respectivos Municípios. Estes me lembro. Recebidos por um membro
da Comissão, trataram-nos fidalgamente e ofereceram-nos, na segunda-feira, um
agradável passeio às Furnas, com entrada de automóvel, no respectivo Parque,
uma excepção que causou surpresa a alguns amigos que tínhamos na Ilha, pois tal
deferência não era vulgar.
Mais tarde voltei a assistir à
grandiosa festa, precisamente no ano em que se iniciou a celebração de Missa
Campal, no adro da Igreja do Santuário. Pela experiência anterior não me atrevi
a tomar parte na longa e demorada Procissão que, na realidade, é um autêntico
acto de penitência, único nos Açores, embora se possa considerar um duplo
cortejo religioso e cívico. Isto sem ferir, por mínimo que seja, o espírito
cristão do povo da Ilha do Arcanjo.
Não assistirei novamente às solenidades
em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres. A idade já não permite. Limitei-me
a admirar, pelas reportagens da TV, as feéricas e esplêndidas iluminações,
principalmente do frontispício da Igreja, que outras iguais não se fazem nas
diversas ilhas açorianas, nem a grandiosa procissão com a Veneranda Imagem do
Senhor a percorrer o secular itinerário de há séculos. E, enquanto o Senhor
permitir...
Nas diversas ilhas açorianas as festas
religiosas, realizadas em muitas paróquias, são sempre as maiores. Há diversões
variadas, durante vários dias, como acontece por cá com a “Semana dos Baleeiros”
integrada na Festa de Nossa Senhora de Lourdes, sem dúvida das maiores da Ilha,
ou da “Maré de Agosto”, em Santa Maria, da “Semana do Mar”, na Horta, ou das “Sanjoaninas”
em Angra, para só estas referir, pois outras mais há actualmente. E quase todas,
senão todas, estão ligadas a tradicionais solenidades religiosas. Verdadeiras
provas da tradicional religiosidade do povo açoriano, bem expressas também nas
festas – Coroações e Impérios – em louvor da Terceira Pessoa da Santíssima
Trindade – o Divino Espírito Santo -, que estão a ocorrer nesta altura do ano.
Os actos de penitência, por vezes bem
dolorosos, que nestes dias se praticam no Santuário da Esperança, em Ponta
Delgada e seus arredores, são uma extraordinária manifestação de fé e de
espírito religioso dos açorianos, vivam em São Miguel, nas demais ilhas
açorianas ou até mesmo na Diáspora.
Que o Filho de Deus, Cristo Redentor, atenda
os pedidos das almas carentes e a todos ajude e proteja, em suas necessidades
espirituais e materiais.
Lajes
do Pico.
14
– Maio – 2017
Ermelindo
Ávila
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